14/1/2012,
Sara Taha Moughnieh, Al Manar TV,
Beirute
Traduzido
pelo Coletivo da Vila
Vudu
Milhares
de pessoas marcharam ontem [sábado] de várias regiões do Líbano para a cidade de
Baalbek para comemorar o
Arba’een, em cerimônia organizada pelo Hezbollah, intitulada
“Procissão de Luto e Orgulho”.
Em
discurso na véspera do Arba’een,
na 6ª-feira à noite, o secretário-geral do Hezbollah, Sayyed Hasan Nasrallah,
explicou que a cerimônia foi organizada em Baalbek, porque os cativos de Karbala
passaram por essa região, quando levados de Karbala ao castelo de Yazid em
Damasco.
Sayyed Hasan Nasrallah |
Os
cativos eram o Imã Ali Bin Hussein, Sayyeda Zainab e todas as esposas e filhos
do Imã martirizado, seus amigos e sua família.
No
final da cerimônia, que incluiu leitura de versos do Corão, recitação e lamento
pela tragédia da Ashura, Sayyed Hasan Nasrallah falou, em discurso em que
lembrou as grandes lições da Ashura e comentou alguns eventos do quadro político
local e regional.
Começando
com as lições aprendidas do Imã Ali Bin Hussein e Sayyeda Zainab, quando foram
levados ao castelo de Yazid, Sayyed Nasrallah disse: “Colhemos uma frase da fala
de Ali Bin Hussein antes de Yazid e uma frase da fala de Sayyeda Zainab, para
fazer delas nosso mote, nossa fala e nossa posição.”
“Hoje,
vendo o que está acontecendo no mundo, vendo as ameaças que fazem EUA, Israel e
seus agentes na região, repetimos aquelas falas e dizemos: Vocês nos ameaçam com
a morte? Somos filhos de Hussein, Zayn Al-Abidin, Profeta de Alá, somos sua
família, seus amigos, somos os filhos [das batalhas de] Badr, Khaybar, Hunain e
Karbala. A morte para nós é lei e Alá nos honra com o
martírio.”
Sayyed
Nasrallah continuou: “Com esse espírito nós enfrentamos vocês desde 1982… e com
a força de Zainab lutamos todas as lutas e dizemos aos tiranos do mundo: Usem
todos os seus poderes, façam tudo que consigam fazer e, por Alá, vocês jamais
apagarão nem nossa presença nem nossa memória nem o efeito de nossa ação. E
vocês jamais conhecerão nossos limites.”
Resposta
a Ban Ki-Moon:
O
secretário-geral do Hezbollah reiterou a adesão ao caminho da resistência
armada, e repetiu que essa resistência e essas armas, além do exército e do
povo, são a única garantia que há para a segurança, dignidade e estabilidade do
Líbano.
“Ontem,
foi uma felicidade para mim ouvir o secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon dizer
que está preocupado com o poder militar do Hezbollah. Digo-lhe que isso nos
alegra, porque queremos, sim, que vocês, EUA e Israel, preocupem-se mesmo, e
muito. Que vocês estejam preocupados não nos preocupa. Só nos preocupa a
segurança de nosso povo. Porque há resistência armada no Líbano vocês estão
impedidos de ocupar ou violar a dignidade do Líbano” – disse Sua Eminência, em
resposta à fala de Ban Ki-Moon, 6ª-feira, no Líbano, na qual pediu que o
Hezbollah entregue suas armas.
“Digo
a ele e a todo o mundo que a resistência continuará armada no Líbano, e
aumentará seu poder, suas capacidades, a prontidão. A certeza de que fizemos a
escolha certa só aumenta. De nossa experiência no Líbano, na Palestina, no
Iraque – em todas as regiões que conheceram e conhecem a ocupação – nós
perguntamos: “Que benefício alguém obteve por confiar na Liga Árabe, nos
governos árabes, na Organização da Conferência Islâmica, na Organização das
Nações Unidas, no Conselho de Segurança, na União Europeia e em organizações
como essas?”
E
continuou: “O resultado é que a Palestina continua ocupada, mais de dez mil
palestinos continuam presos em prisões israelenses, milhões de palestinos vivem
exilados fora da própria terra, e Al-Quds [Jerusalém] é violada diariamente e
judaicizada pelos sionistas.”
