segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dez anos tentando...Hoje consegui ser atropelado!


José Flávio Abelha*

Restinga de Piratininga (Lagoa ao fundo)
(clique na imagem para ampliar)
De pronto, desejo excluir deste texto dois serviços que a Restinga de Piratininga possui.

Os policiais que cuidam dos chamados postinhos, na entrada da restinga e pras bandas do Tibau. É telefonar que eles, prontamente, num átimo, estão na sua rua ou na sua porta.

O outro serviço, importantíssimo, é a presença dos valorosos guarda-vidas que passam o dia cuidando de bêbados e afoitos que não obedecem aos avisos e bandeiras vermelhas, sinais de mar brabo, e se aventuram nas águas traiçoeiras da região oceânica.

Politicamente incorreto como sou, penso que os afoitos deveriam pagar pelo salvamento, coisa que toda a população faz através de impostos.

Os dedicados salvadores ganham um salário de fome, arriscam as suas vidas para salvar vidas alheias e nos pagamos a conta. Não é justo.

Mas, vamos ao acidente de hoje.

Uma das atrações que me levou a morar na restinga foi o calçadão. Dizem que o conjunto foi até premiado.

Av. Almirante Tamandaré (calçadão ao fundo)
(clique na imagem para ampliar)
Já lá se vão uns bons dez anos que, diariamente percorro, com passos rápidos e firmes, os tais cinco quilômetros que circundam a praia.

De princípio, só alegria e muitos mais caminhantes. Nada nos impedia nem molestava. Era a vida que qualquer vivente pediria aos seus orixás.

Com o tempo, as coisas foram se transformando.  Habitantes das cidades vizinhas descobriram o calçadão e, nos fins de semana, muita gente desconhecida no bairro foi aparecendo, caminhando, bebendo nos poucos quiosques e até fazendo churrasco nas areias. Isso mesmo, churrasco na praia, com direito a fumaça, brasas e cinzas.

Certa semana o mar resolveu cobrar o seu pedaço de areia. Ficou enfurecido e arrancou nacos do calçadão. E o mesmo não foi restaurado, foi remendado, deixando o antigo e famoso atrativo da restinga como se fosse uma boca desdentada, com inúmeras falhas. Os restos da grande muralha podem ser vistos a qualquer hora, existem partes em que mais parecem com o que restou da invasão da Normandia,o Dia D, com pedaços de muros de cimento e pedras. É só ir e verificar se isso é mentira ou intriga.

Mais um tempo e mais novidades.

Quiosques construídos em cima do calçadão, impedindo o ir e vir dos caminhantes,
uns até com deck’s para aumentar o espaço. Nos dias de grande movimento, quem se julgar incomodado que contorne o barzinho servindo-se da rua asfaltada, depois, de novo, a caminhada no outrora calçadão da restinga.

Outra novidade é a circulação de bicicletas, muitas, além de umas motocicletas e até  triciclos, circulando livremente, dividindo o espaço com os caminhantes, quando não apostam corridas com os quadriciclos nas areias, em grande velocidade.

Devo registrar também que nunca (estou dizendo NUNCA) vi uma autoridade circulando no calçadão ou nas ruas da restinga, caminhando como qualquer mortal. A minha rua é mal iluminada, de terra batida e não tem uma entrada decente pela av. Acúrcio Torres, mas o IPTU atinge as nuvens.

Autoridade, entenda-se como pessoas que tem mando e comando, da polícia municipal, estadual ou federal e dos políticos, com ou sem mandatos.

Praia de Piratininga  - apartamentos na orla .
Não há guardas municipais nem estaduais, circulando, como qualquer contribuinte do altíssimo IPTU que reina na restinga.

O Secretário Beltrame custou a aceitar o fato de que o pessoal que as Forças Armadas – Marinha, Aeronáutica e Aviação – expulsou de alguns poucos morros cariocas, atravessou a ponte (que precisa mudar de nome) e está aboletado nos morros de Niterói e flanando na região oceânica.

Para “pacificar” alguns morros cariocas as nossas Forças Armadas usaram do que possuem de mais moderno: helicópteros com foguetes, blindados, carros de assalto, tanques e tropa muito bem armada.

Agora, o senhor Secretário Beltrame enviou para Niterói uns tantos militares e uma certa quantidade de carros-patrulha que o povo já diz não dar pra meia missa.

Pois foi nessa arena, onde não a lei nem ordem, a restinga de Piratininga, que eu e minha mulher, como fazemos diariamente, estávamos caminhando na cadência de sempre, quando ouvimos um grito de menino: “sai da frente, sai da frente...” ao terceiro “sai da frente”, uns 3 segundos, eu estava sendo empurrado, naturalmente por trás, sem saber o que estava acontecendo e me esborrachei no calçadão, protegendo o rosto, mas esfolando a palma das mãos e a perna direita, em vários locais.

(Estou aqui batucando este desabafo cheio de curativos, nas mãos e na perna direita, que está esticada sem muita mobilidade,  em uma cadeira,).

O pai das crianças, não sei quantas nem quantas bicicletas, veio ajudar a me levantar e me pedir desculpas, ao que eu fui curto e grosso: não desculpo não, e o senhor deveria é dar educação aos seus filhos porque isto aqui não é pista de corrida.

Bobagem da minha parte. Como aquele chiste, minha admoestação, tenho a certeza, foi como “bala perdida” que entra num ouvido e sai no outro.


Houvesse no calçadão fiscais, esses abusos não aconteceriam.

Houvesse no calçadão policiais fazendo a ronda tipo cosme-e-damião, esses abusos não aconteceriam.

Resumo da ópera, nessa arena em que transformaram o outrora famoso calçadão da Restinga de Piratininga, eu enfrentei bicicletas, motos e cortando volta dos quiosques que atravancam o passeio, ou seja, banquei o toureiro por longa data.

Tanto insisti que um dia consegui: ser atropelado.

Certa vez disse o saudoso Ponte Preta que a situação de Niterói era tão dramática que “urubu estava voando de costas”.

Eu vou parafrasear o que se diz no México:
Pobre Niterói, tão longe de Deus e tão perto da impunidade.

Como consolo eu acredito que, um dia, as coisas vão chegar nos seus devidos lugares, visto que eu amo Niterói, gosto do seu povo, da sua gente alegre e muito trabalhadora.

Vista panorâmica de Praia de Piratininga - Niterói
Estou lamentando agora, e tão somente, essa tourada em que me meti hoje cedinho pois, terminada a caminhada, eu iria voar rumo a Belo Horizonte para abraçar meu grande amigo Ronaldo Cortez pelo casório do seu filho e, deveras lamentável, não me fartar no bufê da Bebel, sua esposa e competentíssima anfitriã.

Mas, como diria Drummond, no meu caminho havia uma bicicleta voando baixo.

*Mineiro, autor de “A MINEIRICE”, “PEQUENA INTRODUÇÃO Á TURISMOLOGIA” e outros livretes. Reside na Restinga de Piratininga/Niterói, onde é Inspector of Ecology da empresa Soares Marinho Ltd. Quando o serviço permite o autor fica na janela vendo a banda passar . Agora, agitante do blog JANELA DO MUNDO.

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