Lá como cá, a
arapongagem de Estado nunca é punida...
Glenn Greenwald |
16/12/2011, Harpers,
Glenn Greenwald,
“WithLiberty and
Justice for Some: Six Questions for Glenn
Greenwald”
(entrevista a Scott Horton, excerto)
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
“With
(entrevista a Scott Horton, excerto)
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Harpers:
(3) Nos governos Bush e Obama, os
“vazadores” de informação foram demitidos, perseguidos e até processados, nos
termos de leis como a Lei Antiespionagem [ing.
Espionage Act] com rigor antes jamais visto, sobretudo quando o
que descobrem e divulgam sugere que agentes do Estado e do governo cometeram
crimes graves. Esse zelo persecutório é movido pelos mesmos fatores que criam
imunidades para as elites?
Glenn Greenwald:
Sem dúvida
alguma. Considere o caso dos crimes de escuta clandestina na Agência de
Segurança Nacional, caso claro de crime cometido nos anos Bush. A coisa toda foi
crime tão claro e evidente para todos, que dois jornalistas, James Risen e Eric
Lichtblau, ganharam o Prêmio Pulitzer, pelo trabalho de expor tudo no New York Times [1]. Funcionários do governo foram
apanhados em ações idênticas às que a lei tipifica como crime: instalar escutas
clandestinas sem autorização de um juiz. Para cada crime cometido, naquele caso,
a lei prevê pena de prisão de cinco anos e/ou multa de $10 mil
dólares.
Mas nenhum dos
agentes do governo Bush foi sequer investigado, imagine se alguém chegou a ser
processado. As gigantes das telecomunicações nos EUA, que também cometeram
crimes, especificamente, de cooperação entre empresas e governo em escutas
ilegais, passaram até, depois, a ser protegidas: foram “imunizadas”, por lei
aprovada no Congresso.
Ninguém jamais foi
condenado no escândalo das escutas clandestinas na Agência de Segurança
Nacional, exceto uma pessoa: Thomas Tamm, advogado do Departamento de Justiça,
funcionário de nível médio, que descobriu as escutas ilegais e, num gesto de
consciência, telefonou a Lichtblau [jornalista do New York Times] e contou o que
descobrira. Nenhum dos criminosos foi investigado, mas Tamm, sim, foi
investigado, perseguido, demitido, obrigado a contratar advogados para
defender-se, gastou tudo o que tinha, foi reduzido à miséria e passou por grave
crise de depressão. A única pessoa punida no escândalo das escutas clandestinas
na Agência de Segurança Nacional, nos anos Bush, foi quem descobriu e denunciou
os crimes.
É o
que se vê sempre. E a guerra de Obama contra WikiLeaks e Brad Manning é
exatamente isso. O único ato que o Departamento de Justiça de Obama tem
interesse em punir é o ato de expor os crimes da elite governante, não os atos
dos que praticam aqueles crimes. WikiLeaks e Brad Manning são “pré-condenados”
por denunciar crimes da elite.
Harpers: (4) Em discurso que fez recentemente, em Osawatomie, Kansas, o presidente Obama usou o conceito de “Novo Nacionalismo” de Theodore Roosevelt[2], como apoio retórico. Você acha que o pensamento de Roosevelt, de uma nação dedicada à “democracia real”, é adequado para uma nação que, hoje, padece sob o triunfalismo das elites? E você acha que Obama, num segundo mandato, dará qualquer passo significativo para enfrentar os problemas que você discute em seu livro – sobretudo as questões de transparência?
Harpers: (4) Em discurso que fez recentemente, em Osawatomie, Kansas, o presidente Obama usou o conceito de “Novo Nacionalismo” de Theodore Roosevelt[2], como apoio retórico. Você acha que o pensamento de Roosevelt, de uma nação dedicada à “democracia real”, é adequado para uma nação que, hoje, padece sob o triunfalismo das elites? E você acha que Obama, num segundo mandato, dará qualquer passo significativo para enfrentar os problemas que você discute em seu livro – sobretudo as questões de transparência?
Glenn Greenwald:
Vários dos
temas sobre os quais Obama falou em Kansas são válidos e apropriados, mas nada
disso faz qualquer diferença. Obama está em campanha eleitoral, e o que ele já
mostrou, convincentemente, é que o que diz em seus magníficos discursos nada tem
a ver com suas ações de governo.
Absolutamente
nada, zero, faz supor que Obama mudará de curso, nesses assuntos, no segundo
mandato. Sempre haverá outra eleição à frente, argumento que candidatos e
apoiadores sempre usam para justificar o que não façam ou façam mal feito (o de
sempre: é vitalmente importante que os Democratas vençam as eleições de meio de
mandato em... 2014!). Obama não manifestou qualquer tipo de interesse em acusar
formalmente, processar e julgar as elites. E não só as elites políticas:
tampouco manifesta qualquer tipo de interesse em acusar, processar e julgar
formalmente as elites das finanças.
De
fato, é até menos provável que se decida a julgar as elites políticas e das
finanças no segundo, que no primeiro mandato. Em novembro de 2008, o New York Times já explicou por que os presidentes são
incentivados a acobertar e impedir que antecessores sejam processados: “Porque
todos os presidentes, mais dia menos dia deixam a presidência, os altos
executivos do mundo político e das finanças sempre são incentivados a nada
investigar de mandatos anteriores.”[3]
Em outras
palavras, ao ajudar a acobertar os atos dos que vieram antes dele, Obama
libera-se, ele também, para agir em total impunidade. Por isso, todas as elites
– políticas, financeiras, a imprensa – são sempre motivadas a defender e a
preservar essa ‘licença’ para cometer crimes, que protege as próprias elites,
uma mesma classe” [Continua, no original].
Notas
dos tradutores
[3] 13/11/2008, Charlie Savage, New York Times, em “Bush,
Out of Office, Could Oppose Inquires” (em
inglês).
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