28/10/2011,
*MK Bhadrakumar, Indian
Punchline
Traduzido
pelo Coletivo da Vila
Vudu
Sem
violência física, é possível obrigar alguém a cuspir a goma de mascar que esteja
mascando com evidente prazer?
A
Rússia provou que sim.
Esse
é o contexto no qual se insere o sucesso da diplomacia russa na reunião do
Conselho de Segurança da ONU, sobre a Resolução n. 1.973, na 5ª-feira passada.
Dmitry Rogozin |
O
formidável enviado russo à OTAN, Dmitry Rogozin, que sabe fazer com as palavras
o que só políticos excepcionalmente bem dotados fazem, disse uma vez, em agosto,
que a aliança ocidental estava “mastigando a Resolução n. 1.973” , como se fosse goma de
mascar, para mostrar deliberadamente que não dava nenhuma importância nem à
Resolução nem ao Conselho de Segurança.
A
R 1.973 garantiu uma “zona aérea de exclusão” sobre a Líbia, e o Ocidente foi em
frente e bombardeou a Líbia até destruir o país, matou milhares de civis
inocentes e esquartejou Muammar Gaddafi com uma faca (há imagens, que não se
deve divulgar, mas existem).
Sarkozy |
Ocorre-me
que já ninguém sabe dizer o que teriam a ver, hoje, a história da civilização
ocidental e aquele famoso “Iluminismo”, se se veem hoje esses crimes bárbaros. O
Iluminismo terá sido só mais um mito? Será que o ocidente algum dia saiu da
Idade das Trevas – seus Nicolas Sarkozy e Barack Obama et al.?
Seja
como for, nunca antes a diplomacia russa no período pós-soviético trabalhou tão
brilhantemente pela causa da paz, como ao apresentar ao Conselho de Segurança da
ONU, 5ª-feira, o projeto de Resolução que exigia o fim imediato das
operações da OTAN na Líbia.
A iniciativa só apareceu no último momento, quando a OTAN movimentava-se já, sob
um ou outro pretexto, para aplicar o golpe da legitimidade política, fazendo
crer ao mundo que o povo líbio, coletivamente, estaria clamando pela permanência
de tropas ocidentais na Líbia.
O
movimento dos russos foi impecavelmente lógico. Afinal, os céus líbios já estão
livres da artilharia mortífera de Gaddafi. Quem precisaria de “zona aérea de
exclusão”?
Super - Obama |
Engraçado
é que a Resolução apresentada pelos russos, e que pôs fim aos delírios da OTAN
na Líbia, foi aprovada por unanimidade. Sarkozy e Obama ficaram sem alternativa.
É mais que justo que, hoje, os russos, que obrigaram o “ocidente” a cuspir a
goma de mascar que tanto estavam gostando de mastigar, estejam rindo sozinhos.
Muito justo.
Em
termos geopolíticos, a OTAN ficou, agora, numa sinuca de bico. Toda a agenda da
OTAN, que previa abrir asas e voar para o norte da África e ali fazer ninho,
dependia de a OTAN permanecer na Líbia. Mas Washington e Bruxelas cederão assim
facilmente, sem luta?
Uma
coisa é certa: Rússia e China não cairão em nenhum “golpe da Resolução do
Conselho de Segurança”... no caso da Síria.
*MK Bhadrakumar foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre
temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais
The
Hindu,
Asia
Online e Indian Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
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