As faces da corrupção |
Publicado em 24/04/2012 por *Mário Augusto
Jakobskind
Demóstenes Torres é um exemplo
concreto da degradação política que se abate sobre o Brasil. De ex-arauto da
moralidade, o senador goiano está envolvido até a raiz dos cabelos com Carlos
“Cachoeira de Lama”, um meliante que age nos bastidores do poder.
Cara de pau, como as pessoas de
sua espécie, Torres aparece no Senado como se nada tivesse acontecido.
Provavelmente espera contar com a solidariedade de setores parlamentares que
temem o “eu sou você amanhã.
O que está acontecendo agora
remete ao campo das discussões sobre o tipo de política que ainda se faz no
Brasil com a prevalência do fisiologismo deslavado. Os financiadores de
campanhas milionárias não pregam prego sem estopa e cobram os gastos.
Já foi sugerido aos parlamentares
repetir o esquema das camisas dos clubes de futebol. Usariam nos seus ternos os
logotipos das empresas que bancaram suas campanhas.
Para evitar poluição visual, até
porque há políticos contemplados por inúmeras empresas, os logotipos se
limitariam a três e seriam escolhidos os principais doadores. Já imaginaram o
Governador Sergio Cabral e o Prefeito Eduardo Paes? O primeiro teria na lapela o
logo da Delta e de alguma empresa do amigo Eike Batista e assim
sucessivamente.
Vem aí mais uma campanha
eleitoral, desta feita municipal. É preciso estar atento para a movimentação
relacionada com as doações de campanha. Ou será que alguém imagina serem as
empresas altruístas ao fazerem as doações com o objetivo de aprimorar o processo
democrático?
“Diga-me quem te banca que direi
qual é a tua”. Este seria um slogan interessante e ajudaria o eleitor a escolher
melhor os parlamentares que terão mandato de quatro anos.
Se os formadores de opinião se
detivessem a analisar com mais rigor tais questões, o poder dos cachoeiras de
lama automaticamente se reduziriam. De nada adianta o cidadão contribuinte
apenas se indignar com os aprontos dos políticos se não se aprofunda o tema e se
vá até as últimas consequências no desvendamento das mutretas.
Se não se fizer isso, o país
continuará sai ano entra ano a assistir “espetáculos” como os atuais e
anteriores. Combater a corrupção ao velho estilo moralista da famigerada UDN não
leva a nada. Ajuda até encobrir o principal.
Quando houve o golpe de 1º. de
abril de 1964 falava-se em mar de lama que seria combatido. As coisas até
pioraram no tempo da ditadura, mas os brasileiros não eram informados a respeito
porque os próprios golpistas censuravam.
Com o passar do tempo os dígitos
da corrupção foram se ampliando, mas não se combateu a histórica corrupção do
capital financeiro, das empreiteiras etc. E se nada for feito nesse campo tudo
continuará como antes.
Resta saber se a mais recente CPI
mista sobre o tal Cachoeira vai mesmo ao âmago da questão ou ficará restrita aos
refletores e câmaras de televisão.
Em matéria de desespero, a mídia
de mercado segue batendo recordes. Desta feita, o noticiário sobre o ato
soberano da Presidenta Cristina Kirchner nacionalizando as ações da Repsol se
superou.
E vale destacar que ao falar aos
argentinos Cristina Kirchner fez questão de deixar claro que apresentou o
projeto visando a recuperação da soberania. Ela acrescentou que o modelo
escolhido para o futuro da YPF “não é o da estatização”, mas sim “o da
recuperação da soberania e do controle dos hidrocarbonetos”.
Os jornalões e telejornalões
unanimemente condenam Kirchner, mas de um modo geral omitiram as alegações
apresentadas pelo governo argentino para tomar a decisão que tomou.
Além de não cumprir o que estava
estabelecido em contrato em termos de investimentos, a Repsol provocou danos ao
meio ambiente na região de Mendoza e Patagônia, conforme denunciam o governo
argentino e os ecologistas .
Apesar disso, a Repsol ainda quer
o pagamento de 10 bilhões de dólares em indenização. O governo espanhol de
Mariano Rajoy faz ameaças ao estilo do período colonial de mais de 200 anos
atrás. Só falta agora Rajoy enviar as canhoneiras.
Aceitar passivamente as ameaças ao
estilo colonial é também uma forma de fazer vista grossa à corrupção. Ou será
que quando uma empresa não cumpre contrato firmado com o Estado e nada é feito
em resposta, não é também uma forma de corrupção?
Em suma: o que teria acontecido em
1994 quando o então Presidente Carlos
Ménem privatizou a Yacimientos Petroliferos Fiscales (YPF)?
Alegavam os privatistas que o setor entraria na modernidade.
Dezoito anos depois, Cristina
Kirchner, que então como parlamentar caiu no conto votando a favor da
privatização, está comprovando que a medida não trouxe benefícios à nação
argentina.
*Mário
Augusto Jakobskind é correspondente no
Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da
Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o
Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de
América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes -
Fantástico/IBOPE.
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