Idelber Avelar |
09 de maio de 2012
Por Idelber
Avelar no Blog “Outro olhar”
Num momento em que o Brasil atravessa
uma assustadora onda teocrata, com níveis inéditos de violência homofóbica, uma
enxurrada de projetos de lei inconstitucionais, em clara violação do Artigo 19
da Carta Magna, e sucessivas concessões do governo ao neopentecostalismo mais
reacionário, vale a pena revisitar a ascensão recente da direita religiosa nos
Estados Unidos. Trata-se de uma história bem diferente da brasileira, sem
dúvida, mas talvez ela contenha alguma lição.
Das sete eleições presidenciais
realizadas nos EUA entre 1980 e 2004, os Republicanos venceram cinco. A direita
religiosa foi chave em cada uma dessas cinco vitórias. Mais importante ainda, a
atuação do neoevangelismo e a recusa do Partido Democrata em combatê-lo de
frente foram decisivas no movimento do centro político dos EUA na direção da
direita.
Posições acerca de temas econômicos e culturais que, até os anos 70, teriam sido consideradas de um conservadorismo extremista passaram a transitar pelo discurso político como se fossem centristas e razoáveis.
A emergência de um discurso que, em termos latino-americanos ou europeus, chamaríamos de esquerda, era uma possibilidade nos EUA até aquele momento (à raiz da grande mobilização dos anos 60), mas ela foi soterrada com a eleição de Ronald Reagan em 1980 e só voltaria a dar sinais de vida trinta anos depois, com o Ocupar Wall Street.
De certa forma, a hegemonia Republicana não foi interrompida por Clinton ou Obama, na medida em que seus governos foram adaptações Democratas do programa Republicano (lembre-se, por exemplo, que foi Clinton quem desmantelou o sistema de bem-estar social e foi Obama quem legalizou o assassinato extra-judicial de cidadãos acusados de “terrorismo”). Muitos fatores contribuíram para essa longa hegemonia conservadora, mas a atuação da direita neopentecostal foi decisiva.
Posições acerca de temas econômicos e culturais que, até os anos 70, teriam sido consideradas de um conservadorismo extremista passaram a transitar pelo discurso político como se fossem centristas e razoáveis.
A emergência de um discurso que, em termos latino-americanos ou europeus, chamaríamos de esquerda, era uma possibilidade nos EUA até aquele momento (à raiz da grande mobilização dos anos 60), mas ela foi soterrada com a eleição de Ronald Reagan em 1980 e só voltaria a dar sinais de vida trinta anos depois, com o Ocupar Wall Street.
De certa forma, a hegemonia Republicana não foi interrompida por Clinton ou Obama, na medida em que seus governos foram adaptações Democratas do programa Republicano (lembre-se, por exemplo, que foi Clinton quem desmantelou o sistema de bem-estar social e foi Obama quem legalizou o assassinato extra-judicial de cidadãos acusados de “terrorismo”). Muitos fatores contribuíram para essa longa hegemonia conservadora, mas a atuação da direita neopentecostal foi decisiva.
Somente a partir da eleição de
Reagan se unifica o tripé reacionário que constituiria a nova face do Partido
Republicano. Esses três segmentos do conservadorismo eram, até então,
relativamente independentes entre si e nem todos possuíam vida partidária ativa.
A partir da década de 1980, eles se unem e formam um bloco temível: falo daquilo
que, nos EUA, chamamos de conservadores econômicos (defensores do “livre
mercado” e do Estado mínimo, que passam por uma trajetória de aproximação
crescente a um fundamentalismo à la Ayn Rand ), os falcões da política
externa (representantes da indústria bélica e proponentes de um destino
manifesto dos EUA de controle sobre o resto do planeta) e os conservadores
sociais, que se mobilizam em torno de bandeiras como a proibição do aborto e do
casamento gay, o ensino de criacionismo nas escolas e a promoção de
abstinência sexual. A direita neopentecostal é o grande motor deste último
grupo, até o ponto em que o rótulo “conservadores sociais” se tornou, nos EUA,
uma espécie de outro nome para os teocratas.
O apoio incondicional a Israel tem
sido um dos eixos da aliança entre os três setores.
Pode parecer paradoxal à primeira vista, mas o sionismo mais extremista nos EUA não tem sua base na comunidade judaica, e sim no cristianismo neopentecostal. Os que mais se mobilizam na promoção e financiamento da colonização ilegal na Palestina são os chamados cristãos renascidos, que creem que aqueles que não se reconciliarem com Cristo na sua segunda vinda à Terra estão condenados ao inferno. Note-se que se trata de um ensinamento fundamentalmente antissemita. Mas a acusação de antissemitismo, claro, nunca é feita a esses grupos, já que seu apoio a Israel é incondicional. A “resolução” desse bizarro paradoxo se dá através da doutrina do chamado “dispensacionalismo”, que preconiza que o controle completo de toda a Palestina pelo estado de Israel é um prerrequisito para a segunda vinda do Messias.
Pode parecer paradoxal à primeira vista, mas o sionismo mais extremista nos EUA não tem sua base na comunidade judaica, e sim no cristianismo neopentecostal. Os que mais se mobilizam na promoção e financiamento da colonização ilegal na Palestina são os chamados cristãos renascidos, que creem que aqueles que não se reconciliarem com Cristo na sua segunda vinda à Terra estão condenados ao inferno. Note-se que se trata de um ensinamento fundamentalmente antissemita. Mas a acusação de antissemitismo, claro, nunca é feita a esses grupos, já que seu apoio a Israel é incondicional. A “resolução” desse bizarro paradoxo se dá através da doutrina do chamado “dispensacionalismo”, que preconiza que o controle completo de toda a Palestina pelo estado de Israel é um prerrequisito para a segunda vinda do Messias.
Um dos equívocos mais comuns na
compreensão dos teocratas ocidentais de hoje em dia é acreditar que eles são um
mero resquício, uma sobrevivência medieval ou pré-moderna, fadada a desaparecer
quando as sociedades se secularizarem por completo. Nada é mais falso. Trata-se
de uma operação especificamente moderna, com raízes no colonialismo inglês do
século XIX e muito ancorada nas novas tecnologias.
Pat Robertson, por exemplo, um dos principais líderes da direita religiosa dos EUA, construiu seu império como evangelista televisivo, começando com o estabelecimento do Christian Broadcasting Network (CBN), em 1960, uma intensa campanha para a compra de receptores de TV a cabo entre neopentecostais nos anos60,
a fundação do Canal da Família nos anos 70 e a explosão de
programas de TV evangélicos nos anos 80.
Nessa mesma década, Robertson se consolidaria como arrecadador para os contras da Nicarágua e parceiro de Ronald Reagan na confecção da aliança que selou o pacto entre falcões da política externa, conservadores sociais e conservadores econômicos. Seria em 1983, justamente na convenção da Associação Nacional de Evangélicos, que Ronald Reagan faria o pronunciamento... Continue lendo è
Pat Robertson, por exemplo, um dos principais líderes da direita religiosa dos EUA, construiu seu império como evangelista televisivo, começando com o estabelecimento do Christian Broadcasting Network (CBN), em 1960, uma intensa campanha para a compra de receptores de TV a cabo entre neopentecostais nos anos
Nessa mesma década, Robertson se consolidaria como arrecadador para os contras da Nicarágua e parceiro de Ronald Reagan na confecção da aliança que selou o pacto entre falcões da política externa, conservadores sociais e conservadores econômicos. Seria em 1983, justamente na convenção da Associação Nacional de Evangélicos, que Ronald Reagan faria o pronunciamento... Continue lendo è
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