26/05/2014, [*] Philippe Grasset, Blog DeDefensa
“Notes
sur un monde à mille temps” (Le lourd passif sino-russe)
Excerto traduzido pelo
pessoal da Vila Vudu
Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo - 22 a 24/5/2014 |
Foi semana
agitada e quase histórica, se não plenamente histórica, pelas regras dos
eventos humanos. Veremos o que a história fará dessa semana. Navegamos da
reunião de cúpula Putin+Xi às eleições europeias, com um pouco mais de exotismo
achocolatado de uma Ucrânia que fez sua eleição presidencial, enquanto, um
pouco antes, a partir de 23 de maio, o Fórum Econômico de São Petersburgo
(espécie de Fórum de Davos à moda russa) reunira uma elite do mundo econômico
globalizado na qual não se via – ausência proclamada e anotada – a parte
americanista. (...)
Em todos os
casos, numa dessas raras vezes nas quais podemos nos deleitar, é preciso
registrar que essa sucessão de eventos, toda ela, aconteceu sem a presença
alardeada e oficial da “nação indispensável” que finge ter arregimentado à sua
volta o resto do mundo que conta; e que toda essa sucessão de eventos fez-se em
torno quase sempre, mas nunca muito longe da nação que os EUA tanto querem
isolar do resto do mundo. Em outras palavras, os EUA são a nação ‘indispensável’,
mas dispensável; e a Rússia é a nação em torno da qual tudo está convergindo,
mas “isolada”.
O que se vê
nessa constatação irônica, não é nem “tendenciosidade” nem viés de
classificação, mas, mais simplesmente, a demonstração já fatigada, de tanto que
se repete, de que é preciso desconfiar sempre do que parece ser o ‘fato’ em
cuja produção as narrativas washingtonianas
tanto obram; e que é mais que hora de admitir que, nesse mundo de 2014, reina a
desordem. Habemus Barack Hussein Obama (...)
The Economist: revista
burríssima
Mas nem por
isso passemos tão rapidamente por The Economist. É inegável que a
revista tem talento para expor a narrativa do suprematismo anglo-saxão, para
dar novo ânimo a certezas periclitantes, para reinflar a húbris quando ela
murcha e tomba, como vela de dentro da qual o vento escapou. Mas, de fato, The
Economist só faz deixar perceber uma completa ignorância. Tudo isso se
condensa numa frase lá publicada, que retomamos aqui para desenvolvê-la, porque
esse desenvolvimento nos permitirá explicar melhor a “aliança” sino-russa e o
que pensam dela os anglo-saxões:
Há apenas 40 anos, Richard Nixon e Henry
Kissinger persuadiram a China a voltar-se contra a União Soviética e aliar-se
aos EUA.
Não e não.
Tal coisa nunca aconteceu!
Que erro! Que
absoluto nada saber das realidades das grandes culturas, nos turbilhões ideológicos
do século XX! E a revista The Economist quer fazer-nos crer, aliás,
porque a própria revista crê, ela mesma, nessa tolice – é a ignorância que
brota da húbris anglo-saxônica – que Nixon-Kissinger teriam conseguido, em 1971
o prodígio de desfazer a formidável aliança sino-russa! Assim se reforça a
ficção que inventou a habilidade maquiavélica do anglo-saxonismo
(Nixon-Kissinger). Mas fato é que dois anos antes, no verão de 1969, no rio
Amour que separava as duas potências comunistas, guardas-de-fronteira chineses
e guardas-de-fronteira soviéticos trocavam tiros. A URSS preparava planos de
ataque nuclear contra a China, antes de a China ter tempo para organizar força
nuclear considerável. (Os EUA, que foram indiretamente informados, intervieram
com todo o seu peso, para convencer os soviéticos a não reagir).
Richard Nixon e Henry Kissinger passeiam em Viena, Áustria - Maio de 1972 |
Se, durante
os anos 1960s, os soviéticos armaram o Vietnã do Norte por envios marítimos que
passavam por Haiphong (definida como alvo fora dos limites para aviões dos EUA,
de medo de atingirem, por erro, algum cargueiro russo), foi porque a via por
estrada de ferro, que seria mais simples, passaria necessariamente pela China,
e as primeiras viagens-teste terminaram em pilhagens sistemáticas dos trens
russos, pelos chineses (nenhuma pilhagem foi jamais feita pelo Vietnã).
