segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Sayyed Nasrallah no Arba’een [1]: “Nossa certeza de que trilhamos o caminho certo só aumenta”


14/1/2012, Sara Taha Moughnieh, Al Manar TV, Beirute
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
Milhares de pessoas marcharam ontem [sábado] de várias regiões do Líbano para a cidade de Baalbek para comemorar o Arba’een, em cerimônia organizada pelo Hezbollah, intitulada “Procissão de Luto e Orgulho”.

Em discurso na véspera do Arba’een, na 6ª-feira à noite, o secretário-geral do Hezbollah, Sayyed Hasan Nasrallah, explicou que a cerimônia foi organizada em Baalbek, porque os cativos de Karbala passaram por essa região, quando levados de Karbala ao castelo de Yazid em Damasco.

Sayyed Hasan Nasrallah
Os cativos eram o Imã Ali Bin Hussein, Sayyeda Zainab e todas as esposas e filhos do Imã martirizado, seus amigos e sua família.

No final da cerimônia, que incluiu leitura de versos do Corão, recitação e lamento pela tragédia da Ashura, Sayyed Hasan Nasrallah falou, em discurso em que lembrou as grandes lições da Ashura e comentou alguns eventos do quadro político local e regional.

Começando com as lições aprendidas do Imã Ali Bin Hussein e Sayyeda Zainab, quando foram levados ao castelo de Yazid, Sayyed Nasrallah disse: “Colhemos uma frase da fala de Ali Bin Hussein antes de Yazid e uma frase da fala de Sayyeda Zainab, para fazer delas nosso mote, nossa fala e nossa posição.”

“Hoje, vendo o que está acontecendo no mundo, vendo as ameaças que fazem EUA, Israel e seus agentes na região, repetimos aquelas falas e dizemos: Vocês nos ameaçam com a morte? Somos filhos de Hussein, Zayn Al-Abidin, Profeta de Alá, somos sua família, seus amigos, somos os filhos [das batalhas de] Badr, Khaybar, Hunain e Karbala. A morte para nós é lei e Alá nos honra com o martírio.”

Sayyed Nasrallah continuou: “Com esse espírito nós enfrentamos vocês desde 1982… e com a força de Zainab lutamos todas as lutas e dizemos aos tiranos do mundo: Usem todos os seus poderes, façam tudo que consigam fazer e, por Alá, vocês jamais apagarão nem nossa presença nem nossa memória nem o efeito de nossa ação. E vocês jamais conhecerão nossos limites.” 

Resposta a Ban Ki-Moon:

O secretário-geral do Hezbollah reiterou a adesão ao caminho da resistência armada, e repetiu que essa resistência e essas armas, além do exército e do povo, são a única garantia que há para a segurança, dignidade e estabilidade do Líbano.

“Ontem, foi uma felicidade para mim ouvir o secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon dizer que está preocupado com o poder militar do Hezbollah. Digo-lhe que isso nos alegra, porque queremos, sim, que vocês, EUA e Israel, preocupem-se mesmo, e muito. Que vocês estejam preocupados não nos preocupa. Só nos preocupa a segurança de nosso povo. Porque há resistência armada no Líbano vocês estão impedidos de ocupar ou violar a dignidade do Líbano” – disse Sua Eminência, em resposta à fala de Ban Ki-Moon, 6ª-feira, no Líbano, na qual pediu que o Hezbollah entregue suas armas.

“Digo a ele e a todo o mundo que a resistência continuará armada no Líbano, e aumentará seu poder, suas capacidades, a prontidão. A certeza de que fizemos a escolha certa só aumenta. De nossa experiência no Líbano, na Palestina, no Iraque – em todas as regiões que conheceram e conhecem a ocupação – nós perguntamos: “Que benefício alguém obteve por confiar na Liga Árabe, nos governos árabes, na Organização da Conferência Islâmica, na Organização das Nações Unidas, no Conselho de Segurança, na União Europeia e em organizações como essas?”

