Zoroastro
Sant’Anna -
jornalista e cineasta
Nosso Homem
- 14 (enviado pelo autor)
Depois de
atender um telefonema, o homem se prepara tranquilamente para ir à praia de
Ipanema quando seis homens em trajes civis e fortemente armados arrombam a porta
do seu apartamento e o intimam a acompanhá-los. A mulher, assustada, ameaça
chorar e o que parecia ser o chefe do grupo garantiu que era “só uma
formalidade”. Quatro
homens ficam no apartamento enquanto dois seguem com o preso que vai no seu
próprio fusca, dirigido por um dos invasores.
A primeira
parada é na 3ª Zona Aérea quando lhe é perguntado ameaçadoramente por um militar
do CISA-Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica
qual é a verdadeira identidade de “Adriano”. Como não disse nada, o preso,
depois de algumas bofetadas, é conduzido ainda em seu fusca, para o DOI-CODI
(Destacamento de Operações e Informações-Centro de Operações de Defesa Interna),
sediado no quartel da Polícia do Exército, na Quinta da
Boavista.
Enquanto
isso, a filha do casal de apenas 15 anos chega da praia e é segura pelos homens
que ficaram no apartamento. Eles revistam o local e acham um trabalho de escola
do Colégio Notre Dame de Sion, onde a menina estudava. O trabalho era de
História, sobre o movimento de liberação na antiga Tchecoslováquia. Um dos
homens perguntou se era um trabalho comunista, a menina tentou explicar que era
o contrário, era sobre a tentativa tcheca para se livrar da dominação soviética,
“mas você é comunista?”, insistiu o homem armado. Então, dois homens levam a mãe
e a filha encapuzadas para o mesmo quartel da PE, onde estava o
pai.
As duas
foram submetidas a intenso interrogatório, a filha foi liberada no dia seguinte.
A mãe, incomunicável, só doze dias depois, quando ela reuniu os amigos e saiu em
busca do marido preso. Em todas as unidades militares a resposta era uma só:
“ele nunca esteve aqui”. Durante esta busca, o preso estava sendo barbaramente
torturado no quartel do Io. Exército com afogamentos, pau-de-arara, cadeira do
dragão, pianola Boilensen, telefones, maçarico, alicate nos dentes e outros
métodos criteriosamente ensinados pelo capitão americano Charles Chandler,
agente da CIA, deslocado para o Brasil para esse fim específico e que foi
metralhado e morto pela guerrilha.
Não é um
conto de horror nem um filme sombrio. Esta é parte da história do ex-deputado
federal Rubens Beirodt Paiva (PTB), ativista do movimento pela criação da
Petrobras, cassado pela ditadura militar por ter sido membro da CPI que
investigava o IPES-IBAD, Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais/Instituto de
Ação Democrática, que financiavam palestrantes que discorriam sobre a “ameaça
vermelha”. Rubens Paiva descobrira que vários generais, agora no poder, haviam
recebido milhares de dólares destes institutos.
Preso em 20
de janeiro de 1971, durante o regime do general Emilio Garrastazu Médici, Rubens
Paiva nunca mais apareceu, seu corpo nunca foi encontrado apesar do Governo ter
emitido seu atestado de óbito em 1988 e entregue a sua mulher, Eunice Paiva, que
se formou em Direito com o objetivo exclusivo de esclarecer o desaparecimento de
seu marido, uma luta que dura 41 anos e que ela promete levar adiante até o dia
da sua própria morte.
Os
responsáveis pelo assassinato de Rubens
Paiva tem nomes e rostos: o coronel Ronald José da
Motta
Batista Leão, que foi chefe da IIa. Sessão do I0.
Exército, o Capitão de Cavalaria João Câmara Gomes
Carneiro, apelidado na Academia Militar de João Cocô, o sub-tenente Ariedisse Barbosa Torres, o
ex-major PM-RJ, Riscala Corbage e o
segundo-sargento Eduardo
Ribeiro Nunes.
