16/10/2011, Saleh Al-Naami, Al-Ahram Weekly, Cairo
Traduzidopelo Coletivo da Vila Vudu
No silêncio geral, o som da queda de Jamal Hassan em sua cela na Prisão Shatta em Israel soou muito alto, na tarde da 6ª-feira. Quando os guardas abriram a cela, encontraram-no caído, com sangue na cabeça e inconsciente. Jamal foi levado a um hospital próximo. 31 anos, Jamal é um das centenas de prisioneiros palestinos que há nas prisões de Israel que, há 18 dias iniciaram greve de fome para protestar contra as terríveis condições a que são submetidos todos os prisioneiros. Entre outras medidas punitivas, inclui-se uma longa série de procedimentos ordenados recentemente pelo gabinete de Binyamin Netanyahu, como tentativa para pressionar o Hamás a apressar a troca de prisioneiros e desistir de suas exigências para devolver o soldado Gilad Shalit, capturado em combate (não “sequestrado”, como dizem os jornais ‘livres’).
Estudante palestino passa por mural representando o soldado capturado em combate, Gilad Shalid, em Jabalya ao norte da Faixa de Gaza |
Hassan, que cumpre prisão perpétua, não resistiu à desnutrição, à sede e ao confinamento em solitária. As autoridades de Israel não estão distribuindo informações sobre seu estado de saúde, enquanto fontes palestinas dizem que os israelenses estão ocultando o fato de que transferiram grande número de prisioneiros palestinos para hospitais, preocupados com a possibilidade de que notícias sobre as condições dos palestinos nas prisões israelenses desencadeie reação de indignação entre a população palestina.
Entre as medidas punitivas ordenadas por Netanyaju contra prisioneiros palestinos estão a transferência dos principais líderes para celas (de fato, são jaulas) solitárias que medem 1mx1m e 50cm de altura, onde têm de dormir, comer e fazer suas necessidades. Os israelenses também limitam os tipos de alimento servido aos prisioneiros, impedem-nos de deixar as celas e aumentaram o número de revistas (os prisioneiros são obrigados a despir-se, sob o pretexto de que poderiam esconder armas). Os prisioneiros estão sendo torturados por esquadrões especialmente treinados para tortura.
Fontes disseram a Al-Ahram Weekly que Israel está usando uma tática de ‘porrete e cenoura’ com os prisioneiros mais importantes, aumentando a tortura e os maus tratos e, simultaneamente, facilitando o contato entre eles e o Hamás, tentando fazê-los pressionar o Hamás para que reduza as exigências para devolver Shalit, em troca de melhor tratamento aos prisioneiros.
Líderes dos prisioneiros palestinos disseram que os guardas da polícia política israelense têm treinameno especial e são excepcionalmente brutais com os detentos, porque os líderes mais destacados não apenas não aceitaram o que lhes oferecem as autoridades da prisão, como, também, exigiram que o Hamás não ceda em nenhuma das exigências que fez para devolver o soldado israelense capturado em combate. Entre as exigências do Hamás estão a libertação de todos os prisioneiros condenados a penas perpétuas, além de todas as mulheres, todas as crianças e todos os doentes.
Essa ação dos líderes presos fez aumentar ainda mais a agressão aos prisioneiros. Os que estão em greve de fome só estavam ingerindo água salgada, mas, agora, as autoridades israelenses proibiram o sal nas prisões. Os prisioneiros não recebem roupas para trocar e são obrigados a cobrir-se com trapos sujos, mais uma tática de tortura, para pressioná-los psicologicamente.
Em resposta, os prisioneiros palestinos têm-se recusado a usar os uniformes distribuídos nas prisões, não saem das celas quando são convocadas as revistas gerais e interromperam qualquer contato com a administração das prisões. Os prisioneiros palestinos chamam sua luta contra a violência do estado judeu de “Guerra das Barrigas Vazias”.
Líderes de prisioneiros dizem que respondem à política de violência e opressão do estado judeu, resistindo à fome, à sede e ao confinamento em celas solitárias. Dizem que, se nem assim o estado judeu suspender as medidas ilegais e desumanas contra os prisioneiros palestinos, manterão até a morte a atual greve de fome.
Fontes disseram a nossos jornalistas que os líderes dos prisioneiros palestinos adiaram o anúncio da greve de fome, para que não coincidisse com a missão dos palestinos à ONU pelo reconhecimento do estado da Palestina. Temiam que sua luta tivesse efeito negativo com vistas àquele objetivo. As fontes dizem que as novas medidas excepcionalmente violentas contra os líderes políticos presos, e a decisão do estado judeu de expandir o confinamento em celas solitárias convenceu os prisioneiros a iniciar imediatamente a greve de fome.
