7/6/2014, [*] Umberto Pascali − Global Research
Traduzido por mberublue
Trata-se apenas da
ponta do iceberg. Um grande projeto geopolítico começa a se materializar...
Alexander Dyukov |
Em
06 de junho de 2014, a
agência russa oficial Itar Tass anunciou o que já era esperado pelo menos desde
o início da crise ucraniana: a maior empresa russa de energia, Gazprom Neft
finalmente “assinou acordo com seus consumidores” para trocar de dólares para
euros (em uma transição para o rublo) “para pagamentos por força de contratos”.
Na verdade, o anúncio é de que o acordo foi assinado e não apenas discutido, conforme
informou o CEO (Chief Executive
Officer → Diretor Executivo [NT]) da Gazprom, Alexander Dyukov.
Apesar
das pressões de Wall Street, dos
militares dos EUA, da propaganda política e do aparato político movido, 9 entre
10 consumidores de petróleo e gás da Gazprom concordaram em pagar em euros.
Torna-se claro que o divisor de águas foi o mega acordo sem precedentes firmado
pela Gazprom para fornecimento de suprimento de gás natural para a China, feito
em 21/5/2014 por 30 anos e no valor de US$ 400 bilhões, assinado na presença do
presidente Putin e do presidente Xi Jinping no meio da violenta
desestabilização da Ucrânia deflagrada pelos governos anglo/ americanos/ sionistas.
Na realidade, é até impróprio falar em “acordo de US$ 400 bilhões”, tendo em
vista que tal negócio foi denominado não em dólares, mas nas moedas nacionais
dos dois países, o rublo russo e o renminbi (ou Yuan) chinês. A China e a
Rússia ficam, pois, ligados econômica e estrategicamente por três décadas, de
fato (embora não de direito) criando uma aliança inabalável e simbiótica que
envolverá necessariamente o aspecto militar.
O
acordo Rússia/China promove uma clara derrota nas obsessivas tentativas
geopolíticas de Wall Street de colocar
os dois países em uma situação de competição desenfreada ou, ainda melhor, em
estado de confrontação bélica. Com o acordo, ataca-se o fundamento histórico
principal do mecanismo de dominação colonialista pela geopolítica britânica, de
dividir para governar. Apesar de estarem sob ameaça constante e intimidações à
segurança nacional dos dois países, China e Rússia superaram brilhantemente
diferenças históricas, ideológicas e culturais que haviam sido estrategicamente
colocados pelos poderes coloniais (e seus herdeiros financeiros em Wall Street e City de Londres) em sua estratégia dividir & conquistar.
Além
do mais, para horror de Londres e Washington, China e Rússia concluíram um
acordo com a Índia (os BRICS!) quebrando mais um conceito fundamental e sagrado
da geopolítica colonial britânica: o segredo para controlar a Ásia (e a
Eurásia) sempre foi o de instigar uma rivalidade perene entre China, Rússia e
Índia. Esta era a fórmula para o “Grande Jogo do Século XIX”. Foi o motivo que
levou à escolha de Obama para suceder George W. Bush. O então candidato a vice
presidente Joe Biden explicou muito clara e abertamente na convenção democrata
em 27 de agosto de 2008 porque Obama-Biden foram escolhidos para assumir a Casa
Branca. O grande erro da administração Bush e dos republicanos, disse ele, não
foi a sua belicosidade desenfreada e atroz, mas o seu fracasso.
Para fazer frente às maiores forças que moldam este
século:a emergência da Rússia, China e Índia como grandes poderes.
O sonho
de Zbigniew Brzezinski, protegido de Barack Obama, era derrotar esta “ameaça”.
Claro, “eles” falharam! Mas isso explica a obstinada, irracional, arrogância
autodestrutiva ao estilo Rei
Canuto que tomou conta da atual administração.
Rei Canuto afastando o mar |
O
significado do desenvolvimento dos acontecimentos deve ser enfatizado não só em
relação à economia real, mas a suas estruturas financeiras subjacentes. Estes
desenvolvimentos têm o condão de ser suscetível de enfraquecer as “correntes
que tem mantida amarrada a União Europeia a Wall Street e à City londrina”.
