14/4/2012,
*MK Bhadrakumar, Indian
Punchline
Traduzido pelo
pessoal da Vila
Vudu
Entreouvido
na Vila Vudu: Fato
é que, se os brasileiros dependêssemos da mídia-empresa que há por aqui, e dos
“especialistas” em Oriente Médio da Rede Globo (os da GloboNews são ainda mais atrasados,
atrasistas e metidos a besta!), JAMAIS saberíamos do que aqui se
lê.
A
possibilidade de o Irã ter pleno e total direito ao seu programa nuclear para
finalidades civis absolutamente não existe na opinião fraquíssima dos
“especialistas” de araque e ex-ministros de governos anteriores (e já derrotados
DUAS VEZES!) em eleições democráticas, que a mídia-empresa do Grupo GAFE
(Globo-Abril-FSP-Estadão) insiste em tentar impingir aos
leitores-eleitores-consumidores de jornalismo no Brasil.
O
impossível acontece:
Os “especialistas” e ex-ministros entrevistados por William Waack no canal
(pago) GloboNews ou publicados nas
páginas (que os consumidores também temos de pagar para ler!) de O Globo,
Estadão, Folha de S.Paulo e revista (NÃO)Veja são mais
atrasados, atrasistas e reacionários, até, que a Hilária Clinton! [risos, risos,
risos]
O
que se lê aí abaixo é também sinal muito claro de que o Irã conseguiu resistir a
longo tempo de
(1)
uma inacreditável pressão feita contra o país por EUA-Israel; e
(2)
às dificuldades da própria política interna.
E
o Irã chega agora à mesa de negociações em posição indiscutivelmente vitoriosa.
Grande Irã! (E em vários sentidos, também, grande Obama, o
liberal-coitado...)
Há otimismo cauteloso sobre as
conversações entre o P5+1 [os “Irã6”, os cinco membros permanentes do Conselho
de Segurança da ONU + Alemanha] e o Irã, iniciadas no sábado, em Istambul (ver
AP [1],NYT [2], CSM [3], Reuters [4]). Há sinais disso, dos dois
lados, bem claros, vindos dos protagonistas, ao longo da última semana, e vindos
inclusive do presidente dos EUA Barack Obama [5]. A Casa Branca já falou até de
“ações recíprocas responsáveis, em resposta a ações concretas dos iranianos”.
Quer dizer: Obama tem interesse em dar os passos necessários para encontrar-se
com os iranianos no meio do caminho.
Até o Washington Post
publicou um raro artigo assinado pelo ministro das Relações Exteriores do Irã,
Ali Akbar Salehi [6], como tema de abertura, uma
espécie de “abrem-se as cortinas”, das conversações em Istambul. O cerne da
manifestação de Salehi é que Teerã fala sério, sobre negociar [7] um acordo amplo. Ninguém espera
eventos dramáticos em Istambul, mas o sinal positivo é que já há indicações de
que as conversações prosseguirão em maio, em Bagdá. Teerã deu sinais de que
talvez apresente propostas novas [8] na reunião de Istambul.
Além disso, o ex-presidente do
Irã, aiatolá Ali Akbar Rafsanjani, tradicionalmente identificado com a escola de pensamento
de Teerã, e que defende a normalização das relações com os EUA e a Arábia
Saudita, voltou à cúpula do poder iraniano. E semana passada, a revista
especializada International Studies de Teerã [9] publicou longa entrevista com
Rajsanjani, com extensa e profunda crítica à política externa do governo
Ahmadinejad. Aqui, alguns excertos:
“A
atual atitude em
relação aos EUA , segundo a qual nós [o Irã] não conversamos nem
podemos estabelecer nenhum tipo de relação, não pode ser mantida. Os EUA são o
país mais poderoso do mundo. Que diferença haveria, do nosso ponto de vista,
entre Europa e EUA, China e EUA, e Rússia e EUA? Se mantemos conversações com
esses outros países, por que não com os EUA? Conversar não implica rendição.
Conversamos, para ver se aceitarão nossa posição ou se aceitaremos a deles. Nada
além disso.”
“Eu
quis estabelecer relações com o Egito, mas não consegui. Quis iniciar
negociações com os EUA, sob as condições que fixei, mas não consegui. Não ter
conseguido não significa que eu não tenha querido fazer.”
“Nossas
relações com a Arábia Saudita também é questão importante. Em primeiro lugar, é
país rico; e muitos clérigos islâmicos mantêm algumas relações com a Arábia
Saudita, por causa do Hajje das
peregrinações. Esses também se interessam por melhores relações. Os sauditas
fazem consertos e cuidam da conservação de várias mesquitas e publicam o Corão.