Os serviços
de segurança da época queriam saber a verdadeira identidade de “Adriano”,
suposto contato do capitão revolucionário Carlos Lamarca, a quem Rubens Paiva
deveria entregar uma carta vinda do Chile, onde estava a maioria dos asilados
políticos brasileiros. “Adriano” é Carlos Alberto Muniz , atual
vice-prefeito do Rio de Janeiro, assim como “Stella” é Dilma Vana Rousseff
Linhares, nossa atual Presidenta. Rubens Paiva, apesar de cientifica e
cruelmente torturado, assim como a Presidenta Dilma que ficou presa em São Paulo
por três anos, nunca revelou a identidade de Adriano e nem quem enviara a carta
que o matou.
Fatos como
este são muitos neste país, foram 1.918 comprovadamente torturados, dos quais
dezenas de desaparecidos. Este que agora escreve tem o companheiro de lutas
Sergio Landulfo Furtado desaparecido até hoje. A morte de Rubens Paiva é uma
morte emblemática, é a síntese pública do terror de Estado, uma questão muito
sensível que a Presidenta Dilma terá que lidar daqui para a frente, uma vez que
já foi definitivamente aprovada, com anterior parecer favorável do Ministro
Carlos Ayres de Britto,
de Sergipe, a criação da Comissão Nacional da Verdade, destinada a esclarecer a
atuação dos militares contra a oposição à ditadura.
A caserna
está inquieta. Na internet polulam escritos raivosos de vários generais de
pijama. O ex-Secretário Geral do Exército, general Luiz Eduardo Rocha Paiva,
declarou a GloboNews que “a anistia foi ampla, geral e irrestrita “e que “não
cabe aos militares pedir desculpas a ninguém”. A Argentina colocou o
ex-ditador General Videla na cadeia em prisão perpétua, o general Pinochet foi
condenado no Chile, o mesmo aconteceu no Peru e no Uruguai, ao contrário do
Brasil que continua sem saber sequer onde estão os seus
mortos.
A Ministra
da Secretaria Geral dos Direitos Humanos, Maria Rosário Nunes, afirma que não se
trata de revanchismo, apenas “o país precisa dessas informações, precisa saber o
que aconteceu”. Diz ela ainda que os militares tem perfeita compreensão do
princípio da hierarquia e da disciplina que exige que todas as ordens sejam
documentadas “e esses documentos devem existir e os que não existirem, quem
mandou destruir?”
O Secretário
Estadual de Direitos Humanos e da Cidadania de Sergipe, Luiz Eduardo Oliva,
recebeu o importante apoio do Ministério Público Federal do Estado para a
criação da Comissão Estadual da Verdade,
para que possa recolher informações sobre prisões, torturas e desaparecimentos
em Sergipe, conforme discutido durante o Primeiro Seminário Memória, Verdade e
Justiça de Sergipe com a participação da deputada Ana Lúcia Menezes, que
articula na Assembléia Legislativa a instalação da Comissão
Estadual.
O
procurador regional da República em Sergipe, Marlon
Wiechert , coordenador do grupo de trabalho sobre Memória e
Verdade do MPF, traçou no seminário um panorama dos anos de repressão no Brasil
e citou os cinco mecanismos que o MPF considera fundamentais para revisão do
período da ditadura militar: a memória, o direito à verdade, com abertura de
documentos e localização dos restos mortais dos desaparecidos, justiça, com o
julgamento dos agentes do Estado e da sociedade civil que cometeram violações
dos Direitos Humanos, reparação das vítimas e reforma dos aparatos de segurança
do Estado.
