19/1/2012,
*MK Bhadrakumar, Indian
Punchline
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Ver
também:
19/1/2012,
Pepe Escobar, “EUA-CCG:
atração fatal”
20/1/2012,
Adam Hanieh, “Classe
e Capitalismo no Golfo”
Visita de Wen Jiabao aos Emirados Árabes Unidos |
O
acordo de troca de moedas assinado entre China e Emirados Árabes Unidos (EAU)
durante a viagem do premiê Wen Jiabao pela região do Golfo Persa, que termina
hoje, provocará incômodo nas capitais ocidentais, especialmente em Londres e
Washington. A lista de países com os quais a China já tem esse tipo de acordo
vai aumentando lenta e continuadamente, e esse é o primeiro desses acordos
assinado com estado do Conselho de Cooperação do Golfo
(CCG).
O
acordo com os EAU cobre $5,5 bilhões – o comércio bilateral no ano passado, com
as exportações chinesas responsáveis por 2/3, alcançou $36 bilhões – e visa a
“fortalecer a cooperação financeira bilateral, promovendo o comércio e os
investimentos e, simultaneamente, salvaguarda a estabilidade financeira
regional” – segundo o Banco Central da China. A China está, essencialmente,
fornecendo “seed money” [lit. “dinheiro semente”], para que os comerciantes não
precisem converter ao dólar todas as transações, o que reduz os custos de
câmbio.
À primeira vista, o critério é da conveniência, mas
evidentemente lança sombras sobre vários outros campos. Bem visivelmente, a
China está tratando de “sensibilizar” o Oriente Médio, em relação à função do renminbi [1]. Estar
guardado como moeda de reserva nos cofres dos Emirados Árabes Unidos aumenta o
prestígio do renminbi. Quanto aos
Emirados Árabes Unidos, ter o poderoso Yuan em suas reservas é a medida mais
segura que jamais tomaram no mundo da alta finança, dado que a valorização da
moeda chinesa é evento praticamente garantido para o futuro.
EAU - Emirados Árabes Unidos, o "outro lado" do Estreito de Ormuz (clique no mapa para aumentar) |
Além
disso, a troca de moedas chama a atenção para o rápido crescimento dos laços
econômicos da China com a região do CCG. É uma declaração política de que a
China trabalha para ampliar seus laços com os Emirados Árabes Unidos que, até
agora, historicamente, sempre viveram como “bolsão” dos britânicos no Oriente
Médio. Dos dhows [2],
ouvem-se os gritos “Yo, ho, os chineses estão
chegando!”
Mas
estão chegando também com propósito bem claro. Abu Dhabi controla 7% das
reservas comprovadas de petróleo do mundo, o preço do barril já está
ultrapassando os $100, os EAU estarão renovando suas concessões de petróleo em
2014, e, então, as empresas chinesas com certeza estarão posicionadas para dar
trabalho, na disputa pelas concessões, à Royal Dutch Shell, à ExxonMobil e à Total francesa. Claro, os EAU são
mercado difícil, no qual a cultura de negócios ocidental está profundamente
enraizada, mas... Nunca subestimem os chineses.
Acima
de tudo, a China dá seus primeiros passos no mundo embriagador da reciclagem de
petrodólares, e é difícil imaginar que Pequim não saiba o que está fazendo
agora, nessa troca de moedas com os Emirados Árabes Unidos. A China é país
milenar e sabe muito bem que qualquer longa marcha começa num pequeno primeiro
passo.
O
xis da questão é que as moedas dos países do Conselho de Cooperação do Golfo são
aderidas ao papel verde, e seus massivos lucros são em grande parte encaminhados
para os cofres dos bancos de Londres ou New York, ou são usadas para comprar
ações e bônus do Tesouro dos EUA – e, isso, quando não são usadas para comprar
armas ou noutros gastos extravagantes.
O
negócio agora assinado entre China e Emirados Árabes Unidos meteu um pensamento
muito excitante na cabeça dos estados do CCG: a possibilidade de faturar em renminbis – que muito preocupará o
ocidente. Atualmente, ninguém precisará perder o sono, porque Pequim restringe
rigidamente os fluxos de sua moeda fora das fronteiras chinesas, mas não há
dúvidas de que a China já está implantando toda a infraestrutura indispensável
para uma era, não muito distante, quando poderá dar adeus às estritas restrições
hoje vigentes para o fluxo de moedas, se se interessar por usar o renminbi no comércio internacional.
É
possível que em 2025
a China esteja importando três vezes mais petróleo dos
países do CCG, do que Tio Sam.
Notas
dos tradutores
[1]
Renminbi
[lit.
“moeda do povo”] é o nome oficial da moeda oficial da China, introduzida pelo
Partido Comunista da República Popular da China, na fundação, em 1949. Também
chamado “Yuan” (abr. RMB; símbolo ¥; código CNY, CN¥, 元
e
CN元).
*MK Bhadrakumar foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre
temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais
The
Hindu,
Asia
Online e Indian Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
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