5/5/2012, Vídeo de 30’
Discours de la Place de
Stalingrad – Paris - (4/5/2012)
Discurso transcrito e traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Mélenchon: [Resistência, resistência!]
Baixem as bandeiras, para que eu possa vê-los!
Caros amigos, caros camaradas.
Mais uma vez, vocês respondem ao chamado das organizações da Frente de Esquerda.
Quero lembrá-los, mais uma vez, nessa praça dos mártires de Stalingrado, que
aqui nos reunimos no primeiro comício das eleições presidenciais, e também no
último dos comícios daquela campanha.
Voltamos a essa praça hoje, porque
é importante que todos vejam, em toda a França , que a força que
constituímos não foi aglomeração de circunstância, mas um grande movimento,
educado, politizado, que assume conscientemente uma via capaz de, de modo
disciplinado, mostrar o que é direito de todos esperar de nossa revolução
cidadã.
Dia 22 de abril, pelos votos que
recebemos e por nosso trabalho paciente – e não só o meu trabalho, que não é o
mais importante –, mas pelo trabalho de milhares e milhares de vocês,
militantes, homens e mulheres, além dos outros, dos muitos de nós que, pela
primeira vez na vida, envolvem-se numa batalha política. E se dedicaram a buscar
cada um o seu vizinho, a sua vizinha, para explicar e tornar compreensível para
eles as raízes da infelicidade que desgraça o mundo.
E cada um que, também na vida
profissional, se dedicou a mostrar – desafiando a propaganda que repete, sem
parar, sempre o mesmo discurso alucinado –, que o problema da França não é os
imigrados. Porque o problema da França são os banqueiros!
E que trabalharam, com a paciência
que é própria do povo, desde que se põe em movimento, e com a inteligência dos
muitos, quando ela busca ir iluminando progressivamente as trevas do
preconceito, o obscurantismo do egoísmo social.
Com nossos votos, constituímos
juntos uma força imensa! Quatro milhões de votos reuniram-se em torno de nossa
candidatura comum. ¾ , nada menos que três quartos, do avanço da esquerda vem de
nós!
Hoje, seria absolutamente
impossível pensar em qualquer tipo de vitória possível da esquerda, se vocês não
tivessem feito, todos vocês, esse trabalho paciente e obstinado, ao longo do
qual vocês, com muita razão, tantas vezes se impacientam.
À altura da metade da vida de mais
de 150 mil habitantes, a Frente de Esquerda alcançou seu objetivo de passar à
frente dessa força maléfica e obscura da Frente Nacional. Nas cidades populares,
em Veau..., em .... , em Grigny, ... em toda a parte, estamos à frente, por
milhares e milhares de votos populares, nas cidades, nas vilas distantes,
estamos à frente. Nossa saudação especial aos habitantes de .............. onde
vencemos com grande diferença de votos! Lá está como sempre esteve, a estrada
pela qual andaremos!
Essa força aí está, e não é
constituída em benefício de um homem ou de um partido, ela não é constituída
para olhar o próprio umbigo, ou para meter-se em disputas de obscuras
comparações de adjetivos ou batalhas de vírgulas, mas para pesar sobre a
realidade, para tomar a história no momento em que ela vacila e fazê-la andar na
direção que nós determinamos que ela vá, custe o que custar. E tem de ser assim,
se quisermos afastar de nós a dupla catástrofe do fascismo que se organiza
em toda a
Europa e a catástrofe da mudança climática, a catástrofe
ecológica que nos ameaça e contra a qual ninguém dos que mandam no mundo faz
coisa alguma.
Somos todos coletivamente
responsáveis por essa força. E agora, ataquemos o assunto principal, por difícil
que seja.
A primeira responsabilidade que
temos é responsabilidade ante nós mesmos, precisamente em relação à força que
constituímos. Nós nos devemos, uns aos outros, o respeito, que é condição de
nossa união. Se é verdade que a maioria de nós já decidiu sobre o voto
essencialmente importante de domingo, também é verdade que muitos de nós ainda
pensam, hesitam, e têm nobres razões para hesitar.
Nosso ponto de vista e o modo de
falar uns aos outros não será a demonização, o por contra a parede, a
estigmatização, mas o trabalho da razão e do convencimento. Só assim
continuaremos a ser a grande força que somos. Não há outro chefe entre nós, que
o dever que a consciência nos dita.
