Bem vindo à Conferência Monetária
Internacional
30/5/2014, [*] Andrew Gavin
Marshall − Occupy.com, CA
Traduzido por mberublue
CMI de Xangai em 10/1/2013 |
Na parte
01 desta série, examinei a história e os primórdios da evolução da
reunião que tem lugar entre banqueiros mundiais e autoridades financeiras e
monetárias, na Conferência Monetária Internacional. Na parte
02, o foco foi o papel da CMI no período que antecedeu a crise financeira
mundial de 1980. A
parte
03 analisou qual foi a influência da CMI em toda a crise financeira
durante uma década. Este último item, que está sendo publicado justamente
quando a Conferência Monetária Internacional está sendo preparada para
acontecer no período de 01 a
03 de junho de 2014 (já aconteceu [Nrc), com um encontro no Hotel Bayerischer Hof em
Munique, Alemanha – pretende esmiuçar quais as atitudes da CMI para
manter seus status de importância entre as instituições mais influentes do
mundo em termos econômicos, financeiros e monetários. Está incluso um rol de
banqueiros que dirigem a CMI, juntamente com documentos que vazaram da reunião
de 2013, que aconteceu em Xangai.
Em Toronto, 1992, na Conferência Monetária Internacional que
ali teve lugar, havia um consenso entre os banqueiros privados e autoridades
públicas que como o resultado do grande volume de empréstimos para a América
Latina e países em desenvolvimento durante toda a década que antecipou a crise
da dívida em 1980, a
missão de financiar “a conversão da União Soviética em uma economia de mercado”
não poderia ser resolvida apenas com empréstimos bancários. Hilmar Kopper, o
CEO (Chief
Executive Officer – Diretor Executivo [NT]) do Deutsche Bank, disse aos participantes da conferência que os bancos
comerciais só se engajariam na tarefa desse financiamento em larga escala, caso
houvesse “créditos garantidos pelos governos”, além de “um acordo em relação à
dívida anterior” o que implica, na essência, que os bancos necessitariam da
garantia de ajuda dos governos, caso as coisas ficassem ruins. Toyoo Gyohten,
Ex ministro das finanças do Japão disse
aos participantes que “o setor público, através de suas agências,
cooperarão com os bancos privados, com a disposição de compartilhar os riscos
inevitáveis”.
O ministro das finanças do Canadá, Don Mazankowski, disse aos
banqueiros que “nós estamos preparados para ajudar” o bloco dos países da
antiga União Soviética desde que “eles ajudem a si mesmos e sigam o caminho
certo para crescer economicamente e prosperar”. Em suas palavras estava
implícita a fórmula: aplicar austeridade igual e os pacotes de ajustamento
estrutural que foram impostos a outros países na ocasião da crise da dívida de
1980. Os banqueiros reafirmaram
o mesmo ponto de vista, com a observação de que “seria muito complicado
para os governos ser generosos com a Rússia, a menos que ela estabelecesse um
programa para recuperação econômica que fosse aprovado pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI)”.
Durante os anos 90, a CMI continuou a ser um importante fórum
de discussões para banqueiros e autoridades monetárias. Ponderações
do Presidente do Federal Reserve,
Alan Greenspan e do presidente do Banco Central da Alemanha (Bundesbank) na reunião da Conferência
Monetária Internacional de 1995 tiveram a consequência de levar o dólar
americano a um fortalecimento e ao mesmo tempo, ao enfraquecimento do marco
alemão nos mercados internacionais.
Flagrante da CMI de 1954 |
A influência da CMI
em anos recentes
No começo do século 21, a Conferência Monetária Internacional
permaneceu relevante, como admitiu Willem F. Duisenberg, presidente do Banco
Central Europeu em 2001, em uma conferência de imprensa. Duisenberg foi
duramente criticado pela imprensa européia por sua recusa em comparecer em um
recente encontro entre Ministros de Finanças e banqueiros de bancos centrais de
países da zona do euro que aconteceu em Bruxelas.
(...) gostaria de notar que tem sido uma tradição desde 1954 que o destaque
das reuniões anuais das CMI, que acontecem a cada ano em local diferente, é um
painel dos bancos centrais, no qual estes, ou seus banqueiros, dos países que
têm as três principais moedas mundiais participam. Eu já participei. Se eu não
estivesse lá, teria chamado mais atenção que se estivesse em Bruxelas ... posso
lhes dizer que a próxima reunião da CMI será ... em Montreal (em 2002), e em
seguida, um ano após, será ... em Berlim. Nas duas ocasiões, podem estar
seguros, se a data da reunião coincidir com o encontro do Eurogrupo, o Banco
Central Europeu será representado no Eurogrupo pelo seu vice presidente.
Realmente, pudemos ver que a importância e relevância da
reunião anual da CMI, que se realizou em 2013 em Xangai, não diminuíram. Mesmo
que a CMI não tenha um site que possa ser acessado pelo público, consegui
montar uma lista (aproximada) de altos funcionários e membros do Conselho da
Conferência Monetária Internacional, filtrando informações de referências nos
currículos e biografias disponíveis ao público, assim como de documentos
vazados, nos quais se inclui uma visão do programa da conferência de 2013.