As mesmas fontes disseram a esse jornal que os primeiros a iniciar greve de fome foram Ahmed Saadat, secretário-geral da Frente Popular [ing. Popular Front for the Liberation of Palestine (PFLP)], e Jamal Abu Al-Heja, destacado membro do Hamás, ambos cumprindo pena de prisão perpétua. Há três anos, ambos foram postos em celas especiais, sem qualquer contato com o mundo exterior. As fontes dizem que Saadat e Al-Heja distribuíram mensagem na 5ª-feira, destacando a importância de a greve de fome ser mantida até que as forças de ocupação israelenses aceitem todas as exigências dos prisioneiros palestinos, inclusive o fim do confinamento em celas solitárias.
As mesmas fontes acrescentaram que as autoridades da prisão isolam qualquer prisioneiro que entre em greve de fome e, depois, formam comissões para negociar com o prisioneiro o fim do jejum. Há informes também de que as autoridades israelenses foram surpreendidas pelo fato de que todos os prisioneiros palestinos, em várias prisões, apresentaram exatamente as mesmas exigências. O grupo ADDAMEER – associação para defesa de direitos humanos e apoio a prisioneiros – disse que, agora, as autoridades prisionais em Israel começaram a promover sessões coletivas de espancamento e tortura, na tentativa de abalar a moral dos presos.
O ministro palestino para Prisioneiros Detidos e Libertados, Eissa Qaraqa, disse que “a Guerra das Barrigas Vazias visa a ala mais extremista do governo direitista de Netanyahu e a Autoridade Prisional de Israel. Qaraqa disse que a luta continuará até que todas as exigências dos prisioneiros sejam atendidas. “Se a força ocupante não suspender as medidas de tortura, a luta contra a ocupação não mais poderá ser contida dentro dos muros das prisões de Israel” – disse ele. – “E chegará à rua palestina”.
Os palestinos têm organizado dezenas de manifestações de protesto em solidariedade com os familiares presos em Israel, e vários palestinos também já iniciaram greve de fome em apoio aos prisioneiros. Representantes de todos os grupos políticos palestinos montaram tendas à frente das instalações da Cruz Vermelha, para manifestar solidariedade com os prisioneiros.
Sherine Iraqi, advogada do Ministério Palestino para Prisioneiros, disse que os detentos com os quais teve contato levavam algemas nos pulsos e nos tornozelos e que, na prisão de Shatta, são revistados despidos sempre que são levados de uma parte a outra da prisão. Iraqi disse também que já são críticas as condições de saúde de vários dos prisioneiros em greve de fome.
O Hamás convocou seus grupos de resistência a aumentar as ações contra a ocupação israelense, como resposta ao que descreveu como “crimes contra prisioneiros”.
“Cercados pelo silêncio omisso da comunidade internacional e pela fraqueza de árabes e islâmicos, defenderemos nós mesmos os prisioneiros palestinos que estão sendo sacrificados nas prisões de Israel e continuaremos a resistir contra a ocupação, em todos os lugares” – disse Khalil Al-Hayya, importante figura do Hamás, em enorme marcha organizada pelo Hamás em Gaza, na tarde de 6ª-feira, de solidariedade com o movimento dos prisioneiros. “Não descansaremos até termos libertado todos os nossos companheiros que hoje sofrem nas jaulas da ocupação”.
Al-Hayya disse que só a resistência, em todas as suas modalidades, conseguirá salvar os cidadãos prisioneiros, proteger os cidadãos livres, salvaguardar a dignidade de todos e defender os homens e mulheres e crianças cuja dignidade, direito à vida e propriedades são violados pela ocupação israelense. “Em resposta à arrogância da ocupação, que viola direitos humanos básicos de nossos companheiros, manteremos nossa resistência e faremos processar todos os israelenses culpados de crimes de guerra. Mais cedo ou mais tarde, todos eles pagarão por seus crimes” – disse Al-Hayya.
O Hamás considera Israel responsável pela vida dos 7.000 prisioneiros que estão em greve de fome na “Guerra das Barrigas Vazias”, e convocou o povo palestino a cerrar fileiras e unir-se na defesa dos prisioneiros. Al-Hayya também convocou os povos livres do mundo e todos os cidadãos árabes a dar prioridade à luta para salvar os prisioneiros palestinos torturados nas prisões israelenses – “para que Israel saiba que os prisioneiros palestinos não estão sozinhos”.
Milhares de prisioneiros palestinos enfrentam hoje a violência da máquina israelense de opressão. Contam com os palestinos da Cisjordânia, da Faixa de Gaza e da Diáspora, que não os podem abandonar ao próprio destino. Contam também com que a consciência do mundo acabará por despertar e ver, afinal, esse sofrimento inadmissível.
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