22/10/2011, *MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
O presidente Barack Obama dos EUA anunciou que todos os soldados norte-americanos estarão fora do Iraque ao final de 2011, nos termos do Acordo SOFA [ing. State of Forces Agreement] negociado pelo governo George W. Bush. No discurso de Obama, soou como se fosse decisão de estadista, e como se o próprio Obama estivesse cumprindo a promessa eleitoral que fez em 2008.
A foto de arquivo datada de 22 de junho de 2011 mostra um soldado dos EUA (C) com a bandeira americana e como o pessoal do Exército dos EUA está se preparando para deixar Mendin base militar na fronteira Irã-Iraque, sul do Iraque. (Haider Al-Assadee / EPA) |
Mas a realidade, como Tony Karon da revista Time mostra, em crônica factual, narrativa de eventos conhecidos, os soldados dos EUA estão sendo expulsos do Iraque . [1]
Obama fez o que pôde para obter de Bagdá autorização para que alguns contingentes norte-americanos permanecessem no Iraque sob o pretexto de darem “treinamento” a forças iraquianas. Mas o Iraque negou todos os pedidos dos EUA.
Por outro lado, Obama obteve sucesso notável ao conseguir que Kabul aceite a presença norte-americana de longo prazo no Afeganistão.
O acordo negociado pela secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton em Islamabad na 6ª-feira dá primazia ao Paquistão num acordo afegão, enquanto, por outro lado, acolhe a insistência dos paquistaneses para que se chegue a uma acomodação política com o grupo Haqqani. Ao mesmo tempo, o Paquistão aceita a presença de longo prazo dos militares de OTAN-EUA no Afeganistão. Clinton disse em Islamabad que “os EUA continuaremos presentes no Afeganistão ainda por muitos anos”.[2]
Faz sentido. O primeiro-ministro do Iraque Nuri al-Maliki é muito mais nacionalista que Hamid Karzai. Está também mais bem posicionado para resistir à pressão dos EUA, enquanto Karzai mal consegue sobreviver e depende completamente do apoio dos EUA. Mas o fator decisivo, que fez toda a diferença, foi a influência preponderante dos grupos xiitas na elite governante em Bagdá.
Teerã recusou-se categoricamente a considerar o desejo de Obama de manter presença militar de longo prazo no Iraque e, com certeza, fez tudo que havia ao seu alcance para frustrar o plano de jogo dos EUA que visava a tornar perpétua a ocupação norte-americana no Iraque. E conseguiu, como se viu no “anúncio” feito por Obama.
No Afeganistão, ao contrário, o Paquistão controlará os Talibã, para que não se oponham às bases militares norte-americanas no país. É o mínimo que o Paquistão tem a fazer, em troca do acordo que Clinton obteve. O que mais interessa ao Paquistão é que “figuras do seu acervo estratégico”, controladas pelo Paquistão, sejam catapultadas ao poder, no Afeganistão. A presença dos EUA no Afeganistão pode, mesmo, interessar ao Paquistão, desde que Washington aceite que o Paquistão controle o governo no Afeganistão.
Pode-se dizer, mesmo, que o Paquistão beneficia-se com a presença dos EUA, no sentido de que, assim, os EUA mantêm-se engajados na região. O Paquistão avalia que o projeto “Nova Rota da Seda”, dos EUA, assegura papel de destaque ao Paquistão, nas estratégias regionais dos EUA, por ainda várias décadas futuras.
Por sua vez, o Irã optou por cooperar passivamente com os EUA no processo de ‘estabilizar’ o Iraque e, alcançado esse objetivo, o Irã começou a trabalhar para que os iraquianos expulsassem os norte-americanos. O Irã não acalenta qualquer ilusão de dominar o Iraque. Quer apenas nivelar o campo de jogo, certo, o Irã, de que o Iraque sempre valorizará a amizade de Teerã. O Paquistão, pelo contrário, fez o que pôde para subverter as políticas norte-americanas, de modo que, no final, o Afeganistão continuasse fraco, em estado de grave instabilidade – o que facilita o processo para projetar o poder paquistanês também sobre o Afeganistão. Ao Paquistão não basta apenas nivelar o campo de jogo em Kabul. O Paquistão trabalhará para pôr, em Kabul, um governo que o Paquistão controle.
A situação ideal para o Paquistão seria governo dos Talibã no Afeganistão, com os EUA como apoiadores. O Paquistão empenhou-se muito para obter acordo desse tipo no final dos anos 1990s, mas fracassou. Agora, esse objetivo parece-me alcançável.
Notas dos tradutores
[2] 21/10/2011, Departamento de Estado dos EUA em: Television Roundtable With Dawn, ARY, Dunya, Geo, Express and Pakistan TV
*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.
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