sábado, 28 de junho de 2014

Uma Nova Recessão e um Novo Mundo Livre da Arrogância dos EUA?

25/6/2014, [*] Paul Craig RobertsInstitute for Political Economy
Traduzido por  mberublue.



Variação do PIB dos EUA (primeiro quadrimestre de 2011 até o primeiro
 quadrimestre de 2014). Notar que no  primeiro quadrimestre de 2014 a
 previsão era de crescimento de 1,6%, mas o resultado foi queda de 2,9%.
Finalmente, foi liberado hoje (25/06/2014) um número final para o real Produto Interno Bruto dos Estados Unidos no primeiro trimestre de 2014. O número não é o de um crescimento de 2,6% previsto pelos economistas sabe-nada (orig.: know-nothing) em janeiro deste ano. O número é um declínio do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos para -2,9%.

O crescimento negativo de 2,9% noticiado, por si só, já é um eufemismo, pois somente foi alcançado pela subestimação da inflação ocorrida durante o período. Durante o regime Clinton, a Boskin Commission (grupo de estudos nomeado pelo Senado dos Estados Unidos em 1995 para medir a inflaçãoNT) manipulou o cálculo da inflação para enganar os beneficiários da Seguridade Social em seus ajustes do custo de vida. Qualquer cidadão, ao adquirir comida, combustível ou seja o que for, sabe que a inflação está muito mais alta que os números oficiais fornecidos pelo governo.

É bem possível que a queda real do PIB no primeiro trimestre seja de três vezes o número oficial.

De qualquer forma, a diferença entre a previsão de crescimento de 2,6% feita em janeiro e o declínio no final de março, de 2,9% é enorme (5,5%).

Qualquer economista de verdade e que não esteja sendo pago por Wall Street, pelo governo ou pelo establishment, sabe que a previsão de crescimento de 2,6% era uma safadeza. Com exceção do 1%, o rendimento do povo americano não cresceu e o único crescimento real que aconteceu foi o dos empréstimos a estudantes, já que muitos dos que não conseguem encontrar um emprego voltam-se de forma errônea para a crença de que “educação é a resposta”. Em uma economia que se baseia na demanda de consumo, a falta de aumento nos rendimentos e no crédito significa que a economia não crescerá.

Inflação dos alimentos (jan. 2013 até jan. 2014)
A economia dos EUA não pode crescer porque, incentivadas por Wall Street, as corporações transferiram a economia dos Estados Unidos para uma economia offshore (empresas offshore são aquelas entidades comerciais ou financeiras que se localizam em domicílio diverso do país de seus proprietários e não sujeitas, portanto, às leis desse país. “Economia offshore”, como denomina o autor, seria uma economia grandemente localizada fora do país, por motivos comerciais, como mão de obra mais barata e isenções fiscais, por exemploNT). São feitos fora do país os produtos manufaturados dos Estados Unidos. Preste atenção nas etiquetas de suas roupas, sapatos, sua comida e utensílios de cozinha, seus computadores, qualquer coisa. Trabalhos profissionais dos Estados Unidos, como engenharia de software, migraram para fora do país. Uma economia com economia fora do país não é uma economia. Tudo acontece bem na nossa frente, enquanto os bem pagos figurantes mentirosos do mercado declaram que os americanos são beneficiados por dar seus empregos da classe média americana para a China ou a Índia.

Tenho mostrado essas mentiras por uma ou duas décadas, e é por isso que há tempos não sou convidado para falar para universitários americanos ou para associações financeiras americanas. Os economistas gostam muito do dinheiro que recebem para mentir. A última coisa que querem em seu meio é uma pessoa que fale a verdade. Um declínio oficial de 2,9% no primeiro trimestre significa que o segundo trimestre também verá um declínio do PIB. Uma recessão é definida como dois trimestres consecutivos de PIB negativo.

Pense nas consequências de uma recessão. O significado é o de que anos de Quantitative Easing (Flexibilização Quantitativa – política monetária fora do convencional, onde ocorrem compras massivas de valores mobiliários por um Banco Central ou governo com a intenção de reduzir juros e aumentar a oferta de moeda. Considerada atualmente financeiramente perigosa pelo risco de aumento da inflação e redução do crédito [o que diminuiria a produção], se os bancos resolverem estocar o excesso de moeda gerado por essa política financeiraNT) falharam em reativar a economia. Significa ainda que anos de déficits fiscais Keynesianos não conseguiram reativar a economia. Nem as políticas fiscais, nem as monetárias tiveram sucesso. O que pode reativar a economia?

