1/9/2011,
Gabriella (Biella) Coleman, Al-Jazeera, Qatar
[atualizado, adiante, para
27/1/2012]
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Ver
também
23/1/2012, “A únicaentrevista
que Anonymous
jamais deram”, The
shorty interview
11/1/2012 – “2011: Anonymous contra polícia,ditadores e ameaça
existencial”
–Quinn
Norton, Wired
Embora alguns Anonymous participem pessoalmente, a maior parte de sua atividade política, os ataques DDoS (Distributed Denial of Service), é ação digital direta [GALLO/GETTY] |
O
movimento político conhecido como
Anonymous conseguiu
capturar a atenção da imprensa, os corações de muitos apoiadores e a ira de
muitos espectadores, depois de oito meses de intervenções políticas, que vão de
campanhas de ataques DDoS (Distributed Denial of Service) e
garantir assistência técnica a grupos de direitos humanos na Tunísia, até
ataques mais recentes de
hacking sob o codinome de
Operation
Antisec.
Agora,
o estado entrou completamente na disputa, também ele em surto de hiperatividade.
Mês passado [agosto de 2011], 22 supostos participantes do movimento foram
presos nos EUA e na Grã-Bretanha, 14 deles na investigação de uma única
operação: a espetacular onda de ataques
DDoS orientados
diretamente para protestar contra atos das empresas Mastercard e Paypal em dezembro de 2010. Os ataques
foram deflagrados depois que aquelas empresas recusaram-se a aceitar doações
para o principal animador de Wikileaks, Julian Assange, depois de aquela
organização ativista ter distribuído quantidade gigantesca de telegramas
diplomáticos. Os hackers e ativistas que apoiaram a campanha de
ataques DDoS (e nem todos os Anonymous apoiam a campanha) veem o ato
como legítima atividade de protesto, semelhante a ocupar uma calçada ou uma rua,
como uma “ocupação digital”. Se forem condenados, os supostos Anonymous que foram presos podem ter de
cumprir longas penas de prisão.
Dia
20/7/2011, um dia depois das prisões nos EUA, agentes do FBI deixaram escapar
uma rara explicação para as prisões; falaram da necessidade de matar o caos,
ainda na semente: “queremos deixar bem claro que o caos na internet é
inadmissível” – disse Steven Chabinsky, vice-diretor do FBI.
Embora
a maioria das prisões estivessem associadas à campanha de ataques DDoS, o agente do FBI não deu
qualquer sinal de conhecer a diferença entre o
hacking e os ataques DDoS. “Hacking” implica
invadir computadores ou sistemas protegidos. Um ataque DDoS é ação na qual vários computadores passam a
bombardear um servidor com pedidos de acesso, até derrubá-lo por sobrecarga.
Estranhamente, o mesmo agente do FBI não disse, dos supostos Anonymous presos, que seriam criminosos,
terroristas ou espiões.
Quando
prende Anonymous (também chamados individualmente Anons) e rotula como crimes as suas
práticas, mesmo sem que haja lei que defina aquelas práticas como crimes, o FBI
dá sinais de reconhecer, embora por via oblíqua, que a caça aos Anons é politicamente motivada. O FBI
também dá sinais de reconhecer que, comparados a terroristas e criminosos, os
quais o Estado tem pleno direito de e legitimidade para prender e processar
havendo provas que comprovem as acusações, porque terroristas e criminosos
comprovados realmente violam a lei e a norma social, o caso dos Anons não é exatamente o mesmo.
De
fato, o FBI dá sinais de reconhecer que os Anons apenas exercem seus direitos de
cidadãos e manifestam-se a favor de causas nas quais acreditam: “Embora se possa
crer que os hackers defendem causas sociais, é absolutamente
inaceitável que invadam páginas na Internet e pratiquem atos ilegais. Não se
constatou qualquer indício de que usem o
hacking para destruir
páginas na internet, mas o que fazem pode atrair a atenção de criminosos e
terroristas. Por isso, o “hackativismo”, embora seja visto por alguns como
simples incômodo sem consequências, mostra alto potencial de desestabilização” –
insistiu Chabinsky, em linguajar no qual se ouvem ecos das críticas que se
faziam nos anos 1960s contra os movimentos sociais.
