30/4/2012, Russia Today The World Tomorrow/O Mundo Amanhã, 3rd Episode - “The World
Tomorrow: Julian Assange interviews President Moncef Marzouki”
Transcrição
traduzida pelo pessoal da Vila
Vudu
Durante
o último ano, o Oriente Médio foi agitado por movimentos rebeldes, e a Tunísia é
o país onde tudo começou. Falo hoje com o primeiro presidente da nova República
da Tunísia, Moncef Marzouki (pr. Móntsev Marsúki).
Médico
de profissão e ativista de direitos humanos por prática, Marzouki é talhado por
padrão bem diferente de seu antecessor, o extravagante e corrupto Ben Ali.
Encarcerado
e exilado pelo regime de Ben Ali, Marzouki é visto como, dentre os líderes
árabes, o que tem maior autoridade moral. Mas me pergunto: quanto tempo durará?
A
transformação da Tunísia está longe de estar completa, e o presidente Marzouki
tem agora de enfrentar a realidade do poder.
JULIAN
ASSANGE: Sr. Presidente,
está ouvindo?
MONCEF
MARZOUKI: Olá, como vai, Sr.
Assange?
JULIAN
ASSANGE: Alegre por vê-lo.
MONCEF
MARZOUKI: Sabe, sempre
admirei o trabalho que o senhor faz e acho que deveríamos... Desejo-lhe o
melhor, que tudo dê certo. E, se tiver algum problema, sempre será bem-vindo na
Tunísia.
JULIAN
ASSANGE: Obrigado. [risos]
O senhor esteve preso em 1993, e eu, em 2010. A experiência foi interessante,
para mim, porque tive de sobreviver na solidão de uma cela solitária. Acho que
todos, talvez, deveriam passar por essa experiência. Gostaria de saber como o
senhor sobreviveu na prisão?
MONCEF
MARZOUKI: Bem, o senhor sabe
que só estive quatro meses em solitária, mas... Hamadi Jebali (pr. Jamádi
Zhbáli), hoje primeiro-ministro da Tunísia, passou mais de 10 anos em solitária,
e sempre o admirei muito. Nunca entendi como conseguiu sobreviver àquela
experiência, porque eu, depois de quatro meses, comecei a falar sozinho, sabe,
estava enlouquecendo. Enlouqueci. Quando se começa a falar sozinho, de tanta
solidão, todo o tempo, é experiência terrível. Para mim, a tortura foi
psicológica. Muitos diziam: “Mas você não foi torturado na cadeia”. Respondi que
não, fisicamente, não, mas sofri outro tipo de tortura, talvez das piores. Na
Tunísia, creio que mais de 30 mil pessoas foram torturadas, o que sempre me
enfureceu. E também me enfurece ver como os torturadores, quando acabam o
trabalho, vão tranquilamente para casa, brincam com os filhos, ouvem música, e
têm vida normal. Nunca entendi como se pode aceitar esse tipo de coisas e
continuar certo de que se continua a ser humano. Quero dizer: como se pode
sobreviver àquela rotina? Acho que, se se sabe que se luta para defender
direitos, por valores firmes, então se pode resistir muito, e enfrenta-se muita
coisa.
JULIAN
ASSANGE: Essas pessoas que
agiram contra o senhor e seus amigos na Tunísia, sob o regime de Ben Ali, por
exemplo, o ex-chefe de inteligência. O senhor tem contato com eles, agora, como
presidente?
MONCEF
MARZOUKI: Tenho.
JULIAN
ASSANGE: E o que dizem?
Pedem desculpas?
MONCEF
MARZOUKI: Não. Não pedem
desculpas. Dizem apenas que “você sabe, cumpríamos ordens, somos funcionários”.
Para mim, é inaceitável, porque acho que cada um tem vontade própria e tem de
assumir a própria responsabilidade. É fácil dizer “cumpríamos ordens”. Não posso
aceitar esse tipo de desculpa, porque isso só mostra que são covardes e que,
ainda pior, são cruéis e sem qualquer dignidade, sem honra. É preciso assumir a
responsabilidade. Dizer, pelo menos “fiz, lamento, errei”. Mas isso jamais ouvi
de qualquer deles. Nunca disseram “desculpe, foi um erro”.
