Obama falando como autista ou doido
5/6/2014, [*] Nikolai BOBKIN, Strategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Barack Obama e Petro Poroshenko (Varsóvia, Polônia em 4/6/2014) |
O presidente
dos EUA está em viagem pela Europa. O itinerário inclui Polônia, Bélgica e
França. O foco da agenda é a Ucrânia. Os EUA facilitaram o golpe armado
encenado em Kiev e festejaram a tomada do poder pelos nacionalistas. Na
verdade, os EUA assinaram a sentença de morte da Ucrânia. O governo faz o que
pode para fortalecer a posição do novo governo ucraniano. Obama não esperou nem
a posse: já se encontrou com Poroshenko durante visita a Varsóvia.
Obama estava
reunido com o presidente eleito, no momento em que a aviação ucraniana
bombardeava áreas urbanas populosas no leste do país. Na conversa com seu
contraparte ucraniano, Obama
disse:
Estou entusiasmado ante as oportunidades. Creio
que o povo ucraniano escolheu bem, ao eleger alguém com talento para liderar os
ucranianos nesse período difícil. E os EUA estão absolutamente comprometidos
com apoiar o povo ucraniano e suas justas aspirações, não só nos próximos dias
e semanas, mas também nos anos que virão, porque confiamos que a Ucrânia pode,
de fato, ser democracia viva e potente, com laços fortes com a Europa e laços
fortes com a Rússia. Mas só poderá acontecer se nós apoiarmos claramente a
Ucrânia, durante esse tempo difícil.
As palavras
de Obama sobre os ucranianos terem “escolhido bem” ao escolherem Poroshenko não
são só elogio ao eleito: são também “autorização” para que prossiga a guerra
civil e o banho de sangue, duas coisas que servem muito bem aos interesses dos
EUA.
Óculos para visão noturna |
Em Varsóvia,
o presidente dos EUA apoiou a política de usar força contra a oposição
ucraniana. É difícil conceber que alguém fale sobre a unificação da Ucrânia,
quando o Donbass está cercado por arame farpado, mas... Sim, sim, Obama e Poroshenko
falaram exatamente sobre tal “tema”. Por exemplo: o presidente dos EUA disse
que a ajuda militar dos EUA pode incluir óculos para visão noturna. Não que
seja grande contribuição vinda de uma superpotência excepcional, mas é item
realmente indispensável, porque, sem óculos para visão noturna, é impossível
matar civis à noite, certo? Como Obama disse em Varsóvia, os EUA estão prontos
a oferecer u’a mão amiga para ajudar a repelir “a agressão russa” na Ucrânia.
Segundo ele,
os EUA respeitam seus compromissos internacionais com os parceiros do Leste
Europeu. O presidente Obama até já pediu ao Congresso mais um pacote de
segurança, de (mais) um bilhão de dólares. A ajuda, destinada principalmente a
aliados da OTAN, será usada em manobras militares em terra, mar e ar, e em
missões de treinamento por toda a Europa, com ênfase no leste. Mais pessoal
norte-americano será movimentado pelo velho continente. “Uma presença
persistente dos EUA em ar, terra e mar na região, especialmente na Europa
Central e do Leste, é manifestação necessária e adequada de apoio a aliados” –
lê-se numa declaração da Casa Branca sobre o pedido do novo bilhão de dólares
ao Congresso. Geórgia, Moldávia e Ucrânia estão entre os que receberão partes
significativas da “ajuda”.
Derek Chollet |
“A presença
naval no Báltico e no Mar Negro será ampliada. Os EUA planejam prover um pacote
de segurança à Ucrânia”, disse Derek Chollet, Secretário-Assistente de Defesa
para Assuntos de Segurança Internacional dos EUA. Os dois lados discutiram a ajuda,
inclusive os US $18 milhões para a segurança, disse o funcionário do Pentágono
em briefing para jornalistas em Kiev. Essa ajuda visará, dentre outras
coisas a dar suficiente eficácia às Forças Armadas Ucranianas. Chollet disse
também que “a ajuda dos EUA foi baseada no que a Ucrânia pediu e inclui vários
itens, além de armas. Os ucranianos enviaram longa lista do que precisam, e os
EUA e parceiros próximos (França, Grã-Bretanha e Polônia) trabalharão para
satisfazer as necessidades” – disse ele.
Como essas
migalhas caídas da mesa do banquete dos patrões conseguirão arrancar o país de
profunda crise em curso? Ninguém sabe.
É preciso
encarar os fatos. A economia ucraniana está em ruínas. Essa situação foi criada
com a “assistência” dos parceiros de além mar.