É indispensável essa reflexão
aprofundada que nos aguarda nesse fim de semana, talvez com nossos filhos, se
nos perguntarem, pedirem conselhos, se quiserem compreender o que faremos, dado
que eles não votam. É a reflexão de cada um, cada uma, na cozinha de casa, na
sala de casa, antes de votar e fazer sua profissão de fé, porque essa reflexão o
levará a tomar partido, e, assim, transformará cada um, cada uma, de dentro para
fora, quando escolhe o futuro que cada um propõe para todos. Preparar o próprio
voto é ato de imensa significação humana, filosófica e política. É unir-se à
comunidade humana, declarando que se partilha do interesse comum. Por isso é tão
importante pensar bem o próprio voto.
Por isso lhes digo que a primeira
reflexão é apelar ao senso comum. O voto é, antes de tudo, voto de ação,
determinado a pesar sobre os acontecimentos. O voto não existe para manifestar
alguma sensibilidade ou alguma inclinação pessoal.
É preciso que assim seja, porque
eles tentarão nos desmobilizar.
Não duvidem, nem por um segundo:
eles já compreenderam muito bem o que resultará da derrota que temos de impor a
eles. Já compreenderam muito bem que o voto do povo nesse momento não é um
cheque em branco, não é ato votivo, mas, ao contrário, é um élan, um impulso, um momento no qual a
força se acumula para projetar-se, para lançar-se para o futuro. Peçam, exijam
contas dos que têm obrigação de prestar contas, e apertem a garganta dos
poderosos de hoje!
Vejam, meus amigos, como, às
vezes, uma hesitação pode ter consequências importantes, não previstas. Pensem
no colega de trabalho, no conhecido, na amiga, na conhecida da cidade, num
familiar, um desses que foram atraídos pelo projeto que apresentamos, pelos
meios que mobilizamos, pela poesia que pusemos em ação no nosso projeto, em
todas essas belas coisas que fazem sonhar, não no sentido do delírio, mas sonhar
no sentido de dar vontade de por-se em ação. Pensem em todos esses que, depois,
no último momento, ouviram a voz insidiosa dos que nos caluniaram, tentaram nos
diminuir: a voz do fantasma do voto “útil” [vaias].
Sim, sim, respeitamos a escolha
deles, respeitamos a decisão deles, compreendemos, sim, mas é preciso dizer:
vejam bem, vocês, a consequência do que fizeram!
Se tivessem nos ouvido, se
tivessem vindo nos ajudar, quando os convocamos, teriam posto Mme. Le Pen e os
outros fascistas, atrás de nós. Sim, sim, vocês entendiam que estariam fazendo o
melhor, votando ‘útil’, como supunham, para afastar de vez a Frente Nacional.
Mas e agora? Estão vendo o que fizeram? Fizeram exatamente o contrário!
De certo modo, o que vocês fizeram
foi instalar a Frente Nacional num pedestal confortável, e nos obrigaram a
passar mais duas semanas sem ouvir uma palavra sobre salários, ou sobre
educação, ou sobre saúde, ou sobre o lugar da França na grande batalha pelo
destino humano ante a crise ecológica. Mais uma vez, passamos dias e dias sendo
embrutecidos pelos ataques contra os imigrados! Que insuportável tolice fizeram,
que não os levou a nada! Esses ataques nada fazem além de semear mais ódio, mais
feridas.
Por isso lhes digo, caros
camaradas, que ainda não avaliamos completamente a amplidão [daquele erro],
porque, outra vez, o que tivemos foi a estupidez bestial da máquina infernal da
Frente Nacional e suas máximas.
Alguém ainda poderia pensar que
fosse só isso, mais uma vez, os feitos de uma seita doentia, que já conhecíamos.
E era isso, mas era muito mais!
As mesmas palavras pervertidas
foram repetidas pelo atual presidente! [vaias] Que validou o raciocínio mais
imbecil que se ouviu! O presidente repetiu, por exemplo, que os imigrados seriam
culpados do desequilíbrio das contas sociais. A verdade é o contrário! Vocês
sabem que, de fato, eles dão 12 milhões de euros a mais, do que recebem!
[Resistência! Resistência!].
Homens e mulheres, dentro de
poucos dias, vocês serão chamados a eleger seus deputados. Digo-lhes que, outra
vez também, é a mesma coisa. Pensem bem no que fazem. E que, dessa vez, tratem
de ir na direção da insurreição de esquerda!