JULIAN
ASSANGE: O senhor disse que
a primeira vítima das ditaduras sempre são os serviços de inteligência. O que
quis dizer?
MONCEF
MARZOUKI: Acho que disse
isso porque essas pessoas aceitam, simplesmente, obedecer ao ditador. Entregam
tudo ao ditador, até a própria humanidade, a honra, em troca, só, de permanecer
ali, partilhando o poder. Também são vítimas do sistema. É provável, também, que
os torturadores sejam... quero dizer, a situação deles é triste. Muitos adoecem,
outros se matam. A tortura destrói não só o torturado, mas também o torturador.
É terrível para os dois lados, para o que tortura e para o que é torturado.
JULIAN
ASSANGE: Há, nos EUA,
alguém que está sendo julgado como suposta fonte dos telegramas diplomáticos que
nós distribuímos. Naqueles telegramas há informação sobre Ben Ali que foi,
afinal, divulgada na Tunísia. O nome do homem que os EUA estão acusando é
Bradley Manning. Passou dez meses numa cela solitária. Como o senhor vê o papel
dos EUA, que já foi nação líder da luta por direitos humanos, e hoje é
responsável por torturas?
MONCEF
MARZOUKI: Quando há tortura
e ditadura, até parece normal. Não é normal, é terrível. Mas, quando a mesma
tortura aparece associada a estado democrático, e quando se tem de falar com
gente desses governos que falam de direitos humanos e, simultaneamente, estão
torturando... De fato, se quer saber, parecem-me ridículos. Lembro que, há dois,
não, há quatro anos, fui convidado por uma ONG para ir a Washington e falar da
situação dos direitos humanos na Tunísia. Estava previsto um encontro com alguém
importante, na Casa Branca, tido como militante a favor de direitos humanos. Não
aceitei o convite. Respondi que ‘não vou encontrar-me com essa pessoa, porque
seria ridículo falar sobre o desrespeito aos direitos humanos na Tunísia, com
alguém implicado em torturas em Guantánamo.
Não há como falar seriamente com alguém que está envolvido em
torturas em seu país e, ao mesmo tempo, põe-se a dar lições sobre a promoção dos
direitos humanos na Tunísia. Não aceitei o convite e não fui.
JULIAN
ASSANGE: Como estão hoje os
serviços de inteligência na Tunísia? O senhor é comandante em chefe das Forças
Armadas. É comandante também dos serviços de inteligência?
MONCEF
MARZOUKI: É uma situação
difícil. Temos de ter muita cautela. É preciso ir resolvendo os problemas um a
um. Para mim, o mais importante é que teremos de enfrentar o problema dos
salafistas, um movimento de extrema direita ativo aqui na Tunísia. E, sim, podem
ser muito perigoso para a democracia. Temos de abordar o problema, do ponto de
vista político. Temos de discutir com eles e com outros. Mas alguns não aceitam
nenhum tipo de diálogo político e alguns serão problema para a democracia, de um
modo ou de outro. Quando falei com a Polícia e com os comandantes militares,
disse “Olhem aqui, temos de ir com muito cuidado, e iremos. Mas, por favor, nada
mais de torturas nem de julgamentos sem justiça, como houve e há nas ditaduras.
O problema dos salafistas terá de ser enfrentado com seriedade, mas com respeito
aos valores dos direitos humanos”. Me olharam com ar de quem não sabia se eu
estaria falando sério ou não. E eu disse a eles “Sim, sim, estou falando sério.
Nunca mais haverá tortura na Tunísia”.
JULIAN
ASSANGE: O senhor viu o
arquivo da inteligência sobre o senhor, preparado no tempo de Ben Ali? Os
registros da espionagem sobre o senhor?
MONCEF
MARZOUKI: Ah, sim, tenho
curiosidade de ver esses arquivos, mas, de fato, ainda não tive tempo de ler
nada. E já me entregaram também arquivos de oponentes do regime, hoje. O que
disse é que não vou usar aquelas cartas, não vou ameaçar ninguém com esse tipo
de instrumento. Não quero saber o que houve. Não tenho nenhum interesse em
ameaçar os adversários políticos com as mesmas ferramentas que usaram contra
mim.
