quinta-feira, 19 de abril de 2012

CARTA PARA ADRIANO, A CARTA DA MORTE


Zoroastro Sant’Anna - jornalista e cineasta
Nosso Homem - 14 (enviado pelo autor)

Depois de atender um telefonema, o homem se prepara tranquilamente para ir à praia de Ipanema quando seis homens em trajes civis e fortemente armados arrombam a porta do seu apartamento e o intimam a acompanhá-los. A mulher, assustada, ameaça chorar e o que parecia ser o chefe do grupo garantiu que era “só uma formalidade”.  Quatro homens ficam no apartamento enquanto dois seguem com o preso que vai no seu próprio fusca, dirigido por um dos invasores.

A primeira parada é na 3ª Zona Aérea quando lhe é perguntado ameaçadoramente por um militar do CISA-Centro de Informações e  Segurança da Aeronáutica qual é a verdadeira identidade de “Adriano”. Como não disse nada, o preso, depois de algumas bofetadas, é conduzido ainda em seu fusca, para o DOI-CODI (Destacamento de Operações e Informações-Centro de Operações de Defesa Interna), sediado no quartel da Polícia do Exército, na Quinta da Boavista.


Enquanto isso, a filha do casal de apenas 15 anos chega da praia e é segura pelos homens que ficaram no apartamento. Eles revistam o local e acham um trabalho de escola do Colégio Notre Dame de Sion, onde a menina estudava. O trabalho era de História, sobre o movimento de liberação na antiga Tchecoslováquia. Um dos homens perguntou se era um trabalho comunista, a menina tentou explicar que era o contrário, era sobre a tentativa tcheca para se livrar da dominação soviética, “mas você é comunista?”, insistiu o homem armado. Então, dois homens levam a mãe e a filha encapuzadas para o mesmo quartel da PE, onde estava o pai.

As duas foram submetidas a intenso interrogatório, a filha foi liberada no dia seguinte. A mãe, incomunicável, só doze dias depois, quando ela reuniu os amigos e saiu em busca do marido preso. Em todas as unidades militares a resposta era uma só: “ele nunca esteve aqui”. Durante esta busca, o preso estava sendo barbaramente torturado no quartel do Io.  Exército com afogamentos, pau-de-arara, cadeira do dragão, pianola Boilensen, telefones, maçarico, alicate nos dentes e outros métodos criteriosamente ensinados pelo capitão americano Charles Chandler, agente da CIA, deslocado para o Brasil para esse fim específico e que foi metralhado e morto pela guerrilha.

Não é um conto de horror nem um filme sombrio. Esta é parte da história do ex-deputado federal Rubens Beirodt Paiva (PTB), ativista do movimento pela criação da Petrobras, cassado pela ditadura militar por ter sido membro da CPI que investigava o IPES-IBAD, Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais/Instituto de Ação Democrática, que financiavam palestrantes que discorriam sobre a “ameaça vermelha”. Rubens Paiva descobrira que vários generais, agora no poder, haviam recebido milhares de dólares destes institutos.

Preso em 20 de janeiro de 1971, durante o regime do general Emilio Garrastazu Médici, Rubens Paiva nunca mais apareceu, seu corpo nunca foi encontrado apesar do Governo ter emitido seu atestado de óbito em 1988 e entregue a sua mulher, Eunice Paiva, que se formou em Direito com o objetivo exclusivo de esclarecer o desaparecimento de seu marido, uma luta que dura 41 anos e que ela promete levar adiante até o dia da sua própria morte.


Os responsáveis pelo assassinato de Rubens Paiva tem nomes e rostos: o coronel Ronald José da Motta Batista Leão, que foi chefe da IIa. Sessão do I0.  Exército, o Capitão de Cavalaria João Câmara Gomes Carneiro, apelidado na Academia Militar de João Cocô, o sub-tenente Ariedisse Barbosa Torres, o ex-major PM-RJ, Riscala Corbage e o segundo-sargento Eduardo Ribeiro Nunes.

