terça-feira, 3 de junho de 2014

Para sobreviver, sair do dólar

[*] Adriano Benayon - 29 de maio de 2014
Texto enviado pelo autor
Ilustrações: redecastorphoto (catadas na internet)



1. O sistema monetário internacional que prevalece desde 1971, é ainda pior que o criado pelos Acordos de Bretton Woods, em 1944, meses antes de acabar a IIª Guerra Mundial.

2. Esses acordos - que instituíram o Banco Mundial e o FMI - deram primazia ao US$ dólar como moeda de reserva mundial, mas estabeleciam limite à tirania financeira anglo-americana-sionista, porquanto os EUA se comprometiam a vender ouro em troca de dólares, à taxa fixa de US$ 35,00 por onça-troy (31 gramas).

3. Entretanto, em agosto de 1971, os EUA romperam oficialmente os acordos de Bretton Woods, que já descumpriam na prática, desde, pelo menos, 1968, ao dificultar, a entrega do ouro.

4. Não lhes foi difícil virar a mesa, a seu talante, uma vez que eram satélites dos EUA os países que acumulavam maiores saldos de transações correntes em dólares - como Japão, Alemanha e Itália, ocupados militarmente desde o final da Guerra.

Charles de Gaulle
5. A exceção foi a França, cujo presidente, general De Gaulle praticava política independente. Exigia a conversão em ouro dos saldos de seu país, pois colocava os interesses nacionais acima da ideologia, inclusive em seu posicionamento em face da Guerra Fria.

6. A oligarquia financeira anglo-americana-sionista visa exclusivamente ao poder mundial ilimitado e tampouco acredita em ideologias. Usa qualquer uma, em qualquer lugar, que a ajude, conforme o momento, a avançar naquele objetivo.

7. Assim, os serviços secretos dos EUA, Israel e do Reino Unido, juntamente com as máquinas de corrupção de instituições públicas e privadas desses países, fomentaram, na França, lideranças estudantis esquerdistas, com apoio da grande mídia e até de partidos e organizações de esquerda. 

8. Assim, mobilizaram massas no movimento de maio de 1968, que espalhou a desordem e o caos pela França e, até hoje, é considerado libertário pela opinião majoritária.

9. Apesar de alvo das manobras anglo-americanas-sionistas de desestabilização, De Gaulle manteve-se no governo até 1969, renunciando, ao ser derrotado em um referendo, pela primeira vez.

Gaddafi assassinado pelos EUA-OTAN
10. Esse tratamento, dado pela tirania imperial a De Gaulle, foi menos brutal que o dispensado a Saddam Hussein em 2003 e a Muammar Gaddafi em 2011. Afinal, a França era potência nuclear e aliada, ademais de fonte das tão traídas ideias democráticas, formalmente adotadas nos EUA.

11. Pela mesma tentativa, de livrar seus países da extorsão pelo US$ dólar, Hussein e Gaddafi foram assassinados, com seus filhos e famílias, e seus países destruídos por agressões militares genocidas.

12. Daí se infere a importância para o império de continuar obrigando suas vítimas a custear até as armas com que são trucidadas ou chantageadas.

13. Pode-se estimar o que está em jogo pela proliferação dos ativos financeiros em dólares. Os derivativos nessa denominação passam de US$ 500 trilhões.

14. Vê-se, ainda, a inflação do dólar comparando a taxa de conversão do ouro até os anos 60, e sua ascensão posterior no mercado: de US$ 35,00 por onça-troy ele foi para os atuais US$ 1.300,00.

15. Chegou a US$ 1.800,00 em 2011, e só caiu por meio de manipulações dos grandes bancos, que fazem o que querem nos “mercados financeiros”, como vender quantidades enormes de certificados de ouro que não existe em cofre algum.

Conto do paco
16. Esses certificados não passam de papel pintado, como o dólar foi descrito pelo general De Gaulle, nos anos 60. Hoje, nem isso, pois basta um clique nos computadores dos bancos do sistema do FED para passar o conto do paco no mundo inteiro.

17. A situação de um país em relação aos EUA é semelhante à de um particular ou de uma empresa em relação ao banco com que opera. Quando o banco faz empréstimos, cria dinheiro: abre, do nada, créditos na conta do tomador, e este fica obrigado a pagar amortizações e juros com dinheiro de seu salário ou de outra receita do trabalho individual ou empresarial.