Base Monetária ajustada e os QEs de 2008  (QE1), 2009 (QE2) e 2013 QE3)
Nada, exceto forçar o retorno da economia que as corporações antiamericanas levaram para fora, o que requer um governo que tenha credibilidade. Infelizmente, o governo dos Estados Unidos perdeu credibilidade desde o segundo mandato de Clinton. A credibilidade não mais existe. Nada.

Atualmente não existe qualquer lugar no mundo onde se acredite no governo dos Estados Unidos, com exceção dos zumbis americanos sem cérebro que lêem e assistem a “imprensa-empresa convencional”. A propaganda política manipulada de Washington dominou a mente dos estadunidenses, mas em qualquer outro lugar do mundo, produz gargalhadas e escárnio.

As perspectivas cambaleantes da economia dos Estados Unidos levaram dois grandes lobbies de negócios – A Câmara de Comércio dos Estados Unidos e a Associação Nacional de Fabricantes (ou o que restou delas) a entrar em conflito com a ameaça do regime de Obama, que pretende novas sanções contra a Rússia.

De acordo com o Bloomberg News, a partir de amanhã (26 de junho de 2014 – o que realmente aconteceu - NT), as associações de negócios começarão a postar anúncios do New York Times, Wall Street Journal e Washington Post em oposição a novas sanções contra a Rússia. As organizações comerciais dos Estados Unidos dizem que as sanções contra a Rússia prejudicarão seus lucros e significarão mais desemprego para os estadunidenses.

Papai, Obama colocou sanções na minha mesada!
Dessa forma, duas grandes organizações de comércio e finança dos Estados Unidos, o que significa dizer grandes doadores de campanhas políticas, finalmente juntaram suas vozes às dos homens de negócios da Alemanha, da França e da Itália.

Fora o público norte-americano que sofreu a lavagem cerebral da imprensa-empresa, todos sabem que a “crise da Ucrânia” não passa de um trabalho engendrado por Washington. Homens de negócios europeus e dos Estados Unidos perguntam: “por que devemos sacrificar nossos lucros e nossos trabalhadores por causa da propaganda política mentirosa de Washington contra a Rússia?”.

Para isso, Obama não tem resposta. Talvez a sua escória neocon representada por Victoria Nuland, Samantha Powers e Susan Rice possa apresentar uma resposta. Obama pode contar com o New York Times, Washington Post, Wall Street Journal e Weekly Standard para explicar porque milhões de norte-americanos devem sofrer para que o roubo que os EUA praticam contra a Ucrânia não seja ameaçado. As mentiras dos EUA aumentam com Obama.

A chanceler alemã Angela Markel é uma completa prostituta dosEUA, mas a indústria alemã está dizendo à puta de Washington que, para eles, tem muito mais valor seus negócios com a Rússia que o sofrimento que terão que passar por causa dos motivos do império de Washington. Os homens de negócios franceses estão inquirindo a Hollande quais as suas propostas para os milhares de trabalhadores franceses que fatalmente perderão seus empregos na França caso Hollande resolva seguir os ditames de Washington. As empresas italianas estão lembrando ao governo de seu país – se é que a Itália tem um – que os estadunidenses são pessoas grosseiras e sem finesse e que as sanções contra a Rússia significam um golpe diretamente contra o setor econômico mais reconhecido e organizado da Itália – o setor de produtos de luxo de alto padrão.

As divergências entre os EUA e os dois governos joguetes de Washington na Europa estão se espalhando. A última pesquisa realizada na Alemanha mostra que três quartos da população alemã rejeitam de forma permanente a instalação de bases da OTAN na Polônia e nos Estados Bálticos. A antiga Checoslováquia, atuais Eslováquia e República Checa, mesmo sendo estados membros da OTAN não mais aceitam a OTAN e as tropas dos Estados Unidos em seus territórios. Recentemente, um ministro da Alemanha disse que para satisfazer os EUA é preciso lhe dar uma rodada de sexo oral, sem benefício algum em retorno.

