John Stauber |
21-23/10/2011, John Stauber, Counterpunch
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
Atenção! O movimento “Occupy Obama 2012” pode já estar em organização. Ocupe já o comitê eleitoral do Partido Democrata, ou o comitê da campanha pró Obama, mais perto de sua casa!
O presidente Barack Obama deixou de ser o único candidato com chances de vitória nas primárias dos principais estados, graças à ação de cidadãos de Iowa que orientaram seu ativismo na campanha “Occupy Wall Street” na direção de ocupar o quartel-general da campanha presidencial de Obama em Des Moines, Iowa, no sábado, 22/10.
O evento “Occupy Obama” está sendo organizado em parte por um veterano organizador de movimentos de base Hugh Espey [1] e seu “Iowa Citizens for Community Improvement, CCI” [Cidadãos de Iowa pela Melhoria da Vida em Comunidade [2]], movimento de base que, desde os anos 1970s luta por justiça social e econômica. Membros do CCI já estão presentes, em acampamentos de Occupy Wall Street, em nove cidades do estado de Iowa. “Occupy Obama” parece ser um passo lógico adiante, para ampliar o movimento para uma discussão nacional e criar condições potenciais de debate e organização social progressista, com vistas a interferir nas prévias eleitorais em Iowa, a acontecer em janeiro de 2012.
Espey criticou Obama pessoalmente, em artigo publicado no jornal Des Moines Register do dia 6/10/2011, em que declarou o apoio de seu movimento às ações de Occupy Wall Street no estado de Iowa [3]. “Nossos governantes estão muito ocupados em reuniões com banqueiros e corporações de Wall Street, pedindo que financiem suas campanhas eleitorais. Nessas circunstâncias, não têm tempo para pensar em políticas que ponham o povo, em primeiro lugar – de que os EUA tanto precisam” – escreveu. [4]
No sábado, os ativistas do “Cidadãos de Iowa pela Melhoria da Vida em Comunidade” marcharão para o quartel-general da campanha de Obama em Des Moines, Iowa. Esse movimento “Occupy Obama” tem tudo para ganhar ímpeto nacionalmente, sobretudo depois que mais de um nome importante do Partido Democrata declararam que se opõem a Obama nas primárias dos Democratas.
“Occupy Obama” pode, pelo menos em parte, preencher esse vazio. “Queremos levar nossa mensagem simples, mas clara, ao pessoal do governo Obama. Queremos que gente comum diga diretamente a Obama o que realmente nós pensamos. Queremos que Obama entenda que os 99% exigem que ele aja de modo a pôr as comunidades em primeiro lugar, à frente dos interesses das grandes empresas e dos bancos. O povo, antes dos lucros – diz o movimento do grupo Cidadãos de Iowa pela Melhoria da Vida em Comunidade.
Obama conseguiu a indicação do Partido Democrata, em 2008, por causa de sua retórica de justiça social e econômica e da oposição à guerra do Iraque. Em seguida, foi eleito por essas posições. Milhões de independentes, muitos jovens e muitos eleitores de várias etnias viram em Obama um agente confiável de “Mudança” e de “Esperança”, palavras e slogans que Obama nunca se cansou de repetir, como mantra.
Mas o fracasso das políticas de Obama presidente, que nada jamais tiveram a ver com o que disse em campanha, nem chega a ser surpresa. Obama candidato em 2008 derrotou os demais candidatos dos Democratas não porque, embalados pelos mantras de campanha, os eleitores o tenham preferido, mas porque conseguiu arrecadar quantias astronômicas de dinheiro das mais ricas empresas financiadoras de campanhas eleitorais dos Democratas, a parcela do 1% – quer dizer, de Wall Street – que como sempre e também hoje, opõe-se aos 99%.
Esse ano, Obama já anunciou o objetivo de arrecadar um bilhão de dólares, para a campanha de 2012. Basta isso para saber que só concorrerá, com chances de ser eleito, se obtiver o firme apoio dos mais ricos do Partido Democrata. Apoio que só obterá se convencer esses mais ricos do Partido Democrata de que trabalhará pelos interesses deles.
O presidente Obama desapontou seus eleitores em tantos pontos, que não cabem aqui. Apesar disso, ainda lidera, sem adversário à vista, a indicação dos Democratas nas eleições primárias. Mas, isso, antes de o movimento Cidadãos de Iowa pela Melhoria da Vida em Comunidade ter divulgado a campanha “Occupy Obama”.
