Zorô |
Zoroastro Sant’Anna - Jornalista e cineasta
Coluna -
Nosso Homem nº 12 (enviada pelo autor)
Nasci e
cresci ouvindo dizer que o brasileiro não tem memória, não tem vergonha, só quer
saber de cachaça, mulher e carnaval, é preguiçoso, é ladrão e mais uma série de baixas estimas que só
descobri a verdade quando fui morar no exterior por forças das circunstâncias e
por forças armadas.
Num curso na
Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, assisti um filme onde uma coisa
estranha se mexia em close na tela. Na medida em que a câmera se afastava da
coisa, percebia-se que ela borbulhava. Afastando mais dava para ver que a coisa
era finita, tinha contornos. A câmera ia se afastando até revelar um ovo sendo
frito na frigideira. O que filme
ilustrava era uma aula sobre a necessidade de se afastar do centro dos
problemas, do centro das coisas para poder entendê-las melhor.
Assim foi
para mim quando me afastei e pude ver melhor o meu país. Lembrei que os péssimos
transportes coletivos estavam sempre abarrotados de trabalhadores às quatro
horas da manhã, como essa gente poderia ser preguiçosa, embora também gostasse de carnaval?
Desonesto? E o faminto lixeiro que achou R$ 20 mil e devolveu? Descobri então
que tudo que atribuíam ao povo eram qualidades dos políticos, que tiravam de
seus ombros essas pechas e as atiravam no peito do povo, para que ele perdesse a
sua dignidade e a sua voz e entregasse o
seu voto como forma de “me desculpem por ser brasileiro”.
Quanto a não
ter memória, o fato é que a grande imprensa é que apaga a nossa memória. Ávida por manchetes
escandalosas e quentinhas do dia, “esquecem” os assuntos vitais da nação.
No meu tempo
de jornalista profissional, havia um quadradinho que se publicava no final de um
assunto já sabido, explicando o fato desde o comecinho para que o leitor
lembrasse de como tudo se iniciou e compreendesse melhor o desdobramento do
acontecido. O jornalismo “moderno” jogou o quadrado no redondo buraco sem fundo
do esquecimento.
Por exemplo,
qual veículo grande da mídia tem
acompanhado os grandes escândalos como os famigerados políticos ladrões da
Operação Sanguessuga, que superfaturavam ambulâncias? E a Operação Navalha que
em Sergipe envolveu o governo de João Alves , algemou seu filho,
desmascarou e prendeu o chefe da Casa Civil, Flávio Conceição? A Operação
Navalha desvendou o esquema de corrupção do empresário Zuleido Veras, da
Construtora Gautama, que superfaturava obras do PAC e distribuía “dividendos”
aos políticos corruptos.
Agora me
aparece uma versão tupiniquim de O Médico
e o Monstro, do escocês Robert Louis Stevenson, livro publicado em 1886. O
senador do DEM Demóstenes Torres, 128 anos depois, encarna com desenvoltura e
primor os personagens Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Ele, enquanto Mr. Hyde Torres,
cidadão exemplar, defendia com unhas e dentes a moralidade: “Bandido perigoso
tem que ir para a cadeia. O DEM não bate
palmas e nem passa a mão na cabeça de corrupto...” dizia ele de dedo em
riste. E agora? Palmas para ele! Ele, enquanto Dr. Jekyll Torres, médico
malvado, abocanhou milhões fazendo lobby explícito para um criminoso preso
pela Polícia Federal.
Dr. Jekyll Torres chamava o criminoso de
“professor” do qual certamente é um bom aluno.
A grande
imprensa minimiza a periculosidade do preso Carlinhos Cachoeira atribuindo a ele
a denominação de “contraventor”, sem citar que atrás da cortina dos jogos
ilegais que ele controla, segundo a Operação Montecarlo da Polícia Federal, e esconde-se o crime organizado, com sequestros, assassinatos e lavagem de
dinheiro.
Não se trata
de um simples batedor de carteiras ou um espertinho 171, é crime pesado com
desdobramentos e ramificações nas estruturas políticas de Goiás e do país.
A Secretária
do governador de Goiás acaba de cair acusada de ligações com o mesmo criminoso.
Mais quatro deputados também já estão sem dormir.
