José
Flávio Abelha*
Restinga de Piratininga (Lagoa ao fundo) (clique na imagem para ampliar) |
De
pronto, desejo excluir deste texto dois serviços que a Restinga de Piratininga
possui.
Os
policiais que cuidam dos chamados postinhos, na entrada da restinga e pras
bandas do Tibau. É telefonar que eles, prontamente, num átimo, estão na sua rua
ou na sua porta.
O
outro serviço, importantíssimo, é a presença dos valorosos guarda-vidas que
passam o dia cuidando de bêbados e afoitos que não obedecem aos avisos e
bandeiras vermelhas, sinais de mar brabo, e se aventuram nas águas traiçoeiras
da região oceânica.
Politicamente
incorreto como sou, penso que os afoitos deveriam pagar pelo salvamento, coisa
que toda a população faz através de impostos.
Os
dedicados salvadores ganham um salário de fome, arriscam as suas vidas para
salvar vidas alheias e nos pagamos a conta. Não é justo.
Mas,
vamos ao acidente de hoje.
Uma
das atrações que me levou a morar na restinga foi o calçadão. Dizem que o
conjunto foi até premiado.
Av. Almirante Tamandaré (calçadão ao fundo) (clique na imagem para ampliar) |
Já
lá se vão uns bons dez anos que, diariamente percorro, com passos rápidos e firmes,
os tais cinco quilômetros que circundam a praia.
De
princípio, só alegria e muitos mais caminhantes. Nada nos impedia nem molestava.
Era a vida que qualquer vivente pediria aos seus orixás.
Com
o tempo, as coisas foram se transformando.
Habitantes das cidades vizinhas descobriram o calçadão e, nos fins de
semana, muita gente desconhecida no bairro foi aparecendo, caminhando, bebendo
nos poucos quiosques e até fazendo churrasco nas areias. Isso mesmo, churrasco
na praia, com direito a fumaça, brasas e cinzas.
Certa
semana o mar resolveu cobrar o seu pedaço de areia. Ficou enfurecido e arrancou
nacos do calçadão. E o mesmo não foi restaurado, foi remendado, deixando o
antigo e famoso atrativo da restinga como se fosse uma boca desdentada, com
inúmeras falhas. Os restos da grande muralha podem ser vistos a qualquer hora,
existem partes em que mais parecem com o que restou da invasão da Normandia,o
Dia D, com pedaços de muros de cimento e pedras. É só ir e verificar se isso é
mentira ou intriga.
Mais
um tempo e mais novidades.
Quiosques
construídos em cima do calçadão, impedindo o ir e vir dos
caminhantes,
uns
até com deck’s para aumentar o espaço. Nos dias de grande movimento, quem se
julgar incomodado que contorne o barzinho servindo-se da rua asfaltada, depois,
de novo, a caminhada no outrora calçadão da restinga.
Outra
novidade é a circulação de bicicletas, muitas, além de umas motocicletas e
até triciclos, circulando livremente,
dividindo o espaço
com os caminhantes, quando não apostam corridas com os
quadriciclos nas areias, em grande velocidade.
Devo
registrar também que nunca (estou dizendo NUNCA) vi uma autoridade circulando no
calçadão ou nas ruas da restinga, caminhando como qualquer mortal. A minha rua é
mal iluminada, de terra batida e não tem uma entrada decente pela av. Acúrcio
Torres, mas o IPTU atinge as nuvens.
Autoridade,
entenda-se como pessoas que tem mando e comando, da polícia municipal, estadual
ou federal e dos políticos, com ou sem mandatos.
Praia de Piratininga - apartamentos na orla . |
Não
há guardas municipais nem estaduais, circulando, como qualquer contribuinte do
altíssimo IPTU que reina na restinga.
O
Secretário Beltrame custou a aceitar o fato de que o pessoal que as Forças
Armadas – Marinha, Aeronáutica e Aviação – expulsou de alguns poucos morros
cariocas, atravessou a ponte (que precisa mudar de nome) e está aboletado nos
morros de Niterói e flanando na região oceânica.
Para
“pacificar” alguns morros cariocas as nossas Forças Armadas usaram do que
possuem de mais moderno: helicópteros com foguetes, blindados, carros de
assalto, tanques e tropa muito bem armada.
Agora,
o senhor Secretário Beltrame enviou para Niterói uns tantos militares e uma
certa quantidade de carros-patrulha que o povo já diz não dar pra meia
missa.
Pois
foi nessa arena, onde não a lei nem ordem, a restinga de Piratininga, que eu e
minha mulher, como fazemos diariamente, estávamos caminhando na cadência de
sempre, quando ouvimos um grito de menino: “sai da frente, sai da frente...” ao
terceiro “sai da frente”, uns 3 segundos, eu estava sendo empurrado,
naturalmente por trás, sem saber o que estava acontecendo e me esborrachei no
calçadão, protegendo o rosto, mas esfolando a palma das mãos e a perna direita,
em vários locais.
(Estou
aqui batucando este desabafo cheio de curativos, nas mãos e na perna direita,
que está esticada sem muita mobilidade,
em uma cadeira,).
O
pai das crianças, não sei quantas nem quantas bicicletas, veio ajudar a me
levantar e me pedir desculpas, ao que eu fui curto e grosso: não desculpo não, e
o senhor deveria é dar educação aos seus filhos porque isto aqui não é pista de
corrida.
Bobagem
da minha parte. Como aquele chiste, minha admoestação, tenho a certeza, foi como
“bala perdida” que entra num ouvido e sai no outro.
Houvesse
no calçadão fiscais, esses abusos não aconteceriam.
Houvesse
no calçadão policiais fazendo a ronda tipo cosme-e-damião, esses abusos não
aconteceriam.
Resumo
da ópera, nessa arena em que transformaram o outrora famoso calçadão da Restinga
de Piratininga, eu enfrentei bicicletas, motos e cortando volta dos quiosques
que atravancam o passeio, ou seja, banquei o toureiro por longa
data.
Tanto
insisti que um dia consegui: ser atropelado.
Certa
vez disse o saudoso Ponte Preta que a situação de Niterói era tão dramática que
“urubu estava voando de costas”.
Eu
vou parafrasear o que se diz no México:
Pobre
Niterói, tão longe de Deus e tão perto da impunidade.
Como
consolo eu acredito que, um dia, as coisas vão chegar nos seus devidos lugares,
visto que eu amo Niterói, gosto do seu povo, da sua gente alegre e muito
trabalhadora.
Vista panorâmica de Praia de Piratininga - Niterói |
Estou
lamentando agora, e tão somente, essa tourada em que me meti hoje cedinho pois,
terminada a caminhada, eu iria voar rumo a Belo Horizonte para abraçar meu
grande amigo Ronaldo Cortez pelo casório do seu filho e, deveras lamentável, não
me fartar no bufê da Bebel, sua esposa e competentíssima
anfitriã.
Mas,
como diria Drummond, no meu caminho havia uma bicicleta voando baixo.
*Mineiro,
autor de “A MINEIRICE”, “PEQUENA INTRODUÇÃO Á TURISMOLOGIA” e outros
livretes. Reside na Restinga de Piratininga/Niterói, onde é Inspector of
Ecology da empresa Soares Marinho Ltd. Quando o serviço permite o autor fica
na janela vendo a banda passar . Agora, agitante do blog JANELA DO
MUNDO.
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