Os serviços de segurança da época queriam saber a verdadeira identidade de “Adriano”, suposto contato do capitão revolucionário Carlos Lamarca, a quem Rubens Paiva deveria entregar uma carta vinda do Chile, onde estava a maioria dos asilados políticos brasileiros. “Adriano” é Carlos Alberto Muniz, atual vice-prefeito do Rio de Janeiro, assim como “Stella” é Dilma Vana Rousseff Linhares, nossa atual Presidenta. Rubens Paiva, apesar de cientifica e cruelmente torturado, assim como a Presidenta Dilma que ficou presa em São Paulo por três anos, nunca revelou a identidade de Adriano e nem quem enviara a carta que o matou.

Fatos como este são muitos neste país, foram 1.918 comprovadamente torturados, dos quais dezenas de desaparecidos. Este que agora escreve tem o companheiro de lutas Sergio Landulfo Furtado desaparecido até hoje. A morte de Rubens Paiva é uma morte emblemática, é a síntese pública do terror de Estado, uma questão muito sensível que a Presidenta Dilma terá que lidar daqui para a frente, uma vez que já foi definitivamente aprovada, com anterior parecer favorável do Ministro  Carlos Ayres de Britto, de Sergipe, a criação da Comissão Nacional da Verdade, destinada a esclarecer a atuação dos militares contra a oposição à ditadura.

A caserna está inquieta. Na internet polulam escritos raivosos de vários generais de pijama. O ex-Secretário Geral do Exército, general Luiz Eduardo Rocha Paiva, declarou a GloboNews que “a anistia foi ampla, geral e irrestrita “e que “não cabe aos militares pedir desculpas a ninguém”.  A Argentina colocou o ex-ditador General Videla na cadeia em prisão perpétua, o general Pinochet foi condenado no Chile, o mesmo aconteceu no Peru e no Uruguai, ao contrário do Brasil que continua sem saber sequer onde estão os seus mortos.

A Ministra da Secretaria Geral dos Direitos Humanos, Maria Rosário Nunes, afirma que não se trata de revanchismo, apenas “o país precisa dessas informações, precisa saber o que aconteceu”. Diz ela ainda que os militares tem perfeita compreensão do princípio da hierarquia e da disciplina que exige que todas as ordens sejam documentadas “e esses documentos devem existir e os que não existirem, quem mandou destruir?”

O Secretário Estadual de Direitos Humanos e da Cidadania de Sergipe, Luiz Eduardo Oliva, recebeu o importante apoio do Ministério Público Federal do Estado para a criação da Comissão Estadual da Verdade, para que possa recolher informações sobre prisões, torturas e desaparecimentos em Sergipe, conforme discutido durante o Primeiro Seminário Memória, Verdade e Justiça de Sergipe com a participação da deputada Ana Lúcia Menezes, que articula na Assembléia Legislativa a instalação da Comissão Estadual.

O procurador regional da República em Sergipe, Marlon Wiechert, coordenador do grupo de trabalho sobre Memória e Verdade do MPF, traçou no seminário um panorama dos anos de repressão no Brasil e citou os cinco mecanismos que o MPF considera fundamentais para revisão do período da ditadura militar: a memória, o direito à verdade, com abertura de documentos e localização dos restos mortais dos desaparecidos, justiça, com o julgamento dos agentes do Estado e da sociedade civil que cometeram violações dos Direitos Humanos, reparação das vítimas e reforma dos aparatos de segurança do Estado.