Um
dos casos mais delicados e difíceis na esfera do Secretário Luiz Eduardo Oliva,
é o da sergipana Therezinha Viana de Assis, economista pelas universidades
Federal de Sergipe e de Amsterdam, que sábado passado fez 34 anos que apareceu
morta em seu apartamento na capital holandesa, depois de escrever a sua irmã
Selma Viana de Assis Pamplona Conceição, contando que estava sendo seguida por
agentes chilenos, que sua casa era revistada quando saía e que recebia ameaças
pelo telefone. Quem foi o responsável por esta morte, quando se sabe que a
Operação Condor, reunia os serviços secretos de vários países da América Latina? A
Operação Condor foi criada para desestabilizar governos progressistas na América
Latina e desencadeada pelo Secretário de Estado americano Dean Rusk, no governo
de Lindon Johnson e sobreviveu a Nixon, Gerald Ford, Jimmy Carter e Ronald
Reagan.
A questão é
muito mais grave se quisermos saber a razão de tudo isso. Os militares
brasileiros, como os
restantes latino-americanos, foram os joguetes da Guerra Fria, quando só
existiam dois lados e os Estados Unidos já agiam como a polícia política da
“democracia ocidental”. Mas, como disse o Procurador Federal em Sergipe Marlon
Wiecht , “o
objetivo deste processo é aprender com os erros praticados para não repeti-los.
A sociedade precisa entender o que aconteceu, superar os traumas de violação dos
Direitos Humanos e evitar a repetição”. Essa proposição tem que ser levada até
as últimas conseqüências, para que nunca mais tenhamos que escrever uma carta
para Adriano, a carta da morte da nossa liberdade.
· Sapo
–
A Presidenta Dilma se queixou ao Presidente Obama, o governo brasileiro ainda não engoliu a decisão da Força
Aérea dos Estados Unidos em cancelar a compra de 20 aviões Tucano da Embraer. Segundo os
americanos, o negócio foi desfeito porque havia falhas no contrato. Se existem
falhas no contrato, basta corrigi-las e não cancelá-lo, não é? Existe no ar
alguma coisa a mais além dos aviões de carreira e dos jatos de
treinamento.
· Dedobama – O Governador Marcelo Deda é
conhecido pela utilização de e-mails,
twitter e redes sociais na sua forma
de governar, uma versão simaodiasnense do homem mais poderoso do
mundo, o Presidente Barack Obama, sempre fotografado com seu Blackberry à mão.
Obama vai utilizar toda a tecnologia de comunicação social existente para vencer as
próximas eleições, quando enfrentará o republicano Mitt Romney que tem 43,2% das
intenções de voto contra 48,5% do atual presidente que tem tudo para continuar
presidente.
· Tiririca
– Enquanto isso,
o palhaço-deputado Tiririca (PR) tem 4% das intenções para a Prefeitura de São
Paulo. Ruim para ele, melhor para o país.
· Mineirice – A Ministra Carmen
Lúcia preside
agora o Supremo Tribunal Eleitoral, sendo a primeira mulher a conduzir um
processo eleitoral no
Brasil. Ela promete um “rigoroso cumprimento da Lei”para garantir a lisura das
próximas eleições. Perguntada por um repórter de TV se torcia pelo Atlético ou
pelo Cruzeiro ela prontamente respondeu: “Sou mineira”. Então tá.
· Tchekhov – Cinco pessoas discutem suas
existências e a condição humana enquanto durante uma eclipse solar. É o tema da
peça Eclipse de Anton Tchekhov,
em
cartaz no Teatro SESC-Ginástico , na Avenida Graça Aranha, 187,
no Centro do Rio, com bilhetes a R$ 20 e R$ 30 até 6 de maio.
· Garotinha – No palco do Theatro Net Rio, a
orquestra de 27 músicos ataca o trecho da música de Cazuza “Quem sabe ainda sou
uma garotinha...” e entra cantando em cena a diva Bibi Ferreira, 89
anos. Risadas gerais. No espetáculo Histórias e Canções, a atriz canta
músicas que vão de Lamartine Babo (“O Teu Cabelo Não Nega”) a Rossini (ária
“Largo Al Factotum”, do Barbeiro de Sevilha) passando por Cazuza, Piaf e Chico
Buarque. Em cartaz até 27 de maio, R. Siqueira Campos, 143, 2º, Copacabana.
Ingressos de R$ 100
a R$ 150.
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