28/10/2011, *MK Bhadrakumar, Indian
Punchline
Traduzido
pelo Coletivo da Vila
Vudu
Apareceu
na mídia norte-americana a primeira notícia de intervenção armada externa na
Síria, que Damasco já denunciara, sem qualquer eco. O New York Times noticiou que a Turquia está ajudando e
apoiando um grupo insurgente sírio.
Muito
estranha essa repentina irrupção de “glasnost” [ru. “transparência”].
Significa que está começando uma nova fase da intervenção do ocidente, agora na
Síria. A opinião pública mundial está sendo “avisada”. Tudo começou exatamente
assim, também na Líbia.
Situação geoestratégica da Turquia |
A
Turquia não se atreveria a divulgar tão leve e despreocupadamente que está
violando a Carta das Nações Unidas e a legislação internacional, se não
estivesse coberta pela garantia de que age como testa-de-ferro dos EUA.
É
momento histórico, também – em que se interrompem, cavalheirescamente, os
oitenta anos de obediência à velha linha vermelha de demarcação, traçada por
Kemal Ataturk, segundo a qual a Turquia não se envolveria em conflitos no mundo
muçulmano e, em vez disso, se concentraria na “modernização” do país, de olhos
postos na Europa.
A
secretária de Estado Hillary Clinton dos EUA visitará a Turquia em novembro; o
vice-presidente Joe Biden, em dezembro. Washington está dedicando lisonjeira
atenção à Turquia. Dia sim, dia também, Barack Obama conversa longamente com o
primeiro-ministro turco Recep Erdogan.
A
agência Reuters noticiou que os EUA estão abastecendo a Turquia, gratuitamente,
com equipamentos militares de alta tecnologia. Isso, depois de relatos de que a
Turquia solicitara que os EUA deixassem por lá algumas armas avançadas usadas no
Iraque, apesar de a retirada dos EUA do Iraque prosseguir. – Entre as tais
armas, alguns aviões-robôs pilotados à distância, drones, Predator.
Mas
a Turquia não se satisfaria só com ajuda militar. Quer mais incentivos –
dinheiro, por exemplo, e muito, o qual dirão que é indispensável para sustentar
todas aquelas atividades subversivas caríssimas, contra a Síria. Essa semana, o
ministro de Relações Exteriores da Turquia Ahmet Davutoglu visitou o Qatar. O
mesmo Qatar que financiou a intervenção militar ocidental na Líbia. A Turquia
com certeza conta com o Emir do Qatar, para que abra liberalmente os cofres,
para pagar os custos de intervir na Síria. O Qatar, evidentemente, mais do que
apenas disposto a ajudar, deseja pagar tudo e está virtualmente suplicando que a
Turquia pegue todo o dinheiro de que precise, desde que Ancara derrube, seja
como for, o governo de Damasco.
Além
do Qatar, também a Arábia Saudita quer ajudar. A Arábia Saudita é muito próxima
da liderança do Partido Justiça e Liberdade (AKP), que governa a Turquia.
Situação geoestraégica da Síria |
Davutoglu
também visitou Amã. A Síria há muito tempo denuncia que há mão jordaniana por
trás dos conflitos sírios, e que a Jordânia fornece armas à oposição.
Está
em andamento, pois, um movimento de pinça contra a Síria: a inteligência turca
atua no norte, e a inteligência jordaniana, no sul. Já há notícias, vindas do
Líbano, de que a Síria tem plantado minas ao longo da fronteira, como medida
defensiva, no sul.
Bem
visivelmente, cristaliza-se o alinhamento regional – Turquia, Arábia Saudita,
Qatar e Jordânia formam o eixo para a “mudança de regime” na Síria: exatamente o
mesmo eixo que trabalhou para o ocidente, também na intervenção contra a
Líbia.
O
elo que falta nesse drama sombrio é, por enquanto, Israel. Mas a Turquia já
suavizou muito a retórica nas referências a Israel. Ancara incluiu Israel entre
os 30 países aos quais pediu auxílio para socorrer as vítimas do terremoto em
Van. E Israel imediatamente despachou para o aeroporto de Ancara três imensos
aviões carregados de suprimentos. O gelo foi quebrado.
Mais
importante que tudo isso, já é sabido que o radar de mísseis antibalísticos
(ABM) dos EUA, que a OTAN planeja instalar na Turquia, também fornecerá
informações de inteligência a Israel, sobre a capacidade dos mísseis iranianos.
Aparentemente, a Turquia sempre soube de tudo isso e não fez qualquer objeção. O
principal partido da oposição na Turquia, CHP, sempre disse que a retórica
anti-Israel do primeiro-ministro Recep Erdogan jamais passou de teatro para
confundir a rua árabe e dar cobertura à parceria Turquia-EUA, no negócio para
instalar o radar ABM dos EUA na região.
*MK Bhadrakumar foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre
temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais
The
Hindu,
Asia
Online e Indian Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
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