JULIAN
ASSANGE: Então o senhor
acredita que... O senhor sabe que WikiLeaks, e eu, como editor, é claro, vimos o
que houve no Egito quando saquearam o Ad-Dawla (pr. Ad’Dagua), o Serviço
Secreto do Egito, e esses arquivos vieram à luz e começou-se a saber o que
realmente estava acontecendo lá. Como alguém que seguia muito, muito de perto a
revolução no Egito, sempre tentando obter informação sobre Mubarak e Suleimán e
outros, eu vi que a Revolução Egípcia havia triunfado, pelo menos num sentido
muito importante, quando os arquivos do Ad-Dawla foram finalmente
abertos. Foi o fim da Polícia Secreta ou, no mínimo, o início de um novo
capítulo da história da Polícia Secreta. Por isso acho que esse é o verdadeiro
caminho para garantir que nada volte atrás: expor os segredos do regime
anterior, para que todos tomem conhecimento, mesmo no caso de a exposição criar
algum tipo de conflito na sociedade. O senhor revelará os arquivos secretos da
Tunísia?
MONCEF
MARZOUKI: Sim, para os
historiadores. Entendo que temos o dever de fazer isso, saber o que houve. Mas
absolutamente não estou interessado em saber quem escreveu o que, quem escreveu
sobre mim. Tudo isso é inútil. Gostaria de conhecer em geral, o que foi aquela
ditadura, mas não tenho nenhum interesse em condenar ninguém, dizer ‘você fez
isso e isso’. Esse tipo de ação pode ser muito, muito perigosa, com pouco
proveito. É importante saber, lembrar, não esquecer. Mas muitas vezes também é
importante não saber e esquecer.
JULIAN
ASSANGE: Há pressão sobre o
senhor ou outros membros do governo, para que esses arquivos sejam mantidos
secretos?
MONCEF
MARZOUKI: No. Não, não há
qualquer pressão. Eu escolhi fazer assim. Escolhi ser muito cuidadoso, porque...
temos de saber, sim. Mas também temos de esquecer e perdoar.
JULIAN
ASSANGE: O senhor disse que
há linhas vermelhas, na informação. Que às vezes faz bem, às vezes faz mal.
Recentemente, a Tunísia andou censurando algumas páginas na internet. Mas, para
censurar, é preciso olhar cada pedido que apareça, para saber se se censura ou
libera. Parece-lhe que essa seja a linha mais acertada?
MONCEF
MARZOUKI: Bem... Acho inútil
qualquer tentativa de censurar a internet, em primeiro lugar. É inútil,
impossível e contraproducente. Como ativista dos direitos humanos, prefiro os
danos colaterais da total liberdade de expressão, aos bons efeitos, se é que se
pode dizer isso, da censura. Sempre disse que sou contra qualquer tipo de
censura na internet ou em qualquer outro modo de expressão.
JULIAN
ASSANGE: Há duas semanas
conversei com Hassan Nasrallah e perguntei a ele por que tinha atitude
diferenciada em
relação à Síria. Há algo de semelhante acontecendo também na
Tunísia: Hassan Nasrallah mostra-se indulgente com a Síria; a Tunísia mostra-se
indulgente com o Bahrain; a Tunísia mostra-se dura contra a Síria; Hassan
Nasrallah, é duro contra o Bahrain, o governo do Bahrain e os abusos ocorridos
lá. Por que essas diferenças?
MONCEF
MARZOUKI: A ditadura que a
população da síria sofre hoje é exatamente a mesma que, antes, houve na Tunísia,
antes da Revolução. Por isso nos sentimos muito próximos do povo sírio.
Entendemos o que sentem, porque lutam contra a corrupção, a violência, o estado
de medo, e nos sentimos muito próximos deles, porque algumas vezes também temos
alguma responsabilidade. Porque posso dizer que, se não tivéssemos feito a
revolução na Tunísia, provavelmente nada teria acontecido na Síria ou no Egito.
Por isso, nos sentimos responsáveis. Nos sentimos próximos, entendemos os sírios
e sentimos que sua luta por democracia também é nossa. Temos de apoiá-los. Temos
de esquecer que...
Nasrallah
e gente como ele acreditam que a Síria... Porque Nasrallah está contra Israel.