Só um único
acordo sino-soviético satisfatoriamente firme foi jamais assinado entre 1949
(vitória de Mao na China) e 1953 (morte de Stálin), porque Mao tinha certa
proximidade de métodos com Stálin, e, isso, apesar da experiência de uma URSS
mais disposta a apoiar Chang Kai-Check contra o PC chinês durante os anos 1930.
Quanto ao resto, os chineses jamais pararam de fazer chover cataratas de
insultos contra os dirigentes soviéticos que vieram depois (Mao detestava Krutschev
e nunca nem quis saber de Brejnev), todos classificados como “revisionistas”
insuportáveis. O aggiornamento de 1971, de Nixon-Kissinger, com um Mao
já envelhecido e um Chou En-lai que se curvava fleumático, era previsível,
escrito na natureza das coisas, e evidentemente agradava aos chineses.
Tudo isso
para dizer que não se trata, absolutamente, de ressuscitar, hoje, uma aliança
sino-russa que nunca existiu.
William Rogers, Secretário de Estado (E); o então presidente dos EUA, Richard Nixon (C) e o presidente da China, à época, Chu Enlai, reunidos em Xangai em Fevereiro de 1972 |
Estereótipo à
maneira anglo-saxônica
Assim, o
espírito anglo-saxão que dirige o juízo geral do Bloco Atlanticista
Ocidentalista (“bloco BAO”), persuadido do próprio brio e da própria visão
avançadíssima, acabou por ficar, ele próprio, totalmente cativo dos
estereótipos da Guerra Fria. (O grande experimento de Nixon-Kissinger – porque
sim, foi um experimento – não foi, é claro, desfazer uma aliança que não
existia, mas, isso sim, fazer EUA e Washington engolirem uma aproximação com a
China, no momento em que a pulsão anticomunista dominava todas as cabeças, e
metia a China de Mao, necessariamente, como parceira fundamental da URSS.
Essa situação
explica também a tática adotada, de segredo total das negociações EUA-China,
guardado até o último momento, da primeira viagem-surpresa de Kissinger, e tudo
isso por medo de que as forças burocráticas em ação em Washington fizessem
gorar o processo. Essa manobra bem-sucedida foi uma das causas do Watergate e
da derrubada de Nixon pela versão verdadeira [sobre isso, ver comentário nesse
blog Obama
“é” Nixon, de 28/12/2009].)
Há pois dois
paradoxos na atual situação.
O primeiro é
que a política americanista desenvolveu-se depois da aceleração pela qual
passou a crise ucraniana, segundo esse estereótipo da Guerra Fria, como se
russos e chineses fossem novamente os aliados fundamentais da Guerra Fria (o
que jamais foram), vale dizer: como se a aliança sino-russa se resumisse a uma
dinâmica natural.
Samantha Power |
O
desestruturamento dessa política americanista é de tal ordem, reforçado por uma
extraordinária arrogância de opinião e comportamento, que esse movimento que
involuntariamente reforçou a aproximação russo-chinesa desenvolveu-se ao mesmo
tempo em que os serviços do sistema de comunicação de Washington garantiam que
a Rússia estaria “isolada” e que a China votaria conforme o desejo dos EUA, na
Assembleia Geral da ONU. (A estupidez dessa sequência alcançou o auge quando a
embaixadora Samantha Power dos EUA afirmou, no tom de certeza histérica que a
caracteriza, que a abstenção dos chineses no voto que condenaria o referendo da
Crimeia teria sido “prova” do alinhamento dos chineses às posições dos EUA.
Como se sabe, era exatamente o oposto [ver o comentário
de 28/3/2014).
Em outras
palavras e para voltar à questão da dinâmica, a inacreditável pressão que
Washington aplicou – seja contra a Rússia, na questão ucraniana, seja contra a
China, na visita de Obama e no encorajamento anti-China que inflou entre os
japoneses – provocou uma aceleração decisiva na aproximação sino-russa, que, a
partir do encontro Putin+Xi tomou dimensão verdadeiramente estratégica. O cúmulo
do ativismo americanista manifestou-se quando os EUA, adotando postura
cenográfica à Snowden, acusaram a China de crime de “ciber-hostilidade” e
inculparam quatro funcionários chineses (com fotos em cartazes de
“Procurados”), no dia em que Putin chegava a Xangai.
