Sean Captain |
6/1/2011, Sean
Captain,
Wired-Occupy
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Ver também
29/1/2005,
“Ministro
Gilberto Gil defende a ética
hacker”
14/11/2011,
“30
anos de hacking político”, Der Spiegel
1/1/2012,
“Hackers planejam lançar satélites contra a censura
na rede”, BBC
Começou como quase nada: um vídeo-blogueiro comprou um helicóptero de brinquedo.
Tim Pool, jornalista-cidadão, mostra seu avião-robô modificado, chamado “Occucóptero” [orig. Occucopter], que tornará a cobertura aérea de eventos acessível a repórteres do jornalismo-cidadão (Foto: Sean Captain). |
Mas
o vídeo-blogueiro é Tim Pool, 25 anos – jornalista internacionalmente conhecido
que atrai dezenas de milhares de visitantes para suas transmissões ao vivo das
manifestações em New York, Los Angeles e outras cidades. (As
imagens que distribui e seus arquivos são também retransmitidas por redes da
imprensa-empresa, como a NBC.) Tim e seus parceiros esperam que o helicóptero de
brinquedo – um Parrot AR Drone de 300
dólares – seja mais um passo em direção a uma rede alternativa de notícias,
comandada pelos usuários, não pelas empresas de comunicação e redes-empresa de
notícias.
Além de ter trazido para as conversas de rua a expressão
“assembleia geral” e “somos os 99%”, o movimento Occupy Wall Street também pôs em
circulação a expressão “livestreaming” (que não é “transmissão ao vivo”, como
das redes comerciais de notícias, porque é “transmissão ao vivo”, mas feita
pelos próprios participantes de grandes eventos públicos). Novos repórteres em
ascensão – até agora conhecidos só pelo bom uso que sabem dar ao Twitter e Ustream – como Pool (timcast) em New York
City e Spencer Mills (oakfosho) em Oakland
são correspondentes apaixonados, profundamente incorporados nos grupos cujas
atividades noticiam – às vezes em convivência direta por 12 horas ininterruptas
e até mais, como se estendam as manifestações, as assembleias gerais e outros
eventos de Occupy. Sem satélites,
fazem cobertura para “TV” com
smarphones equipados com
3G e 4G, em redes de vídeo como Ustream.com e
Livestream.com.
São como encarnações dos personagens da história em
quadrinhos online The
Shooting War (de Jimmy Burns,
Anthony Lappé e Dan Goldman, de 2006, sobre um vídeo-blogger que fica famoso ao cobrir, antes de toda a
mídia, um ataque terrorista gigante numa loja Starbucks no Brooklyn).
O
que todos esses repórteres descobriram é um modo viável de cobrir grandes
eventos, sem sair do chão. Agora, exploram alternativas ultra baratas, que já
estão concorrendo com os novos helicópteros de centenas de milhares de dólares
que as grandes redes comerciais usam para cobrir eventos públicos; e já podem
cobrir extensamente os grandes eventos em andamento nas grandes cidades dos EUA,
as passeatas e os choques com a polícia. Ao mesmo tempo, os vídeo-blogueiros
estão descobrindo até onde pode ir essa tecnologia que o consumidor poderá
manejar, e o muito que ainda falta fazer.
Como
as câmeras de vídeo de alta definição que já são incluídas nos telefones
celulares, também os aviões comandados a distância usados para vigilância aérea
já evoluíram, de equipamentos ultra sofisticados e caríssimos, para aviõezinhos
de brinquedo, de preço bem acessível. O que um dia foi item do orçamento do
Pentágono, já está sendo vendido hoje nas lojas de brinquedo, em versão
simplificada, pelo menos.
“O
AR Drone foi o primeiro desses
brinquedos que foi posto a venda” – diz Sam Shapiro, 24 anos, programador
morador do Brooklyn, que ajuda Pool a
montar sua rede hacker de produção de imagens aéreas para os
noticiários distribuídos por movimentos
Occupy.
Embora
trabalhe na divulgação dos objetivos do movimento Occupy, Shapiro diz que não se vê como
um dos manifestantes, nem se identifica com eles. Mas que, sim, quer usar o que
sabe sobre tecnologia, para garantir a maior segurança possível aos
manifestantes.
“Envolvi-me
nisso, porque vi a passeata na Ponte do Brooklyn” – conta ele, falando da marcha
do dia 1/10, quando foram presos mais de 700 manifestantes, cujas imagens foram
transmitidas de dentro da multidão, e fizeram história em todo o mundo. “Não
posso envolver-me nessas coisas, mas não quero ver meus amigos sendo espancados,
só porque não têm informação tática sobre o que esteja para
acontecer.”
Shapiro começou a construir um website
que reuniria todas as imagens transmitidas em tempo real [orig. live feeds] pelas câmeras que
controlam o tráfego em New York, e que todos podem acessar. ”Meio que mudei de ideia, no meio desse projeto.
Passei a me interessar mais por ampliar a cobertura, como ter câmeras onde mais
interessava, como permitir que as pessoas construíssem redes que lhes permitisse
prever o que viria adiante, nas passeatas, em vez de andarem em frente, sem ter
ideia do que encontrariam” – conta ele.
