domingo, 8 de junho de 2014

Quem venceu a guerra pelo Dia-D?

6/6/2014, [*] MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Artilheiro chinês aponta alvo japonês-no front do Yangtze (1937)
As celebrações pelo 70º aniversário do Dia-D na Normandia bem poderiam ter marcado um grande dia a favor da paz no mundo. Mas a estratégia de contenção dos EUA contra a Rússia fez fracassar qualquer ideia de paz e estragou a festa.

O presidente Barack Obama deu verdadeiro show de petulância – sequer quis encontrar-se com o presidente da Rússia Vladimir Putin na Normandia. E aquela conversa escandalosa, comparando Putin a Adolf Hitler?!

Há enorme ambiguidade moral aqui. O ocidente celebra os desembarques na Normandia, com o mesmo empenho com que obra para ocultar – ou finge que não vê – que essa guerra poderia ter sido vencida pela União Soviética, só ela.

O que torna abominável o comportamento de Obama essa semana é que ele esquece 27 milhões de cidadãos soviéticos que perderam a vida naquela guerra; os 400 mil britânicos mortos são poucos diante desse número e o número de norte-americanos mortos naquela guerra é ainda muito menor. Mas é provável que Obama, cujo ser está tomado até a última fibra pela convicção do “excepcionalismo” dos EUA, seja ignorante absoluto e ainda acredite que os EUA tenham vencido a IIª Guerra Mundial.

O importante historiador britânico, especialista em 2ª Guerra Mundial, prof. Geoffrey Roberts, discute neste vídeo (assista no fim do parágrafo, em inglês) o papel decisivo que a União Soviética teve na IIª Guerra Mundial, e por que o ocidente ainda não conseguiu reconhecer essa verdade clara e sobejamente comprovada.


E a China? Não deveria ter sido também convidada para as celebrações dessa semana na França, em torno da vitória na IIª Guerra Mundial? Claro que sim!

Poucos sabem, mas a China perdeu número gigante de mortos na IIª Guerra Mundial – inferior, só, ao número de soviéticos mortos: a China perdeu 14 milhões de vidas – 4 milhões só de soldados.

A verdade é que se a China se tivesse rendido ao Japão, a capacidade japonesa para lutar contra a União Soviética e os EUA teria sido muito maior. Mas ninguém jamais lembra da China. Todos os créditos em todas as narrativas ocidentais vão sempre para uma “vitória dos EUA” na Ásia.

Por outro lado, a parte chinesa naquela tragédia colossal vem misturada com uma história complexa e difícil daquele período que envolvia Josef Stálin, Chiang Kaishek e Mao Tse Tung; e a liderança comunista em Pequim já tinha suas próprias dificuldades para promover a luta contra o Japão como narrativa patriótica chave.

Rana Mitter
Basta dizer que, para Mao, o verdadeiro inimigo eram os nacionalistas, não os japoneses. A China de Mao não demorou a estabelecer contato não oficial com o Japão e nunca teve muito interesse em julgar os crimes de guerra japoneses.

Quanto a Stálin, apoiava firmemente os comunistas chineses, mas confiava mais na liderança de Chiang, confiando em que tinha maior capacidade para bloquear os japoneses, que Mao, o que, é claro, o levou a dar apoio militar (inclusive aéreo) aos nacionalistas para enfrentar os japoneses.

Livro recém publicado, Forgotten Ally: China’s World War II (1937-1945) de Rana Mitter, historiador de Oxford, lança nova luz sobre a controversa questão de quem venceu a guerra pelo Dia-D.

Entrementes, Moscou e Pequim vão, sim, celebrar conjuntamente os “70 anos da vitória sobre o fascismo alemão e o militarismo japonês”.


[*] MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

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