Chama a
atenção, aí, a rapidez da sequência de movimentos de política de arrogância
patética dos EUA, em que se reuniram todas as imbecilidades possíveis, em
sequência rapidíssima, para expor ao mundo o aspecto estratégico da aproximação
sino-russa. Os EUA, excepcionais efetivamente, não fazem serviço pela metade.
A narrativa
da entente Putin Obama
O segundo
paradoxo é que o endurecimento dos antagonismos e o aspecto estratégico da
aproximação sino-russa em pleno auge de crises desestabilizantes para os dois,
faz-se em nome, principalmente, da moderação dos dois parceiros. Tanto Putin
como a direção chinesa não deixam de exibir tendência centrista de extrema
moderação na questão de suas relações com o Bloco Atlanticista Ocidentalista,
por mais que o ‘ocidente’ os condene pelo oposto.
É essa
moderação que impede chineses e russos de reagir com mais vigor, cada um de seu
lado, às pressões do Bloco Atlanticista Ocidentalista, e é essa pressão
antagonista do BAO que os empurra, para compensar o que se poderia tomar por
fraqueza – com risco real de converter-se, sim, em fraqueza – a reforçarem-se
mutuamente, exaltando a aproximação, até que a comunicação assuma o esboço de
uma aliança estratégica fundamental.
Russos e
chineses, adeptos obcecados da estabilidade e do equilíbrio nas relações
internacionais, nada temem mais do que temem a desordem que a política dos EUA
e do BAO suscita. Essa moderação de julgamento conduziu-os, paradoxalmente, por
causa das pressões e desse sistema-extremismo do BAO que alimenta a desordem, a
proclamar implicitamente uma aliança que também é vista como ato estratégico
fundamental.
Pode-se ver
facilmente que Putin a todo momento recoloca sobre a mesa sua vontade de
moderação e apaziguamento. Diz que não se trata de segundo episódio da Guerra
Fria, que ninguém quer (vide RT, 24/5/2014), – e todos lhe
desejamos boa sorte!
Robert Parry |
Robert Parry,
do ConsortiumNews, em artigo
de 24/5/2014, no qual detalha a política do Departamento de Estado dos
EUA para a Ucrânia como “manual do fiasco diplomático”, garante que, segundo a
narrativa habitual e à qual ele mesmo já muito contribuiu, que há uma nova
tentativa de entente pessoal Putin-Obama, prevista para a ocasião das
comemorações do desembarque de 6 de junho:
A questão chave na Ucrânia agora é: conseguirão
Putin e Obama superar a histeria de bater no peito da Washington oficial, e
desescalar a violência – bem como a retórica – para melhor sorte de todas as
partes racionais que estão em confronto? Tenho informações de que Putin, embora
irritadíssimo por Obama ter, de início, seguido a manada anti-Rússia, já
recomeçou a trabalhar com Obama, com vistas a um possível encontro na
Normandia, dia 6 de junho, nas cerimônias em honra aos 70 anos do Dia D.
Essa postura
de Putin, que se considera ainda como tática e que é bem mais que apenas
tática, acabou por atrair as críticas de seus principais seguidores, entre os
quais dissidentes do bloco BAO.
Finian Cunningham |
Por exemplo,
eis o
que disse Finian Cunningham, à rede PressTV.ir, dia 24/5/2014, sobre a
declaração de Putin na qual reiterava que respeitaria “o veredito das urnas” na
Ucrânia, dia 25 de maio:
O presidente Vladimir Putin da Rússia disse no
Fórum Internacional de Negócios em São Petersburgo, que seu governo reconhecerá
os resultados da eleição presidencial que se realiza nesse fim-de-semana na
Ucrânia. Parece sinalizar considerável concessão que o líder russo faz, para
aplacar o regime de Kiev apoiado pelo ocidente [...].