Um dos casos mais delicados e difíceis na esfera do Secretário Luiz Eduardo Oliva, é o da sergipana Therezinha Viana de Assis, economista pelas universidades Federal de Sergipe e de Amsterdam, que sábado passado fez 34 anos que apareceu morta em seu apartamento na capital holandesa, depois de escrever a sua irmã Selma Viana de Assis Pamplona Conceição, contando que estava sendo seguida por agentes chilenos, que sua casa era revistada quando saía e que recebia ameaças pelo telefone. Quem foi o responsável por esta morte, quando se sabe que a Operação Condor, reunia os serviços secretos de vários  países da América Latina? A Operação Condor foi criada para desestabilizar governos progressistas na América Latina e desencadeada pelo Secretário de Estado americano Dean Rusk, no governo de Lindon Johnson e sobreviveu a Nixon, Gerald Ford, Jimmy Carter e Ronald Reagan.olandaH

A questão é muito mais grave se quisermos saber a razão de tudo isso. Os militares brasileiros,  como os restantes latino-americanos, foram os joguetes da Guerra Fria, quando só existiam dois lados e os Estados Unidos já agiam como a polícia política da “democracia ocidental”. Mas, como disse o Procurador Federal em Sergipe Marlon Wiecht, “o objetivo deste processo é aprender com os erros praticados para não repeti-los. A sociedade precisa entender o que aconteceu, superar os traumas de violação dos Direitos Humanos e evitar a repetição”. Essa proposição tem que ser levada até as últimas conseqüências, para que nunca mais tenhamos que escrever uma carta para Adriano, a carta da morte da nossa liberdade.

·       Sapo – A Presidenta Dilma se queixou ao Presidente Obama, o governo brasileiro  ainda não  engoliu a decisão da Força Aérea dos Estados Unidos em cancelar a compra de 20 aviões Tucano da Embraer. Segundo os americanos, o negócio foi desfeito porque havia falhas no contrato. Se existem falhas no contrato, basta corrigi-las e não cancelá-lo, não é? Existe no ar alguma coisa a mais além dos aviões de carreira e dos jatos de treinamento.

·       Dedobama – O Governador Marcelo Deda é conhecido pela utilização de e-mails, twitter e redes sociais na sua forma de governar, uma versão simaodiasnense do homem mais poderoso do mundo, o Presidente Barack Obama, sempre fotografado com seu Blackberry à mão. Obama vai utilizar toda a tecnologia de comunicação social  existente para vencer as próximas eleições, quando enfrentará o republicano Mitt Romney que tem 43,2% das intenções de voto contra 48,5% do atual presidente que tem tudo para continuar presidente. 

·       Tiririca – Enquanto isso, o palhaço-deputado Tiririca (PR) tem 4% das intenções para a Prefeitura de São Paulo. Ruim para ele, melhor para o país.

·       Mineirice – A Ministra Carmen Lúcia preside agora o Supremo Tribunal Eleitoral, sendo a primeira mulher a conduzir um processo eleitoral  no Brasil. Ela promete um “rigoroso cumprimento da Lei”para garantir a lisura das próximas eleições. Perguntada por um repórter de TV se torcia pelo Atlético ou pelo Cruzeiro ela prontamente respondeu: “Sou mineira”. Então tá. 

·       Tchekhov – Cinco pessoas discutem suas existências e a condição humana enquanto durante uma eclipse solar. É o tema da peça Eclipse de Anton Tchekhov, em cartaz no Teatro SESC-Ginástico, na Avenida Graça Aranha, 187, no Centro do Rio, com bilhetes a R$ 20 e R$ 30 até 6 de maio. 

·       Garotinha – No palco do Theatro Net Rio, a orquestra de 27 músicos ataca o trecho da música de Cazuza “Quem sabe ainda sou uma garotinha...” e entra cantando em cena a diva Bibi Ferreira, 89 anos. Risadas gerais. No espetáculo Histórias e Canções, a atriz canta músicas que vão de Lamartine Babo (“O Teu Cabelo Não Nega”) a Rossini (ária “Largo Al Factotum”, do Barbeiro de Sevilha) passando por Cazuza, Piaf e Chico Buarque. Em cartaz até 27 de maio, R. Siqueira Campos, 143, 2º, Copacabana. Ingressos de R$ 100 a R$ 150.


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