Quinn Norton |
8/11/2011, Quinn
Norton, “The Treat Level”,
Wired (Parte
I)
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Essa
matéria é a primeira de uma série especial de Quinn Norton para a revista Wired.
Quinn
Norton está vivendo com manifestantes #Occupy
e quer ler por trás das manchetes, acompanhando os Anonymous.
O
projeto de seu trabalho pode ser lido em: “Wired.com
Embeds With #Occupy and Anonymous” (em
inglês).
Nota
dos editores:
Cobertura
decente do que são e fazem os Anonymous andará sempre muito próxima, em alguns
pontos, de material NSFW
[2].
Inclui imagens e linguajar não recomendáveis.
Anonymous
manteve seu protesto mensal, inclusive esse, dia 13/10/2011, em frente ao templo
principal da Igreja da Cientologia, no centro de San
Francisco. |
Semana passada, a net e a mídia foram sacudidas por
notícias de que os Anonymous
atacariam o cartel de traficantes mexicanos Zeta [3],
história que adiante se metamorfoseou em ampla matéria sobre drogas e corrupção
[4], e
levou à denúncia de um funcionário público na Carolina do Norte, acusado de
formação de quadrilha.
Também em 2011, os Anons distribuíram documentos reservados
(que intitulam “d0xed”; aprox. “descoberto”, “desvelado”, “revelado”) de várias
organizações policiais e de um conhecido empresário, fornecedor da
Polícia[5], como
retaliação, depois de dura repressão policial contra ocupações associadas ao
movimento Occupy Wall Street. Já
invadiram páginas que promovem pornografia com crianças, várias vezes invadiram
os computadores da Sony e até tentaram distribuir fotos comprometedoras, para
chantagear o porta-voz da empresa Bay
Area Rapid Transit (BART), Linton Johnson, e tentar forçá-lo a demitir-se
(logo depois que Johnson declarou que havia autorizado o bloqueio de telefones
celulares nas estações das linhas BART, de transporte público em San Francisco, como medida preventiva
para impedir manifestações de protesto marcadas para as mesmas estações, contra
a brutalidade policial. [6])
Criaram
um frenesi punitivo, que beirou o pânico, num momento em que a logorreia da
mídia e dos “especialistas” atingia o clímax, todos falando de “cyberterrorismo”
e “cyberliberdade”. Mas safaram-se de tudo, com discurso que sempre está entre o
engraçadíssimo, o extremamente perturbador e a autopromoção desenfreada,
conforme o humor da “onda” dominante em cada momento.
Mas
o que é “Anonymous”?
Na
série que aqui se inicia – “Anonymous:
Beyond the Mask” [Anonymous por trás da máscara] – faremos o possível para
responder essa pergunta.
A professora Biella Coleman, da New York University, que há anos
pesquisa os Anonymous, vê neles o
arquétipo do herói (às vezes maldito) que zomba dos deuses[7], e
que, pela astúcia e pela esperteza, consegue sobreviver à luta contra inimigos
muito mais poderosos.
“O
herói zombador ladino existe nos EUA, na Europa, em todo o mundo, não como mito,
mas encarnado num grupo e na prática viva: é “o malandro” (versus “o otário”, “o Mané”, em português), a
raposa (versus o leão); o hacker[8]
(versus
o especialista empregado), o que faz gambiarras e rouba sinais de telefonia ou
de televisão por cabo, na fiação de rua (ing.
phreaker, com “ph” de “phone”), o “trator” (que
passa por cima de tudo, ing.
troller, às vezes no sentido positivo, de “invencível”, às vezes
no sentido pejorativo que aparece, em português, no verbo “patrulhar [ideias]”)
– os quais, todos, têm traços próprios, como todos os ladinos ardilosos safos” –
escreveu ela em Social Text
[9].
O
herói zombador ladino não é nem o mocinho nem o bandido. É o personagem que
expõe contradições, inicia a mudança e faz avançar a narrativa. Num episódio o
amado e heróico herói zombador ladino está salvando a civilização. Minutos
depois, o mesmo herói zombador ladino mostra-se cruel e desalmado, chuta
velhinhos e come criancinhas.