O AR Drone é um brinquedo vendido por US$ 300, mas é "hackeável" |
Como
Pool, Shapiro também viu no avião comandado por controle remoto AR
Drone, um bom começo. Os dois chegaram à mesma conclusão por vias
independentes, e só se encontraram quando Pool pediu ajuda, num postado pelo Twitter, para construir um website.
Criado
em 2010, o drone de espuma, que pesa 0,5 kg e é vendido em lojas
de brinquedo, tem quatro rotores e inúmeros sensores que lhe dão estabilidade e
o tornam navegável. Em vários sentidos, é como um iPhone, com acelerômetros e um
giroscópio para medir o movimento e a localização, por exemplo. Parrot, o
fabricante, garante que pode alcançar 15m de altitude, velocidade de 17km/h e
carga para permanecer no ar por cerca de 12 minutos.
Wi-Fi
instalados no corpo do brinquedo permite controlá-lo por um telefone iPhone ou
Android. Os Wi-Fi também enviam vídeos de resolução média (640-480 pixels) para
o telefone.
Mas
o que interessa ao jornalismo cidadão é
transmitir de um
Smartphone, não receber imagens. Pool e Shapiro imaginaram introduzir uma
pequena alteração no
software – usando o software para usuários da empresa e um programa de
captura de tela. Virou um pesadelo.
Em
teoria, a empresa Parrot estimula as “intervenções”, com um kit para
programadores e amostras de programas para controlar o brinquedo. “Mas o
programa para Windows absolutamente
não funciona”, diz Shapiro. E o programa Linux pilotava o aparelho, mas gerava
vídeo horrível. Seus esforços para corrigir o programa deram em nada. “De
qualquer modo, seria preciso ser programador Linux muito experiente e muito
dedicado para lidar com aquilo. E o apoio técnico deles é horrível.”
Sam Shapiro quer compor uma sociedade para construir uma rede aérea de jornalistas-cidadãos |
Por fim, Shapiro conseguiu localizar um grupo de
amadores europeus que haviam escrito seu próprio programa, do início ao fim,
para o aparelho, chamado Javadrone “e fizeram trabalho muito melhor que o fabricante”.
Pool
usou pela primeira vez o AR Drone –
que apelidou de Occucopter –, em
dezembro, para cobrir uma manifestação em New York a favor dos direitos dos
imigrantes. Mas o vídeo obtido não era aproveitável. Fez outro teste em Occupy Albany. Pool espera que “a
primeira cobertura com o novo
software e gerando vídeos
de alta qualidade” aconteça no Congresso de Occupy, marcado para dia 17/1/2012, em
Washington, DC. Outro jornalista cidadão, da Califórnia, usou também um Occucopter em filmagens aéreas, dia
19/12 (mas o Occucopter
espatifou-se).
Seja
como for, o AR Drone não está
incluído nos projetos futuros da dupla, dadas as evidentes limitações. “O tempo
tem de estar claro, sem chuva, nem ventos fortes. E o aparelho é desequilibrado”
– diz Shapiro.
O AR Drone pode ser pilotado de um console virtual como este |
“Perdi
um numa árvore em Albany. Está lá até
hoje” – diz Pool. Vento apenas moderado impossibilitou uma demonstração de rua,
para a revista Wired. Mas Pool e
Shapiro voaram o AR
Drone num porão de um centro comunitário em New York, onde Poll mantém uma pequena
mesa de trabalho.
Mesmo
assim, o AR Drone é simples para os
que não tenham habilidades de hacker
experiente, e é barato. “Hoje, é provavelmente a melhor aposta, para as
ocupações”, diz Pool. “Qualquer um pode sair e comprar um, e mandamos as
instruções por e-mail.”
Fato
é que Pool e Shapiro já estão pensando algo maior que isso, e desenvolvendo
melhor tecnologia para oferecer a outros jornalistas
cidadãos.
“Muito
mais importante é o zepelim” – disse Pool. Um balão bem grande, capaz de
levantar peso e voar muito com baixo consumo de energia para os rotores de
direcionamento. A baixa velocidade é vantagem: mantém a câmera estável e não há
risco de escapar rapidamente de controle.
Tim Pool tem milhares de seguidores e pretende dominar o mercado de notícias aéreas do #Occupy |
Estão
hoje tentando construir “Occucópteros” que operam, mais, como
zepelins.
“Ninguém
quer que eles façam manobras de combate aéreo” – diz Shapiro. “Só queremos que
voe, pare lá em cima e faça imagens limpas.” Em vez de depender de comandos do
solo, o zepelim “Occucóptero” receberá instruções periódicas, por chamada
telefônica.
Essas
instruções podem ser, por exemplo: subir até 40 pés , mover-se para tais e tais
coordenadas GPS, posicionar a câmara num ângulo de 12 graus para baixo, direção
noroeste, filmar de 30 graus a 12 graus por segundo, vai e vem. É mais como
dirigir um cameraman, que pilotar um avião [mais, para os diretamente
interessados, em Threat
Level].
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