quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A questão iraniana é altamente inflamável


Chu Zhaogen



13/1/2012, Chu Zhaogen, China Daily, Pequim
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

O Irã enfrenta esse ano teste sem precedentes, porque as tensões entre a República Islâmica e o ocidente não dão sinais de arrefecer em futuro próximo.

Apesar de, no final do ano passado, o Irã já ter proposto que se reiniciassem conversações sobre seu controverso programa nuclear com EUA, Rússia, China, França e Alemanha, a confiança entre o Irã e o ocidente exauriu-se e todos estão presos num “dilema do prisioneiro”. Além disso, há pouca probabilidade de o Irã voltar à mesa de negociações, apesar de a pressão ocidental só aumentar.

Dia 31/12/2011, o presidente dos EUA Barack Obama sancionou e converteu em lei novas sanções, dessa vez contra o Banco Central e o setor financeiro iraniano, em jogada para cortar os ganhos do petróleo que chegam ao Irã. Dado que o Banco Central do Irã é encarregado de receber os pagamentos pelo petróleo que o país exporta, as novas sanções, se chegarem a ser estritamente implantadas, deixarão sem abastecimento muitas refinarias.

Além disso, muitos diplomatas da União Europeia dizem já ter chegado a acordo preliminar para impor um embargo ao petróleo iraniano, o que sugere que o ocidente está decidido a forçar Teerã a submeter-se. 

O ocidente, liderado pelos EUA, procura manter a marcha de sua expansão estratégica. Encorajado pela “Primavera Árabe”, os EUA usaram comandos super treinados para assassinar Osama bin Laden, retirar soldados combatentes de solo iraquiano e prometer fazer o mesmo, no Afeganistão, em curto prazo.

Derrubados os governos da Tunísia, Egito e Líbia, e com Ali Abdullah Saleh já deixando o poder no Iêmen, a “Iniciativa do Oriente Médio Expandido” de Washington – que para muitos não passaria de castelo no ar – evoluiu excepcionalmente bem em 2011. Agora, os EUA veem o Irã e a Síria como grandes obstáculos ao sucesso de seu ambicioso plano para o Oriente Médio.

É possível que o ocidente atire primeiro contra o Irã, por liderar os países antiamericanos. Mas, independente de qual país – a Síria ou o Irã – o ocidente ataque primeiro, qualquer ataque vindo de fora do mundo árabe deflagrará uma reação em cadeia na região do “Crescente Xiita”.

Além do mais, a recente declaração do secretário de Defesa dos EUA Leon Panetta, de que o Irã terá uma bomba atômica no prazo de um ano, se não antes, e que um Irã armado com armas nucleares é “inaceitável”, pode servir com indicação do cronograma com o qual os EUA trabalham para resolver a questão nuclear iraniana.

Para aumentar a tensão, há também Israel, o mais próximo aliado dos EUA no Oriente Médio, para o qual a questão nuclear iraniana é obsessiva, e que se prepara para atacar o Irã desde que o presidente Mahmoud Ahmadinejad do Irã ameaçou “varrer Israel do mapa”.

A paisagem política no Oriente Médio e no Norte da África passa realmente por mudanças dramáticas, o que piora o ambiente para Israel. Os governos pró-EUA e pró-Israel no Egito e na Tunísia caíram, e o conflito árabe-israelense foi reativado. Forças islâmicas crescem, nas eleições na Tunísia. O Egito endureceu em relação a Israel. Por sua vez, Israel quer atacar o Irã para consolidar sua segurança nacional e obter vantagens no Oriente Médio. E tudo parece confirmar que Israel conseguirá sequestrar a política dos EUA para o Irã, em ano de eleições presidenciais.

China e Rússia têm razões suficientes para oporem-se ao uso da força contra o Irã, porque os dois países têm altos interesses em jogo na questão iraniana. Um conflito entre o Irã e o ocidente, mesmo o mero agitar de sabres, pode fazer subir dramaticamente o preço do petróleo, o que fará da China vítima de inflação importada, porque a China depende do cru estrangeiro para mais de 50% de suas necessidades.

A porção norte do Irã é próxima da região do Cáucaso russo, rica em reservas de petróleo. Assim, exposição direta do Irã aos EUA criará ameaça à segurança nacional da Rússia.

Apesar de tudo isso, China e Rússia não conseguiram impedir que a questão iraniana deteriorasse. Hoje, é dever de Irã e EUA resolverem a questão por meio pacífico.

Se o Irã mudar diametralmente sua rota nuclear, talvez escape a ataques militares. O que não implica que esteja ante ataque iminente, se não o fizer.

Se a opinião pública nos EUA opuser-se firmemente a ação militar contra o Irã, o governo Obama poderá impedir que Israel inicie uma guerra. Afinal, fazer-se surdo à opinião pública pode custar a Obama a reeleição. Mas, em sentido oposto, se lançar o país em uma guerra puder ajudar Obama a obter seu segundo mandato na Casa Branca, o Irã não escapará de ser atacado militarmente.

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