Publicado
em 17/05/2012 por Mair Pena Neto*
Apesar
de todos os contratempos e de um cenário mundial adverso, que buscava fazer crer
que só existia um modelo político possível, o Brasil conseguiu avançar nos
últimos anos e parece disposto a seguir nessa toada.
Embora com muitas
limitações e quase sem rupturas, a questão social foi colocada no centro das
questões políticas, o papel do Estado como indutor do desenvolvimento foi
retomado e questões pendentes da história começam a ser
enfrentadas.
A
leitura dos jornais nos últimos dias comprova essa caminhada. Em meio ao mar de
lama da CPI do Cachoeira, que atinge sobretudo políticos da oposição, uma
empreiteira corrupta e um notório veículo de comunicação, o país avança.
O
governo reforça os programas sociais, com o recente anúncio de novas políticas,
como a voltada para a primeira infância, que assegura amparo às famílias com
crianças de 0 a 6 anos e fortalece a construção de
creches.
No campo econômico, prossegue a ênfase na redução dos juros, com
enfrentamento dos bancos e sua cobiça por juros astronômicos. E o Estado avança
na transparência, com o primeiro passo no funcionamento, ainda precário, é bom
que se diga, da Lei de Acesso á Informação, que tende a inibir a corrupção nos
órgãos públicos.
O
ato mais recente e simbólico das mudanças por que passa o país foi a instalação
da Comissão da Verdade, que investigará os crimes da ditadura. Foram necessários
28 anos após o fim do regime de exceção para que o país tivesse condições de
enfrentar seu passado insepulto e tentar curar de vez as cicatrizes ainda
abertas dos horrores cometidos nos anos de chumbo.
Precisamos
passar por um governo de transição, ainda sem o voto direto; por uma experiência
desastrosa abreviada pelo impeachment
de Collor, pela recuperação promovida por Itamar Franco, pelo período neoliberal
dos governos de Fernando Henrique Cardoso e pelas mudanças conduzidas por Lula
para chegar ao que Dilma começa a fazer agora. Nessa trajetória, é significativa
a passagem do comando do país de representantes das elites tradicionais para um
operário e uma ex-guerrilheira.
Forjada
na luta contra a ditadura, vítima direta das barbaridades cometidas nos porões,
Dilma age como estadista e volta a jogar luz num período macabro de nossa
história, que muitos gostariam de manter sob o tapete. Faz todo o sentido que
ocorra em seu governo a instalação da Comissão da Verdade, que, esperamos, possa
funcionar a contento.
O
cenário não é cor de rosa. O tempo da comissão para esclarecer os crimes da
ditadura é curto, e punições não estão previstas, como acontece na Argentina e
no Chile. A Lei da Anistia ainda impede que criminosos bárbaros paguem pelo que
cometeram, mas a história está em movimento, e muita coisa pode acontecer quando
a crueza dos fatos vier à tona.
Falta
avançar em muitos
aspectos. Numa maior participação política, na melhoria dos
serviços sociais, no aprimoramento das instituições, na melhor distribuição das
riquezas e mesmo no enfrentamento das forças contrárias à construção de um país
mais digno e justo, capaz de proporcionar a todos os seus cidadãos o desfrute de
suas capacidades. Mas é inegável que o país caminha.
Mair Pena
Neto* é jornalista e carioca. Trabalhou
em O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e Agência Reuters. No JB foi editor
de política e repórter especial de economia.
Enviado por Direto da
Redação
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