segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

“Anonymous”: Indiscutivelmente discutível...




20/1/2012, posted by Biella Coleman in Concurrent Opinions




Não é fácil “prender” os Anonymous – mais conhecidos recentemente por suas intervenções de protesto digital – em definições definitivas. Talvez a declaração menos discutível que se pode fazer sobre eles é que suas táticas são discutíveis. Depois da extensa ação de ontem (19/1/12), comandada por Anons, de ataques distribuídos de negação de serviço [orig. Distributed Denial of Service, DDoS] [1] , em ato de retaliação contra o fechamento do site MegaUpload, acho que é hora de convidar os leitores de Concurrent Opinions a pensar sobre os DDoS como tática política. Preparei algumas perguntas básicas, para ajudar a iniciar a discussão.

1. É razoável comparar um ataque distribuído de negação de serviço (DDoS) e (a) desobediência civil ou (b) ação direta (luta armada)?

2. Qual seria uma resposta legal apropriada a essas campanhas, que têm sido tipificadas, em cortes judiciais, como “protesto político”? (Essa pergunta talvez seja irrespondível.) 

3. Como a mídia e o grande público entendem (quase sempre só *não* entendem) esses eventos? (E talvez a mídia seja responsável pelo “sucesso” de uma campanha de ataques DDoS)

4.O efeito político de uma campanha de ataques DDoS é basicamente simbólico [2], e um modo pelo qual as pessoas conseguem manifestar muito rapidamente e coletivamente sua posição sobre alguma questão?

5. O que há de “lulzy” no ataque DDoS? (E é importante?)

6.Como se pode apresentar o ataque DDoS em termos mais éticos, como protesto político? Sob que condições ou configurações seria mais admissível, palatável ou efetivo? Ou é ação problemática e nefanda demais, para ser usada para objetivos políticos?

Admito que o ataque DDoS não é o que mais me interessa sobre os Anonymous, viés bem claramente manifesto em artigo que acabo de publicar sobre eles [3], mas claro que vale a pena fazer uma pausa e pensar um pouco, depois das ações de ontem(19/1/2012).
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... já discutido por Miriam
21/1/2012, 4:05 pm

Concordo que o ataque DDoS é mais ação direta, que desobediência civil. Como @tomslee destaca, “ver-acontecer” é importante componente da desobediência civil, que está ausente das situações de DDoS. Para “ver-acontecer”, os indivíduos juntam-se para formar um coletivo que não colapsa para uma só voz, mas, em vez disso, ressoa numa cacofonia de vozes e faces. Eles “veem-acontecer” e são “vistos-acontecendo” por outros. O ataque DDoS não leva ao mesmo efeito, porque o ataque DDoS pode ser resultado da ação de muita gente, ou pode ser resultado só da ação de uns poucos. O resultado final é parecido nos dois casos, mas não tem o mesmo significado. Quero dizer que o ataque DDoS não é uma tática política, mas inclui o risco e a exposição pessoal que a desobediência civil historicamente sempre teve em outros movimentos sociais. E acho que esse ponto é (de algum modo) significativo.

Acho que o efeito político do DDoS pode ser, simultaneamente, material e simbólico, dependendo da específica situação do ataque. É importante “quem está sendo atacado e por que”, para que se vejam as ramificações e a significação do ataque DDoS. Nesse caso, o ataque de Anonymous contra as páginas do FBI pode mais efeitos simbólicos derivados da exposição do evento na mídia; o contexto da lei SOPA; a rápida organização que aconteceu etc.

Como disse outro comentador, as operações do FBI não chegaram a ser realmente interrompidas nesse caso; mas a imagem pública do FBI foi ferida e o birô foi exposto como “invadível” – o que implica manifestação simbólica de poder [dos Anons]. Em outros cenários, derrubar uma página (de organização de voluntários, clínica de atendimento a mulheres, um blog pessoal, a página de uma igreja) pode impedir que as pessoas que precisam daqueles serviços cheguem a eles; pode “punir” uma organização que não tenha suporte técnico próprio; nesse caso, a ação pode ser interpretada como ataque pessoal associado a ameaça física. Nesses casos, o ataque DDoS implica maior dano político material. Os ataques DDoS portanto, não têm sempre o mesmo significado, impacto ou efeito, em todos os cenários ou configurações.

Concordo com o que você sugere, Biella: acho que está correta a observação de que a mídia cria esses eventos. A mídia tem participação muito ativa e pode apresentar um ataque DDoS como protesto político ou como ataque terrorista. 

Dada toda a retórica que se ouve sobre Segurança Nacional e proteção “das nossas fronteiras”, acho FASCINANTE que, quando os Anonymous invadem a página do FBI, o movimento seja apresentando como protesto, não como “a ameaça dos terroristas”. 

Acho que analisar o personagem “testemunha”, como parte do modo como esses ataques são enquadrados, seria bem útil. Parte muito grande da identidade coletiva e da cultura dos Anonymous ainda está ligada à identidade branco-homem-hacker. Garanto que, se os Anonymous estivessem identificados como grupo de técnicos-especialistas afro-americanos, ou se a imagem deles estivesse associada a algum coletivo muçulmano interessado em liberdade de expressão e livre acesso à internet, a mídia já estaria falando sobre terroristas. Tecnologia em mãos de rapazes brancos super especialistas e contra o governo? É protesto. Tecnologia em mãos de rapazes não-brancos e contra o governo? É terrorismo. Mais ou menos isso.



Notas dos tradutores

[1] 20/1/2012 “How and Why Anonymous Took Down the FBI's Website

[2] Flickr (fotos por Biella Coleman)
[3] 13/1/2012, Our Weirdness is Free [ap. nossa esquisitice é livre/gratuita].

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