Entrevista especial
com
*Francisco Milanez
Sexta, 11 de maio de 2012
“Quem está
promovendo a alteração do Código Florestal são os especuladores rurais do agrobusiness, que desobedeceram a Lei e
praticaram crimes ambientais de todos os tipos, em particular, o desmatamento”,
diz o ambientalista.
Com a justificativa de que era
necessário alterar o Código Florestal para favorecer os pequenos agricultores,
“os especuladores rurais do agrobusiness” aprovaram um texto
substitutivo que prejudicará não só o meio ambiente, mas também a agricultura.
“A aprovação
do novo texto é um movimento para intensificar a exportação de grão, é
um disfarce para exportar fertilidade e água”, assinala Francisco
Milanez em entrevista concedida à IHU On-Line por telefone.
Segundo ele, o texto aprovado pela
Câmara dos Deputados comete vários equívocos ambientais que acentuarão ainda
mais os efeitos das mudanças climáticas. Entre eles, destaca a redução das Áreas
de Preservação Permanente – APPs.
“O clima já
está desregulado e a tendência é que as secas e as chuvas sejam mais frequentes
e intensas. As manifestações
climáticas irão se inverter, e teremos chuvas de pedra no verão com mais
frequência, calorão durante o inverno, e quando começar a brotação das culturas
agrícolas irá esfriar e queimar a produção”.
A diminuição das APPs também
causará impactos na agricultura, porque são elas as responsáveis pela proteção e
a recarga dos mananciais.
Para Milanez, um referendo é a
única maneira de barrar a aprovação do novo Código Florestal.
“Não podemos
deixar que os grupos
econômicos controlem o país. O plebiscito é a única forma de fazer
frente a modificações estruturais. Se houvesse um referendo e a população
votasse a favor do Código, pelo menos perderíamos por conta da burrice nacional
e não por causa da corrupção, como acontece hoje”, afirma.
Confira a
entrevista:
IHU On-Line – O que a aprovação do
novo texto do Código Florestal representa em termos ambientais? Qual é o ponto
mais polêmico do texto?
A redução de áreas florestais é um
equívoco, porque são as florestas que regulam o clima. O clima já está
desregulado e a tendência
é que as secas e as chuvas sejam mais frequentes e intensas. As
manifestações climáticas irão se inverter, e teremos chuvas de pedra no verão
com mais frequência, calorão durante o inverno, e quando começar a brotação das
culturas agrícolas irá esfriar e queimar a produção. Para a agricultura, os
efeitos da diminuição de APPs serão terríveis.
Outro impacto previsto para a
agricultura diz respeito à falta de água, pois são justamente as APPs que
protegem e fazem a recarga dos mananciais. Então, estão pondo em risco as bacias
hidrográficas.
IHU On-Line – É um texto que
privilegia a produção agrícola?
Desmatamentos e queimadas |
IHU On-Line – Como o novo texto do
Código Florestal trata os grandes e pequenos
produtores?
Nós, ambientalistas, não queremos
inviabilizar a pequena agricultura, porque é ela que sustenta 70% da alimentação
brasileira e que ocupa grande parte da mão de obra rural. Mas o novo texto
derruba a agricultura familiar ao determinar quatro módulos rurais.
A aprovação
do novo texto é um movimento para intensificar a exportação de grão.
Trata-se de um disfarce para exportar fertilidade e água. O que o Brasil faz
quando exporta a soja é exportar fertilidade e água para alimentar gado europeu:
40% da exportação de grãos brasileiros é utilizada para a ração de animais, e
não para abater a fome no mundo, como dizem os defensores do novo Código
Florestal.
IHU On-Line – O novo texto viola a
legislação ambiental vigente?
IHU On-Line – Quais são as
principais mudanças entre o Código Florestal vigente e o texto aprovado na
Câmara dos Deputados em
relação às APPs e às Áreas Reserva
Legal?
Outro problema grave é a anistia
das áreas destruídas até 2008. Quero ver como vão provar se a terra foi
destruída antes ou depois de 2008. Muitos
proprietários de terra desmataram no ano passado para dizer que sua área
é consolidada. A mensagem do Código Florestal é: “Desrespeite a lei e depois
conversamos”.
Outra questão diz respeito às
Áreas de Inclinação, que permitem usos maiores das áreas de preservação
permanente por declividade. Isso é um absurdo, pois num solo plano já se perde
toneladas de hectares do solo; num solo inclinado, se perde o solo todo. É um
equívoco voltar atrás e permitir atividades em áreas de 30% de
inclinação.
A mudança climática está
acelerada. Nosso planeta está aquecendo e o clima está sendo todo desregulado.
Por isso seria fundamental aumentar as APPs para garantir a regulação climática
e incentivar a agricultura. Entretanto, os defensores do Código Florestal dizem
que, para aumentar a produtividade, é preciso aumentar a área plantada. Quem não
sabe aumentar a produtividade, faz isso.
Desmatamento indiscriminado |
IHU On-Line – Entre as mudanças,
foi derrubada a obrigatoriedade de recompor 30 metros de mata em torno de olhos
nascentes de água nas APPs. Quais os impactos disso para as nascentes dos
rios?
IHU On-Line – De acordo com o novo
texto, as APPs passarão a ser determinadas pelos planos diretores e leis
municipais de desocupação do solo. Como vê essa
mudança?
Quando quiseram permitir a
expansão da silvicultura no Rio Grande do Sul, escolheram uma pessoa que a
aprovaria para dirigir o órgão ambiental. Então, é assim. Esse é o Rio Grande do
Sul, o estado mais ambiental do Brasil.
IHU On-Line – Que temas
fundamentais não foram abordados no texto aprovado na
Câmara?
Área em processo de desertificação |
IHU On-Line – Qual a expectativa
em relação à decisão da presidente de vetar ou sancionar o Código
Florestal?
IHU On-Line – A melhor opção seria
realizar um referendo popular para decidir a aprovação ou não do novo texto?
Enviado por Vanderley
Caixe
Entrevista realizada pelo pessoal
do IHU – Instituto Humanitas
Unisinos
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