“Por
outro lado, a resistência no Líbano, que crê em Deus e confia na força de seus
combatentes e no apoio de seu povo, conseguiu a libertação, como a resistência
em Gaza e no Iraque.”
Sobre
o Diálogo Nacional:
Sobre
a questão do diálogo nacional, Sayyed Nasrallah assegurou que o Hezbollah está
pronto para iniciar diálogo sobre a estratégia de defesa nacional que protege o
Líbano; mas rejeita qualquer diálogo sobre o desarmamento da
resistência.
Sobre
o Imã Moussa Al-Sadr e a causa de seus companheiros:
O
secretário-geral do Hezbollah falou sobre o caso do Imã Moussa Al-Sadr e seus
dois companheiros Xeique Mohammad Yaaqoub e Sr. Abbas Badreddine, e garantiu o
apoio do Hezbollah às medidas tomadas pelo governo libanês e a delegação
libanesa à Líbia sobre a questão. E agradeceu aos funcionários líbios que se
dispuseram a cooperar.
Sobre
a segurança interna:
No
plano da segurança nacional, Sua Eminência destacou o compromisso do Hezbollah
com a paz e a estabilidade civis, e destacou que as diferenças políticas nesse
campo não devem afetar a segurança e a paz civis.
“Insisto
nesse compromisso e destaco que preservar a segurança e enfrentar o crime em
todas as regiões é responsabilidade do governo, do exército e dos aparelhos de
segurança” – disse.
Sobre
o governo do Líbano:
Paralelamente,
Sayyed Nasrallah espera que o primeiro-ministro e os demais ministros empreendam
grandes esforços para que o governo seja bem sucedido.
Sua
Eminência convocou o Gabinete a ser mais ativo e a dar prioridade às questões
que afetam os mais pobres, para ganhar apoios; e alertou que há grupos que não
desejam que o atual governo seja bem-sucedido.
Sobre
os desenvolvimentos na Síria:
Sayyed
Hasan Nasrallah lembrou que o Líbano é o país mais afetado pelos
desenvolvimentos na Síria. Sobre isso, disse:
“Além
de nosso interesse e de nosso amor pelo povo, exército e presidente da Síria,
conclamamos a oposição síria, dentro e fora do país, a responder ao chamado do
presidente Bashar Al-Assad para que todos se reúnam em um diálogo nacional
sírio; e que todos cooperem com o presidente para implementar as reformas já
anunciadas. Conclamamos todos, além do mais, a restaurar a paz e a estabilidade
no país, a deporem armas e a buscar pelo diálogo a solução para o
país.”
Lembrando
algumas declarações recentes, Sua Eminência alertou para o risco de algumas
declarações incitarem ao sectarismo na região: “Digo a todos os países que a
atitude de incitar à violência pela imprensa e nas ruas é que abre o caminho
para confrontos sectários. Quem esteja honestamente empenhado em manter a Síria
e nossa região a salvo de guerras sectárias deve começar por mudar aquela
atitude e empreender esforços para unir os árabes, em cooperação com a República
Islâmica do Irã e com a Turquia, para ajudar a pôr fim à crise na Síria, em vez
de se empenharem em assoprar as chamas para aumentar o fogo e as tensões em toda
a região.”
Sobre
as explosões no Iraque:
Comentando
os suicidas-bomba e as recentes explosões no Iraque, que mataram e feriram
centenas de pessoas nas preparações para comemorar o Arba’een do Imã Hussein, Sayyed
Nasrallah disse que todos devem condenar esses atos.
Conclamou
“os intelectuais, políticos, partidos e movimentos libaneses, especificadamente
os islâmicos, a denunciar os suicidas-bomba que visam civis exclusivamente por
diferenças ideológicas, políticas ou religiosas, seja no Iraque, no Paquistão,
no Afeganistão, na Síria, na Somália ou na Nigéria e onde ocorram, e visem
muçulmanos ou cristãos.”
