sexta-feira, 6 de junho de 2014

Ucrânia: Os doidos que fiquem fora daqui

(mas eles ainda podem obter o que querem)

5/6/2014, The Saker, The Vineyard of the Saker
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

The Saker
Devo dizer que estou bastante chocado, posso dizer mesmo que estou horrorizado, com o nível de ira e veneno que a que chegam alguns dos comentários postados em resposta aos meus esforços para explicar por que a Rússia não interveio, até agora, na guerra que a Junta faz contra o povo da Novorossia. Há pelo menos dois postados que me atacam pessoalmente por coisas que escrevi no passado que enfureceram pessoalmente aquelas pessoas (não é preciso dar nomes; eles sabem que falo deles); mas há também pelo menos três grandes grupos de postados que não posso descartar como enviados por reles “vingadores de brincadeirinha”.

Os doidos: nomes aos bois

Aparentemente, um grupo de verdadeiros amigos do povo de Novorossia é muito mais bem informado sobre os planos do Império Anglo-sionista que Putin; e, por efeito daquela compreensão superior, eles entendem que o melhor modo de derrotar os planos dos anglo-sionistas é fazer exatamente o que eles querem que a Rússia faça. E há então esse outro grupo que está firmemente convencido de que Putin vendeu-se, basicamente, à Nova Ordem Mundial e que isso é erro monstro, porque a NOM já decidiu iniciar guerra total contra a Rússia em futuro próximo (alguns sugerem 2015).

Vladimir Putin
E há também os que veem Putin como covarde-cagão que simplesmente não tem ou a coragem ou os miolos para fazer a coisa certa, que seria engajar-se em operação secreta amplíssima para ajudar o povo de Novorossia. Esse terceiro grupo está absolutamente convencido de que, apesar de os anglo-sionistas terem acusado a Rússia de estar engajada em operação secreta para ajudar a Novorossia, nenhum plano desse tipo está sendo implementado. Por quê? Porque eles não veem nem sinal da tal operação. Para eles, a ausência de prova seria prova de ausência, também no caso de operação secreta.

Estão todos perfeitamente doidos, ou há alguma outra coisa acontecendo por aqui?

Fecha-se a armadilha das OpPSIs [“Operações Psicológicas”] dos EUA

Ainda que se descartem os lunáticos totais que gostariam de ver a Rússia explodir à bomba atômica não só Londres e Washington, mas também “toda a raça anglo-saxônica” (como um idiota absoluto escreveu em mensagem para mim), o que me espanta é o nível de hostilidade e ira que literalmente pinga de vários, embora não, felizmente, de todos, esses comentários.

Embora parte dessa ira possa ser explicada pela presença estatisticamente inevitável de imbecis em todos e quaisquer grupos, inclusive entre os leitores desse blog; começo a suspeitar de que o que está acontecendo por aqui é pequena parte de vastíssima campanha para empurrar a Rússia a morder a isca e tornar realidade o sonho anglo-sionista e, basicamente, possibilitar que metam uma nova “cortina de ferro” em algum ponto das margens do rio Dniepr.

O rio Dniepr corta a Ucrânia quase exatamente ao meio. Será a Nova Cortina de Ferro?
Em outras palavras, acho que o que estamos vendo são sinais de uma “operação PSI estratégica” [ing. “strategic PSYOP operation], que inclui os seguintes elementos:

1) Apoio até às mais revoltantes atrocidades no leste e sul da Ucrânia (a mais recente dessas atrocidades de que já há notícia é a execução de soldados feridos no hospital de Krasnyi Liman).

2) Campanha massiva de jornalismo-propaganda (dito “Relações Públicas”) para demonizar Putin, como se fosse – e de quem mais lembrariam?! – “o novo Hitler”.

3) Uso de prostitutas da Europa Central (políticos em geral) para alertarem sobre uma “ameaça russa” ao continente europeu.

4) A repetição mântrica de ameaças de sanções e mais sanções contra a Rússia, (apesar de não haver nenhuma sanção real realmente implementada e vigente).

5) Um desavergonhado discurso de duplipensar “na sua cara”, à moda Jen Psaki, que já nem tenta fingir que esteja dizendo a verdade, ou que saiba de qualquer coisa importante sobre a Ucrânia.