E continuou: “O resultado é que a Palestina continua ocupada, mais de dez mil palestinos continuam presos em prisões israelenses, milhões de palestinos vivem exilados fora da própria terra, e Al-Quds [Jerusalém] é violada diariamente e judaicizada pelos sionistas.”

“Por outro lado, a resistência no Líbano, que crê em Deus e confia na força de seus combatentes e no apoio de seu povo, conseguiu a libertação, como a resistência em Gaza e no Iraque.”

Sobre o Diálogo Nacional:

Sobre a questão do diálogo nacional, Sayyed Nasrallah assegurou que o Hezbollah está pronto para iniciar diálogo sobre a estratégia de defesa nacional que protege o Líbano; mas rejeita qualquer diálogo sobre o desarmamento da resistência.

Sobre o Imã Moussa Al-Sadr e a causa de seus companheiros:

O secretário-geral do Hezbollah falou sobre o caso do Imã Moussa Al-Sadr e seus dois companheiros Xeique Mohammad Yaaqoub e Sr. Abbas Badreddine, e garantiu o apoio do Hezbollah às medidas tomadas pelo governo libanês e a delegação libanesa à Líbia sobre a questão. E agradeceu aos funcionários líbios que se dispuseram a cooperar.

Sobre a segurança interna:

No plano da segurança nacional, Sua Eminência destacou o compromisso do Hezbollah com a paz e a estabilidade civis, e destacou que as diferenças políticas nesse campo não devem afetar a segurança e a paz civis.

“Insisto nesse compromisso e destaco que preservar a segurança e enfrentar o crime em todas as regiões é responsabilidade do governo, do exército e dos aparelhos de segurança” – disse.

Sobre o governo do Líbano:

Paralelamente, Sayyed Nasrallah espera que o primeiro-ministro e os demais ministros empreendam grandes esforços para que o governo seja bem sucedido.

Sua Eminência convocou o Gabinete a ser mais ativo e a dar prioridade às questões que afetam os mais pobres, para ganhar apoios; e alertou que há grupos que não desejam que o atual governo seja bem-sucedido.

Sobre os desenvolvimentos na Síria:

Sayyed Hasan Nasrallah lembrou que o Líbano é o país mais afetado pelos desenvolvimentos na Síria. Sobre isso, disse:

“Além de nosso interesse e de nosso amor pelo povo, exército e presidente da Síria, conclamamos a oposição síria, dentro e fora do país, a responder ao chamado do presidente Bashar Al-Assad para que todos se reúnam em um diálogo nacional sírio; e que todos cooperem com o presidente para implementar as reformas já anunciadas. Conclamamos todos, além do mais, a restaurar a paz e a estabilidade no país, a deporem armas e a buscar pelo diálogo a solução para o país.”

Lembrando algumas declarações recentes, Sua Eminência alertou para o risco de algumas declarações incitarem ao sectarismo na região: “Digo a todos os países que a atitude de incitar à violência pela imprensa e nas ruas é que abre o caminho para confrontos sectários. Quem esteja honestamente empenhado em manter a Síria e nossa região a salvo de guerras sectárias deve começar por mudar aquela atitude e empreender esforços para unir os árabes, em cooperação com a República Islâmica do Irã e com a Turquia, para ajudar a pôr fim à crise na Síria, em vez de se empenharem em assoprar as chamas para aumentar o fogo e as tensões em toda a região.”

Sobre as explosões no Iraque:

Comentando os suicidas-bomba e as recentes explosões no Iraque, que mataram e feriram centenas de pessoas nas preparações para comemorar o Arba’een do Imã Hussein, Sayyed Nasrallah disse que todos devem condenar esses atos. 

Conclamou “os intelectuais, políticos, partidos e movimentos libaneses, especificadamente os islâmicos, a denunciar os suicidas-bomba que visam civis exclusivamente por diferenças ideológicas, políticas ou religiosas, seja no Iraque, no Paquistão, no Afeganistão, na Síria, na Somália ou na Nigéria e onde ocorram, e visem muçulmanos ou cristãos.”

Sua Eminência prosseguiu: “O único crime dos que hoje estão sendo mortos no Iraque é ter querido visitar o filho do Profeta de Alá. A verdade é que os matadores queriam vingar-se da resistência iraquiana que derrotou os exércitos da ocupação e obrigou-os à retirada.” 