Conversar
sobre os Anonymous é aproximar-se
passo a passo da natureza desse herói zombador ladino, andar entre o elogio e o
medo. E a imprensa, sempre perdida, sem saber como
descrevê-los.
Tentamos várias formas: “grupo hacker”, “conhecido grupo hacker”, “hack-ativistas”, o
Canal Fox – a Máquina de Ódio – da Internet”[10], “os
cara de palhaço”, “adolescentes-militantes-de-porão”, “organização militante”,
“um movimento”, “um coletivo”, “um grupo de vigilantes”, “terroristas online” e várias outras expressões
fantásticas e coloridas. Nenhuma delas cobriu, realmente, o que é preciso dizer.
Os Anonymous sempre nos obrigam a
recorrer a dicionários e enciclopédias – o que mostra que a imprensa, toda ela,
ainda não tem ideia do que realmente sejam ou signifiquem os Anonymous.
Só
quando baixei e ouvi o álbum
Corruption [11],
segundo álbum de Lulz: A
corruption of LOL [12],
consegui afinal sacar o que são, realmente, os Anonymous.
Anonymous é uma
cultura.
É
preciso ser uma cultura para ter álbuns, palavras só suas e iconografia,
exatamente tudo que me cercava e onde eu já estava nadando. E há muito mais. Anonymous é uma pequena cultura
nascente, mas já tem estética e valores seus, além de arte e literatura, regras
sociais e modos de produção, e tem, até, linguagem dialética
própria.
Não
surpreende que a imprensa e a cultura dominante estejam confusas, perdidas.
Estudar os Anonymous tem de ser
exercício de antropologia, que considere o modo como vivem as pessoas em
sociedades diferentes. A mídia insiste em querer ver ali uma organização com um
líder que explique àquela mídia por que os Anonymous só fazem coisas estranhas. E
não só isso, porque os Anonymous
parecem ter-se constituído em torno de fazer coisas estranhas e têm até
expressão própria para dizer o que fazem: inventam lulz.
Esse lulz é o traço mais abstrato e mais importante que
é preciso compreender sobre os Anonymous – e, talvez, sobre a própria
internet. Lulz é rir, em vez de gritar. É uma risada que
confunde e separa. É schadenfreude
– é o malandro que ri da desgraça do otário. Não é o humor anestésico que
ajuda a passar o dia. É humor que aguça todas as contradições. O lulz é riso que não esconde a dor (\o/). Obriga
você a ver a injustiça e a hipocrisia, e não faz diferença de que lado você
esteja de cada uma, no momento em que os Anonymous riem (\o/ \o/ \o/
[NTs]).
Na
cultura dos Anonymous, o lulz é a razão pela qual fazem. Os Anonymous não são feitos para tempos
fáceis; quando tudo está bem, o herói zombador ladino tira uma
sesta.
Inevitabilidade
Nenhuma cultura emerge do vácuo, e Anonymous não é exceção. Os Anonymous nasceram no website 4chan[13]
criado
em 2003, que se converteu numa seção do tipo “cabe tudo” conhecida hoje
como the /b/ board. O 4chan, por
sua vez, vem de um antecessor em japonês, chamado 2chan, criado em 2001. E antes
disso, o malho lulz e
hacker estava já bem vivo
nas velhas salas de bate-papo, na EFnet e na cena hacker dos anos 1990s [14].
Mas, se você já andou até aí, acrescente também, como
influências, Mondo 2000[15]
e
publicações como RE/Search e um bilhão de zines babacas, já falecidos à altura de
1996. Mas nada disso tampouco nasceu do nada.
A cultura
hacker e praticamente
toda a cultura de computadores daqueles anos nascem na franja contracultural dos
anos 1960/1970s e do
Illuminatus! de Robert
Anton Wilson e Robert Shea[16].