Bases Militares dos EUA na Alemanha
Os rumos que os idiotas de Washington estão dando à OTAN podem pouco a pouco destruir a organização. Reze para que isso realmente aconteça. A desculpa para a existência da OTAN acabou com o colapso da União Soviética, 23 anos atrás. No entanto, os EUA incrementaram a OTAN, que cresceu para além das fronteiras da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Hodiernamente, a OTAN cobre do Báltico até a Ásia Central. Para que haja uma razão que justifique a constante e caríssima expansão da OTAN, Washington resolveu construir um novo inimigo: a Rússia.

A Rússia tem deixado muito claro que não pretende fazer da OTAN e dos EUA seus inimigos. Mas o complexo exército/segurança dos Estados Unidos, que anualmente consomem um trilhão de dólares (US$ 1.000.000.000.000) dos já pressionados pagadores de impostos estadunidenses precisa de uma desculpa que faça com que os lucros continuem fluindo.

Infelizmente, os imbecis em Washington escolheram um inimigo perigoso. A Rússia é uma potência com armas nucleares, um país de vastas dimensões e com uma aliança estratégica com a China. Apenas um governo que se afoga na própria arrogância e húbris ou um governo cheio de psicopatas e sociopatas escolheria tal inimigo.

O presidente russo, Vladimir Putin alertou a Europa de que a política dosEUA para o Oriente Médio e Líbia não apenas se revelou num fracasso total, como prejudica fortemente a Rússia e a Europa. Os imbecis em Washington removeram os governos que contiveram os jihadistas. Agora, os jihadistas violentos estão desenfreados. Estão neste mesmo instante refazendo no Oriente Médio as fronteiras artificiais impostas pela Bretanha e pela França após o final da Primeira Grande Guerra Mundial. A Europa,assim como a Rússia e a China, todos tem populações islâmicas e agora devem se preocupar, porque a violência desencadeada pelos EUA poderá provocar a desestabilização de regiões da Europa, Rússia e China.

Ninguém, em qualquer parte do mundo, tem motivos para gostar dos Estados Unidos. Muito menos todos os estadunidenses, sangrados até a inanição para que Washington possa fazer paradas de exibição de poder pelo mundo afora. A taxa de aprovação de Obama é de minguados 41% e ninguém gostaria que ele permanecesse no gabinete, uma vez terminado seu segundo mandato. Contrastando com isso, dois terços da população russa querem que Putin permaneça como seu presidente depois de 2018.

Em março, a agência de pesquisa Public Opinion Research Center, informou que a taxa de aprovação de Putin chegava a 76%, e isso apesar da agitação contra ele, promovida pelas ONGs russas financiadas pelos Estados Unidos e instaladas às centenas como quintas colunas estabelecidas na Rússia pelos EUA durante as duas últimas décadas.

Aprovação de Putin na Rússia - 86,9% (14/5/2014)
No topo dos problemas da política dos Estados Unidos o dólar americano encontra-se em perigo. O dólar ainda se mantém com o nariz fora d’água Porque os mercados financeiros estão sendo pressionados pelos Estados Unidos a manter o seu valor, através da impressão desenfreada de suas próprias moedas para comprar dólares. Para que isso se mantenha, uma grande parte do mundo está sendo corroído pela inflação. Quando todo mundo finalmente abandonar essa política insana e correr para o ouro, a China estará com tudo.

Um dos conselheiros do presidente Putin, Sergey Glazyev, já disse ao presidente russo que apenas uma aliança que faça com que o US$ (dólar dos EUA) perca seu valor pode fazer cessar as agressões de Washington. Esta é, há muito tempo, a minha própria opinião. Não haverá, não pode haver paz enquanto os EUA puderer continuar imprimindo dinheiro para financiar mais guerras.

Como já disseram os governantes chineses, está na hora de “desamericanizar o mundo”. Os líderes dos EUA falharam completamente com o mundo, produzindo nada mais que mentiras, violência, morte e a promessa de mais violência.

Os Estados Unidos são excepcionais apenas na medida em que Washington, sem qualquer remorso, destruiu em parte ou no todo, sete países apenas neste começo do século 21. Enquanto a liderança em Washington não for substituída por líderes mais humanos, a vida na Terra não tem futuro.
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[*] Paul Craig Roberts (nascido em 3/4/1939) é um economista norte-americano e colunista do Creators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall Street Journal, Business Week e Scripps Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica. Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch e no Information Clearing House, escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que destruíram a proteção das liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.

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