Assange entrevista: “The World Tomorrow”, Russia Today – 2º
Programa
24/4/2012, vídeo
(transcrito) 28 ’ - “Left-right
– Episode 2”
Julian Assange: Hoje, temos conosco
dois intelectuais superstars. O filósofo esloveno Slavoj Zizek, ex-dissidente e
anticomunista, que hoje se autodescreve como “comunista”. Convidamos também
David Horowitz, ex-radical de esquerda, aliado dos Panteras Negras, hoje ardente
direitista. Quero saber o que pensam sobre o futuro da Europa e dos EUA. A
conversa esquentou. Zizek teve de ser fisicamente contido. Gritaram, discutiram,
depois falamos mais tranquilamente sobre nazistas e palestinos, os Panteras
Negras, Obama, Romney e Stálin.
David [para Horowitz], você se
autodescreve como conservador. Zizek, você se autodescreve como comunista.
Apesar disso, os dois têm [tiveram?] retratos de Stálin [o telefone toca na casa
de Horowitz, que atende: ‘Não posso falar agora. Estou numa conferência
internacional’.
Zizek [ri]: “É Stálin. Telefonou p’rá
dizer: não mexam comigo!” [Risos. Horowitz volta à câmera do
computador.]
Assange: David, pode dizer o que
entende por ‘conservador’ e por que tem [teve?] um retrato de Stálin?
Horowitz: O retrato de Stálin apareceu
no meu escritório depois da morte dele. E sou conservador porque os
esquerdistas, os utopistas, não têm ideia do que é a natureza humana. Por isso,
quando chegam ao poder, enfrentam o grande problema de as pessoas não seguirem o
programa deles, e eles as matam ou as metem nos gulags. O problema da ideia
utopista é a ideia.
Assange [para Zizek]: E você?
Zizek: Primeiro, sobre o retrato de
Stálin. [Está lá] precisamente para lembrar-me, e talvez, mesmo num nível
marginal, você concorde, dos riscos, dos perigos, de experimentos políticos
radicais.
Horowitz: Não sei o que Slavoj diz,
quando diz que Stálin o faz lembrar os riscos dos experimentos totalitários aos
quais a ideia utopista pode levar, porque ele apoia todos os movimentos
totalitários do mundo. Você apoia o que temos de mais próximo dos nazistas, das
ideias utopistas, no Oriente Médio. Você apoia os palestinos. Não sei que
diferença há, entre os palestinos que querem matar judeus, e os
nazistas.
Zizek: Mas, você alguma vez visitou a
Cisjordânia? [Horowitz intromete-se: “Não. Nunca estive em Israel”.
Ininteligível ] Posso garantir que é absolutamente seguro para
judeus. Eu estive lá com meus amigos judeus e posso garantir. Não estou dizendo,
quero destacar isso: acho ruim essa ideia de o que os nazistas fizeram aos
judeus, os judeus fazem agora aos palestinos. Concordo: é ruim, não faz sentido.
Mas, me desculpe, os palestinos lá são ferrados. Muito ferrados.
Horowitz interrompe: ‘São ferrados pelo
Hamás!
[Zizek tenta responder: “Não, não”]
Horowitz insiste: “São ferrados pela
OLP! São ferrados pela Arábia Saudita! São ferrados pelo Egito!’]
Zizek [tenta concluir a resposta]:
Tenho de discordar. São ferrados pelos israelenses. Os israelenses humilharam
Arafat e outros e tal, e as políticas israelenses abriram caminho para a
influência do Hamás. Em segundo lugar...
Horowitz: Ah, sim, agora vai culpar os
judeus pelo Hamás! Ótimo!
Zizek: Ah, meu deus, você está vendo?!
Isso é que eu não gosto em você. Qualquer coisa que eu diga, estou culpando os
judeus?! [Assange interfere, para acalmar Zizek. Horowitz ri. Parece estar
satisfeito por ter conseguido o que queria com a provocação.] Por favor, só uma
coisa, agora, a sério. Vejam uma coisa. Vejam a situação das mulheres, agora, no
Iraque.
Horowitz: Slavoj, e quem é o
responsável por isso?
Zizek: Os EUA e sua política de
intervenção.