Sua
Eminência prosseguiu: “O único crime
dos que hoje estão sendo mortos no Iraque é ter querido visitar o filho do
Profeta de Alá. A verdade é que os matadores queriam vingar-se da resistência
iraquiana que derrotou os exércitos da ocupação e obrigou-os à retirada.”
“Digo
àqueles matadores, sejam quem forem, que matar é inútil, e que eles não
conseguirão deter a caminhada dos que buscam Alá, como a matança em Karbala não
deteve a marcha, nem a marcha será detida por matanças no Líbano, na Palestina,
no Iraque ou no Irã.”
Sobre
o assassinato do cientista iraniano:
Sayyed
Nasrallah afirmou que o assassinato de cientistas nucleares no Irã não
conseguirá impedir que a República Islâmica prossiga na trilha do
desenvolvimento científico e tecnológico.
“Assassinam
os cientistas nucleares porque querem que nós, nessa parte do mundo, sejamos
todos cantores, bailarinos, gente que desperdiça, sem qualquer proveito, seus
dias e suas noites. Mas se produzimos aqui nossos cientistas, químicos, físicos
ou médicos, e se fizermos de nós mesmos nações que produzem conhecimento – que é
hoje o maior poder – eles não aceitam e matam nossos cientistas e nossos
especialistas locais” – disse Nasrallah.
Sobre
eventos regionais:
Na
conclusão, Sayyed Nasrallah conclamou as autoridades do Bahrain a atender as
demandas do povo, a iniciar as reformas e a manter diálogo sério com a
oposição.
Falou
sobre a situação na Palestina: “Dia após dia o povo palestino está vendo que a
resistência é a única escolha, e que os inimigos da Palestina não querem que os
palestinos se unam e se reconciliem, porque seu único objetivo, a meta da qual
jamais desistem, é manter-nos divididos e fragmentados.”
“Irmãos
e irmãs no Líbano, Palestina, Síria, Iraque e em toda a região, nossa trilha
para a glória, a dignidade, a independência, a libertação, o poder, a
prosperidade e a segurança tem de ser a trilha da unidade, evitando todas as
provocações e incitações à divisão e ao conflito, resolvendo as dificuldades
mediante o diálogo, persistindo no espírito da livre escolha e da resistência” –
disse Sayyed Nasrallah.
“Ao
longo da história, a experiência, como se vê também aqui nesse grande evento,
prova que o espírito da resistência rejeita a humilhação, ama o martírio e tem
fé no futuro e na vitória que se aproxima. O espírito da resistência nos levará
à unidade, ao poder, à segurança, à glória e à vitória” – concluiu Sua
Eminência.
Nota
dos tradutores
[1]
Arba’een
(Arabic: اربعين,
“quarenta”) ou Chehelom (Persian:
چهلم
“o
quadragésimo [dia]”), é uma das maiores peregrinações do planeta, quando mais de
10 milhões de pessoas visitam a cidade de Karbala no Iraque. Reúne os muçulmanos
falantes de persa e de urdu do sul e do centro da Ásia. O Arba’een é solenidade
religiosa dos muçulmanos xiitas que se realiza 40 dias depois do Dia da Ashura, e realiza-se em todo o mundo,
para recordar o martírio de Hussein bin Ali, neto do Profeta Maomé. A solenidade
é realizada no vigésimo dia do mês de Safar.
(comentário enviado por e-mail e postado por Castor)
ResponderExcluirO texto de Saiede(*) Hassan Nasrállah abaixo se polui diante de explícita condenação às atividades artísticas. O Islam radical tem muito a ver com o judaismo ortodoxo, contrários ao "prazer das artes" (o que só as eleva). A dança, não por acaso, é mencionada pelo líder do Hezbóllah, de vez que considerada tentação demoníaca, quando e se mulheres ensaiarem seus passos publicamente. Os crentes no Pentateuco e no Alcorão carregam esse legado de maldição, os mais lúcidos dando-se a exegeses dos seus Livros, a fim de dissolver os obstáculos à criação artística.
Abraços do
ArnaC
(*) "Saiede" é forma levantina, equivalente à maghrebina "Sídi", forma respeitosa de designação de um Guia Espiritual, significando (mais ou menos) "meu Senhor". Já os califas (e monarcas tribais) são tratados de "Sidna" ou "nosso Senhor".