Baudouin Prot - Presidente do BNP Paribas e da CMI |
Guarde estes nomes
- Baudouin Prot é o presidente e chairman (presidente do conselho de diretores ou do quadro de conselheiros de empresa ou corporação [NT]) da Conferência Monetária Internacional. Antes CEO do BNP Paribas, um dos maiores bancos mundiais com sede na França, é atualmente presidente desse banco, assim como membro do conselho de Kering, Veolia Environment, Lafarge, Erbé S/A e Pargesa Holding S/A. É ainda membro do Painel Internacional de Consultas para a Autoridade Monetária de Cingapura, do Conselho Consultivo de Líderes de Negócios para o prefeito de Xangai, da Mesa Redonda de Serviços Financeiros Europeus e é chairman do Grupo Bancário Europeu.
- Frank Keating é o vice presidente executivo da Conferência Monetária Internacional, presidente e CEO da Associação Americana de Banqueiros e ex presidente do Conselho Americano de Seguradores da Vida (2003-2011). Também é ex governador de Oklahoma (1995-2003) antigo funcionário do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos e ex Secretário Assistente do Tesouro. É ainda membro do conselho de administração da Fundação Arquivo Nacional, do Centro de Política Bipartidária, da Fundação Jamestown e já foi membro da Força Tarefa do Centro de Política Bipartidária para a Redução da Dívida em 2010.
Outros membros do conselho da Conferência Monetária
Internacional já confirmados incluem:
- Gordon Nixon, presidente e CEO do Royal Bank of Canada;
- William Downe, CEO do BMO Financial Group;
- Axel Weber, chairman do UBS;
- Francisco Gonzalez, chairman e CEO do BBVA;
- Roberto E. Setúbal, presidente e CEO do Itaú Unibanco S/A;
- Richard Waugh, presidente e CEO do Scotiabank;
- Chanda Kochhar, diretor geral e CEO do ICICI Bank; Jacko Maree, banqueiro sênior do Standard Chartered;
- Andreas Triechl, chairman e CEO do Erste Group Bank; e Walter B. Kielhoz, o chairman da Swiss Re.
Curiosamente não existem grandes bancos ou banqueiros
americanos arrolados como membros atuais da diretoria da CMI, que é dominada
por banqueiros europeus e canadenses. Há ainda três banqueiros cujos currículos
mencionam que seriam membros da CMI, mas quando tentei confirmação por contato
com a CMI e com a Associação de Banqueiros Americanos para confirmar a
veracidade da afirmação de que seriam membros do conselho – o conselho da CMI é
formado por 15 membros, mas pude confirmar apenas 12 – nem a ABA nem a CMI
responderam às minhas consultas. Os três banqueiros listados como “membros” – e
talvez, mas sem confirmação membros do conselho da CMI – são:
- Federico Ghizzoni, o CEO do UniCredit;
- Douglas Flint, chairman do HSBC (e também chairman do Instituto Financeiro Internacional), e
- Ibrahim S. Dabdoub, CEO do National Bank of Kuwait.
Podemos ver então quais as instituições mais representadas
entre os membros do conselho da Conferência Monetária Internacional, examinando
os currículos dos 12 membros do conselho já confirmados:
Dentre os membros do conselho da CMI, quatro o são também do
Instituto Financeiro Internacional, que forma o principal grupo de lobby bancário no mundo; quatro membros
do conselho da CMI também são membros do Conselho Internacional de Negócios, do
Fórum Econômico Mundial e da Mesa Redonda de Serviços Financeiros Europeus, um
grupo dos grandes banqueiros europeus. Três membros também representam o Grupo
Bancário Europeu, cujo surgimento se deu para assessoramento da União Europeia
na regulamentação do mercado financeiro, assim como do Conselho Canadense de
Diretores Executivos, corporação para agir nos grupos de interesse das grandes
empresas canadenses.
Compartilhando a liderança com pelo menos dois membros no
conselho da CMI, estão o Painel Internacional de Consultas para a Autoridade
Monetária de Cingapura, o Conselho Consultivo de Líderes de Negócios para o
prefeito de Xangai, e o Comitê Consultivo Internacional do Federal Reserve Bank de New York.
Incluindo-se os três banqueiros cujos currículos os
mencionam como “membros” da CMI, aumenta a representação na liderança das
seguintes instituições: a Mesa Redonda de Serviços Financeiros Europeus passa
de quatro para seis membros no conselho da CMI, o Grupo Bancário da Comissão
Europeia vai de três para cinco membros, o Instituto Financeiro Internacional
de quatro para cinco membros e o Conselho Consultivo de Líderes de Negócios
Internacionais para o prefeito de Xangai aumenta de dois para três.
Proibida entrada de BANQUEIROS |
Detalhes vazaram em
Xangai
O
programa planejado para os quatro dias da conferência em Xangai,
realizada no Four Seasons Hotel Shanghai
no começo de junho de 2013 vazaram da reunião da Conferência Monetária
Internacional, naquela ocasião. As boas vindas seriam apresentadas pelo
presidente e CEO da Associação de Banqueiros Americanos, Frank Keating, às quais se seguiriam o discurso de abertura,
proferido pelo presidente do BNP Paribas e da CMI, Baudouin Prot.