Horowitz: A esquerda internacional e o
[partido] Democratas nos EUA que foram à guerra por Saddam e contra George Bush,
quando Bush atacou o Iraque. Deveríamos ter resolvido aquilo, deveriam ter
acertado suas diferenças... Quero dizer... Deveríamos ter ocupado por muitos
anos...
Assange: Essa é uma declaração
incrível...
Horowitz: Deveríamos ter atacado a
Síria, depois deveríamos ter atacado o Irã. Mas Bush recebeu tal ataque... Houve
verdadeira sedição, dos grandes partidos nos EUA. Todos apoiaram a guerra. Nem
todos, mas as lideranças apoiaram a guerra, votaram no Senado a favor da guerra.
Mas depois se voltaram contra a guerra, e mentiram, dizendo que Bush mentiu.
Bush não poderia ter mentido sobre a inteligência sobre a guerra, porque Kerry e
Rockfeller e Feinstein e todos os Democratas estavam comprometidos com a
inteligência. Tinham inteligência melhor que Julian [Assange].
Assange: No trabalho que fazemos, no
trabalho que WiliLeaks faz, estamos forçando adiante os limites de um certo tipo
de liberdade, que dizemos protegida pela 1ª. Emenda, a liberdade para revelar a
verdade sobre o mundo, proteger os registros históricos de qualquer
interferência etc. Vi aquele pôster incrível, que o exército americano produziu.
É um pôster de Jefferson, uma grande estátua de Jefferson, dizendo que “o preço
da liberdade é a eterna vigilância”. Esse é o preço da liberdade. E mostrava um
grande esquema de interceptação, gente armada e olhando para o mar com
binóculos. Interpretaram a frase de Jefferson, que significa que, para conter o
estado forte, temos de ser vigilantes, como se significasse que temos de ter
estado forte, estado agressivo, estado de vigilância, para preservar a
liberdade.
Horowitz: Acho lastimável que o Estado
seja tão grande, que nossa Defesa tenha de ser tão grande, é absolutamente
lastimável, mas é real. Gostaria de voltar à ideia de liberdade e igualdade.
Claro que se as pessoas são desiguais, se as pessoas têm talentos desiguais,
inteligências desiguais, nesse caso, querer fazê-las iguais é retirar-lhes a
liberdade. Não há outro modo de produzir igualdade, sem tirar a liberdade. Claro
que, portanto, há um conflito entre a liberdade e a igualdade.
Zizek: Ouça, eu não sou idealista, em
contraste ao que você diz. Não sou pela liberdade total, tudo deveria ser feito
publicamente. Mas acho que o que WikiLeaks faz não é isso. O que estou dizendo é
que no poder das grandes potências sempre se alcança um certo grau de
hipocrisia. Assim, como dizer... Nós somos sempre convocados a confiar no poder
do Estado, no sentido de, sinto muito, mas temos de fazer certas coisas
discretamente, melhor ninguém saber. E concordo: temos de jogar esse jogo. Não
sou estúpido a esse ponto. Mas, obviamente, quando essa confiança é traída, mal
usada... WikiLeaks pode desempenhar um papel muito positivo nisso tudo.
Desculpe, mas não vejo aí nenhum perigo de colapso...
Assange: Se tivéssemos uma nova
revolução no governo, e WikiLeaks tivesse acesso aos documentos do atual governo
e publicássemos tudo, eu estaria acuado contra a parede?
Zizek: Não posso resistir a uma piada.
É muito difícil responder essa pergunta agora. Mas quando eu estiver no poder,
nesse seu governo revolucionário, mandarei minha resposta para a sua célula no
gulag da Sibéria [risos].
Horowitz: A ideia é que não se pode
ordenar que alguém seja livre. Não pode haver liberdade mandada.
Zizek: Mas a liberdade é ordenada, num
certo sentido.
Assange: David, o lema da baía de
Guantánamo é “Honra é defender a liberdade”. No Iraque há um campo de
prisioneiros chamado “Liberdade”. Parece-me mau uso da palavra “liberdade”.
Quero saber de você se realmente pensa que o Estado tremendo que está crescendo
nos EUA é inteiramente necessário para combater os concorrentes que os EUA têm,
a China, a Europa, ou já é hoje um sistema que se retroalimenta?