6) O uso de autoproclamados “patriotas” russos e outros “nacionalistas”, para atacarem Putin e suas políticas, como “traiçoeiras” e “fracas”.

Falsos patriotas russos (outra vez)

Nesse ponto, tenho de mencionar uma coisa que tem recebido bem pouca atenção no ocidente, mas que tem sido noticiada na Rússia: muitos, se não a maioria, dos mais ensandecidos e perversamente nacionalistas, até websites neonazistas e blogs da Internet Russa RuNet, foram rastreados até – acreditem ou não – o Canadá e Israel.

Maksim Shevshenko
Sim-senhores! Alguns VERDADEIROS patriotas russos (como Maksim Shevshenko) ficaram intrigados e curiosos quando ao alto grau de insanidade de alguns daqueles websites, sobretudo os mais histericamente anti-judeus, e passaram a rastrear sistematicamente os endereços e seus IPs. Foi quando descobriram que a ampla maioria daquelas páginas eram administradas de fora da Rússia e por gente com mais laços com EUA e Israel, que com qualquer outro grupo.

Comunistas russos como “idiotas úteis” do Império

Pessoalmente, já constatei que muito da propaganda de “Relações Públicas” anti-Putin vem, ou de apoiadores do Partido Comunista Russo ou, no mínimo, é baseada em artigos e ideias divulgadas por indivíduos bem próximos do PC Russo. Não tenho absolutamente o tempo necessário para entrar em discussão profunda sobre quem hoje apoia o PC Russo ou por que, mas digo o seguinte: minha conclusão pessoal é que alguns estrategistas do PC Russo parecem ter resolvido que uma campanha para acusar Putin de ser covarde, idiota ou vendido ao ocidente os beneficiaria de algum modo... a eles e ao líder deles, Zyuganov.

Considerando que a popularidade de Putin na Rússia já alcançou a estratosfera e continua a subir (da ordem de 80% de aprovação, a última vez que verifiquei), essa campanha tem pouca ou nenhuma influência na Rússia. Mas foi “assumida” pela comunidade das “operações PSI” dos EUA como sinal de que “verdadeiros patriotas” na Rússia engoliriam “corajosamente a isca anglo-sionista” e não agiriam como Putin, que “espera nos bastidores, enquanto russos são assassinados no Donbass".

Mas... a Rússia estaria engolindo a isca?

É possível. O problema é que são necessários dois para fazer paz, mas para fazer guerra (seja quente, seja fria) basta um. Por favor, não me entendam mal: não acredito, nem por um instante, que os anglo-sionistas queiram guerra real com a Rússia, porque, ainda que haja políticos suficientemente pervertidos que desejam isso, eles não podem fazer guerra alguma sem o apoio dos mais altos comandantes militares dos EUA os quais, apesar de todos os seus erros e pecados, não são doidos a ponto de permitir que aconteça guerra em escala total contra Rússia ou China.

Não implica dizer que os comandantes militares norte-americanos tenham qualquer prurido em provocar Rússia (ou China), mas quando confrontados com alerta claro do outro lado de que há uma linha que não pode ser ultrapassada (como o alerta dado aos EUA pela Rússia em 08/08/08) eles sempre retrocedem; nesse caso, francamente, retroceder não é sinal de fraqueza, mas de pragmatismo e inteligência. Os corpos de oficiais dos EUA não devem ser avaliados pelos filmes Rambo ou Dr. Fantástico.

Conheci vários oficiais norte-americanos, de jovens tenentes a um Comandante do Estado-Maior, e jamais encontrei tipos Rambo ou Dr. Fantástico (o que já não se pode dizer da CIA a qual, por alguma razão, parece atrair lunáticos, doidos varridos e, até, gente gravemente perturbada). Isso posto, não descarto a ideia de haver anglo-sionistas jogando um arriscado jogo com a Rússia, de ameaçar desgraças se as coisas não forem feitas como eles querem, e procedimentos que bem podem incluir todo e qualquer tipo de provocação, exceto gerar guerra quente. E esperemos, queira Deus, que bastem as provocações.

Putin está agora em posição dificílima.

