7/4/2012, *MK
Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
“Obama opõe-se frontalmente à linha de ação
aprovada na reunião de Istambul, de a Arábia Saudita armar os “rebeldes”
sírios”. [1]
Entreouvido
na Vila Vudu:
Taí... Obama parece estar contra a Hilária e o Pentágono e a Arábia Saudita (e
também contra o Kissinger [2], que tá velho, mas ainda morde, e
Israel) e com eleições pela frente. A vida não tá fácil, nem pros liberais de
Harvard, nos EUA... Parece que há muito mais coisas em jogo, nas eleições dos
EUA, do que faz crer o miserável jornalismo brasileiro e os tais tolos
“analistas” à moda do William Waack...
O presidente da Comissão de
Assuntos Internacionais da Duma (Parlamento) russa, Alexey Pushkov
alertou que o deslocamento do sistema de mísseis de defesa dos EUA no Golfo
Persa é sinal de que pode estar em preparação um ataque militar ao Irã [3].
Peshkov é político influente, próximo do Kremlin, com acesso à inteligência
russa; o que diz, portanto, merece atenção.
De
fato, houve outros alertas desse tipo, no nível do establishment militar
e de segurança em Moscou. O comandante geral do exército russo, general Nikolay
Makarov, disse recentemente que, em sua avaliação, é possível um ataque militar
dos EUA ainda nesse verão. “O Irã é ponto nevrálgico (para os EUA). Acho que
tomarão alguma decisão no verão”.
O alerta de Pushkov faz sentido,
dado que o sistema de mísseis antibalísticos visa a neutralizar a capacidade do
Irã para retaliar [4]
.
Pushkov associou seu comentário à decisão, dos alemães, de vender seis
submarinos classe Dolphin a Israel, que descreveu como abominável, porque amplia
a capacidade de Israel montar ataque pelo mar.
Fato é que alguma coisa parece,
sim, estar em preparação. Pequim, na 6ª-feira, lançou sua mais forte declaração,
até agora, contra qualquer ataque militar ao Irã [5].
E
não há dúvidas de que a retórica dos EUA para o Irã assumiu outra vez tons muito
ameaçadores. Em visita a Riad , no sábado, para
acertar os últimos detalhes do deslocamento dos mísseis antibalísticos e no
caminho para a reunião dos “Amigos da Síria” em Istambul no domingo, a
secretária de Estado Hillary Clinton subiu ainda mais o tom da retórica de
agressão (ou provocação).
Na volta a Washington, avisou que
Teerã não force os limites da paciência dos EUA [6]. O EUA
voltaram a falar grosso, culpando o Irã por suas agruras no Afeganistão –
questão que ecoa na opinião doméstica, nos EUA. E tudo isso, só na última
semana.
A retórica mudou sem qualquer
razão visível, e destoa da trilha política prevista para as conversações do
grupo “P5+1” , marcadas para 13 de abril. O tom de
Clinton tornou-se cada vez mais ameaçador [7], o que
só pode ter efeito de provocação, em Teerã.
Estarão
os EUA lançando campanha de “guerra psicológica”, pensando em amolecer a posição
do Irã, com vistas às conversações do “P5+1” ? Ou, então, será que o governo Obama
concluiu que nada sairá, mesmo, daquelas conversas? Outra vez, será que Obama
está desistindo, pressionado pelas exigências de ano eleitoral, no plano
interno? Ou será que está em posição de nada poder negar à Arábia Saudita – já
furiosa com o que chama de ‘falta de espinha dorsal’ de Obama, e ele já desistiu
de Síria e Irã?
Talvez, e pode ser a explicação
mãe de todas as explicações, Obama quer apenas que os sauditas não parem de
bombear petróleo extra, para manter baixos os preços do combustível até as
eleições, para impedir que os consumidores respondam à carestia, nas urnas; e,
assim sendo, Obama teria de fazer um favor aos sauditas? É a explicação de
Donald Trump – sempre bem informado quando se trata de dinheiro [8].
Não
há, no momento, resposta fácil para essas perguntas. Fato é que o caminho da paz
é arriscado para Obama, porque, para ser bem-sucedido nas negociações, é preciso
que os EUA sejam flexíveis, assim como se espera que Teerã faça concessões.
Enquanto isso, resta pouco espaço de manobra para Obama. E, por outro lado, a
atitude politicamente mais segura para ele será mostrar-se “super falcão”,
em relação ao
Irã.
O mais recente vazamento pelos
jornais, sobre a “abertura” de Obama para ao Irã [9] visa,
provavelmente, a abrir caminho para que, adiante, Obama diga que estava
preparado para avançar nas negociações com o Irã, mas a teimosia e a
intransigência de Teerã frustrou sua luta pela paz. Por essa via, não é difícil
forçar um pouco mais o argumento, e justificar um eventual ataque militar.
Os EUA obviamente estão investindo
todas as esperanças na ideia de que o Irã receberá sem reagir os golpes de
EUA-Israel. Nada menos garantido. Claro que os EUA têm vasta superioridade sobre
o Irã. Um show de “choque e pavor” pela tela da rede CNN impressionará o
público norte-americano, que verá que, sim, o comandante-em-chefe é homem durão.
E talvez também consiga melhorar o humor dos xeiques das monarquias do Golfo.
Mas... e depois? Dentre as respostas “assimétricas” do Irã, com certeza o país
se retirará do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Depois disso, que opções
restarão a Obama? [10]
Bombardear o Irã a cada seis meses?
Notas
dos tradutores
[1]3/4/2012, Gilbert Achcar, redecastorphoto em: “EUA
temem que a queda de Assad implique dificuldades ainda maiores para eles e para
Israel”.
[2]
7/4/2012, redecastorphoto em: Pepe Escobar, “Queremos guerra e tem de ser
já!” .
[3] 6/4/2012, Russia Today,
em: “US
missile defense plans may signal strike on Iran, Russia
warns”.
[4] 31/3/2012, Washington
Post, Karen DeYoung em: “Clinton
meets with Gulf nations over missile defense”.
[5] 6/4/2012, Haaretz, em:
“China
ups the pressure to prevent a strike on Iran's nuclear
facilities”.
[7] 5/3/2012, First Post, em:
“All
options open to prevent Iran from going nuclear: Clinton”.
[8] 6/4/2012, Money News, em: “Trump:
Obama Has Deal With Saudis to Cut Oil Prices Before
Election”.
[9] 6/4/2012, Washington
Post, David Ignatius em: “Obama’s
signal to Iran”.
[10] 5/4/2012, Global News, Charles Gray em: “Iran
war would be quick victory, long defeat”.
*MK
Bhadrakumar foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do
Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e
segurança para várias publicações, dentre as
quais The
Hindu, Asia
Online e Indian Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
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