Portanto, para acompanhar o fluxo, temos ainda de entender os hippies, Andy Kaufmann e os
Situacionistas. Ou vamos até o início do século 20, conhecer os absurdistas e
dadaístas? Ou, quem sabe, vamos logo ao livro dos livros, obra máxima, o grande
épico trator lulz, Tristram Shandy [17]?
Então, estamos hoje muito longe, em 1759.
Talvez tudo isso signifique que os “Discordantes” dos
anos 1960s sempre estiveram certos, e há uma gargalhadinha
“He-He-He-Agora-é-Sério[18]
de
natureza cósmica. Talvez haja uma parte da realidade, uma força da física, que é
Senso de Humor Fundamental. Nesse caso, a gravidade (a seriedade das gentes e o
peso dos objetos) que enfrentamos sempre só se explicaria por uma quantidade
ainda maior de Humor Negro, entretecida também no tecido do
universo.
O que
interessa é que Anonymous, apesar do
falso choque que se vê nos jornais e jornalismos contemporâneos, não é sui generis. Não é surpresa e não
brotou, já completamente formado [nem da cabeça de Júpiter, feito Vênus, nem] da
cabeça do Gato no Teto [ing. Ceiling
Cat [19]].
Aqui
e agora, com a exaustão do discurso político [e do discurso jornalístico (NTs)],
as tremendas pressões da vida moderna, o surgimento da internet, era inevitável
que surgisse esse organismo de rede estocástica, os Anonymous.
Confesso
ao mundo que amo os Anonymous, mas
não os vejo como heróis.
Como o personagem “V” de Alan Moore[20]
que
inspirou os Anonymous a adotar a
máscara de Guy Fawkes como ícone e item de moda, ninguém jamais pode decidir se
Anonymous é herói ou anti-herói. O
herói zombador ladino é atraído pela mudança e pela necessidade de mudar, e Anonymous vai por aí. Mas eles não são o
seu exército pessoal – diz a Regra 44, e, sim, há regras [21]. E
quando Anonymous fazem alguma coisa,
ela nunca sai exatamente conforme os planos. A internet não tem limites
claros.
O
mito do herói zombador ladino mostrou-se tão sedutor que a rede lhe deu corpo,
meteu-o na realidade. Anonymous, o
herói zombador ladino da rede, emergiu como monstro sobrenatural de cinema,
saído diretamente dos miasmas do pântano de ideias, diretamente para o mundo
real.
“Ultra-coordinated
motherfuckery”
[22]
– Sarro ultracoordenado
[23]
“Caso
alguém aí decida clicar no lado /b/”[24] . No cartaz: “Atenção! É perigoso entrar sozinho. Leve ele com você”. |
Mas para seguir o fio histórico, comecemos pelo 4chan.org, muitíssimo
popular por distribuir imagens e falar delas, especialmente 4chan’s /b/ board (barra pesadíssima, realmente, muito,
muito NSFW). /b/ é um fórum onde
os postados não são assinados, não há arquivos e é fórum declaradamente sobre
qualquer coisa e tudo. Esse formato tecnológico, unido à internet no início do
século 21, fez nascer os Anonymous, e
continua a ser a teta na qual os Anonymous mamam (Regra 22 [25]).
Se
você tira a venda dos olhos e começa a olhar, é difícil parar de olhar o que /b/
lhe dá.
/b/
é o id da internet, versão inconsciente-coletivo do
ponto do qual brota o pique da base. Nenhuma sofisticação nas passagens,
sexualidade e destruição na paisagem selvagem de /b/ – é o homem-da-rede em
estado selvagem.
Nisso,
há ali uma espécie de inocência e pureza. “Negro” e “viado” são palavras
frequentes, mas não por racismo ou homofobia – embora também haja muito racismo
e homofobia por ali. Essas palavras aparecem ali como uma espécie de barreira,
para manter você afastado [Na porta de entrada do Inferno, na Divina Comédia, de Dante, lia-se bom
aviso semelhante: “Deixai toda a esperança, vós que entrais!” (Canto III)
(NTs)]. Palavras duras, ali, como placas, avisando que, adiante, a coisa piora.
