por *Tom Whipple
Sabemos que o preço mundial de um
barril de petróleo foi em média de 111 dólares em 2011. Ou seja, 14 por cento a
mais do que no ano anterior e muito acima dos 100 dólares atingidos em 2008.
O preço médio do barril de
petróleo que compramos no ano passado foi 15 dólares a mais do que no ano
anterior. Aqui na América queimamos cerca de 6,7 bilhões de barris todos os
anos. Portanto, a nossa fatura coletiva de petróleo para 2011 foi de cerca de
100 bilhões de dólares a mais para a mesma quantidade de energia que queimamos
em 2010. Estes 100 bilhões de dólares criaram poucos novos postos de trabalhos
nos EUA. A maior parte desses dólares foi para além-mar e para os cofres de
pessoas que não gostam muito de nós.
As notícias do ano passado foram
dominadas pela Primavera Árabe e seus derivados que se espalharam de Wall Street a Moscou e até a aldeias na
China, já que a revolução na tecnologia das comunicações se generalizou nas mãos
duma nova geração tornando muito mais fácil organizar uma dissidência contra
governos em qualquer parte do mundo. A propósito, a última contagem revela que
já se produziram mais de 5 bilhões de celulares. Claro que nem todos estão
ativos, mas para um mundo de 7 bilhões de pessoas, muitas das quais são
demasiado jovens para falar e ainda menos para andar com um celular, é um número
impressionante. É evidente que o mundo está mudando de uma forma que ainda não
estamos percebendo.
A história do pico do petróleo
mudou um pouco no ano passado. A produção global de petróleo manteve-se pelos 88
milhões de barris por dia (b/d) apesar do levantamento líbio que retirou quase
1,6 milhões b/d à produção durante vários meses. Durante grande parte do ano
passado a produção global de petróleo esteve abaixo do consumo, o que provocou
um rebaixamento gradual das reservas mundiais. Mas, com as reservas da OCDE de
cerca de 2,6 bilhões de barris, mais as novas reservas acumuladas na China, por
enquanto uma pequena escassez na produção não constitui grande problema.
Durante 2011 tornou-se visível que
a procura de gasóleo está se tornando um problema a nível mundial. Enquanto a
procura da gasolina vem diminuindo, pelo menos nas nações da OCDE, a procura de
gasóleo tem vindo a aumentar. À medida que a produção de electricidade vacila em
todo o mundo, devido principalmente às secas, ao equipamento obsoleto e aos
preços estratosféricos da dasolina e do diesel, surgiu a procura da energia
eléctrica gerada por gasóleo. O uso vital da electricidade em hospitais,
segurança pública, e bombas de água vai continuar, qualquer que seja o preço. De
notar que grande parte do aumento na produção do “petróleo” nos últimos anos tem
sido feito de gases líquidos naturais e etanol que não são normalmente usados
para a produção de gasóleo, o que leva a que a quantidade de matéria-prima para
a produção do gasóleo se mantenha estagnada.
O ano acabou com poucas mudanças
na avaliação de perspectivas para o abastecimento global de petróleo. Apesar de
toda a publicidade relativa às novas descobertas de petróleo e às inovações na
produção, essas novidades ainda não estão a produzir petróleo suficiente para
compensar o declínio anual de 3 milhões de b/d dos campos existentes e o aumento
anual de cerca de 1 milhão de b/d da nova procura. A previsão dos que acompanham
esta questão é que provavelmente a produção global de petróleo vai começar a
declinar nos próximos um a cinco anos à medida que o esgotamento leva a novas
fontes de “petróleo” de produção muito cara.
Durante 2011 tornou-se claro que a
procura do gasóleo está se tornando um problema de nível mundial.
Observem o fenômeno da descida das
exportações líquidas. À medida que os países exportadores de petróleo crescem e
se tornam mais ricos, consomem uma parte cada vez maior da sua própria produção
de petróleo, restando cada vez menos para exportação. A maior parte de nós não
se preocupa mesmo nada com quanto petróleo se produz no mundo; a única questão
para a maioria dos países é qual a quantidade que pode ser importada para
consumo interno.
Jeffrey Brown, um geólogo do Texas
e um dos mais importantes estudiosos das exportações, faz notar que se deixarmos
de fora o petróleo que vai para duas nações de grande crescimento – a China e a
Índia – nos últimos cinco anos o petróleo disponível para importação pelas
restantes nações importadoras tem vindo a diminuir ao ritmo de 2,8 por cento ao
ano. Brown calcula que, se se mantiverem as tendências atuais, o petróleo
disponível para importação para a maior parte do mundo cairá 5 a 8 por
cento ao ano durante o resto da década.
Grande parte do ônus deste
declínio nas exportações está caindo sobre as nações mais pobres, muitas das
quais já não conseguem pagar a aquisição de parte do combustível necessário para
manter em funcionamento as suas centrais de energia elétrica. Em certo sentido,
o petróleo disponível para importação já atingiu o pico. De notar o aumento de
14 por cento no preço no ano passado. Na América, parece que continuamos a
conseguir importar tudo aquilo de que precisamos, mas uma parcela cada vez maior
dos nossos produtos refinados está atualmente sendo exportada à medida que o
consumo interno vai caindo.
Do ponto de vista do petróleo,
2011 foi um ano invulgarmente turbulento. Não só tivemos a Primavera Árabe que
reduziu as exportações de petróleo e gás de diversos países durante o ano, como
também assistimos a tensões crescentes por toda a região que têm o potencial de
provocar graves prejuízos às exportações de petróleo nos próximos meses. Em
contraponto aos problemas políticos no Oriente Médio surgiram os problemas
econômicos que estão chegando ao auge em muitos países da OCDE e possivelmente
também na China.
O modo como estas forças opostas
se irão comportar no próximo ano poderá determinar facilmente o decurso dos
acontecimentos mundiais nos próximos anos. A UE poderá andar às aranhas no meio
duma recessão suave remendando acordos financeiros necessários para manter a
Europa unida. Em alternativa, há muita gente que fala dum colapso financeiro da
UE que poderá desencadear uma depressão global e uma menor procura de petróleo.
Há tantas forças em ação no
Oriente Médio que parece ser irresponsável tentar um prognóstico para a
situação. Na melhor das hipóteses, os problemas vão surgir apenas como um
impacto ocasional nas exportações de petróleo. No outro prato da balança está a
possibilidade de importantes hostilidades, civis ou internacionais, que podem
alterar muitos dos equilíbrios políticos que se conseguiram desde a IIa. Guerra
Mundial e podem facilmente infligir danos à economia global a uma escala não
vista desde os anos 40.
04/Janeiro/2012
*Analista
aposentado do governo estadunidense; acompanha a questão do pico do petróleo há
anos.
O
artigo original, em inglês, encontra-se em: “The
Peak oil Crisis Closing Out the Year”
Tradução
de Margarida Ferreira.
Esta
tradução foi extraída de: Resistir
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