Dr. Jekyll Torres foi Procurador do Estado e
Secretário de Segurança de Goiás, não há como dizer que não sabia das atividades
criminosas do seu sócio encarcerado. Já Mr. Hyde Torres costumava falar que
“...todo bandido nega tudo”, dizia isso em relação ao suspeito senador Renan
Calheiros. Mr. Hyde Torres, ainda
sobre Renan, lamentava que “A imagem do Senado, hoje, é a de um pau de
galinheiro”.
Contam que
um ladrão surpreendido com um porco às costas, assim que o havia roubado, se
defendeu do flagrante: “Porco? Que porco?” O policial respondeu: “Esse porco
aí,nas suas costas.” Porco nas minhas costas? Ái, sai daí porco, sai daí”. Assim
foi que o generoso DEM tratou o seu senador Demóstenes Torres.
Torrado pela
opinião pública, Demóstenes se tornou um estorvo para as pretensões do DEM na
próximas eleições municipais, era preciso descolá-lo da agremiação. O Partido,
nas figuras impolutas de ACM Neto, conhecido como Grampinho, senador Agripino Maia
(presidente do DEM) e Ronaldo Caiado, se apressou em expulsá-lo “sai daí, porco,
sai daí”. Mas o porco se adiantou e pediu para sair. Pede pra
sair!
Dr. Jekyll/Mr Hyde tinha um advogado chamado
John Utterson que manobrava com essas duas doentias personalidades. O senador
Demóstenes Torres tem ao seu lado o causídico Antônio Carlos de Almeida Castro, mais
conhecido como Kakay, que defende a tese de que qualquer acusação contra o
senador não tem fundamento jurídico porque as escutas foram feitas sem ordem
judicial e, tendo o senador foro privilegiado; a ordem judicial teria que ser
expedida pelo Supremo Tribunal Federal, o que não
aconteceu.
Pois veja o
caro amigo leitor que por uma firula jurídica, Dr.Jekyll Torres poderá escapar das garras
da Lei e da Justiça. Mais uma vez a impunidade continuará a premiar crápulas da
pior espécie, impunidade que não é ocasional, mas sim sistemática e sistêmica,
porque as leis que os protegem foram criadas por esses mesmos criminosos e é
óbvio que ninguém legisla contra si próprio. Razão pela qual a impunidade graça
país afora, inclusive nas plagas sergipanas, onde até hoje ninguém está preso ou
condenado pela sangria dos cofres públicos revelada pela Operação Navalha, onde
o principal envolvido oculto aspira concorrer nas próximas eleições sob a
bandeira do DEM, do Demóstenes.
Coisas do DEMO, não é?
·
Gol contra – A reestruturação levou a Gol a
demitir 86 pilotos e co-pilotos, além de 45 comissários. A empresa aérea amargou
um prejuízo em 2011 de R$ 710 milhões, reduziu em 80 os seus 900 voos diários. A
desculpa foi o alto custo do querosene. Tem algo a mais no ar além dos poucos
aviões de carreira. Um setor que cresce alucinadamente dispensar funcionários e
reduzir vôos tem que ter um grave problema de gestão.
Aguardem.
·
Leilão – A Presidenta Dilma já decidiu
que o leilão dos aeroportos do Galeão, no Rio e Confins, em Belo Horizonte vai
acontecer logo depois das eleições municipais. Os aeroportos de Brasília,
Viracopos e Guarulhos já foram leiloados. Comenta-se que um aeroporto do
Nordeste também será leiloado, Salvador ou Santa Maria?
·
Samba gay– O escritor carioca Paulo Lins,
ex-morador da favela Cidade de Deus, que deu nome ao seu livro que virou filme
de sucesso nas mãos de Fernando Meirelles, lança agora Desde que o Samba é Samba, 600 páginas
sobre a origem do samba no bairro do Estácio. Paulo Lins revela o
homossexualismo de Ismael Silva, um dos pais
do samba, que procurava programas com homens junto com Mário de Andrade, pai do Modernismo e também
gay.
·
Cacá – O cineasta alagoano Cacá Diegues,
naturalizado carioca, tem mostra e debates na Caixa Cultural, na Avenida
Almirante Barroso, esquina da Avenida Rio Branco. Sempre às 17h20min até 15 de
abril. Entre as obras do cineasta estão Ganga Zumba, Bye, Bye Brasil, Chuvas de
Verão e Chica da Silva. Entradas
a R$ 4.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.