26/1/2012, Russia Today (e vídeos)
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Imagens: Varsóvia. Manifestantes com adesivos
anti-ACTA sobre a boca,
participam de protesto contra os planos do governo polonês, de assinar o tratado
internacional de copyrights ACTA
(Anti-Counterfeiting Trade Agreement), em frente ao escritório da União
Europeia em Varsóvia, dia 24/1/2012 (AFP Photo / Janek
Skarzynski)
Depois
de dias de protestos e ataques de
hackers, a Polônia afinal assinou o controverso acordo ACTA (Anti-Counterfeiting Trade
Agreement) sobre copyrights.
Os opositores consideram que o acordo é um assalto à liberdade na rede, uma vez
que exige que os provedores de serviços de internet policiem a atividade dos
usuários.
O
embaixador da Polônia no Japão Jadwiga Rodowicz-Czechowska assinou o acordo em
Tóquio, na 3ª-feira. O tratado visa a harmonizar os padrões de proteção
internacional de copyrights em
várias indústrias, da indústria farmacêutica à indústria da
moda.
Agora,
o tratado terá de ser ratificado pelo Parlamento, que dificilmente deixará de
fazê-lo, como informa Aleksey Yaroshevsky, para Russia Today.
A
notícia chegou em dia de protestos de massa na Polônia, com dezenas de milhares
de pessoas na rua, e muitas outras em ação
online, contra o
ACTA. Cerca de 15 mil ativistas marcharam em Krakow, 5 mil em
Wroclaw e vários milhares em outras cidades polonesas.
Muitas
páginas na internet, inclusive a do primeiro-ministro Donald Tusk, foram
atacadas por hackers que exigem que o país não subscreva o
tratado. Mas as autoridades polonesas mantiveram o projeto original, e a Polônia
subscreveu o tratado.
O
acordo ACTA, já assinado por
EUA, Austrália, Canadá, Japão, Marrocos, Nova Zelândia, Cingapura e Coreia do
Sul, tem sido criticado por grupos de direitos humanos, por ser acordo secreto,
por jamais ter sido discutido publicamente e pelo potencial de abuso que
inclui.
O
acordo ACTA tem sido comparado às leis SOPA/PIPA repudiadas pela opinião pública, depois de
intensa campanha, distribuída planetariamente, sobretudo, pela internet. No caso
do acordo ACTA, a opinião
pública foi mantida quase completamente à margem da tramitação, até que o grupo
Anonymous, de hackerativismo, passou a divulgar
informações e notícias sobre o real conteúdo daquele
acordo.
O
grupo Anonymous enviou duro aviso a autoridades polonesas, em que afirmam já ter
informação altamente sensível sobre autoridades do governo polonês, e que
divulgarão as informações em seu poder, caso o Parlamento ratifique o
acordo.
“Governo polonês” – diz a declaração dos Anonymous, publicada em pastebin.com – “somos muito
mais poderosos que vocês. Temos muitos arquivos seus e informação pessoal.
Aviso: exercitem a cautela.”
Nos
termos do ACTA, os provedores de
serviços de internet ficam virtualmente obrigados a monitorar a atividade de
todos os usuários à caça de possíveis violações de copyrights. O acordo também autoriza
os proprietários das marcas e agentes da lei a violar a privacidade dos
usuários, em investigações de supostas violações.
Além
de afetar o uso da internet, o acordo impõe fortes restrições a outras áreas que
envolvem patentes, como a produção de drogas genéricas.
Rick
Falkvinge, fundador do Partido Pirata Sueco, disse, em entrevista a Russia
Today, que o tratado de proteção de
copyrights, ACTA,
é “excelente exemplo de abuso de poder pelas corporações da indústria.”
“A
lei para prender usuários de internet foi negociada entre as corporações
industriais. Os políticos já receberam a lei pronta” – disse Falkvinge.
“Sociedades democráticas não podem operar desse modo, independente do que digam
as leis.”
Falkvinge
crê que os ativistas conseguirão influenciar o Parlamento polonês, e que o
movimento mundial contra as leis
SOPA e PIPA nos EUA já o
demonstraram.
“Milhões
de pessoas, literalmente, milhões, escreveram ao Congresso dos EUA e disseram
‘não queremos essas leis, que não manifestam o que nós queremos que seja feito’.
O Congresso dos EUA ouviu aquelas vozes e percebeu que, se se rendesse às
corporações, os deputados e senadores perderiam votos. No final, a manifestação
gigante dos eleitores conseguiu mudar a política” – disse
Falkvinge.
“O
tratado ACTA é caso clássico de políticos que fogem dos
problemas reais” – disse Katarzyna Szymielewicz, ativista de direitos humanos na
Polônia, em entrevista ao canal
Russia Today.
“Os
políticos recusam-se a reformar a legislação da propriedade intelectual. Em vez
disso, preferem reforçar as medidas de censura.” Para Katarzyna Szymielewicz, a
causa desses impasses e dessas reações violentas é a muito ampla ignorância,
entre os políticos, sobre o que está em questão, quando se fala de propriedade
intelectual e legisla-se sobre essas questões.
“Se
os políticos cuidassem de promover uma complexa e ampla reforma na legislação da
propriedade intelectual em toda a União Europeia, e no resto do mundo, todos
veriam que bem facilmente se poria fim aos problemas da chamada ‘pirataria’.
Deveriam cuidar de reformar as leis de propriedade intelectual, não recorrer à
censura, como estão fazendo, mais uma vez.”
“SOPA
e PIPA falharam, mas o ACTA é uma opção”
Membro
do Partido Pirata da Alemanha, Stephen Urbach disse a Russia Today que em quase toda a Europa, exceto na
Polônia, praticamente ninguém está realmente preocupado com o ACTA, porque é muito
“abstrato”.
“SOPA e
PIPA são melhores
exemplos, porque o blackout da internet conseguiu mostrar às pessoas o
que poderia acontecer se aquelas leis fossem aprovadas” – explicou. “Mas não se
pode fazer a mesma coisa com o
ACTA. É impossível “ver” o que acontecerá e, por isso, é mais
difícil organizar a campanha de protesto.”
Segundo
Urbach, o Partido Pirata da Alemanha iniciou campanhas anti-ACTA na Europa, há cerca de dois
anos.
“Praticamente
ninguém prestou atenção, a imprensa não cobriu, ninguém se preocupou” – diz.
“Agora, quando talvez já seja tarde demais, como sempre, as pessoas acordam e
protestam ‘Ah, não, isso não está certo!”
Para
Urbach, uma das razões pelas quais Washington desistiu tão rapidamente de suas
próprias leis antipirataria foi a certeza de que já havia oACTA. –
“SOPA e PIPA falharam, mas o ACTA ainda é a alternativa para muitos países” –
diz ele.
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