Spencer Ackerman |
8/1/2012, Spencer
Ackerman, Danger Room (Blog de
Wired)
Traduzido pelo
pessoal da Vila
Vudu
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também
Muitos dos pontos
chaves do novo plano do presidente Obama para a próxima década, para a Defesa
dos EUA são claros: mais espionagem, mais Forças Especiais, menos guerras em
terra, e Ásia, Ásia, Ásia. Pense você o que você pensar dos méritos desses
pontos, eles, pelo menos, têm consistência interna.
Outros pontos...
nem tanto.
Às vezes, a
análise da nova estratégia sugere uma decisão política, que a estratégia, de
fato, contradiz. Às vezes, o plano volta a pontos controversos. Às vezes diz
coisas que parecem razoáveis à primeira vista, mas, quanto mais se pensa, menos
fazem sentido. Aqui, quatro das mais visíveis contradições na nova
estratégia.
Os
militares devem sair da Europa (mas não sairão)
– A ideia geral
é que o novo plano visa a construir “a força conjunta para 2020, uma força
quantificada e modelada de modo diferente do que foram os militares da Guerra
Fria” – como vociferou o secretário da Defesa, Leon Panetta, na 5ª-feira. Mas os
EUA não podem simplesmente abandonar o campo de batalha primário da Guerra Fria:
a Europa. De fato, o plano defende empenhadamente que o Exército traga os
soldados de volta para casa. “Muitos países europeus são hoje mais produtores
que consumidores de segurança”, lê-se no Plano, confiado no sucesso da OTAN na
Líbia.
Mas o Pentágono
não seguirá seu próprio conselho. O mais perto que o Pentágono chega disso é a
promessa de que a estrutura da força dos EUA na Europa “evoluirá”. Perguntado se
isso significaria que os EUA sairiam da Europa depois de 20 anos do colapso da
URSS, Panetta respondeu: “Não apenas manteremos nossos compromissos lá, mas
também manteremos o tipo de presença inovadora que acreditamos que deixará bem
claro, para a Europa e para todos que foram nossos fortes aliados no passado,
que continuamos comprometidos.”
Tradução: talvez
se faça outra operação barba-e-cabelo na força militar dos EUA que está na
Europa há 70 anos, mas não passará muito disso. Ainda que a Europa esteja unida,
segura, sem guerras, e que os reais interesses da segurança dos EUA estejam do
outro lado do mundo.
“Contraguerrilha limitada” – Aspecto no qual concordam os
críticos e os defensores da Contraguerrilha [ing.Counter Insurgency,
COIN]: exige muito tempo, muito dinheiro e, sobretudo, muita gente. Não faz
sentido algum, pois, na nova estratégia do Pentágono, dizer que os EUA
continuarão preparados para “conduzir operações limitadas de contraguerrilha”. O
que são “operações limitadas de contraguerrilha”? [e nada garante que não se esteja falando de
“operações de contraguerrilha limitada” (NTs)].
Dando ao Pentágono
o benefício de uma interpretação generosa, “operações limitadas de
contraguerrilha” pode significar treinar militares de exércitos aliados para que
façam, eles mesmo, a contraguerrilha contra seus próprios guerrilheiros. O nome
certo, então, seria “força de assistência à segurança”, mas... OK. Em
interpretação menos generosa, o que se vê é que o governo Obama tenta tirar o
corpo da contraguerrilha, sem se expor a ser criticado por não ter aprendido as
lições do Iraque e do Afeganistão. Seja como for, na conferência de imprensa da
5ª-feira, no Pentágono, os jornalistas que tentaram descobrir o que
significaria, de fato, a “contraguerrilha limitada”, saíram de lá sem resposta
clara. E vários, quanto mais discutíamos entre nós, menos
entendíamos.
O
Exército está sendo cortado (até a próxima “avançada” [orig. surge])
– Aí se tem
mais uma operação de adoçar o amargo, que, propriamente, uma contradição. Mas
uma das principais decisões, pelo novo Plano, é que os EUA passam a ter “menores
forças convencionais em terra”, nas palavras do presidente Obama. (Panetta não
falou em números, mas ouve-se falar de 480 mil soldados, o que significa corte
de cerca de 100 mil, considerados os números atuais.) Nem bem o Pentágono
anunciou o corte, porém, o Exército já acrescentava “quer dizer... por
enquanto”.
Panetta prometeu
que os cortes no Exército (e na Marinha) terão “reversibilidade”. Caso apareçam
guerras em terra não previstas – como, por exemplo, as duas guerras pós 11/9,
que o Exército não previa – o Exército poderá “avançar, regenerar-se e
mobilizar-se... rapidamente”. Claro. É muito mais fácil iniciar o recrutamento
de soldados do que, digamos, iniciar a construção de mais navios e mais aviões.
Mas soa como se a equipe de Obama temesse mais as críticas por cortar o
Exército, do que por não conseguir defender, com firmeza, esse aspecto central
da nova estratégia.
Esse é o Novo Plano de Defesa do
Pentágono, até que deixe de ser
– Nem o
objetivo da nova estratégia é claro, livre de contradições. A culpa é do
Comandante do Estado Maior das Forças Conjuntas. Cabe a ele definir a linha
geral dos militares de 2020, na explicação de
Panetta. Mas o general Martin Dempsey, comandante dos comandantes
militares, acha que não: a estratégia é apenas “um roteiro” para “um processo
contínuo de deliberação” para a construção dessa força
futura.
Talvez seja
conversa de caserna no exército de Dempsey, mas o general falou bem do
documento: “Não é perfeito”, disse aos jornalistas, está aberto a críticas por
cortar fundo demais no Exército ou por não oferecer orientação clara para que os
EUA consigam enfrentar novas ameaças. “Mas pode-se dizer que está bom” – Dempsey
concluiu – “por enquanto”.
Caso
sobrevenham mudanças, os militares simplesmente “ajustarão” a estratégia, o que
poderá ser feito anualmente, quando se discutir o orçamento, disse Dempsey.
Talvez seja preciso mudar pouco; talvez seja preciso algo mais drástico. Afinal,
a estratégia está corrigindo o plano de quatro anos, do Pentágono, passados
apenas dois anos. O plano do Pentágono para o futuro está sendo construído para
não durar.
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