E piora.
Aceitam-se
praticamente todos os apetites humanos, todas as nódoas são exploradas e
provavelmente, fotografadas. Mas /b/ nos obriga a lembrar que o id
é a fonte da energia criativa. Muito, muito, muito, mesmo, é inócuo, às
vezes até doce. Muita gente busca socorro em /b/, e muita gente encontra amparo
e aconselhamento. O id e /b/ são como tocas onde se podem abrigar
os muito fracos e desamparados por todos.
Em
/b/ você encontrará os não-ditos. Os “/b/tards” [de “bastardo”,
equivalente, em inglês, a “filho da puta”] como são chamados e se chamam os
“gurus” daquela página, criam pornografia de incesto, fantasiam espancamento de
mulheres, procuram
dataviz
[26]
e
mais. São adultos, homens, e querem, sim, conversar sobre “My Little Pony: Amizade é pura Magia”.
[27]
Talvez
seja engraçado, talvez não (um daqueles marmanjos me diz que a coisa é muito
melhor do que estou pensando.)
Em
algum momento perdido nessa história que ninguém escreve, /b/ e Anonymous chegaram a um ponto de
inflexão, e o id respingou para o resto da rede, sob a forma
de “um sarro ultracoordenado” – como um Anon descreveu-o para Coleman.
Foi
graças à competência para usar muito bem e muito rapidamente ferramentas
tecnológicas de coordenação social, que os Anons, trabalhando juntos, podem atacar
coletivamente qualquer alvo, entrando por praticamente qualquer brecha, ou só
para divertir-se, sem que os alvos tenham nem a mais remota chance de antecipar
algum ataque ou de se proteger.
Esses
ataques passaram a ser conhecidos como “raids.”
Com
o tempo, os raids assumiram várias formas, em alguns casos
mudaram-se para o mundo normal. Às vezes, são como protestos em massa
coordenados, ataques de DDOS
(distributed-denial-of-service, quando vários hackers sobrecarregam um
determinado site e o derrubam), invasões diretas de quebra de
segurança e invasão (hacking, literalmente) de websites ou bancos de dados ultraprotegidos.
Vazamentos (“D0xing”) de dados protegidos, falsas encomendas de pizzas,
inscrever outros para que passem a recebem toneladas de e-mails não solicitados,
rapidamente viraram rotina.
Há um tipo de
raid que todos conhecem, seja como participante seja como vítima:
o rickroll. [28]
O rickroll começou como ferramenta de um raid dos
/b/tard/Anonymous, antes de espalhar-se tanto, que o governo do
Oregon [29]
e até
o porta-voz da Câmara de Deputados dos EUA [30]
rickrollearam
meio
mundo.
Os
Anonymous espalharam outros memes, como lolcats e
pedobear que se afastaram
muito da origem, mas que tiveram pouco efeito no resto do
mundo.
Mas,
sempre, os Anonymous mantêm alguma
coerência de atitude, embora, às vezes, envenenada. Distribuíram dados sigilosos
de alguém que maltratou um gato. Em geral, perseguem quem maltrata gatos, porque
os Anonymous adoram gatos e imagens
de gatos. Bloquearam o acesso à piscina, num jogo para crianças (Habbo Hotel),
com avatares de negros musculosos cobertos de jóias, que informavam “A piscina
está fechada por causa de AIDS” –, em protesto contra o que lhes pareceu atitude
racista, nos proprietários da Habbo.
Mas
os Anonymous nunca tiveram qualquer
alvo-foco claro. Os “raids” eram ou devastadores ou engraçados, mas, nos
dois casos, apareciam e sumiam com a mesma rapidez, no tornado característico do próprio sistema. Anonymous nunca foi o exército pessoal
de ninguém e nunca esquentou lugar em nenhuma causa.
Foi
preciso que aparecesse Tom Cruise para mudar tudo isso e dar uma consciência
política aos Anonymous.