Mesmo assim, parece ser erro tático de Putin
concordar com o que faça a operação de mudança de regime patrocinada pelo
ocidente na Ucrânia e a campanha terrorista a que o regime está submetendo a
população dissidente, e dar uma falsa credibilidade a uma eleição-farsa. Não se
aplaca uma fera sem lei, com tapinhas no ombro. A fera sem lei – a Junta em
Kiev apoiada por Washington – só entende a linguagem da força. Moscou melhor
faria se condenasse aquele regime, como vinha fazendo até recentemente, e a
ridícula eleição-farsa que a junta impostora está impondo ao povo ucraniano. Um
governo de terroristas não deixa de ser governo de terroristas porque se oferecem
algumas poucas urnas ao povo.
Sejam essas
críticas fundamentadas ou não, e que Putin (e Xi) sigam visivelmente uma
concepção moderada de política, nada disso impediu que se fizesse a aproximação
sino-russa; assim sendo, as pressões prosseguirão pelo bloco BAO – o que
implica que os dois países (Rússia e China), consequentemente, enfrentarão a
necessidade de manter uma linha firme contra o bloco BAO. É uma lógica
irresistível, que domina todos os atores, e que, para russos e chineses, os
põe, finalmente e decididamente, no campo anti-Sistema.
Xi Jinping e Vladimir Putin em Pequim (maio/2014) - Acordo Santo Graal |
Deslegitimação:
fecha-se o círculo
Esses vários
episódios mostram a grande desordem e a confusão das diversas políticas
maquinadas pelo Sistema sapiens [orig. sapiens-Système] com as respostas
antissistema que as acompanham e completam, ao final dessa “semana histórica”,
“histórica” em sentido corriqueiro e “histórica” também por causa das notícias
que saem do front democrático do
exercício do direito de votar.
Por enquanto,
não nos demoraremos na eleição triunfal do “rei do chocolate”, aplaudido como o
salvador-mediador da Ucrânia dividida pela fúria e pela desordem. (Afinal, as
notícias sobre o possível
envolvimento do presidente checheno e de seus batalhões
no caldeirão ucraniano podem revelar-se mais importantes...) Consideraremos
aqui, agora, essas sim, a eleição do novo Parlamento Europeu, escrutínio em
geral sem sabor nem vigor algum, mas que, dessa vez, toma dimensão
extraordinária e inscreve-se sem hesitação nessa “semana histórica”.
Já se
conhecem os resultados, e pode-se dizer que já se os conheciam antes, mas ver a
coisa, aí, à nossa frente, é enorme choque psicológico. A compreensão do
significado dessa eleição europeia vai contribuir um pouco mais a favor da
empreitada já bem avançada de deslegitimar os sistemas-governança e
sistemas-direção na Europa, e, com eles, a “ideia europeia”.
Enquanto o
bloco BAO aí está em todos os cantos, de olho na brecha para ensinar suas
surpreendentes lições de governança realista e moralista, mesmo assim ele
continua a dissolver-se por dentro. De que valem tantas lições políticas na
França e no Reino Unido, com essas eleições que dão o primeiro lugar ao Front
National francês (25% dos votos) e ao UK Independence Party [Partido
Independente do Reino Unido], UKIP britânico (28%), partidos que se
situam necessariamente na lógica anti-Sistema?
Sobretudo a
França, com seu sistema presidencial fortemente apoiado sobre a legitimidade,
está hoje feito navio sem leme e timão para dirigi-lo, como bandeira sem mastro
para içá-la. Há nisso tudo uma bela lógica: a crise da legitimidade francesa é
perfeitamente proporcional à impostura das políticas feitas em nome da tal “legitimidade”
depois de 2008-2009.
José Bové |
Pode-se
dizer, como dizia ontem à noite, em tom de lástima, o bravo José Bové, que
trocou sua foice de insurgido anti-Sistema pela habitual recuperação-Sistema,
que são apenas eleições europeias, “que as pessoas aproveitaram para votar na
direita e manifestar sua cólera”. Parece ser bem verdade – embora pouco gentil
com a Europa – mas é falar a favor do 25 de maio 2014, e sem avaliar o impacto
do “fato democrático”, quer dizer: para ser séria a deslegitimação das
autoridades oficiais, ela implica, pelo efeito contrário, a legitimação dos
atos anti-Sistema, e seja qual for a via usada para impô-los.