Por isso conseguem perdoar aquela ditadura. Mas aqui não temos esse problema.
Não nos interessa a luta entre Israel e Síria. O que nos importa é que os sírios
estão sofrendo pela mesma causa pela qual tanto sofremos. Por isso apoiamos
totalmente o povo sírio em sua lauta contra aquela ditadura , já que nós também
lutamos contra a ditadura que havia aqui. Não entendo que, na Tunísia, haja
gente que apoia a ditadura síria, que diz que aquela seria uma ditadura
patriótica. Nós sabemos que não há ditaduras patrióticas, que nenhuma ditadura é
boa. Ditadura é ditadura, sempre corrupta, sempre violenta. E sempre contra o
povo. A verdade é que não entendo a posição de Nasrallah. O que sei é que
Nasrallah foi muito, muito famoso, depois de 2006... quando, o senhor sabe,
houve a batalha contra Israel. Hoje, sua popularidade acabou completamente,
tanto aqui na Tunísia quanto em todo o mundo árabe.
JULIAN
ASSANGE: O senhor ofereceu
asilo na Tunísia, ao ditador sírio, Bashar al-Assad (pr. Bashór o Asad). Mas é
oferta em que se pode acreditar?
MONCEF
MARZOUKI: O que nos
interessa é interromper o banho de sangue na Síria. É o mais importante. Por
isso, disse “Vejam, temos o exemplo do Iêmen, poderia ser uma boa solução para o
povo sírio”. E perguntei: “Por que esse sujeito iria para a Rússia?” E os russos
disseram que não tinham interesse algum em tê-lo lá. E um jornalista
perguntou se eu estaria interessado em recebê-lo na Tunísia.
Respondi “Claro que sim, se solucionar alguma coisa”. Mas não
sei se... O senhor provavelmente também sabe que Assad nunca pediria asilo à
Tunísia. Essa não é pergunta verossímil e não é postura verossímil. Talvez ele
volte à Rússia ou vá para outro país. Nunca se exilaria na
Tunísia.
JULIAN
ASSANGE: Recentemente, a
Tunísia recebeu aquela reunião dos “Amigos da Síria”, da qual participou
inclusive Hillary Clinton e outros poderosos do Ocidente e da região. A
informação que se tem mostra que o estado de segurança dos EUA continua a crer
que há forças especiais dos EUA já na Síria e que a resistência síria está
recebendo armas e dinheiro. O senhor disse que não acredita em intervenção
estrangeira na Síria e que não acredita que a Tunísia deva fornecer armas para a
resistência síria. Mas, o que pensa sobre oferecer apoio de Inteligência? De
treinar rebeldes dentro da Síria? A Tunísia oferecerá também uma base à oposição
síria?
MONCEF
MARZOUKI: Como já lhe disse,
não apoiamos nenhum tipo de intervenção estrangeira na Síria. Estou convencido
de que dar armas aos sírios levaria a uma guerra civil. Penso que não é boa
opção. Ainda acredito que a única solução deva ser política e que é preciso
encontrar um ponto em comum entre a oposição e o regime. Também entendo que a
única solução é um cenário como o do Iêmen. É minha posição e a posição da
Tunísia. Claro que estamos contra qualquer intervenção, venha de onde vier.
JULIAN
ASSANGE: Seu partido
conseguiu 8,7% dos votos nas eleições na Tunísia e o partido mais islamista
chegou aos 37% dos votos. O senhor, pessoalmente, tem aprovação de 60% da
população tunisiana. Que porcentagem de poder o senhor acredita que tenha?
MONCEF
MARZOUKI: Primeiro, gostaria
de assinalar que, no Ocidente, pensa-se que na Tunísia ou no Egito, o Islã
político prevalece sobre a democracia. É exatamente o contrário. Penso que nós,
aqui na Tunísia, no centro desse espectro, do espectro islamista, somos agora
parte do sistema democrático e do jogo democrático. O que posso dizer é que a
democracia prevalece sobre o movimento islamista, porque os islamistas
democratizaram-se; e nós, como setor, nos islamizamos. Isso é muito importante.
JULIAN
ASSANGE: Quer dizer: há um
movimento?