Especificamente, Tom Cruise encarnado em Cientologista fanático (a seguir, vídeo
integral, sem cortes:
O nascimento dos “Moralfags”
[31]
Em
janeiro de 2008, vazou da Igreja da Cientologia um vídeo em que se via um Tom
Cruise em surto. Aquela igreja tentou pressionar vários provedores de acesso e
Gawker a censurar o vídeo a tirá-lo da rede, usando todos os tipos de artimanhas
legais.
Mas o vídeo era
lulz épico em estado
puro, e os Anonymous não o deixariam
morrer. Os esforços da Igreja da Cientologia para fazê-lo desaparecer
enfureceram de tal modo os Anons, que
decidiram destruir, de vez, toda a Igreja [32]. Os Anons ficaram “furiosos” o que
significou, como sempre, inventar ação engraçadíssima, de chorar de rir, de
mijar de rir, de cuspir de tanto rir. Para os Anonymous, “ficar furioso” significou
decidir tratorar a Igreja, mas sem deixar, nem por um segundo, que a coisa
soasse séria. Porque soar sério, para os Anons, significa perder a
guerra.
Para essa “op” [“operation”, operação], os
Anons criaram o Projeto Chanology [33], o
qual, pode-se dizer, marcou o nascimento de uma consciência política para os Anonymous, e o desenvolvimento de
métodos próprios para ações de massa.
Destruir
a igreja seria hiper mega engraçado, e requeria muito trabalho. Muitos se
perguntam, desde então, se eles falavam a sério, sobre destruir a igreja, ou se
tudo não passava de piada. A resposta é sim. Entender isso é crucial para
entender os Anonymous.
Não há
prova de que o pessoal que iniciou o Projeto Chanology tivesse qualquer questão
pessoal contra a Igreja da Cientologia, além do incômodo indireto que muitos
sentem, ante a longa história de litígios legais promovidos pela Igreja e
repetidas tentativas para cercear opiniões divergentes. Mas o mais importante,
provavelmente, é o fato de que a Igreja da Cientologia foi considerada culpada,
sem possibilidade de remissão, do crime de “dar comida aos trolls” [34]
(Regra 14 [35]).
Mas
o Projeto Chanology foi o que
faltava, como abrigo, aos muitos que tinham histórias pessoais com a Igreja da
Cientologia, que acorreram a abrigar-se sob as asas do arrogante e lulz coletivo. A Cientologia perseguiu seus
detratores com virulência e mesquinharia, vasculhou a vida pessoal dos críticos,
perseguiu-os com investigadores privados e arruinou várias reputações.
Os
Anonymous não se assustaram. Se
alguém os acusa de estuprar, eles respondem que estupram criancinhas. Acuse-os
de qualquer crime, e eles responderão com coisa pior, no blog /b/. O anonimato e
a ética de “palavras nunca me atingirão” que herdaram da estética de extremos do
4chan tornaram os Anonymous imunes ao
arsenal da Igreja da Cientologia.
Mas
alguns Anons, e alguns que se
juntaram a eles, saídos da comunidade de inimigos da Cientologia, esses, sim,
queriam vencer aquela guerra. Queriam sair dela como os mocinhos, deixando a
Cientologia no papel de bandidos. A Igreja, raciocinaram eles, feriu pessoas,
roubou dinheiro e mentiu a muita gente, apresentando-se às pessoas fantasiada de
assistentes e professores.
Os
Anonymous dizem que fazem quase a
mesma coisa, mas, de fato, não fazem. E com certeza jamais prometeram cuidados e
ensinamentos a ninguém, mas, vez ou outra, cuidam de gente e ensinam
muito.
Como
Coleman escreve em seu estudo sobre os, eles são a nêmesis perfeita. Mas Anons, Anonymous preocupados com fazer a coisa
certa, entram no mundo da moralidade, e a moralidade – ou, pelo menos, com
certeza, o moralismo arrogante – é o contrário do lulz. Para muitos Anons veteranos, a briga contra a Igreja
da Cientologia corrompeu a pureza dos Anonymous – e com o fim da pureza,
cresceria o câncer que acabaria por matar o lado /b/.