O fim do sistema de pagamento em dólar (também conhecido como Petrodólar) não
diz respeito apenas à moeda dos Estados Unidos ou a este enquanto tal. De fato,
superar esse sistema significa a restauração de uma racional e próspera
economia nos próprios Estados Unidos. Aquilo que conhecemos como “sistema dólar”
não passa de um instrumento através de qual os senhores feudais dos centros
financeiros pilham a economia mundial. Esses centros são capazes e estão
prontos para fazer qualquer coisa para salvar esse direito de pilhagem. É bem
sabido que qualquer que tenha tentado, até agora, criar uma alternativa para o
sistema dólar, encontrou-se face a face com uma reação feroz.
É
bom lembrar neste momento de grande esperança, as palavras de um grande
estrategista ainda vivo, o general Leonid Ivashov. Em 15 de junho de 2011,
refletindo sobre a selvagem destruição da Líbia, o general, que é uma espécie
de porta voz não oficial das forças armadas russas e foi representante da
Rússia na OTAN, escreveu:
BRICS e a missão de reconfigurar o mundo
Quem
desafia a hegemonia de dólar, explica Ivashov, torna-se um alvo.
Dá
exemplos precisos: Iraque, Líbia, Irã.
Os países que desafiam a dominação do dólar sofrem
enormes pressões e em certo número de casos, ataques devastadores. Mas o império
financeiro erguido por Rothschilds e Rockefellers é impotente contra cinco
grandes civilizações representadas pelos BRICS.
General Leonid Ivashov |
Adiante,
Ivashov defende uma estratégia coordenada dos países que representam a metade
da população mundial para ganhar a independência ao usar suas próprias moedas.
A mudança para as moedas nacionais nas transações
financeiras entre os países BRICS certamente lhes garantirá um nível sem
precedentes para a sua independência...
Desde
o colapso da União Soviética os países que desafiaram a dominação do dólar
invariavelmente ficaram sob forte pressão e em certo número de casos – sob
ataques devastadores. Saddam Hussein, que proibiu ma circulação do dólar em
todas as áreas da economia iraquiana – inclusive nas transações comerciais de
petróleo – foi deslocado e executado e seu país ficou em ruínas. Muammar.
Gadaffi iniciou uma troca nas transações de petróleo e gás utilizando moedas
árabes garantidas em ouro, teve seu país alvo de ataques aéreos quase
imediatamente... Teerã teve que segurar seu plano de sair do sistema dólar para
também não se tornar vítima de ataques agressivos.
Ainda
assim, mesmo com apoio ilimitado dos Estados Unidos, o império financeiro
construído pelos Rothschilds e Rockefellers são impotentes contra a cinco
grandes civilizações representadas pelos países que contabilizam quase a metade
da população mundial, os países BRICS. Estes países são claramente imunes à
grande pressão, seus países membros não parecem vulneráveis a revoluções
coloridas e a estratégia de provocação e exportação de crises financeiras podem
facilmente sair pela culatra, ser um tiro no pé.
Contrastando
com os Estados Unidos e a União Europeia, os países do grupo BRICS têm recursos
naturais suficientes não só para manter suas economias à tona nas configurações
de disponibilidade de contratação de combustíveis de hidrocarbonetos, comida,
água potável e energia elétrica, como também para manter um vigoroso
crescimento econômico. A mudança para suas próprias moedas nacionais nas
transações financeiras entre os países BRICS deverá garantir para eles um nunca
visto nível de independência ante os Estados Unidos e em relação ao ocidente em
geral, mas isto é apenas a ponta do iceberg. Um grande projeto geopolítico
começa a se materializar.
Este
é o momento para que a Europa dê o grande passo. A crise ucraniana é, na
realidade, uma batalha pela Europa.
As
elites do continente europeu – a Alemanha de Alfred Herrausen, a França de
Charles de Gaulle, a Itália de Enrico Mattei e Aldo Moro, a Europa que tentou
trilhar o caminho da independência e da soberania... até agora tem sido
ameaçada e aterrorizada exatamente nos termos colocados com precisão pelo
General Ivashov. Agora, a batalha pela Europa está sendo travada. Nós
examinaremos em um novo artigo, para as grandes forças europeias, os parceiros
silenciosos, ainda traumatizados e assustados, que observam com ansiedade e
memórias dolorosas das derrotas que sofreram, a posição firme da Rússia.
[*] Umberto Pascali é um autor independente e analista baseado em Washington DC. Tem
escrito sobre assuntos estratégicos e a geopolítica europeia. Também tem
conduzido pesquisas de campo em países em conflito. Pascali é observador astuto
e muito respeitado da política externa dos Estados Unidos.
Gostei....preciso e consizo.....ótimo.
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