7/10/2011, *MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vilda Vudu
Ainda há pouco tempo, o ministro das Relações Exteriores da Turquia Ahmet Davutoglu era saudado como uma das mentes mais brilhantes na diplomacia internacional contemporânea. Sua doutrina de “zero problemas” com os vizinhos da Turquia foi elogiada como “visionária”. Mas quando Davutoglu diz, como disse hoje, que a Turquia está preparada para ir à guerra contra a Síria [1], só faz reforçar a opinião cada vez mais generalizada de que a política exterior da Turquia perdeu o rumo.
É cada vez mais difícil entender o que está em andamento na política exterior da Turquia, mas já está bem claro que Ankara está afastando-se dos vizinhos. Vai-se ver, é possível que Davutoglu tenha perdido o talento mágico. Ou, então, esse cientista político e intelectual altamente cerebrino e racional foi, simplesmente, deixado sem opções e forçado a seguir a liderança errática do chefe – o primeiro ministro Recep Erdogan?
Davutoglu esforçou-se para encontrar explicação viável para por que a Turquia teria de fazer guerra contra a Síria. Atualmente, há 7.605 “refugiados” sírios na Turquia, o que não basta, como motivo para atacar país vizinho. Mas o exército turco está-se concentrando na fronteira com a Síria [2].
É possível que a explicação esteja na própria negativa: Davutoglu disse que as ações da Turquia não estão sendo pensadas para se enquadrarem nas estratégias do ocidente no Oriente Médio. O raciocínio de Davutoglu é que os desenvolvimentos na Síria não podem ser considerados questões internas dos sírios. “Não podemos ser indiferentes à opressão e à violência que se vê hoje na Síria. Apoiamos as demandas do povo sírio e a Turquia não abandonará o povo sírio em suas necessidades” – disse Davutoglu. É total nonsense. A Turquia não hesita quando se trata de usar força militar contra o próprio povo.
E por que Erdogan seria seletivo, em seu projeto democrático? Finge que não vê a repressão no Bahrain ou na Arábia Saudita, mas movimenta-se, excitado, se se trata de Líbia e Síria?!
O que se vê é que, cada dia mais, há um padrão por trás das políticas erráticas de Erdogan. Está imitando Barack Obama – retórica floreada, para esconder a realpolitik. Parece estar outra vez posicionando a Turquia na vanguarda das estratégias ocidentais, como nos tempos da Guerra Fria. E simultaneamente, a distância em que se mantém em relação a Israel garante-lhe altas credenciais também na “rua árabe”. O mais provável é que já esteja vendo o que nós ainda não conseguimos ver: que já está decidida a intervenção militar ocidental contra a Síria – com autorização da ONU, ou sem.
Notas dos tradutores
Embaixador *MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu e Asia Online. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.
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