Desde a
revolução “Laranja” apoiada os EUA em 2004, o PIB da Ucrânia caiu duas vezes em
nível comparável ao de muitos países em desenvolvimento. Em 2004, era de $312
bilhões, ou igual ao PIB da Arábia Saudita e Bélgica. Em 2013, caiu para $175
bilhões, comparável ao do Vietnã e apenas um pouco superior ao PIB de Angola. A
queda da economia da Ucrânia não causou qualquer dificuldade à Rússia; no mesmo
período, o PIB russo multiplicou-se por 1,5.
As ameaças de Yushenko, fantoche
dos EUA, de que pararia de “alimentar a Rússia” jamais produziram qualquer
efeito. Há apenas cinco anos, a Ucrânia era o quinto maior produtor mundial de
grãos. A Rússia era o 11º. Ano passado, a Rússia já estava em 3º lugar, com a Ucrânia
despencada para o 14º lugar. Durante esses anos, os preços dos grãos aumentaram
150%. Fácil entender o muito que a Ucrânia tem a pagar pela amizade que os EUA
lhe dedicam...
Depois da
reunião com Poroshenko, o presidente Obama disse que:
Discutimos seus planos econômicos e a
importância de erradicar a corrupção, aumentando a transparência e criando
novos modelos de crescimento econômico. Discutimos questões de energia – para
assegurar que a Ucrânia passe a ser economia eficiente no uso da energia, mas,
simultaneamente, deixe de depender exclusivamente de fontes russas de energia.
Fiquei profundamente impressionado por sua visão [de Poroshenko], em parte
devida à sua experiência como empresário, que compreende bem o que é preciso
para ajudar a Ucrânia a crescer e ser efetiva.
Mas... de que
“dependência” fala Obama, no momento em que cresce a indignação na Europa
porque Kiev reluta a quitar a dívida de gás super subsidiado que tem a pagar à
Rússia. Ninguém paga US$ 268,5 por mil metros cúbicos, nem a Alemanha, nem
qualquer outro estado europeu. Todos estão habituados a pagar US$ 400-500, com
pequena variação, dependendo das condições de momento.
Alguns gasodutos da Rússia que abastecem a Europa e a Ucrânia |
Europeus e a
russa Gazprom absolutamente não entendem que estado é esse cujo governo não
quer pagar pelo gás que recebe a preço baratíssimo... mas obriga o povo a
suportar o ônus de não ter gás! Kiev parece não perceber que a Europa não a
apoiará.
Em sua
primeira reunião mais demorada com o presidente eleito da Ucrânia, Petro
Poroshenko, Obama disse que:
Nossa capacidade para modelar a opinião mundial
ajudou a isolar completamente a Rússia. Por causa da liderança dos EUA, o mundo
imediatamente condenou as ações russas.
[É fala de autista. Difícil acreditar que tenha
dito tal coisa NTs]. E mais
difícil ainda entender o que teria levado o presidente dos EUA a crer que a
Rússia esteja isolada. Hoje, tudo isso parece sonho, ou delírio, sem qualquer
contato com a realidade.
Os fatos
apontam em direção oposta. A empresa-imprensa ocidental está chocada ante o amplo
apoio com que o presidente Putin conta na Europa.
Pesquisa de
opinião realizada pelo canal N-TV da televisão alemã chegou ao surpreendente
resultado segundo o qual 89% de seus telespectadores apoiavam as políticas de
Vladimir Putin, presidente da Rússia, para a Ucrânia. A maioria dos
entrevistados responderam “sim” à seguinte pergunta: “Você compreende e aprova
as políticas de Putin?” O resultado foi tão contrário ao que os entrevistadores
esperavam, que a pesquisa foi retirada no mesmo dia da página da N-TV. Era
tarde, porque muita gente já havia fotografado
a tela e distribuído as fotos em páginas e pelas redes sociais. Veja
imagem abaixo:
Pesquisa na Alemanha: "Você compreende e aprova as políticas de Putin? " |
Uma dessas
imagens, postada na página Facebook de Christophe Hoerstel, de Potsdam, mostra
que 89% dos entrevistados responderam um claro “sim”; 11% responderam “não”; e
não havia outras opções de resposta.
Christophe Hoerstel |
Pesquisa do Wall
Street Journal mostrou exatamente os mesmos resultados. Dizia que europeus
letrados opõem-se firmemente a sanções contra a Rússia. Na mesma edição, o
jornal mostrava que os índices de aprovação do governo Obama alcançavam
recordes negativos históricos em pesquisas feitas nos EUA. Números sempre
crescentes de norte-americanos rejeitam a posição de Obama na questão
ucraniana.