... Mas o
essencial, para nosso objetivo, continua a ser conectar esse evento à série que
estamos examinando, a partir da reunião de cúpula sino-russa e do caldeirão
ucraniano. Pode-se conectá-lo mediante uma observação sobre uma inesperada
convergência, que amplia ainda a percepção desse fato maior da deslegitimação
no interior do Sistema, essa terrível empreitada
de cupins; vale dizer, a convergência entre a fúria
popular contra as orientações políticas que as eleições europeias manifestam –
o que legitima as eleições, curiosamente, pela via inversa – e a fúria das
elites econômicas e investidoras, manifesta à meia-voz por um Reiner Hartmann,
contra “essa gente que toma decisões políticas irresponsáveis” que captura as
tais elites como reféns e atrapalha seus magníficos negócios russos...
Esses mesmos
“irresponsáveis” deslegitimados pela sua base popular, que sofre sem alívio sob
os golpes do sistema econômico que o Big Business lhes impõe, Big
Business o qual, por sua vez, volta-se contra os “irresponsáveis” que o
mesmo Big Business privou de poder político real... Fechou-se o círculo,
full circle como dizem os amigos anglo-saxões, fechou-se o círculo das
contradições do sistema levadas a um ápice de exacerbação particularmente rico
e “federador” de várias crises, ao mesmo tempo crônicas e paroxísticas, segundo
o dia, os humores e o gesto político. A infraestrutura crísica funciona que é uma
beleza...
Uma escolha
espiritual
... Porque,
não há dúvidas, tudo está conectado, da aliança apertada e estratégica dos
dirigentes ao mesmo tempo dentro do Sistema e anti-Sistema que são Putin e Xi,
à estranha convergência da fúria dos oprimidos e dos opressores contra os
mesmos “irresponsáveis” dos rumos políticos vítimas das manobras secretas do
Sistema ao qual as manobras servem. O Sistema é efetivamente impiedoso. Devora
seus filhos, os faz entre-destruirem-se uns os outros; semeia a tempestade e
colhe os desastres do dia seguinte, até o ponto de sofrer, o próprio Sistema,
em seus fundamentos; ele se autodestrói com a mesma voracidade que aplica a
destruir toda e qualquer estrutura que atrapalhe seu caminho.
Nada disso
tem qualquer sentido se não se lhe atribui um sentido de autoridade, vestindo o
espetáculo dessa imensa desordem que se agarra com furor a quantos nós górdios
e a quantas crises haja hoje dessa dimensão metafísica à qual recorremos
constantemente, nós também. Ou nada compreendemos, porque nada há a
compreender, e então nós balançamos sobre o nada a que fomos conduzidos por
nosso niilismo; ou nada compreendemos, porque nosso olhar sempre habituado
apenas aos sinais de nossa razão subvertida tampouco tem a necessária acuidade
para franquear as dimensões decisivas.
Mais que uma
conclamação objetiva da situação do mundo, há aí uma escolha para o espírito. É
boa hora para falar do famoso “livre arbítrio” deles – que eles exerçam então o
livre arbítrio, pela audácia do pensamento, mais que pelo respeito às
encomendas [orig. audace de la pensée plutôt que par respect des consignes]...
[*] Philippe Grasset é argelino emigrado para a França em 1962. Bacharel em Filosofia, três anos como publicitário e ao
final de 1967 mudou-se para Liège (Bélgica), casou-se pela primeira vez (2
filhos 1970/71) e iniciou-se no jornalismo no diário La Meuse - La Lanterne,
como cronista de política internacional e de segurança e também como crítico
literário; Entre 1978/80 colaborou com publicações internacionais com crônicas
sobre assuntos militares e de literatura. Tornou-se jornalista independente em
1985 lançando diversas publicações (Lettre d’Analyse); a editora Euredit SPRL
(1987); Context (1994); e o sítio dedefensa.org (1999).
Quatro livros editados (3 ensaios; La drôle de détente em 1978, Le monde
malade de l’Amérique em 1999, Chronique
de l’ébranlement em 2003; e um romance histórico: Le regard de Iéjov em 1989) além de centenas de artigos.
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