Aqui está a nova guarda da
esquerda! Os jovens, os que marcham, os que lutam. Mais uma vez, todos os que
sofrem e lutam na França têm todo o direito de estar representados na Assembleia
Nacional. Ponhamos lá esse grupo forte, disciplinado, cabeças-duras como mulas,
que jamais cedem!
Porque somos todos, vocês e eu,
corresponsáveis pela força que constituímos juntos. Convoco, em nome de vocês,
todos que nos escutam e confiam em nós: mostrem-se, apareçam nesse novo episódio
da batalha, com responsabilidade. Ser responsável não é renunciar aos seus
objetivos. Ser responsável, ao contrário, é tomar a peito a parte do futuro que
depende de cada um.
Na França, não se faz coisa alguma
na esquerda sem nós. E, conosco, tudo é possível.
Dirijo-me a vocês com as mesmas
palavras, os mesmos objetivos inalterados, do primeiro dia. Não temos de pedir
licença a ninguém para nos mobilizar para derrotar Sarkozy. Não precisamos da
permissão de ninguém, de nenhum ator, de nenhum acordo do quadro da 5ª
República, para alcançar nosso objetivo que, de qualquer modo, começa por
arrancar a direita do poder.
Partisan da 6ª República, ninguém se
poderá dizer partidário da partilha da riqueza, do salário mínimo de 1.700
euros, do planejamento ecológico-econômico, da saída da França da corte dos EUA
e da OTAN, não poderemos fazer nada disso, se, primeiro, não arrancarmos Sarkozy
do poder.
Ainda uma palavra, que devemos
distribuir a todos os demais. Convoco todos a assumir a responsabilidade de cada
um, caros camaradas, a assumir a responsabilidade de cada um, na história.
Estamos escrevendo uma página da história da esquerda, reconstituindo, pela
primeira vez depois de 30 anos, a outra esquerda, e presente, contando-se aos
milhões os que aqui se reúnem.
Essas imagens que correm o mundo,
de nossos comícios gigantes, de nossas bandeiras vermelhas, geraram mensagens de
apoio de toda a Europa. E nos ajudam a pensar.
Decidimos derrotar Sarkozy e, para
isso, votamos em Hollande. E, ouçam bem. Precisamos de uma grande, de uma ampla
derrota de Sarkozy. Quanto maior for, mais forte o impulso que dela resultará.
Li o que disse o camarada Oskar
Lafontaine, líder do partido “A Esquerda” alemão, que não hesitou em dizer que,
se derrotarmos Sarkozy, provocaremos um terremoto na Europa inteira, do qual
todos precisam muito.
Os operários e sindicatos alemães
sabem que hoje 20% da população ativa vive no limite da linha da miséria. Sabem
que os níveis de pleno emprego, como dizem, na Alemanha, só existem, porque já
há lá uma legislação que Sarkozy tenta implantar aqui. Por essas leis, se o
empregado recusa o emprego que lhe seja proposto, perde o direito a qualquer
tipo de indenização e, portanto o empregado é condenado ao subemprego.
Em outubro, os alemães votarão. A
esquerda alemã não conseguiu construir candidato à presidência, e observam muito
atentamente o que estamos fazendo aqui. Estarei lá, naquela batalha, como,
depois, estarei também na Grécia. Os companheiros gregos já disseram que
precisam do que estamos aprendendo na França, para que a esquerda também lá vote
em massa!
Os irlandeses também votarão, em
maio, um referendo, para decidir se o Tratado Europeu deve aplicar-se lá, ou
não.
Camaradas, companheiros, amigos,
franceses, vocês estão sendo convocados para resgatar todos os povos de toda a
Europa! Cumpriremos nosso dever!
Nossa autonomia duramente
conquistada, por uma política inflexível que anuncia seus objetivos e não os
abandona pelo caminho, brota do nosso programa, que tivemos a sorte de discutir
e construir ao longo do tempo, instrumento de nossa autonomia.
Por tudo isso lhes digo que a
Frente de Esquerda estará no poder dentro de dez anos. O que não significa que
demore dez anos!
Não teremos de esperar dez anos,
porque seremos convocados aos nossos postos de combate bem antes disso. Já
recebemos a mensagem da Europa: e ela vem, se bem a compreendo, da pior direita
europeia, ao futuro presidente da França, seja quem for, e esperemos que seja
François Hollande, não Nicolas Sarkozy.
