O grupo salafista quer muito mais, além de Iraque
e Síria
19/6/2014, Peter Mühlbauer (پتر مولباور) − Tlaxcala
Traduzido de alemão p/francês por Michèle Mialane e p/ português por Vila Vudu
População xiita acorre para defender o governo Maliki |
O grupo de
terroristas salafistas que tomou o controle de vastas áreas do norte da Síria e
do noroeste do Iraque, e que se dispõe agora a tomar Bagdá, leva, em árabe, o
nome de ad-dawla al-islāmīya fī l-‘irāq
wa-sch-schām.
A tradução
literal não é “Estado Islâmico do Iraque e Síria”, mas “Estado Islâmico do
Iraque e do norte do Iraque”. Tomado em sentido estrito, esse “Norte”
compreende “o Levante de cultura árabe” – quer dizer: não é só a Síria; é
também o Líbano, a Jordânia, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e sobretudo Israel.
A recusa a respeitar
as fronteiras existentes é a razão decisiva pela qual o ISIL rompeu com
a Al-Qaeda e com a Frente Al-Nusra. Isso mostra claramente que o ISIL não
se contentará com dominar as áreas sunitas situadas no leste da Síria e no
oeste do Iraque: os salafistas querem também conquistar as regiões povoadas
majoritariamente por judeus e por cristãos. Que destino terão essas pessoas?
O
comportamento não raro genocidário dos terroristas islamistas na guerra síria
responde essa pergunta.
Presença do ISIS/ISIL na Síria e no Iraque (Clique na imagem para aumentar) |
Mas o Líbano
e Israel não bastam ao movimento salafista que se esconde por trás do ISIL:
o sonho desses militantes é alcançar uma hegemonia mundial, sob a qual os que
tenham outras crenças – e sejam quais forem – não serão mais que servos de
segunda classe, obrigados a pagar impostos por cabeça aos patrões salafistas.
Esse objetivo final é que diferencia a guerra em curso na Síria e no Iraque, do
conflito que se vê na Ucrânia, onde se disputam questões de língua e interesses
geopolíticos quantificáveis.
A
guerra-relâmpago desencadeada pelo ISIL despertou menos reações que a
reintegração da Crimeia à Federação Russa. A Europa preocupa-se muito com pôr
termo à sua dependência do gás russo, mas não cogita de impor sanções
econômicas contra o Qatar e a Arábia Saudita, pátrias dos principais
financiadores dos salafistas.
Tampouco se
ouviu falar, até agora, de negar visto de entrada aos xeiques ou de congelar
seus bens. É o contrário. Cuida-se exclusivamente de que o campeonato mundial
de futebol, sim, aconteça no Qatar em 2022, apesar das infindáveis denúncias de
corrupção. E, na Alemanha, aceita-se que o xeique qatari Al-Thani torne-se
sócio majoritário proporcional, do Deutsche Bank.
___________________
[*] Peter Mühlbauer estudou etnologia e estimativa de conhecimento de Robert Anton
Wilson: Der
Ethnologe lebt vom Glauben anderer Leute, bem como os aforismos de Arthur
Schopenhauer: Beständigkeit liegt nur im Wandel. É articulista, entre outras, das
seguintes publicações: Spex, Taz, Süddeutsche
Zeitung, Standard, Bayerischen Rundfunk, Kindlers Literatur Lexikon e do Harvard
Guide to African-American History.
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