22/5/2012, MK
Bhadrakumar*, Indian Punchline –
Rediff Blogs
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
O presidente dos
EUA Barack Obama meteu-se, literalmente, numa encruzilhada iraniana, na qual,
como escreveu o poeta Robert Frost, Two roads diverged in a yellow Wood
[1] [Duas estradas
divergiram num bosque Amarelo]. Evidentemente, não pode viajar pelas duas,
porque é “[só um] o viajante”. A grande pergunta é se tomará a estrada na qual a
grama é mais alta porque por ali bem poucos transitam, o que, como Frost
descobriu, pode fazer toda a diferença.
No fim de semana, já havia
notícias de que Obama aproximava-se da encruzilhada nas conversações sobre o
Irã. A conversa evoluía lenta, firmemente, sem dúvida já ganhando
tração
[2]
,
desmentindo os detratores e os atiradores. Agora, chega a confirmação, quando o
diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica Yukiya Amano voltou a
Viena, na tarde ventosa, chuvosa, depois de viagem surpresa a Teerã
[3].
Yukiya Amano e Saeed Jalili |
Amano confirmou que a AIEA e o Irã
chegaram a um acordo [4] sobre as inspeções
da ONU às instalações nucleares iranianas. Até o The Guardian, que já
disse mais de uma grosseria contra o Irã no passado, admite que “a música
ambiente está mudando”. Em matéria sobre a grande notícia que Amano trouxe, o
Guardian comentou: “Um movimento de otimismo cauteloso irrompeu na
frenética atividade dos diplomatas que acontece nos bastidores das conversações
nucleares iranianas em Bagdá, na 4ª-feira. Pela primeira vez, parece que há
possibilidade real de que se iniciem negociações sérias”. [5]
Obama apostou e venceu. Mas agora
começa a parte mais difícil. Obama tem de continuar pressionando. Abraçar esse
tipo de diplomacia de alto risco em ano eleitoral é extraordinariamente
perigoso. Os abutres sobrevoam nos céus à procura de carcaças no cenário do
impasse EUA-Irã, já povoado de ossos ressequidos. O Senado dos EUA aprovou por
unanimidade, na 2ª-feira, resolução que exige que Obama imponha novas sanções
contra o Irã, como reforço ao que o lobby israelense está fazendo,
incansável, para torpedear as iniciativas de Obama para o Irã [6].
Que bizarra coincidência, que os
veneráveis senadores tenham votado o que votaram, apenas poucas horas antes das
produtivas conversas de Amano em Teerã! Será que a história se
repetirá? Houve ocasiões no passado, quando EUA e Irã, como estranhos na noite,
cruzaram-se e trocaram olhares, apenas para cada um seguir seu caminho. Obama
enfrenta agora o maior desafio da política externa de todo seu governo: como
agir com o Irã. A parte curiosa é que ainda terá de lutar e vencer uma batalha
em casa,
[7] antes de
aventurar-se por outras plagas.
Saeed Jalili, principal negociador
do Irã, acaba de voar para Bagdá, hoje cedo, indiferente à violenta tempestade
de areia que assola a capital iraquiana [8]. Obama escolherá a
estrada pouco trilhada, nas conversação entre o P5+1 e o Irã, em Bagdá, na
4ª-feira? Nesse momento, ironicamente, é o lado iraniano que exibe a audácia da
esperança[9].
Notas de rodapé
[1] FROST, Robert (1874-1963), Mountain Interval, 1920, “The road not
taken” .
[2] 22/5/2012 – Asia Times –
“Iran nuclear talks
gaining traction”
[3] 22/5/2012 - Fars news
agency, “Iran Asks for
IAEA's Balanced Approach towards Member States”
[4] 22/5/2012 - Bloomberg, “Iran
Gives UN Atomic Inspectors Access Before Talks”
[5] 22/5/2012 – The Guardian,
“Iran
nuclear talks: signs of cautious optimism emerge”.
[6] 22/5/2012 – AFP, “US
Senate approves sanctions against Iran”
[8] 22/5/2012 – Fars news Agency, “Iranian
Representatives in Talks with World Powers Arrive in
Baghdad”
[9] 21/5/2012 – Fars news Agency, “Salehi Hopeful
about Good Outcomes of Baghdad Talks”
MK
Bhadrakumar* foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista
em questões do
Afeganistão e Paquistão e escreve
sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais
The
Hindu, Asia Online
e
seu blog Indian Punchline. É o filho mais
velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e
militante de Kerala.
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