11/4/2012, Pepe Escobar, Asia Times Online
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Pepe Escobar |
Há
um vídeo [1] cujo título poder-se-ia
traduzir mais ou menos como “fronteira turca terrorista abre fogo contra o lado
sírio”, e que resume bastante bem o que está acontecendo naquele ponto de
geopolítica mais ultravolátil do momento.
A
voz que se ouve diz: “Essa é a fronteira Síria-Turquia, e aí se vê uma operação
do Exército Sírio Livre [orig. Free Syrian Army (FSA)]. O Portão [que vem
a ser o lado sírio da fronteira, onde se localiza o posto de controle] está para
ser tomado”.
O
que se vê, é a Turquia está dando abrigo ao Exército Sírio Livre, bem junto à
fronteira, a poucos metros (metros, não quilômetros) do território sírio. Bem
mais do que abrigar um centro de comando e controle da Organização do Tratado do
Atlântico Norte, OTAN, em Iskenderun já há meses – fato que Asia Times
Online já noticiou – a Turquia agora já avançou sobre a fronteira,
permitindo um ir e vir constante de mercenários fortemente armados, em ataque
contra país soberano.
Imagine
cenário como esse, mas transferido para a região da fronteira EUA-México; com,
por exemplo, os estados do Arizona ou Texas atacados por mercenários pesadamente
armados, várias vezes por dia.
Pode-se
ver aí uma interpretação muito esquisita, que Ankara dá ao que sejam “paraísos
seguros” e “corredores humanitários”, delineados como o que já se pode ver como
rascunho da mudança de regime na Síria: relatório [2] feito pelo Saban Center da Brookings Institution,
assinado pelo coquetel habitual de militantes de “Israel-acima-de-tudo” e
“especialistas” em Oriente Médio aliados do Qatar.
Por
tudo isso, esperem até ver esse filme gerar incontáveis sequelas; o Exército
Sírio Livre atacando um posto sírio de controle de fronteira, matando soldados e
recuando sob uma saraivada de balas, que inevitavelmente atingirão um campo
próximo, de refugiados sírios.
A
escalada na fronteira ilustra claramente o cenário geral: guerra civil.
O
ministro turco de Relações Exteriores Ahmet Davutoglu – da afamada política de
“zero problemas com nossos vizinhos” – teve de interromper abruptamente sua
viagem à China e voltar à Turquia, por causa da escalada na fronteira. Seria
muito iluminador saber como a liderança de Pequim contou a Davutoglu que o
movimento de agentes provocadores turcos é equivalente a brincarem com fogo.
A
escalada na fronteira também prova que a OTAN tem zero interesse no sucesso do
cessar-fogo que tantos ostentam, conhecido como “plano Kofi Annan (que, de fato,
não passa de versão diluída dos planos de russos e chineses). A confusão só fará
aumentar – como sugeriu matéria de Russia Today. [3]
Obviamente,
um governo soberano – nesse caso, a Síria – teve de exigir garantias escritas de
que seus oponentes super armados cumpririam a parte que lhes cabe, no
cessar-fogo de Annan.
A
razão mais importante pela qual não cumprirão – o que, aliás, já declararam
publicamente – é que não só o Exército Sírio Livre e outros grupos mercenários
continuarão a ser armados pelo Qatar e pela Casa de Saud, recebendo pitadas de
“rebeldes” líbios que acorrem à Síria; há também dois países membros do Conselho
de Segurança da ONU (Grã-Bretanha e França – que têm forças em campo, dedicadas
a operações de treinamento, de inteligência e de combate.
A
pergunta que vale um trilhão de liras turcas é se Ancara dará um passo adiante e
realmente implantará os tais “paraísos seguros”; seria envolvimento direto da
Turquia na guerra civil síria, quer dizer: seria declaração de guerra contra
Damasco. É precisamente o que o Exército Sírio Livre está suplicando que os
turcos façam. Mas nem isso bastará para derrubar o governo de Bashar al-Assad.
Quanto ao aparato do estado policial
militar de Assad, terá de ser suficientemente esperto para não se deixar
arrastar, por provocação, para uma orgia de tortura, execuções sumárias e
bombardeios de artilharia pesada – porque essa capacidade de automoderação é
condição necessária para que Assad mantenha o apoio diplomático chave dos dois
BRICs, China e Rússia. Mais uma vez, os sírios médios, colhidos no meio disso
tudo, serão os mais trágicos perdedores.
Notas
dos tradutores
[1] Assista em:
[2] Leia o Relatório em: “Saving
Syria: Assessing Options for Regime Change”, em inglês.
[3] Leia, em inglês, e assista em:
Syrian
rebels “using Turkish refugee camps as base”. Vídeo a
seguir:
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