As emoções correm soltas e em alta rotação na Rússia e há muita gente real e sinceramente furiosa ante o fluxo diário de notícias dos horrores e das atrocidades em Novorossia.

Por exemplo, por menos que a imprensa-empresa ocidental noticie, o número de refugiados da zona de combate não parou de crescer, sobretudo na Crimeia e na região de Rostov-sobre-o-[rio]Don, onde mais de 7 mil refugiados chegaram nos últimos dias. As imagens filmadas de crianças em pânico, mulheres exaustas e velhos chorando são total e completamente revoltantes; e a imprensa russa não pode deixar de exibir essas imagens só porque complicam ainda mais a situação do Kremlin.

MANPADs. Arma antitanque; o projétil autopropelido (cor cinza)
Além de tudo isso – não há nem fiapo de dúvida em mim, de que a Rússia, sim, está ajudando secretamente as Forças de Defesa de Novorossia. Claro, não há nem pode haver provas dessa ajuda, dado que se trata, por definição, de operação SECRETA de ajuda. Mas tenho absoluta certeza de que os russos lá estão, se por mais não for, só pelo tipo de armamento que as Forças de Defesa de Novorossia “acham” aqui e ali, perdidas pelas estradas... Ou, quem sabe, alguém aí pensa que as Forças de Defesa de Novorossia teriam o dinheiro e o tempo necessário para comprar Iglas e MANPADS ou mísseis avançados antitanques, no mercado negro mundial de armas?

O problema de operações secretas é que só se descobre sobre elas se elas fracassam. Assim, enquanto o apoio secreto que os russos estejam garantindo às FDN for competentemente comandado e executado, nada haverá – ABSOLUTAMENTE NADA – que “informe” os que temem que a Rússia não esteja “fazendo o que tem de fazer”. Como já disse, há quem veja ausência de prova como prova de ausência; e esses só se deixariam convencer por uma operação secreta gorada... Mas qual é o custo disso tudo para a Rússia e a Novorossia?

IGLA - Mísseis antiaéreos de operação móvel
É possível que tudo se resuma à opinião pública europeia

É possível que tudo se resuma à opinião pública europeia, sim. Há alguns sinais de que mais e mais pessoas na União Europeia vão-se convencendo de que fato é que seus líderes “democráticos” estão apoiando o governo de uma junta neonazista que faz guerra total contra o próprio povo.

Creio firmemente que uma parte da resposta que a Rússia está dando à guerra é tentar disparar algumas tensões significativas entre os EUA e seus vassalos europeus, os quais já estão, afinal, lá mesmo (para profunda irritação & expressões impublicáveis de Mrs. Nuland). De fato, apesar de os políticos da União Europeia se terem vendido aos anglo-sionistas, nem por isso passaram a gostar de verem-se pressionados a aceitar políticas que, tão claramente, prejudicam a Europa.

Nesse momento, Merkel, Holland & Co. estão em firme aliança com Obama, mas isso não implica que o povo europeu não esteja percebendo o muito que custará aos cidadãos essa alucinada rendição dos interesses nacionais. Oh, não, não espero que os europeus envolvam-se em protestos de massa como em 1968, apenas por que civis inocentes estão sendo massacrados no próprio continente europeu... A “consciência” europeia não é assim tão sensível!

Merkel & Hollande
Mas se 10% dos empregos na Alemanha são ameaçados, ou se a França tiver de pagar 1,6 bilhão de dólares à Rússia e perder, por algo, 7 mil empregos high-tech de alta qualificação, os 1% europeus estarão diante de situação na qual haverá para eles um considerável preço político a pagar. Se olharem as recentes eleições na União Europeia, logo verão que o bicho está ali, ao pé deles.

Por tudo isso, se Putin e Lavrov conseguirem enfiar uma cunha, por pequena que seja, entre EUA e União Europeia, talvez se possa evitar uma intervenção russa. Mas se esses esforços fracassarem, e se a carnificina continuar no Donbass (agora, a junta de Kiev cortou o fornecimento de água para Slaviansk), nesse caso acontecerá uma intervenção russa, com todas as inevitáveis consequências, em primeiro lugar contra o continente europeu; Rússia e EUA serão bem menos afetados.

The Saker


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.