Riscos
e abismos de manifestar sentimentos em blogs
10/6/2014, The Saker, The Vineyard of the Saker
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
The Saker |
Meu recente
postado, que escrevi em estado de fúria – “Me
digam, por favor, que meus piores medos não se realizarão” – saiu muito
mal escrito; na sequência, minha tentativa para explicar
o que eu quisera dizer pouco ajudou a esclarecer a confusão que
aparentemente criei. Para ser bem franco, nunca frequentei “escola de
bloguismo” e estou aqui, aprendendo dolorosamente esse negócio, por tentativa e
erro, incluindo muitos, muitos erros. Supus, ingenuamente, que pôr lá vários “atenção!”,
“cuidado!” (coisas como “Sendo o caso, admitirei que me excedi” e “o cérebro me
diz uma coisa, mas as vísceras me dizem outra”) bastaria para deixar claras
minhas intenções.
O que mais
teria eu de fazer para deixar claro que
(1) estava escrevendo com o
coração/estômago, não analisando fatos; e que
(2) sabia que, sim, estava me excedendo na
reação e no discurso?
Não sei de
vocês, mas, para mim, admitir dúvidas e medos não é, jamais, sinal de fraqueza.
Coragem e força não é fingir que não se tem medos e dúvidas, mas agir racionalmente,
apesar desses sentimentos. Talvez não seja prática frequente na
blogosfera, ou talvez eu tenha feito as coisas muito mal feitas, mas fiz o
melhor e o mais honestamente que consegui. Previ que os que me chamavam de
“macaca-de-auditório de Putin” ou “defensor do Kremlin” muito apreciariam
ver-me admitir que não confio, mesmo, nem em Putin nem no Kremlin; mas os mais
aparecidos foram os que se sentiram incomodados com essa frase. OK, OK, mais
uma valiosa lição bem aprendida: espere pancadaria, sempre que você manifestar
sentimentos.
Mas a frase
“matadora”, que eu jamais deveria ter escrito como escrevi foi “a Rússia
agora tem de agir e usar suas forças armadas para libertar a Novorossia . Não
agir será trair o povo russo”. Foi um cri du coeur [gemido do
coração], mais eloquente que todos os sinais de “cuidado!”, “atenção!”, que eu
semeara pelo caminho. Isso tudo posto, afirmo aqui, categoricamente, que não
mudei de posição.
Poroshenko |
O fato é
que antes do discurso de posse de Poroshensko eu via um conjunto de
circunstâncias que se pode chamar de “conjunto A”; e depois do discurso de
posse passei a ver outro conjunto diferente de circunstâncias, se se pode
chamar “conjunto B”. Ter mudado de posição seria dizer que o mesmo conjunto de
circunstâncias passava a levar à necessidade de outra política. E não foi o que
escrevi. Mas tenho de admitir que o que escrevi permitia, sim, as mais
diferentes interpretações: era pura emoção, não análise racional.
Sei também
o que foi que disparou minha reação – e, aqui, ponho a culpa toda em Putin,
Lavrov, Zurabov (embaixador da Rússia em Kiev) e em Peskov (porta-voz de
Putin). O que disparou meu ataque de pânico foi a reação absolutamente frouxa e
morna da Rússia a um discurso que, sim, foi declaração real de guerra, não só
contra a Novorossia, mas também contra a própria Rússia: não bastasse o
discurso de Poroshenko vir carregado de muitas expressões anti-Rússia – ecoando
a pior, mais estúpida e mais horrenda propaganda dos nazistas do Setor Direita
– o homem disse também, com todas as letras, que considerava a Crimeia parte da
Ucrânia: fez ameaça direta a terra russa. E o que a Rússia respondeu?
*N-A-D-A*. Zurabov lá ficou, sentado; e Putin e Lavrov não abriram a boca. Não
ouvi sequer uma palavra de crítica emitida pela Moscou oficial. ISSO foi o que
me fez enlouquecer. Isso e o timing horrível, pior impossível, da
decisão de reforçar a fronteira entre Rússia e Novorossia.
ATENÇÃO: Continuo
a achar que a política pública da Rússia cometeu erro terrível ao não reagir
contra aquela manifestação pública de arrogância e doideira nazistas.
Passei as
últimas 24 horas lendo muita coisa redigida por analistas russos muito, muito
rigorosos; tenho prestado atenção a todos os principais noticiários; tenho
ouvido programas especializados (como o “GenShtab” de Igor Korotchenko em “Voice of Rússia”); e cheguei à conclusão
de que nem a Rússia aceitará regime nazista em Kiev, nem a Rússia abandonará a Novorossia.
Francamente, é questão maior que Putin, e não devemos nos focar tanto só nas
personalidades, ainda que sejam gigantes políticos, como Putin. Por quê?
Porque
ainda que se confirme a remotíssima, absolutamente improvável possibilidade de
que Putin, por qualquer razão, se tenha “vendido” ao Império, seria cometer
suicídio político. Nisso, Juan está absolutamente correto. Ainda acredito que
Putin deseja fazer a coisa certa. Mas o que importa é que, mesmo que não
deseje, será obrigado a fazer.