A mensagem vem do dito presidente
da União Europeia e vem também do banqueiro do Banco Central Europeu: a política
de austeridade é o centro de qualquer política aceitável na Europa. Significa
que a batalha começará 2ª-feira, de manhã cedo.
Se tivermos derrotado Sarkozy, só
haverá duas vias possíveis: capitular ou resistir. E para resistir, estamos
prontos!
Camaradas, nossa força implica
nosso dever. O dever político não pode ser moralmente partilhado. Não se pode
entregar o trabalho a outro. Cabe a cada um, como adulto responsável, lúcido,
consciente, fazendo política, não profecia, tomar seu título eleitoral e votar.
Essa a tarefa, esse o dever moral de quem queira olhar-se no espelho e dizer:
fiz o que tinha o dever de fazer.
Não somos essa espécie de animal
vociferante, como os energúmenos reunidos como tropa de muares em torno de Mme.
LePen , que, em 40 anos, serviram para rigorosamente nada, além
de disseminar ódio entre o povo e fazer as pessoas detestarem o vizinho, o
próximo.
E vejam só, essa nada! Quando
chega o momento de decidir, o que ela decidiu? Nada. É cúmplice do sistema, que
o faz durar, durar, durar, para nunca acabar! Quanto antes nos livremos disso,
quanto antes poderemos responder às perguntas que se impõem aos nossos povos e
ao nosso continente.
Domingo, quando usarmos nosso
voto, saberemos que nos livramos de dois, pelo preço de um.
Domingo, então, temos esse dever.
E imediatamente depois, começa a batalha pelas eleições legislativas.
Ainda não sei, porque ainda não
tivemos tempo de decidir sobre isso, qual será minha participação pessoal nesse
combate geral. O que sei é que é mais fácil para mim voltar ao meu velho posto
de combate, que me foi confiado. Mas, dessa vez, como das outras vezes, irei
aonde o dever mandar que eu vá.
Espero que outros da minha geração
respondam ao meu apelo e comportem-se como devem, em relação à geração seguinte,
como é nosso dever hoje.
Sejamos, amigos, camaradas, os
guias que levem os demais pelas trilhas que haja, difíceis, se forem difíceis,
sem nos dividir, sem perder o foco. As trilhas difíceis são perigosas, sim, mas
são mais rápidas, porque são menos frequentadas.
Sejamos a luz que ilumina o
caminho, mas, sobretudo, os que passam o bastão, a chama, a bandeira, nossa bela
bandeira vermelha que se agita ao vento da nossa pátria comum.
É muito provável que eu participe
da batalha legislativa, talvez em Paris, talvez em Marselha. O resultado não me
ocupa nem preocupa. Cuido sempre mais do combate, que do resultado.
Falo a cada um de vocês. Nos
reunimos, porque há um rito a cumprir. É importante que todos se vejam aí, e que
outros muitos, nos lugares mais distantes, mais isolados, os vejam aí,como
sardinhas em lata, para que se sintam muitos, apoiados, amparados pela
solidariedade dos camaradas, essa nossa força de idades tão diferentes, das
profissões mais variadas, com tantas e diversas esperanças, todos empenhados a
dar o melhor de nós, à luta pelo bem comum, em todos os serviços, em todas as
profissões, seja qual for o lugar que ocupamos na sociedade.
Todos, ajudem a França a virar
essa página!
Se não o fizermos, a vergonha será
enorme. Se torcermos o pescoço a esse horror chamado de “LePenização” da
direita, conseguiremos demonstrar que, numa eleição, não vale a pena
comportar-se como grande fascio.
O povo francês aspira a uma
unidade de fraternidade e recusa-se a apontar o dedo acusador ao vizinho, por
sua religião.
Espero que o que teremos de lutar
aqui terá efeitos por toda a Europa. O “basta” que diremos aqui ecoará por toda
a Europa. E fará andar avante o movimento de todos os povos europeus que lutam
contra a miséria. Sei que virar a página não basta.
Também sinto, como vocês, que a
história é lenta, é cruel, mas viraremos essa página, porque, assim, teremos
cumprido a primeira etapa do que temos de fazer para começar a escrever a
história, nós mesmos.
Viva a República! Viva a França!
Viva a República Social!
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