2/3/2012, Eric Dupin, Rue89
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Discursos
de Mélenchon (vídeo e tradução) disponíveis na redecastorphoto:
1/4/2012,
em
Grigny,
6/4/2012, em Toulouse,
Jean-Luc Mélenchon à Montpellier (Hérault), 8/2/2012 (DAMOURETTE/SIPA) |
É
hora de declarar: Até aqui, Jean-Luc Mélenchon faz a melhor campanha nas
eleições presidenciais na França. O talento do candidato da Front de Gauche é elogiado até por um
veterano comentarista político, Alain Duhamel (71 anos), que não se pode acusar
de simpatia por qualquer tipo de radicalismo:
“Jean-Luc
Mélenchon é grandiloquente, provocador, presunçoso, às vezes até fala de uns ou
outros com desprezo, mas não há dúvidas de que é hoje o melhor orador da cena
política na França. E não me lembro de melhor orador que ele, que parece
herdeiro dos oradores do século 19, mas que consegue seduzir e embalar,
literalmente, não só os auditórios e as praças, mas também as câmeras de
televisão.”
“O
rei dos comícios”
Se
Duhamel percebe o tribuno Mélenchon como criatura com passado de dois séculos,
mesmo assim é obrigado a admitir que seus melhores momentos acontecem nas
praças. O jornal Le Parisien consagrou recentemente o candidato da Front de Gauche, com o título de “o rei
dos comícios”.
De
fato, os comícios têm sido eventos impressionantes: 10 mil pessoas, dia 7/2
em Villeurbanne
(Rhône ), para um estranho comício em dois palcos; 8 mil no dia
seguinte, em
Montpellier (Hérault ) [ontem, em Toulouse, foram 70 mil]. Um
público misto e entusiasmado. Eleitores comunistas mais velhos, que reencontram
o entusiasmo de ver a bandeira vermelha outra vez erguida, ao lado de militantes
muito jovens, das origens mais diversas, todos seduzidos pelo Partido de
Esquerda de Mélenchon.
Até
aqui, o fervor só se traduz em lento crescimento nas pesquisas de intenção de
votos (de 6,5% em meados de janeiro a 9% no início de fevereiro).
[Esse
artigo é do início de março. Em “La présidentielle en temps
réel”
há
resultados de pesquisa divulgados hoje, mas é pesquisa paga pela da revista
Paris Match, que só não é pior que a revista (não)Veja, porque NÃO HÁ, no
mundo nada pior que a revista (não)Veja, que é a pior revista DO
MUNDO].
Mas
deve-se prever que a dinâmica da campanha mostrará bons resultados para
Mélenchon. Basta ver – por que não? – que Mélenchon já ultrapassou François
Bayrou [candidato de centro-direita].
Campeão
dos anti-LePen
Mélenchon
já pode festejar uma grande vitória na disputa contra Marine Le Pen. Lançar
ataque violento e frontal contra o Front
Nacional (e os que, na UMP [de Chirac] e às vezes também no Partido
Socialista [de Hollande] só pensam no “voto útil”) foi decisão estratégica
maduramente avaliada. A candidata da extrema-direita, ao que se vê, caiu na
armadilha das provocações que lhe fez a Front de Gauche de Mélenchon, e
recusou-se a comparecer ao debate promovido pelo canal France 2 de televisão, dia
23/2.
Alexis
Corbière, dirigente do Parti de
Gauche, que faz parte “de uma geração que começou a militar em meados dos
anos 80, e sempre sofreu com a presença da Frente Nacional de Le Pen na paisagem
política francesa”, comemora:
“[Marine
Le Pen] lhe virará o rosto, mas Jean-Luc não vai afrouxar. No plano midiático, é
terrível para ela. A grande força da extrema direita que virava a cara a
qualquer discussão nos anos 80s, 90s e 2000, está calada, agora, frente à Frente
de Esquerda. Para nós, é vitória total.”
Mélenchon
explica, em seu blog, como a escolha de atacar o adversário na questão dos
direitos da mulher, onde a temática da igualdade social entra em flagrante
contradição com a divisão tradicional entre sexos com a qual trabalha a extrema
direita (a questão do aborto, dentre outras), é estratégia
calculada:
“A
brecha que abrimos para entrar na questão da igualdade entre homens e mulheres
[discutir o caso do transgênero] permitiu-me ir ao coração da cortina de fumaça
que mascara as contradições do que a direita diz. Nosso interesse tático é
deixar a direita lá onde está, nesse “entre dois” asfixiante para o discurso da
FN. Porque a tática deles, de buscar a respeitabilidade, separou-os dos
militantes da direita ativa e dos meios sociais para obter votos, sem lhes dar
qualquer vantagem no campo da direita, que só tem
Sarkozy.”
O
único, à esquerda do Partido Socialista
O
moderatismo assumido de Hollande, apimentado, vez ou outra, com piscadelas à
esquerda, abriu espaço para a candidatura Mélenchon. Contra o “voto útil”, a
candidatura Mélenchon está atraindo o voto tático dos eleitores socialistas
pouco confiantes e constantemente decepcionados pelo que ouvem do candidato do
Partido Socialista. A candidatura Mélenchon ancora-se também e sobretudo numa
tradição da esquerda comunista que permanece bem viva na França, apesar da
marginalização do Partido Comunista Francês (PCF). O programa de Mélenchon, que
circula desde setembro do ano passado, ousa repor as questões fundantes dessa
tradição histórica:
“Nosso
programa prevê estender a propriedade pública, desenvolvendo os serviços
públicos. Promove novas apropriações sociais pela nacionalização das grandes
alavancas da ação econômica, industrial e financeira. Propõe formas
descentralizadas da propriedade social. E assim visa a sistematizar o recurso à
economia social e solidária.”
Contudo,
apesar de ter formação trotskista (versão lambertista), Mélenchon não encarna
apenas o novo rosto do comunismo francês. A crítica do produtivismo e do
consumismo que o Parti de Gauche
trouxe, na nova formação com as cores vermelho e verde, acrescenta ao melenchonismo um componente ecológico
que não está lá só como verniz superficial. Parte do eleitorado “verde” que se
frustrou com Eva Joly, pode reencontrar novo alento, em Mélenchon.
Patriota
e franco-maçon, Mélenchon aplica-se também em fazer vibrar a corda republicana.
Seus comícios encerram-se sempre ao som de A Internacional, mas sempre seguida da
Marselhesa – o que tem suscitado
algumas discussões entre seus amigos.
A
fraca notoriedade dos candidatos da NPA e do Partido da Luta Operária, contribui
também para atrair para Mélenchon os votos de boa parte do eleitorado da extrema
esquerda. Desta vez, Mélenchon é o único a ocupar o espaço à esquerda do Partido
Socialista. Ora, aí havia 13,8% dos eleitores, em 2002; e apenas 9% em 2007,
apesar da lembrança do 21 de abril. Significa que Mélenchon terá de ultrapassar
a barreira dos 10% [hoje está com mais de 15% das intenções de voto], para
transformar seus talentos políticos e oratórios em real bom desempenho nas
urnas.
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