MONCEF
MARZOUKI: …Porque estou
muito surpreendido com o modo como o Ocidente vê a Tunísia ou o Egito e diz
“vejam, agora os islamistas estão no governo e têm maioria no Parlamento”. Sim,
eles têm maioria no Parlamento, mas é Parlamento democrático e eles votaram em
eleições democráticas e, agora, estão participando no jogo democrático. Por isso
posso dizer que a democracia prevalece depois da Revolução, não os islamistas,
embora tenham eleito mais islamistas que laicos, para governar. Isso é muito,
muito importante.
No
que me diz respeito, sabe... Penso que o poder mais importante que tenho hoje é
simbólico. Aqui na Tunísia devo ser o presidente de todos os tunisianos,
islamistas, setores islâmicos. E estou tentando representar o papel de
presidente de toda a Tunísia. E manter o diálogo com todos os partidos
políticos… Tentando... aproximar todos. E isso é muito, muito importante. Embora
nem todos já saibam que essa é a minha principal função.
JULIAN
ASSANGE: Imagino que seja
muito difícil para o senhor. Meu ponto de vista sobre os governantes com que
tenho tratado e também na minha própria postura... Há muitos passos que se é
obrigado a suportar, somos obrigados por uma situação ou pela habilidade
limitada para atuar numa determinada direção. Ainda que a consciência deseje
agir de outro modo. Ao chegar à presidência, a falta de poder surpreendeu o
senhor? A falta de capacidade para fazer avançar o programa que o senhor
desejava e para fazer os acordos que desejava fazer?
MONCEF
MARZOUKI: Sim, acho que sim.
Estou descobrindo que ser chefe do Estado não significa ter todo o poder. Hoje,
a frustração é o sentimento mais forte que há em mim, todos os dias. Dou-lhe um
exemplo. Agora, estamos enfrentando o enorme problema de Bajdádi Majmúdi. O
senhor sabe que ele está na Tunísia, em greve de fome para ser libertado. Mas eu
não posso libertá-lo, porque a Líbia exige que o entreguemos a eles. E a Tunísia
e a Líbia tem muitos interesses em comum.
De
fato... Entregá-lo à Líbia implica entregá-lo para, provavelmente, não receber
julgamento justo. Eu disse aos meus amigos líbios que a honra da Tunísia, minha
honra pessoal, como ativista a favor do respeito aos direitos humanos, não me
permitem simplesmente entregar aquele homem à Líbia. Mas estou enfrentando
grande pressão do exterior e também dentro do país, para entregá-lo à Líbia.
Todos os dias tenho de repetir “Não, não. Temos de manter nossa posição”. E é
muito difícil. É muito difícil conciliar a opinião do militante a favor do
respeito aos direitos humanos e o dever do presidente, do chefe de Estado.
JULIAN
ASSANGE: Que outras
mudanças houve, para o senhor?
MONCEF
MARZOUKI: Bem... Acho que
continuo a ser o mesmo homem, sabe? Ainda sou defensor do respeito aos direitos
humanos, ainda acredito nos meus valores e desejo manter-me firmemente fiel
àqueles valores. Acho que não mudarei muito, que sempre me manterei preso às
minhas opiniões. Claro que muitas vezes é muito difícil, porque a todo o momento
tenho de recordar que sou o chefe do Estado, e que tenho de ter muito cuidado
quando falo. Às vezes, é muito doloroso. Mas ainda, como lhe disse, continuo
convencido de que tenho de me manter leal aos meus valores e ao povo que espera
que eu continue a ser a mesma pessoa. Tentarei... Tentarei ser, como chefe de
Estado da Tunísia, o mesmo militante a favor dos direitos humanos que sempre
fui.
JULIAN
ASSANGE: Muito obrigado,
Sr. Presidente.
MONCEF
MARZOUKI: Como já disse,
agradeço muito todos os seus esforços para promover os direitos humanos. Admiro
e apoio seus esforços. Desejo-lhe tudo de melhor. Espero vê-lo algum dia na
Tunísia, se puder vir. Será muito bem-vindo aqui, nesse novo país democrático.
JULIAN
ASSANGE: Obrigado. E
obrigado também às duas equipes, dos dois lados, que organizaram esse encontro.
Boa sorte!
MONCEF
MARZOUKI: Obrigado e boa
sorte!
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