Será que
Poroshenko sabe disso? Ao destacar a importância de sua visita a Varsóvia, a
imprensa-empresa ucraniana apresentou-o como “diplomata muito experiente”,
provavelmente por causa da rica experiência que adquiriu quando foi ministro de
Relações Exteriores. Poroshenko ocupou esse cargo por exatos TRÊS DIAS: de 9 a 12 de outubro de 2009.
Poroshenko é
comerciante e empresário. Para ele a Ucrânia é e sempre será lugar de onde
extrair lucros. Mas Obama ficou impressionadíssimo por seus planos (“Fiquei profundamente impressionado por sua
visão, em parte por causa de sua experiência como empresário, que compreende
tudo o que é necessário para ajudar a Ucrânia a crescer e ser efetiva”).
Não surpreende ninguém!
Hunter Biden |
Hunter Biden,
filho do vice-presidente dos EUA, Joe
Biden, acaba
de ser contratado para a diretoria da empresa Burisma Holdings, maior
produtor privado de gás da Ucrânia. O grupo tem interesse no leste da Ucrânia,
onde se alastra a guerra civil, depois do golpe em Kiev. Biden aconselhará
sobre “transparência, governança privada e responsabilidade, expansão
internacional e outras prioridades” para assim “contribuir para a economia e
beneficiar o povo da Ucrânia”. Aleksander Kwasniewski, ex-presidente da Polônia
de 1995 a
2005 também participa da mesma diretoria. É uma espécie de leva-e-traz entre
Washington e Kiev.
Como se vê
facilmente, todos os pré-requisitos para que a Ucrânia seja convertida em
colônia do “ocidente” estarão criados em pouco tempo.
A primeira
reunião entre Obama e Poroshenko gerou quantidades consideráveis de retórica
anti-Rússia. Nas palavras de Obama:
É importante para a comunidade internacional
posicionar-se firmemente a favor dos esforços de Petro para negociar com os
russos um processo pelo qual a Rússia deixe de financiar e apoiar separatistas
armados em território soberano da Ucrânia, e que uma comunidade internacional
unida deixe claro que há violação da lei internacional e que ela insiste em
apoiar esses princípios, com consequências contra a Rússia no caso de o Sr.
Putin não aproveitar a oportunidade para desenvolver melhor relacionamento com
seus vizinhos – e essa tem de ser parte de nossa missão ao longo dos próximos
vários dias.
Na
conferência com a imprensa, o presidente dos EUA disse que não tem interesse em
ameaçar a Rússia, mas que a Rússia tem de respeitar a soberania da Ucrânia,
conter os combatentes separatistas e trabalhar junto com Poroshenko.
Se a Rússia não obedecer mais sanções já estão
preparadas. O Sr. Putin tem uma escolha a fazer – disse
Obama – é o que lhe direi se o
encontrar publicamente. E é o que já lhe disse privadamente.
Obama disse
que:
(...) oferecerá a Poroshenko o apoio dos EUA para
a economia ucraniana, para garantir que superem o inverno, no caso de Moscou
fechar as torneiras do fornecimento de gás, em ação de retaliação pela falta de
pagamento (sic).
Washington
reconheceu que:
(...) a Rússia teve relacionamento histórico com a
Ucrânia e tinha interesses legítimos sobre o que acontecesse nas suas
fronteiras – disse Obama. Mas nós
também acreditamos que os princípios de integridade territorial e soberania têm
de ser respeitados. Preparamos custos econômicos a serem cobrados da Rússia,
que podem aumentar se, de fato, continuarmos a ver a Rússia ativamente
desestabilizando um de seus vizinhos do modo como já vimos recentemente.
Solicitado a
comentar se o tópico Ucrânia seria discutido, Peskov, porta-voz de Vladimir
Putin presidente da Rússia, disse que o presidente Putin estava disposto a
discutir quaisquer temas. No contexto das celebrações que marcam os 70 anos do
desembarque das tropas aliadas na Normadia, Putin “manterá inúmeros contatos,
como eles dizem, em pé” – disse Peskov. Mas não há nada marcado, de qualquer
reunião entre o presidente da Rússia Vladimir Putin e Petro Poroshenko. “Não,
ninguém está trabalhando nisso” – Peskov disse à Interfax.
[*] Nikolai
Bobkin é Ph.D. em Ciências Militares, professor associado e
pesquisador sênior no Center for Military-Political Studies, Institute
of the U.S.A. & Canada. Colaborador
especialista na revista online
New Eastern Outlook. Escreve habitualmente para diversos sites e blogs tais
como:Strategic Culture, Troubled
Kashmir, Make Pakistan Better e
muitos outros.
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