Spencer Ackerman |
5/12/2012,
Spencer
Ackerman, Wired
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
O
presidente Obama anunciou hoje sua visão para o futuro militar dos EUA. Deem
adeus às grandes guerras de contraguerrilha. Todos a postos para mais guerra
clandestina, ataques de
drones e combates online, com os militares de olhos
postos no Pacífico, não mais no Afeganistão.
Em
rara visita ao Pentágono, o presidente Obama declarou que os EUA estarão
“fortalecendo nossa presença no Pacífico Asiático” e “virando a página de uma
década de guerra.” Na prática, significa cortar nos “sistemas retrógrados da
Guerra Fria” (não especificou quais) e no Exército e na Marinha, como parte de
amplo esforço para cortar o que o Pentágono calcula hoje em $487 bilhões em seu
orçamento, ao longo de dez anos.
Obama discursa em sua visita ao Pentágono |
Mas
também significa que os EUA investirão pesado em outras especialidades
militares, de agora até 2020. Obama identificou-as como “inteligência,
vigilância, contraterrorismo, prevenção da construção e uso de armas de
destruição em massa e a capacidade para operar em ambientes nos quais o inimigo
tente nos negar acesso.”
Traduzido do jargão secreto da Defesa: toneladas de
ferramentas de espionagem, inclusivedrones; forças letais para operações
especiais; armas de ciberataque; ferramentas para despistar rastreamento e
bloqueios (orig. jammers); e
presença para deter e confrontar o Irã – talvez também a China, que insiste em
manter a Marinha e a Força Aérea dos EUA bem longe de suas praias[1].
A coisa soa como versão requentada do projeto do
Pentágono dez anos passados, e talvez seja isso mesmo. Os militares serão
“menores e mais magros, mas igualmente ágeis, flexíveis e tecnologicamente
avançados”, nos termos do recém-lançado documento do Pentágono, no qual se
delineia a mudança de estratégia; e preservando “capacidades de ponta,
explorando nossa vantagem tecnológica, ampla e unida em rede”. Em algum lugar,
Donald Rumsfeld sorriu[2].
Mas o documento de fato não diz o que tudo isso
realmente significa – por exemplo, que armas, navios, tanques, aviões e soldados
estão com a cabeça sobre o cepo. Essa é a tarefa do orçamento da defesa para o
próximo ano, que o Pentágono está finalizando e divulgará no início de
fevereiro. Mas como o Blog “Danger Room” noticiou na 4ª-feira, a Força Aérea
perderá 200 aviões e a Marinha dispensará cerca de 100 mil soldados, porque o
Pentágono terá de cortar $450 bilhões do orçamento, em dez anos[3]. E o
documento já divulgado pelo Pentágono também faz vaga referência a cortes no
arsenal nuclear dos EUA.
As
linhas de ataque da estratégia de defesa de Obama já estavam claras, antes até
de a tinta secar. O Republicano Buck McKeon (R-Calif.), presidente da Comissão
das Forças Armadas da Câmara de Deputados, chamou a coisa de “retirada do
mundo”, marcada por “pesados cortes nas nossas forças militares”. E se a
estratégia parece dieta para fazer o orçamento da defesa emagrecer $487 bilhões
em dez anos, como está programado, o Pentágono perderá outros $600 bilhões, no
mesmo período, que começa a contar ano que vem, a menos que o Congresso aprove
acordo gigante para reduzir o déficit. Há tempo de sobra para que os militares
consigam reverter o tal acordo. Mas o secretário de Defesa Leon Panetta já
avisou que novos cortes “nos forçarão a cortar missões, compromissos e
capacidades indispensáveis para proteger interesses vitais da segurança
nacional”.
Ao longo do ano passado, o Pentágono discutiu modos para
reafirmar a postura da defesa dos EUA – nem tanto porque quisesse, mas porque a
iminência dos cortes obrigou o Pentágono a repensar o que fazer para defender o
país por preço mais em conta. Críticos acusam o processo de ser retrógrado,
estratégia movida a dinheiro, em vez de estratégia militar que orientasse o modo
como o Pentágono gasta dinheiro. Afinal, na última vez que o Pentágono pensou
sobre as próprias prioridades em muitos anos, a primeira resposta que apareceu
foi “vencer as guerras de hoje” (.pdf[4]) Era
fevereiro de 2010.
Pois
a prioridade mudou. A nova estratégia “transiciona (sic) a empreitada de nossa
Defesa, da ênfase nas guerras de hoje, para a preparação para desafios futuros”
– diz o documento. Esses desafios “são inextricavelmente ligados aos
desenvolvimentos no arco que se estende do Pacífico Ocidental e Leste da Ásia,
até a região do Oceano Índico e sul da Ásia”.
Mas
o Pentágono não está pondo fim às “Guerras na Sombra” – ataques não declarados
contra alvos terroristas, por
drones e comandos
clandestinos, no Paquistão, Iêmen, Somália e além. Mas, sutilmente, o Pentágono
muda de objetivo. “No futuro que se pode antever”, diz o documento, os EUA
caçarão terroristas – “monitorando atividades de ameaças que venham de entidades
não estatais em todo o mundo, trabalhando com seus aliados e parceiros para
estabelecer controle sobre territórios sem governo, atacando diretamente os
grupos e indivíduos mais perigosos, quando necessário.”
Se
isso significa alguma coisa, significa mandar a espionagem global, antes das
missões para capturar e matar terroristas. Essas missões sempre exigiram
inteligência, mas tudo faz pensar em programas de vigilância e espionagem de
longo alcance, como os
clusters de vigilância da
Força Aérea do tipo “Gorgon Stare”, e a espionagem militar massiva parece estar
crescendo em importância.
Nem
os EUA estão dizendo que estão caindo fora do Oriente Médio. “A segurança do
Golfo” será enfatizada – o que é o mesmo que dizer que a nova prioridade dos
militares é conter o Irã. O que por sua vez exige “priorizar” a “presença” dos
EUA e forças aliadas “na e em torno da região”. Tradução: a Força Aérea manterá
a base-gigante em Al-Udeid no Qatar; e a V Frota da Marinha continuará a
patrulhar o Golfo.
Mas
a guerra de contraguerrilha, foco da ação do Exército dos EUA na última década,
nem por isso será abolida. Oficialmente, é a nona entrada na lista de
prioridades da Defesa. E mesmo aí, o documento fala, no máximo, sobre “guerra
limitada de contraguerrilha”, e sabe-se lá o que isso significa, porque “as
forças dos EUA não mais serão planejadas para operações de larga escala,
prolongada, de estabilização”.
Apesar
de os militares estarem-se mudando para o Pacífico – o que significa mais
trabalho para Marinha e Força Aérea – além de espionagem com drones; forças letais para operações
especiais; despistamento e bloqueios
cyber e ataques
cirúrgicos, o general Martin Dempsey, chefe do Comando do Estado-maior, não quer
que se esqueça o Exército. Dempsey lembrou que “o documento não diz, em lugar
algum, que nunca mais combateremos guerras no solo”.
Notas
dos tradutores
[2] “How
Technilogy Almost Lost the War: In Iraq , the Critical Networks Are
Social – Not Electronic” (27/11/2007)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.