18. Sob “governos” traidores, que começaram a entregar o mercado às empresas transnacionais após o golpe de agosto de 1954, o Brasil ficou fadado a ter déficits crônicos no comércio de bens e serviços (transações correntes) com o exterior, a origem das dívidas externa e interna.

19. O déficit de conta corrente tem crescido aceleradamente e somou US$ 81,4 bilhões em 2013. No primeiro quadrimestre, já atingiu US$ 33,5 bilhões, projetando mais de US$ 100 bilhões em 2014 (quase 5% do PIB). 

20. De 2008 a 2012, totalizou US$ 204,1 bilhões, devendo, pois, ao final de 2014, acumular mais de US$ 400 bilhões, salvo se a crise econômica desabar sobre o País antes de o ano terminar.

Novo valor do dólar
21. O rombo é mal tapado pela entrada de investimentos estrangeiros, porquanto estes implicam intensificar a causa do mal, pois o grosso dos déficits externos decorreu dos lucros, inclusive  disfarçados em despesas, remetidos ao exterior, relacionados também com o desequilíbrio inerente ao comércio entre países que se desenvolveram e os que patinam no atraso tecnológico, proveniente da desnacionalização da economia.

22. A moral, ou antes, a imoralidade da história é que para “investir” as transnacionais só precisam de dólares que seus bancos criam à vontade, enquanto as dívidas que o Brasil acumula, têm de ser pagas com bens, patrimônios e trabalho nacionais.

23. Com efeito, valendo-se do privilégio dado ao dólar como divisa internacional, os emissores dessa moeda e as empresas a eles ligadas não têm dificuldade alguma para comprar patrimônios, empresas e consciências em qualquer país que não restrinja essas aquisições.

24. Instituído no final de 1913, em trama na qual o Congresso cedeu seus poderes à oligarquia, o FED, banco central dos EUA, cria dólares e os fornece aos bancos anglo-americanos-sionistas que formam o cartel controlador do próprio FED.

25. Sair do dólar gerará represálias das potências anglo-americanas-sionistas e satélites, também dominadas pelos manipuladores dos mercados financeiros. Entretanto, é medida de sobrevivência para quem não quiser continuar sendo satélite ou colônia da oligarquia anglo-americana-sionista mundial.

BRICS
26. A alternativa é ser subjugado através da ilimitada criação de moeda, que permite a essa oligarquia adquirir praticamente tudo, em qualquer lugar do mundo, além de financiar sua máquina de guerra.

27. Os EUA, de há muito, investem em armas mais que o dobro que o resto do mundo, e são as armas que, por exemplo, obrigam países exportadores de petróleo e a vendê-lo por dólares.

28. A questão está na ordem do dia. Haverá reunião em julho deste ano, em Fortaleza, na qual se espera que os chefes de Estado dos BRICS formalizem a criação de Banco de Desenvolvimento (BRICS Bank) e assinem Acordo Contingente de Reservas.

29. Mais promissora, por ora, é a realização, nas moedas da Rússia e da China, dos pagamentos referentes ao novo e expressivo acordo de fornecimentos de gás russo e às exportações chinesas relacionadas.

Xi Jinping (China) e Vladimir Putin (Rússia) em manobras militares comemorativas do Acordo Santo Graal de US$ 400 bilhões assinado poucos dias antes
30. Essas potências já realizam, em suas moedas, algumas transações com terceiros países, principalmente asiáticos, e a amplificação disso é fundamental para o ainda distante fim do domínio mundial do US$ dólar. 

31. Para contribuir nessa direção, o Brasil precisa, desde logo, revogar o art. 164 da Constituição e nacionalizar o Banco Central.

32. De fato, entre outros atos lesivos aos interesses nacionais, o BACEN, rejeita operações pelo Convênio de Créditos Recíprocos, firmado, em 1968, com países latino-americanos, e através do qual as operações de comércio exterior podem ser liquidadas nas moedas dos países membros, e os saldos, financiados pelas autoridades financeiras respectivas.
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[*]Adriano Benayon: Consultor em finanças e em biomassa. Doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo, Bacharel em Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Diplomado no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, Itamaraty. Diplomata de carreira, postos na Holanda, Paraguai, Bulgária, Alemanha, Estados Unidos e México. Delegado do Brasil em reuniões multilaterais nas áreas econômica e tecnológica. Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e do Senado Federal na área de economia. Professor da Universidade de Brasília (Empresas Multinacionais; Sistema Financeiro Internacional; Estado e Desenvolvimento no Brasil). Autor de Globalização versus Desenvolvimento, 2ª ed. Editora Escrituras, São Paulo.


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