20/1/2012, posted
by Biella Coleman in Concurrent
Opinions
Não é fácil “prender” os Anonymous – mais conhecidos recentemente
por suas intervenções de protesto digital – em definições definitivas. Talvez a
declaração menos discutível que se pode fazer sobre eles é que suas táticas são
discutíveis. Depois da extensa ação de ontem (19/1/12), comandada por Anons, de ataques distribuídos de
negação de serviço [orig.
Distributed Denial of Service, DDoS] [1]
, em ato de retaliação contra o
fechamento do site MegaUpload, acho
que é hora de convidar os leitores de
Concurrent Opinions a pensar sobre os DDoS
como tática política. Preparei algumas perguntas básicas, para ajudar
a iniciar a discussão.
1. É razoável
comparar um ataque distribuído de negação de serviço (DDoS) e (a) desobediência civil ou (b) ação direta (luta armada)?
2. Qual seria uma
resposta legal apropriada a essas campanhas, que têm sido tipificadas, em cortes
judiciais, como “protesto político”? (Essa pergunta talvez seja
irrespondível.)
3. Como a mídia e o
grande público entendem (quase sempre só *não* entendem) esses eventos? (E
talvez a mídia seja responsável pelo “sucesso” de uma campanha de ataques DDoS)
4.O
efeito político de uma campanha de ataques
DDoS é basicamente
simbólico [2], e um modo pelo qual as pessoas conseguem manifestar
muito rapidamente e coletivamente sua posição sobre alguma
questão?
5. O que há de
“lulzy” no ataque DDoS?
(E é importante?)
6.Como
se pode apresentar o ataque
DDoS em termos mais
éticos, como protesto político? Sob que condições ou configurações seria mais
admissível, palatável ou efetivo? Ou é ação problemática e nefanda demais, para
ser usada para objetivos políticos?
Admito que o ataque
DDoS não é o que mais me
interessa sobre os Anonymous, viés
bem claramente manifesto em artigo que acabo de publicar sobre eles [3], mas claro que vale a pena fazer uma pausa e pensar um
pouco, depois das ações de ontem(19/1/2012).
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... já discutido por
Miriam
21/1/2012, 4:05
pm
Concordo que o ataque DDoS é mais ação direta, que desobediência civil.
Como @tomslee destaca, “ver-acontecer” é importante componente da desobediência
civil, que está ausente das situações de
DDoS. Para “ver-acontecer”, os indivíduos juntam-se para formar um
coletivo que não colapsa para uma só voz, mas, em vez disso, ressoa numa
cacofonia de vozes e faces. Eles “veem-acontecer” e são “vistos-acontecendo” por
outros. O ataque DDoS não leva ao mesmo efeito, porque o
ataque DDoS pode ser resultado da ação de muita gente,
ou pode ser resultado só da ação de uns poucos. O resultado final é parecido nos
dois casos, mas não tem o mesmo significado. Quero dizer que o ataque DDoS não é uma tática política, mas inclui o
risco e a exposição pessoal que a desobediência civil historicamente sempre teve
em outros movimentos sociais. E acho que esse ponto é (de algum modo)
significativo.
Acho que o efeito
político do DDoS pode ser, simultaneamente, material e
simbólico, dependendo da específica situação do ataque. É importante “quem está
sendo atacado e por que”, para que se vejam as ramificações e a significação do
ataque DDoS. Nesse caso, o
ataque de Anonymous contra as páginas do FBI pode mais efeitos simbólicos
derivados da exposição do evento na mídia; o contexto da lei SOPA; a rápida organização que
aconteceu etc.
Como
disse outro comentador, as operações do FBI não chegaram a ser realmente
interrompidas nesse caso; mas a imagem pública do FBI foi ferida e o birô foi
exposto como “invadível” – o que implica manifestação simbólica de poder [dos Anons]. Em outros cenários, derrubar uma
página (de organização de voluntários, clínica de atendimento a mulheres, um
blog pessoal, a página de uma igreja) pode impedir que as pessoas que precisam
daqueles serviços cheguem a eles; pode “punir” uma organização que não tenha
suporte técnico próprio; nesse caso, a ação pode ser interpretada como ataque
pessoal associado a ameaça física. Nesses casos, o ataque DDoS implica maior dano político material. Os
ataques DDoS portanto, não têm sempre o mesmo
significado, impacto ou efeito, em todos os cenários ou
configurações.
Concordo com o que
você sugere, Biella: acho que está correta a observação de que a mídia cria
esses eventos. A mídia tem participação muito ativa e pode apresentar um
ataque DDoS como protesto político ou como ataque
terrorista.
Dada toda a
retórica que se ouve sobre Segurança Nacional e proteção “das nossas
fronteiras”, acho FASCINANTE que, quando os Anonymous invadem a página do FBI, o
movimento seja apresentando como protesto, não como “a ameaça dos
terroristas”.
Acho que analisar
o personagem “testemunha”, como parte do modo como esses ataques são
enquadrados, seria bem útil. Parte muito grande da identidade coletiva e da
cultura dos Anonymous ainda está ligada à identidade branco-homem-hacker.
Garanto que, se os Anonymous
estivessem identificados como grupo de técnicos-especialistas afro-americanos,
ou se a imagem deles estivesse associada a algum coletivo muçulmano interessado
em liberdade de expressão e livre acesso à internet, a mídia já estaria falando
sobre terroristas. Tecnologia em mãos de rapazes brancos super especialistas e
contra o governo? É protesto.
Tecnologia em mãos de rapazes não-brancos e contra o governo? É
terrorismo. Mais ou menos isso.
Notas dos
tradutores
[1] 20/1/2012 “How
and Why Anonymous Took Down the FBI's Website”
[3] 13/1/2012, “Our Weirdness is
Free” [ap. nossa
esquisitice é livre/gratuita].
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