Assim
sendo, o que penso (não o que “sinto”) que a Rússia deva fazer?
Igor Strelkov Comandante das FDN |
Tenho de
admitir que há um formidável argumento contra uma intervenção militar direta
russa em Novorossia: é fato inegável que o próprio povo de Novorossia,
eles próprios, ainda não fizeram grande coisa, eles mesmos. Sim, as forças de
autodefesa de Novorossia são constituídas de heróis; e, sim, estão
lutando muito bem, apesar da a proporção a favor dos nazistas variar de 5:1 a
100:1 (dependendo do dia e do local do combate). Mas, embora mais gente tenha
respondido ao apelo de Strelkov, os números ainda não são o que deveriam ser.
Não posso negar esse fato.
Sobre o
argumento de que as Forças de Defesa da Novorossia (FDN) estão
subequipadas, já se sabe que o problema está sendo resolvido ou, pelo menos,
está sendo considerado nesse momento. Assisti a vários vídeos exibidos na TV
russa em que se veem sofisticados radares de defesa usados pelas FDN; e recebi
informações de inúmeras boas fontes, de que já se veem equipamento moderno em
mãos das FDN. Ouvi hoje que pelo menos três tanques ucranianos e pelo menos um
Sistema Múltiplo de Lançamento de Foguetes ucraniano foram destruídos pela
resistência na Novorrossia.
Meu palpite
é que em breve as FDN estabelecerão sua própria “zona aérea de exclusão”, que
os ucranianos não se atreverão a invadir muito frequentemente (já perderam
*grande parte* de sua força aérea de asas fixas e rotativas). Essa “zona aérea
de exclusão” será logo acompanhada de uma “zona terrestre de exclusão”
(reforçada por sistemas de armas antitanques), na qual os blindados ucranianos
não poderão circular. O problema da artilharia só poderá ser resolvido se as
FDN receberem meios para reagir a fogo de bateria. Não será fácil, sobretudo com
artilharia de longo alcance. Mas sem FACs em terra ou no ar, os ataques da
artilharia não serão muito efetivos, mesmo que continuem a ser devastadoramente
mortais para a população civil local. Podem-se mobilizar e treinar atiradores,
me parece (e eles sempre podem tornar realmente difícil a vida de uma unidade
de artilharia). Suprimentos, munição e de modo geral toda a logística pode ser
atacada e sabotada. Em outras palavras: tão logo tenha meios, as Forças de
Defesa de Novorossia têm de partir para a ofensiva.
A Crimeia escapa do Banderastão |
Francamente,
tem de haver aí um “princípio de subsidiariedade”: antes que os russos
intervenham, o povo do Donbass
tem o dever moral de fazer tudo que possa para se autodefender. Então, se
necessário, a Rússia deve intervir, para impedir um genocídio na Novorossia.
Mas, antes, os locais têm de ter feito mais do que já fizeram até aqui. A
Rússia pode prover ajuda militar, técnica e financeira à Novorossia,
seja aberta ou secreta (por que a Rússia não poderia fazer exatamente a mesma
coisa que os EUA estão fazendo na Síria?!). Minha avaliação é que a Rússia
já está fazendo isso.
Mas há algo
que a Rússia não está fazendo, ou, melhor dizendo, há algo que a Rússia está
fazendo e deve parar de fazer: trocar sorrisos com Poroshenko e permanecer fiel
a esse roteiro idiota de “nossos irmãos ucranianos”; afinal, já praticamente
nada resta da Ucrânia, além de um Banderastão nazista. A Rússia não deve sequer
tentar fingir que haveria algum amor entre essas duas entidades. Não precisa
tampouco adotar movimentos hostis ou de provocação; basta que a Rússia pare de
fingir que se mantém indiferente ao tipo de Banderastão que está sendo
construído. Quanto à Novorossia, a Rússia deve apoiá-la em nome do
antinazismo, e garantir-lhe apoio técnico, financeiro, político e
informacional. Afinal, o ocidente, já está agindo como se a Rússia
estivesse pesadamente engajada em campanha de apoio total a várias regiões.
Assim sendo... por que não movimentar-se nessa direção?!
Finalmente,
os russos devem aprender dos seus contrapartes norte-americanos, e fazer dos
direitos humanos um longuíssimo porrete político. Diplomatas russos devem
simplesmente inundar a imprensa mundial com protestos sobre todo e qualquer
crime de guerra, toda a qualquer violação de direitos humanos, toda e qualquer
violação da liberdade de imprensa, e todo e qualquer caso de corrupção. Protestar
sem parar, afogar os nazistas ucranianos em todos os níveis, denunciá-los em
eventos públicos. Em primeiro lugar, pesará contra a imagem do regime nazista
de Kiev; em segundo lugar, mostrará às forças antinazistas na Ucrânia que elas
não estão abandonadas.
Há muito
que a Rússia pode fazer, além de usar suas forças armadas.
Arma anti-tanque |
Admitirei
sem resistir que estou dilacerado entre duas possibilidades e não encontrei
meio para reconciliá-las. Muita gente melhor do que eu por aí fez trabalho
muito melhor do que o meu, mas não estou muito convencido de que os inveje.