Dia
10/2/2008, os “moralfags” levaram a coisa toda a um novo patamar.
Marcaram reuniões, hora e local, em cidades em todo o mundo, compraram máscaras
e escreveram cartazes.
Milhares
de Anons abandonaram a Internet e
apareceram na rua, em frente às igrejas e centros da Cientologia em todo o
mundo, muitos deles usando as máscaras de Guy Fawkes recém compradas – item da
campanha de marketing que a produtora Warner Brothers fazia então,
promovendo o filme “V for Vendetta”, para ocultar o rosto e a
identidade.
Tocaram
e dançaram com seus cartazes, os quais, simultaneamente, acusavam a Igreja da
Cientologia e faziam referência a obscuros memes de internet. Encontraram-se em
carne e máscara, na rua, pela primeira vez. Festejaram o encontro, ante
Cientologistas irados, em mais de 90 cidades do mundo.
Pela primeira vez, a internet aparecia na rua real, em
massa. E, claro, os Anonymous levaram
o Gato Comprido (“Long Cat [36]
).
Continuação
na:
PARTE
II, “Anonymous
101, PARTE 2: A moral derrota o
Lulz”, 30/12/2011, Quinn Norton, Wired (em
tradução).
Notas
dos tradutores
[1] Corruptela de “LOL” (na
taquigrafia da comunicação
online, significa “gargalhada”, “risos,
risos, risos”. Também grafado “\o/” e \O/).
“Lulz” é
também um grupo de
hackers
que operam,
segundo eles, na “antissegurança”. Em junho de 2011, atacaram vários sites do
governo brasileiro. Sobre isso, ver
O Estado de
S.Paulo,
21/6/2011,
em: “Lulz Sec
e Anonymous anunciam aliança”.
[2]
NSFW, Not Safe For
Work (Não Seguro para
Ambiente de Trabalho). No mundo da internet, a sigla é usada para indicar que o
website inclui material que o chefe
ou os colegas considerarão inadequado para ser visto/lido em ambiente de
trabalho (o oposto de SFW, Safe For Work, Seguro para Ambiente
de Trabalho).
[8]
O
verbo to hack, em inglês,
é usado, com conotação positiva, para designar o movimento que se faz, com um
facão, para abrir uma trilha numa floresta densa; mas usa-se também, com
conotação negativa, para o ato de cortar drasticamente um orçamento, sem
considerar qualquer efeito que não seja gastar menos; ou para cortar texto
escrito, para fazê-lo caber num dado espaço, sem considerar muito o que seja
excluído. Nas duas acepções,
hacker é o sujeito ativo
do verbo (em inglês).
[13]
Em
4chan s regras para interagir nessa
página estão em “Rules”. A regra 14 diz: “Lembre-se:
usar o 4chan é um privilégio, não um direito. O 4chan reserva-se o direito de
cancelar o acesso e remover o conteúdo sem qualquer
aviso”.
[16]
“The
Illuminatus”
(em inglês) é
uma trilogia: três romances publicados em 1975, sem tradução para o
português.
[17]
STERNE,
Laurence, A Vida e as Opiniões do
Cavalheiro Tristram Shandy, São Paulo: Companhia das Letras. Tradução
[totalmente magnífica!] de José Paulo Paes. E é romance totalmente sensacional,
sensacional, e foi leitura de cabeceira de ninguém menos que Machado de Assis.
Aliás, depois de ler Tristram, vê-se bem facilmente o quanto há dele, no
grande, grande, imenso Machado de Assis. Que voo! Dos Anonymous, diretamente ao Machado de
Assis, no Cosme Velho, na Rua do Matacavalos, no Rio de Janeiro do II Império!
Que voo! Que viagem! \o/ \o/ \o/.
[18]
Glossário onde se lê: ha ha only
serious – [da
gíria de San Francisco, orig. como mutação de
HHOK, ‘Ha Ha Only Kidding’
(“He, he, é piadinha, tava só brincando”)]. A expressão (quase sempre
abreviada, HHOS) captura o sabor
de boa parte do discurso hacker.