Claro
que essas declarações não podem ser tomadas como a voz do Estado, nem como sua
palavra final sobre os
Anonymous. Mas interessam, porque são indício claro de um fato
social novo: os Anonymous vão,
paulatinamente, ganhando destaque nos movimentos de protesto social. Muitas de
suas ações são politicamente motivadas e conscientes, e a campanha de dezembro
de 2010, de ataques DDoS, que
recebeu o nome de “Operação Vingar Assange” não foi
exceção.
As
campanhas DDoS podem ser táticas legítimas
Concorde-se
ou não com todas as muitas táticas que os
Anonymous usam – algumas
ilegais, outras de colaboração e ajuda pacíficas à defesa legal de direitos
humanos, outras, ainda no limbo, numa zona cinzenta que separa o legal do ilegal
e o moral do imoral – sob determinadas circunstâncias os ataques
DDoS podem ser vistos como
protesto não violento, perfeitamente alinhados entre outros protocolos
reconhecidos de manifestação pública de massa; diferentes nos dois casos, só, os
meios de agir. Claro que, como acontece também nas assembleias presenciais,
muitos Anons apenas se deixam levar,
seguindo a onda. Outros, sim, podem ter comportamento absolutamente
inconveniente.
Mas
esse é traço inevitável da plataforma dos Anonymous, aberta tanto para ativistas
experientes quanto para os mais neófitos. Alguns Anons estão, pela primeira vez na vida,
experimentando o sabor da militância pública, acompanhando os “irmãos” Anons; e forjando, sem dúvida, a própria
consciência política individual, a qual, no caso dos Anonymous nasce já na prática de uma
robusta democracia em ação, sobretudo depois que os Anons organizaram campanhas de apoio aos
levantes populares no Oriente Médio e na África e ativamente participaram da
ação que derrubou ditadores que sobreviveram no poder por muitas
décadas.
Mesmo
que a ambiguidade do FBI, que não denuncia explicitamente a prática dos Anonymous como ameaça criminosa, a
reação de prendê-los e de criminalizar as táticas que os Anonymous usam, como os ataques DDoS, já é, só essa reação, abordagem
de segurança e controle que exige atenção crítica, sobretudo se alguma dessas
prisões levar a acusações e julgamentos formais.
Há
vários modos pelos quais se pode ver a campanha de ataques DDoS contra as empresas PayPal e Mastercard. Um deles é defini-la como
ação digital direta.
Brotado
organicamente da prática social, esse movimento não esperou que algum juiz,
algum político, nem algum especialista, nem algum jornalista o declarasse legal
ou moral. Os cidadãos tomaram o problema nas próprias mãos. Em menos de 24
horas, uma vasta assembleia de cidadãos ocuparam, não as calçadas – tradicional
cenário dos protestos sociais –, mas a ágora digital. E ali agiram,
auto-organizados, para manifestar sua opinião sobre um questão. Assim, agiram
diretamente contra outros atores sociais que, na avaliação dos cidadãos
reunidos, não estavam agindo com justiça. Se aconteceu de ferirem alguma lei, a
lei – e por boas razões – também foi considerada injusta.
Como em todas as tradições, a ação direta é variada e
diversa nas propostas, na organização, na história e nos objetivos. Em outras
ocasiões, os ativistas Anonymous
trabalham para bloquear acessos para proteger algum recurso que consideram
valioso, como aconteceu no bloqueio da linha Pacific Northwest para preservar as
árvores, ou no bloqueio de navios baleeiros japoneses, no caso do Sea Shepherd.
Na longa tradição de converter espadas em arados [1], a
intenção pode ser atrair a atenção da polícia e deixar-se prender, para atrair a
atenção pública sobre alguma questão. Os Anonymous derrubaram e tornaram
inoperantes as páginas internet das empresas Mastercard e Paypal por vários dias, porque inundaram
os servidores com quantidade gigantesca de pedidos de acesso; fizeram o que
fizeram para chamar a atenção da imprensa, para dar visibilidade à sua
plataforma política, e para exigir que Assange recebesse julgamento legal e
justo. Nesse sentido, foram bem sucedidos, independente de qualquer sentença que
os envolvidos venham a receber.
O
que, porém, tornou excepcionais e extraordinários os eventos de dezembro de
2010, foi que acabaram por demarcar um momento em que a ação direta surgiu numa
via diferente da prevista pelas teorias dominantes da desobediência civil. Até
então, praticamente todos os mais notáveis atos de desobediência civil, mesmo os
que usaram a internet, haviam sido organizados por pequenos grupos de afinidade,
cujos participantes têm bem claras as possíveis consequências legais de seus
atos.