Mais uma
questão: ameaça nuclear dos EUA contra a Rússia?
Não tenho
dúvida alguma de que essa conversa é desatino e que os EUA não consideram, nem
a possibilidade de ameaçar, nem, e ainda menos, a possibilidade de atacar. Por
quê? Porque é categoricamente e absolutamente impossível para os EUA
atacarem a Rússia de modo tal que consiga impedir a Rússia de empreender
contra-ataque de retaliação. Já escrevi sobre isso e quero apenas repetir aqui:
– embora haja alguns políticos que sonhem com
essa opção, os militares norte-americanos sabem que é esse ataque à Rússia é
absolutamente impossível e nada mudará a situação presente, nos próximos anos. Não
interessa o cenário de ataque, a Rússia sempre terá os meios para – dito em
termos claros – fazer os EUA deixarem de existir como a sociedade que
conhecemos. Claro: o mesmo vale para os EUA, que a Rússia não consiga desarmar
num primeiro contra-ataque. Esqueçam! Falo sério. Esqueçam.
Durante a
Guerra Fria, fiz inúmeras simulações, as mais fantasiosas, e o resultado sempre
foi o mesmo. E todos, absolutamente todos, no comando dos EUA, sabem disso. Importante
também é que nada mudou fundamentalmente, desde o final dos anos 1980s.
A maioria
dos atuais sistemas nucleares datam daquele período e, embora tenha havido
todos os tipos de avanços, nenhum deles resultou em qualquer espécie de
invenção radicalmente nova, menos ainda em descoberta que leve à sobrevivência
de todo o hemisfério norte de nosso planeta. De fato, posso dizer que as forças
nucleares russas são hoje ao mesmo tempo mais capazes em termos de força e mais
capazes em termos de sobrevivência, especialmente os recentes Mísseis
Balísticos Intercontinentais deslocáveis por terra [orig. Intercontinental Ballistic Missile, ICBMs], e
os mísseis balísticos lançáveis
de submarinos.
Mísseis Balísticos Intercontinentais (ICBMs) deslocáveis por terra da Rússia |
Assim
sendo, esqueçam os boatos sobre ameaça nuclear dos EUA à Rússia, por mais que haja
B-2s e navios “atômicos” dos EUA, para lá e para cá. Estão só “mostrando a
bandeira”. Não estão ameaçando a Rússia.
Espero que
esse novo esforço para esclarecer minha posição tenha sido mais bem-sucedido
que o anterior. Sei que esse blog tem enfurecido muita gente e que esses estão
usando essa oportunidade para distorcer o que escrevi, ou expor-me em papel
ridículo. OK. Eles que façam o que queiram. A “opinião” dessa gente não me
interessa, nem estou competindo em algum tipo de concurso de popularidade. Tenho
confiança de que a maioria de vocês reconhecerão esses meus esforços, pelo que
eles realmente são.
Por hora,
então, basta de dúvidas e medos.
Amanhã
retomamos nosso trabalho diário regular. Saudações.
The Saker
Essa de embolar cérebro,estômago e coração - enlouquece - e é exatamente isto que os "ratazanas" pretendem.
ResponderExcluirTemos que vomitar esse ódio sólido,cravado de verbos fétidos,indecentes, os únicos que as toupeiras entendem e mais que nunca a gente dar de cabeça ,um mergulho na noosfera pra estudar friamente uma solução inteligente - um modo racional tão afiado que os covardes vão encher as calças toda vez que pensarem ou tocarem suas HAARPAS da morte da raça suéropr a eles.
Viu como a gente embola os departamentos, quando se arrisca sem armas de fogo e dana a gritar só com palavras?
Tem de haver um modo da gente se unir sem pensamentos de infantil revolta - a rataiada faminta de sangue e das riquezas alheias não têm tutano pra fazer menos que cagadas mundo afora; tem que haver um modo inteligente, e há, nós é que estamos combatendo insanos, enlouquecendo - temos de apelar para o que há de mais extraordinário - parar de ofendidinhos devolver insultos e no silêncio interior , confiantes enfim de que a escuridão da ratoeira há de trancá-los na sua própria e suja armadilha. Desde quando e até quando Ursos " gigantes pela própria natureza" vão se submeter e até baixar a índole a estes míseros estúpidos que só se impõem na mentira, no roubo, no crime de lesa humanidade?
FORA discursos, GRITARIA para surdos nefastos , roedores matadores da vida na Terra... E... nunca mais tenha medo de dizer o que não lhe entra no estômago...o podre tem de ter NOVO DESTINO,,,
Gostei tanto do seu comentário que vou passá-lo para o Saker, mesmo em português. Compartilhamos sua indignação.
ExcluirGrato Radeir
Você precisa acompanhar a página do facebook e o blog O Informante.
ResponderExcluirEle publica as notícias quase em tempo real sobre a situação na Ucrânia.
Agradeço muito sua sugestão, mas nosso interesse não são os "fatos" em si. Isso é coisa pra jornalista. Nós fazemos POLÍTICA via analistas dos "fatos". Não somos jornalistas, nem queremos ser/concorrer com jornalistas..
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