“Digo àqueles matadores, sejam quem forem, que matar é inútil, e que eles não conseguirão deter a caminhada dos que buscam Alá, como a matança em Karbala não deteve a marcha, nem a marcha será detida por matanças no Líbano, na Palestina, no Iraque ou no Irã.”

Sobre o assassinato do cientista iraniano:

Sayyed Nasrallah afirmou que o assassinato de cientistas nucleares no Irã não conseguirá impedir que a República Islâmica prossiga na trilha do desenvolvimento científico e tecnológico.

“Assassinam os cientistas nucleares porque querem que nós, nessa parte do mundo, sejamos todos cantores, bailarinos, gente que desperdiça, sem qualquer proveito, seus dias e suas noites. Mas se produzimos aqui nossos cientistas, químicos, físicos ou médicos, e se fizermos de nós mesmos nações que produzem conhecimento – que é hoje o maior poder – eles não aceitam e matam nossos cientistas e nossos especialistas locais” – disse Nasrallah.

Sobre eventos regionais:

Na conclusão, Sayyed Nasrallah conclamou as autoridades do Bahrain a atender as demandas do povo, a iniciar as reformas e a manter diálogo sério com a oposição.

Falou sobre a situação na Palestina: “Dia após dia o povo palestino está vendo que a resistência é a única escolha, e que os inimigos da Palestina não querem que os palestinos se unam e se reconciliem, porque seu único objetivo, a meta da qual jamais desistem, é manter-nos divididos e fragmentados.” 

“Irmãos e irmãs no Líbano, Palestina, Síria, Iraque e em toda a região, nossa trilha para a glória, a dignidade, a independência, a libertação, o poder, a prosperidade e a segurança tem de ser a trilha da unidade, evitando todas as provocações e incitações à divisão e ao conflito, resolvendo as dificuldades mediante o diálogo, persistindo no espírito da livre escolha e da resistência” – disse Sayyed Nasrallah.

“Ao longo da história, a experiência, como se vê também aqui nesse grande evento, prova que o espírito da resistência rejeita a humilhação, ama o martírio e tem fé no futuro e na vitória que se aproxima. O espírito da resistência nos levará à unidade, ao poder, à segurança, à glória e à vitória” – concluiu Sua Eminência.



Nota dos tradutores
[1]  Arba’een (Arabic: اربعين‎, “quarenta”) ou Chehelom (Persian: چهلم “o quadragésimo [dia]”), é uma das maiores peregrinações do planeta, quando mais de 10 milhões de pessoas visitam a cidade de Karbala no Iraque. Reúne os muçulmanos falantes de persa e de urdu do sul e do centro da Ásia. O Arba’een é solenidade religiosa dos muçulmanos xiitas que se realiza 40 dias depois do Dia da Ashura, e realiza-se em todo o mundo, para recordar o martírio de Hussein bin Ali, neto do Profeta Maomé. A solenidade é realizada no vigésimo dia do mês de Safar.

Um comentário:

  1. (comentário enviado por e-mail e postado por Castor)

    O texto de Saiede(*) Hassan Nasrállah abaixo se polui diante de explícita condenação às atividades artísticas. O Islam radical tem muito a ver com o judaismo ortodoxo, contrários ao "prazer das artes" (o que só as eleva). A dança, não por acaso, é mencionada pelo líder do Hezbóllah, de vez que considerada tentação demoníaca, quando e se mulheres ensaiarem seus passos publicamente. Os crentes no Pentateuco e no Alcorão carregam esse legado de maldição, os mais lúcidos dando-se a exegeses dos seus Livros, a fim de dissolver os obstáculos à criação artística.

    Abraços do
    ArnaC

    (*) "Saiede" é forma levantina, equivalente à maghrebina "Sídi", forma respeitosa de designação de um Guia Espiritual, significando (mais ou menos) "meu Senhor". Já os califas (e monarcas tribais) são tratados de "Sidna" ou "nosso Senhor".

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