Tradicionalmente,
aqueles militantes já saem de casa com o número do telefone do advogado escrito
com tinta à prova d’água, no braço.
Quanto
aos Anonymous, que se orgulham de não
ter identidade “física” facilmente comprovada ou localizável e de não terem
forma nem pessoal nem empresarial, essas táticas de proteção “física” não os
protegeriam. Por isso, em dezembro, enquanto os ataques estavam em andamento,
vivi colada ao computador, tentando ver como os Anons conseguiriam – se conseguissem –
controlar o risco e o caos que, em certa medida, caracterizam aquele tipo de
interação. De fato, “a inteligência do enxame” – que é como os Anonymous falam deles mesmos – em
momento algum perdeu o controle da ação. Mantiveram fixos contra os alvos, em
ataques massivos, e entremearam os ataques com vídeos e manifestos nos quais
explicavam o que estavam fazendo e por que faziam.
Mas,
já naquele momento, simpatizantes e opositores viam e repetiam uma mesma
observação: muitos participantes não tinham qualquer ideia clara do risco que
enfrentavam, opondo-se a lei. E não tinham à mão qualquer telefone de advogado
ao qual recorrer numa emergência, mais altamente provável a cada minuto que
passava.
Os
eventos espetaculares de dezembro, combinados com as recentes prisões de Anons,
evidentemente mudaram tudo isso; muitos de nós já nos informamos atentamente
sobre riscos. Os riscos legais e as sutilezas filosóficas dos ataques DDoS considerados como tática de ação direta já
não são questão e problema exclusivo de um pequeno círculo de ativistas que
praticam e teorizam, na tradição da ação direta, já há uma década. Hoje, um
número muito maior de cidadãos já abraçaram a mesma tática.
Mas
à luz da recente prisão de Anons, discutir se campanhas de ataques DDoS são sempre arma política eficaz a ser usada
ou não (e há bons argumentos a favor dos dois lados) não é a questão básica que
mais nos deve ocupar. A questão central agora é o critério usado para decidir
quem está envolvido e para determinar se os envolvidos devem ou não ser
acusados. Em outras palavras, a questão central é o critério usado para
determinar se há crime, ou não, nas ações dos Anonymous. Se se aceita que um
ataque DDoS seja ação sempre inaceitável, em todas as
circunstâncias – definido como tática que só semeia o caos –, essa ideia
resultará, em pouco tempo, em penalizações indiscriminadas e excessivas; no
longo prazo, essa criminalização generalizada poderá paralisar todos os tipos de
iniciativas semelhantes, em toda a internet.
Isso
acabará tendo efeitos sobre toda a cultura política da internet, que deve
permitir que floresça a máxima diversidade de táticas, inclusive as táticas de
ação coletiva, de ação direta e de manifestação pacífica de opiniões – ou a
internet deixará de ser instrumento para a democratização das lutas políticas e
da própria vida.
Atualização,
27/1/2012
(1) Ver
26/1/2012, Quinn Norton, “Anonymous
à caça dos governos” (e da rede Globo)”
(2)
27/1/2012. Em sessão do Parlamento polonês, ontem, deputados que se opõem à
assinatura, pela Polônia, do Tratado
ACTA
(Anti-Counterfeiting Trade Agreement) apresentam-se com a máscara
que identifica os Anonymous. Os
Anonymous trabalharam
muito ativamente na oposição a esse acordo, sobretudo nos dias que antecederam a
adesão da Polônia ao tratado (adesão que ainda não foi confirmada pelo
Parlamento polonês). A
imagem foi distribuída pelos
Anonymous, hoje, pelo Twitter. Sobre a ação dos Anonymous na Polônia, ver 26/1/2012, Russia
Today (vídeo), [em
tradução].
Nota
dos tradutores
[1]
Orig. Plowshares
actions. Lit. “ações [de converter] espadas em arados”. “Espadas
[convertidas em] arados” é expressão bíblica (Isaías 2:3: E Ele julgará entre as nações, e
castigará muitos povos; e esses converterão as suas espadas em arados e as suas
lanças em foices; uma nação não levantará espada contra outra nação, nem
aprenderão mais a guerra). É expressão também frequente no discurso político
norte-americano [em inglês].
Longa vida aos ANONYMOUS, que eles arrebente todos os Ditadores Capitalista que fomentam a dor do Mundo. E se possivel, arrebenta a Globo, PSDB(partido de nazistas) e o desgoverno de SP e tudo que nao presta neste Brasil.
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