Que ninguém se surpreenda se esse movimento dos cidadãos de Des Moines for a fagulha para movimento nacional de “Occupy Obama”. O movimento tem boas chances de crescer em Iowa, porque pode influenciar o caucus local, eleições pré-primárias, de maneira mais radical que apenas no plano simbólico. Se o movimento crescer nacionalmente até janeiro e obtiver apoio, pode ser um primeiro passo para forçar Obama a mudar seu discurso, com boas chances de conseguir que mude, também, suas políticas.
Se o movimento “Occupy Obama” chegar aos delegados independentes, poderá vir deles uma voz ‘de base’, que se faça ouvir nas convenções locais de janeiro de 2012, nas quais, antes, só se ouvia a retórica de Obama.
É verdade que apoiadores de Obama e seus grupos de interesse já se mobilizam para usar “Occupy Wall Street” como ferramenta de campanha para reeleger Obama e outros Democratas, cooptando o movimento. Esse trabalho sempre será mais fácil enquanto não houver qualquer movimento que fale diretamente a Obama, como pretende ser o “Occupy Obama” que acaba de nascer em Iowa, como movimento de base. E se o movimento de Iowa crescer, os planos de Obama para a campanha presidencial terão de ser refeitos.
O movimento “Occupy Obama”, afinal, expõe diretamente a evidência de que o Partido Democrata [e sua base aliada nas grandes empresas da imprensa-empresa (NTs)] já não é representativo dos desejos da maioria dos eleitores, que sempre foram os mais pobres e maioria que que, hoje, inclui também os que foram empobrecidos (99%!).
Se o Movimento “Occupy Obama” decolar, as eleições de 2012 podem ganhar um gosto à 1968. Naquele momento, as políticas de “Armas e Manteiga” [orig. Guns And Butter [5]] de Lyndon Johnson estavam destruindo não só o Vietnã, onde morriam milhões de pessoas, mas também estavam matando os próprios programas sociais de Johnson para os EUA (suas reformas do programa “Great Society” [Sociedade Grande].
O crescimento rápido do movimento pacifista, antiguerra, em 1968, dividiu o país entre dois candidatos que concorriam às primárias do Partido Democrata: os senadores Gene McCarthy e Robert F. Kennedy. O movimento antiguerra levou à renúncia de Johnson; mas os chefões do Partido Democrata conseguiram impor o nome do vice-presidente de Johnson, Hubert Humphrey, que foi derrotado por Richard Nixon.
Embora um Movimento “Occupy Obama” dificilmente possa levar à renúncia de Obama à re-indicação por seu partido, com certeza pode trazer para a dianteira da discussão nacional os fracassos do Partido Democrata. Isso acontecendo, o próprio Partido Democrata pode ser forçado a um movimento de autorreforma, como aconteceu em 1968 – quando a ala empresarial do Partido Democrata dos mais ricos foi, em certa medida, ocupada pela ala do Partido Democrata dos movimentos sociais de base. Pode também levar a maior apoio popular a outros partidos mais representativos da sociedade e dos mais pobres, que façam oposição mais clara a Wall Street e às empresas gigantes.
O quadro real em 2012 – com crises superpostas e misturadas de falência do império americano, fracasso militar, desespero econômico, empresas corruptas e corruptoras e o Estado sob controle dos interesses corporativos e financeiros – parece ter potencial para empurrar adiante todo o movimento “Occupy”, que poderá crescer em propostas e em números.
O Movimento dos Cidadãos de Iowa pela Melhoria da Vida em Comunidade bem pode ser a faísca que incendiará as propostas políticas e a campanha eleitoral de 2012, um grito que tem tudo para ecoar em todo o país, se emergir dali um Movimento “Occupy Obama”, para pressionar o Partido Democrata, usando as eleições presidenciais de 2012 como ferramenta para essa luta.
Atenção! “Occupy Obama 2012” pode já estar em organização. Ocupe já o comitê eleitoral do Partido Democrata, ou o comitê da campanha pró Obama mais perto de sua casa!
Notas dos tradutores
[1] Na página de Michel Moore, há um perfil de Hugh Espey e link para ações do Movimento “Basta!”, em janeiro de 2010.
[5] No jargão da comunidade financeira, políticas de “Guns and Butter” - “Armas e Manteiga” - são aquelas em que, para ter um bem em abundância, é indispensável abrir mão de outro: para ter o máximo de armas, é preciso aceitar que se viverá com um mínimo de manteiga. Ver Gráfico. Boa tradução, em português, para designar essas políticas, seria “Armas e Vaselina”.
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