Aplica-se, sobretudo a paródias, absurdos e piadas que são feitas para, e
percebidas como, contendo alguma perturbadora quantidade de verdade ou verdades
construídas como piada ‘interna’ e autoparódia. Esse glossário contém muitos
exemplos de “He-he, é piadinha, tava só brincando” e “He-he, agora é sério”,
tanto na forma como no conteúdo. De fato, toda a cultura hacker
é muito frequentemente interpretada como “He-he, agora é sério” pelos
próprios hackers; rir demais ou
levá-los demasiadamente a sério marca quem assim reaja como “gente de fora”, um
“quem-me-dera-eu-fosse-ele” ou um “nunca-será, em estado larval”. Para mais
esclarecimentos sobre esses problemas, consulte qualquer mestre Zen. Ver também
hacker
humor e
koan
(em inglês).
[19] “Ceiling Cat” (em inglês)
[21]
Escritas
pelos Anonymous; podem ser lidas em:
“Regras da internet”, (em
inglês). A regra 44 diz: “/b/ sucks
today” (aproximadamente, mas não exclusivamente: “[a página] /b/ enche o
saco deles hoje”).
[22]
Há
zilhões de ocorrências dessa expressão, quase intraduzível [lit.
“filha-da-putagem ultracoordenada”] na internet. Várias são falas de Anonymous convidados para encontros com
alunos em escolas e universidades pelo mundo, nas quais a expressão ocorre como
pára-definição do que os Anonymous
fazem. Mas a ocorrência em que a expressão mais dá conta de muitos outros
significados muito complexos parece ser, das que encontramos até agora, o
postado de um músico blogueiro, procurando emprego em alguma banda: “Se alguém
aí tá pensando num sarro ultracoordenado, eu tenho o tamborim” (\o/ \o/
\o/.
[25]
A
Regra 22 (ver nota 21) diz: “Cortar-colar foi feito para matar a última gota de
originalidade que restava”.
[27]
Seriado
infantil, lançado no Brasil dia 21/11/2011 e transmitido pelo canal “Discovery
Kids”, da programação da Rede Globo por assinatura, o canal mais
assistido no Brasil da televisão por assinatura. Lê-se sobre o seriado, “My
Little Poney” por ex., (em português).
[28]
Rickroll envolve o videoclipe da música “Never Gonna Give You
Up” [Nunca desistirei de
você], de 1987, de Rick Astley. Alguém envia um link, dizendo que tem a ver com
a discussão em curso; mas o
link só abre o vídeo de
Rick Astley. Quando alguém abre esse
link “hackeado”, diz-se
que foi “rickrolleado”. Com o tempo, o
Rickroll deixou de
depender de links e abria repentinamente, em qualquer situação.
[31]
“Moralfag”
[lit.
“viado moralista”] Gente que chega ao
4chan's /b/ board (também
chamados “newfag” [lit, “viado novo”] e que não aceita algumas das
imagens ou atividades mais extremas. A maioria dos moralfags protesta contra tortura de animais e
discussões sobre o tema, e fazem de tudo para manifestar seu desagrado. A
expressão tem sido associada à onda de
newfags que apareceram em
/b/, contra o “Projeto Chanology”
criado contra a Cientologia. Resposta típica de um moralfag, contra tortura de animais
é: “Cara, não é engraçado mostrar tortura de animais. Estamos acostumados a ver
cadáveres humanos na televisão, e ok, mas, animais?! Vamos iniciar uma campanha
contra tortura de animais. Totalmente “Clube da Luta” (em
inglês).
[33]
“Chanology”
- “Palavra
não definida até agora”, com formulário para que se
proponham definições). “Todo o projeto”, comentado em
detalhes , em inglês.
[35]
Ver
nota 21.
A regra 14 diz: “Não se discute com trolls. Discutir com eles é prova de
que eles venceram”.
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