Oferecem inúmeros recursos para a divulgação de assuntos religiosos e outros. O
que a Universidade Al Zahra costumava fazer no Egito é serviço que, agora, os
sauditas prestam, em boa parte. Inclusive
trabalhos acadêmicos. E há, ainda mais importante, a questão do petróleo. Se
mantivéssemos boas relações com a Arábia Saudita, o ocidente teria inventando
essas sanções contra o Irã? Só a Arábia Saudita pode substituir o Irã [no
petróleo]. A Arábia Saudita não precisa fazer coisa alguma. Basta que os
sauditas se limitem a produzir só o petróleo exigido pela quotas da OPEC, e
ninguém mais poderia atacar o Irã. Isso, porque a economia ocidental não
funciona sem nosso petróleo. Acredito que ainda é possível construir boas
relações [com a Arábia Saudita]. Mas há gente aqui [em Teerã] que não quer isso.
Vocês, especialistas em negócios internacionais e política internacional, sabem
disso. Se lançarem uma só palavra irresponsável, a reação será imediata. Parte
da retórica mais dura, que vem dos dois lados, não é aceitável e tem de ser
corrigida.”
“Se
inserirmos nossa política de ajuda ao Líbano e à Palestina no contexto da
política internacional certa, não teremos problema algum. Se corrigirmos o clima
reinante em nossas relações com o mundo, então poderemos separar essa questão.
São posições [i.e, a ajuda ao Hezbollah e ao Hamás] defensáveis, desde que não
as usemos para criar problemas para os outros [i.e, para EUA e Israel], e desde
que os deixemos continuar a fazer os seus negócios. Desde que o governo [do Irã]
não tome atitudes de aventureirismo pelo mundo, essas questões [ajuda ao Hamás,
ao Hezbollah] são toleradas.”
“Não
temos qualquer intenção de construir armas atômicas, e não temos sistemas
nucleares militares. Uma vez, eu mesmo disse aos israelenses ocupantes que armas
nucleares não são interessantes para Israel, se algum dia irromper alguma guerra
nuclear. Israel é país pequeno demais para suportar um arsenal nuclear, e todos
os seus recursos seriam facilmente destruídos. Eles interpretaram meu conselho
como ameaça, mas, mesmo assim, acreditamos profundamente que não deve haver
armas nucleares nessa região. Esse tem sido um dos princípios de nossas
políticas, como nunca deixou de ser e ainda é.”
O que está acontecendo? A
reinstauração de Rafsanjani na posição que já ocupou, como presidente do
poderoso Expediency Council, é mais
um sinal claro que uma linha de pragmatismo político está operando para
afirmar-se, num momento em que as muitas facções internas tumltuam a estrutura
política do Irã. Vale a pena ler o artigo de Mansour Salsabili [10], alto funcionário do Ministério
de Relações Exteriores do Irã, atualmente em Harvard para um ano sabático.
(Muito interessante, isso sim, que EUA e Irã deem-se tanto trabalho, como hoje
se vê, para manter abertas as linhas de comunicação entre os dois
países!)
Notas dos tradutores
[1] 13/4/2012, Blooberg-Business Week em: “Iran, 6 powers may
make progress at nuclear talks”
[2] 13/4/2012, New York Times
em: “As
Nuclear Talks With Iran Restart, New Hopes for Deal”
[3] 13/4/2012, The Christian
Science Monitor em: “Iran
nuclear talks: Why there's hope for progress this time”
[4] 13/4/2012, Reuters em:
“Powers
seek to ease nuclear deadlock with Iran”
[5] 13/4/2012, ABC News
(OTUS) em: “Obama
to Iran: It's your move in nuclear talks”
[6] 12/4/2012, Washington
Post em: Iran: “We do not want nuclear
weapons”
[7] 12/4/2012, Washington Post em: “Iran:
We do not want nuclear weapons”
[8] 13/4/2012, ABC News (OTUS) em: “Iran:
We do not want nuclear weapons”
[9] A entrevista só é acessível a assinantes. Há longa
matéria sobre a entrevista em 11/4/2012, Payvand Iran News em: “Rafsanjani Critiques Iran's
Foreign Policy: I Wanted to Directly Talk With the US” . E em Iran Politik em 11/4/2012, “IRGC
general fires back at Rafsanjani on the state of US-Iran relations”,
lê-se uma resposta do Corpo dos Guardas Revolucionários Iranianos àquela
entrevista. Nada é fácil. [10] 13/4/2012, The Science Monitor em: “Iran
talks: Why time is ripe for compromise”
*MK
Bhadrakumar
foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do
Afeganistão e Paquistão e escreve
sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais The
Hindu, Asia Online e Indian
Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
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