Na segunda feita, 3 de junho de 2013, teriam início as
palestras da Conferência Monetária Internacional, que incluíam
- Han Zheng, membro do Gabinete Político do Comitê Central do PCC (Partido Comunista Chinês);
- Mario Draghi, então presidente do Banco Central Europeu;
- Douglas Flint, presidente do HSBC e também do Instituto Financeiro Internacional (e membro não confirmado do Conselho da CMI);
- Jaime Caruana, gerente geral do Banco de Compensações Internacionais (BCI);
- Lord Adair Turner, ex presidente da FSA (Financial Services Authority) no Reino Unido e membro sênior do Instituto para um Novo Pensamento Econômico e
- Janet Yellen, vice chairman e diretora (atualmente presidente) do Federal Reserve Board.
Outros palestrantes da Conferência Monetária Internacional
incluíam:
- Axel A. Weber, chairman do UBS;
- Niall Fergunson, jornalista
- Professor Lawrence A Tish de História da Universidade de Harvard;
- Jacob A. Frenkel, chairman do JPMorgan Chase Internacional e chairman do Board of Trustees do Group of Thirty (G30);
- Tharman Shanmugaratnam, vice Primeiro Ministro e Ministro das Finanças do governo de Singapura;
- Zhou Xiaochuan, diretor do Banco do Povo da China (Banco Central Chinês);
- Jamie Dimon, chairman e CEO do JPMorgan Chase;
- Jurgen Fitschen, co-chairman do Deutsche Bank;
- John G Strumpf, chairman, presidente e CEO da Wells Fargo;
- Francisco Gonzalez, chairman e CEO do BBVA;
- Sir Martin Sorrel, CEO do WPP e Victor Yuan, chairman e presidente do Horizon Research Consultancy Group.
Conferencistas
adicionais na reunião foram:
- Jiang Jianqing, chairman do Industrial and Commercial Bank of China (ICBC);
- Stephen Bird, CEO para a Asia Pacific e Citibank em Hong Kong;
- Michael Pettis, Professor de finanças internacionais na Guanghua School of Management da Universidade Peking em Pequim;
- Peter Sands Diretor Executivo da Standard Chartered; Shang Fulin, chairman da China Banking Regulatory Commission;
- Tian Guoli, chairman do Bank of China e
- Andrew Sheng, presidente do Fung Global Institute em Hong Kong.
Só o fato de que este grupo financeiro internacional se
encontrou com líderes de bancos e banqueiros chineses e autoridades do governo
chinês Já mostra a relevância da CMI. Acrescente-se que Janet Yellen, então uma
candidata ao cargo de presidente do conselho do Federal Reserve participou da
reunião da Conferência Monetária Internacional, como vice presidente do Federal
Reserve, apresentando na ocasião sua visão do “que mais pode e deve ser feito”
para “tornar o sistema financeiro mundial mais resistente.”
Entre os assuntos expostos por Yellen no seu discurso para
centenas de banqueiros globais que se reuniram na CMI de 2013 destaca-se o
conceito de bancos “grandes demais para falir” que a agências reguladoras (e
principalmente os bancos centrais) se referem como “sistemicamente importantes
instituições financeiras” ou SIFIs. Yellen observou que houve propostas para
uma “reestruturação radical do sistema bancário” que incluíam a possibilidade
de “ressurreição da separação no estilo Glass
Steagall Act (lei bancária promulgada por Franklin D. Roosevelt que impedia
a especulação através de derivativos bancários [NT]) entre os bancos
comerciais e os bancos de investimento, com a imposição de limites ao tamanho
dos bancos”.
Tranquilizando
os grandes financistas, Yellen disse que:
(...) não estou bem certa de que este tipo de abordagem seria o mais correto
a fazer para resolver o problema dos bancos “grandes demais para falir”.
Realmente, problemas sistêmicos nos sistemas monetário,
financeiro e econômico globais, provavelmente continuarão por resolver, dado
que fóruns como a Conferência Monetária Internacional têm a permissão de
acontecer a salvo do escrutínio do público. Tais encontros, onde banqueiros
centrais, reguladores e homens de decisão sobre a política financeira se
encontram privadamente com os banqueiros mais influentes do mundo com o fito de
obter um consenso, cooperação mais próxima e finalmente, o conluio entre nossos
funcionários públicos e os banqueiros que lucram com a destruição financeira e
econômica que eles mesmos desencadearam.
________________________
[*] Andrew
Gavin Marshall é um pesquisador de 26
anos de idade que mora em Montreal, Canadá. Gerente de um projeto denominado “Projeto
Livro Popular”, é presidente da divisão de geopolítica do Hampton Institute, diretor de pesquisa
do Projeto Global de Poder do Occupy.com e do World of Resistance (WoR) Report, e apresenta um programa de podcast (arquivos de áudio transmitidos
via internet) semanal através do BoilingFrogsPost.
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