Horowitz: O problema é as pessoas.
Pessoas são gananciosas, elas mentem, elas enganam, elas manipulam, elas são
perigosas, são egocêntricas. Gente no poder é a mesma gente perigosa, com mais
poder, Por isso temos de ter os controles e equilíbrios. Sou a favor de mais
vigilância, mais investigação, o que for. Vivemos em contexto. Os EUA – isso é
real – estão sob ataque da esquerda internacional, que é muito poderosa. De
todos os ditadores latino-americanos, amigos de Slavoj, dos islamo-fascistas. E
vivemos numa época em que há armas nucleares, químicas e biológicas. Acho que,
por causa disso, estamos ante uma catástrofe, no século 21, muito maior que as
catástrofes do século 20.
Assange: Você não vê que a criação de
um enorme burocracia do segredo, do sigilo, que vive de trocar favores, a porta
rotatória entre empresas e estado, não lhe parece que tudo isso é muito
parecido, talvez, com o que ocorreu na União Soviética?
Horowitz: Você não pode eliminar a
competição. Ponha um esquerdista na Casa Branca. O sujeito foi treinado e
formado por comunistas, toda sua carreira política foi na esquerda política.
Mesmo assim, a competição não muda. Se preferir, são várias máfias, todos uns na
garganta dos outros. E é isso que nos mantém mais ou menos em segurança.
Zizek: Com licença, bem rapidamente, e
sem nenhum antiamericanismo...
Horowitz: O problema são países como a
Rússia, onde calam a oposição.
Zizek: Ah, já sei: a Rússia de Putin. A
Rússia é Putin. Não é aquele sujeito que falou com Bush e Bush, quando encontrou
Putin, você se lembra? Bush disse “olhei nos olhos de Putin e vi que é homem em
quem posso confiar”. Mas, esqueça. Não é importante.
Horowitz: Foi uma das estupidezes que
Bush disse [risos].
Zizek: Você diz que os comunistas
gostam de calar a verdadeira oposição. Você deve saber que os comunistas chamam
de “fascistas” todos que lhes fazem verdadeira oposição. Se você for
modestamente democrático, já é a contrarrevolução fascista. O que me preocupa, é
que você usa a palavra “comunista” de modo muito parecido. Qualquer pequena
crítica ao establishment conservador
americano, já é comunista. Assim, claro, Obama é comunista...
Horowitz: Calma. Eu não falei de Barack
Obama[1]. Você não tem ideia de quem, na
verdade, é Barack Obama, do passado dele, para dizer isso.
Zizek: Não me interessa o passado de
ninguém. Stálin tem passado de poeta religioso. Escrevia poemas religiosos e
tenho alguns deles. Deixe-me continuar, rapidamente. Você não acha que o grande
fracasso das políticas da presidência não inteligente de Bush – e não vou usar a
palavra “agressiva” –, o resultado da década Bush, foi que os EUA efetivamente
se aproximaram de perder a posição de potência mundial? No governo Bush, os EUA
perderam o controle efetivo da América Latina etc. Não estou dizendo com ânimo
esquerdista, “uh-uh, afinal conseguimos”. Em certo sentido concordo com você,
que estamos nos aproximando de um mundo multipolar muito perigoso. Todos os
sonhos de que os EUA possam de algum modo reconquistar o controle estão, para
mim, acabados.
[Horowitz tenta interromper: “O estado
natural do homem é a guerra”.]
[Zizek prossegue] Vamos encarar os fatos. E, por isso, muitos esquerdistas me acusarão de eurocentrismo ou coisa que o valha. Mas o sonho do estado europeu de bem-estar é mais inclusivo que o sonho dos EUA, se me permite esse elogio à Europa. Não teria sido aquele o único período na história humana, depois da II Guerra Mundial, quando muita gente vivia com segurança, liberdade? Quero dizer: não riam tanto da Europa.
[Zizek prossegue] Vamos encarar os fatos. E, por isso, muitos esquerdistas me acusarão de eurocentrismo ou coisa que o valha. Mas o sonho do estado europeu de bem-estar é mais inclusivo que o sonho dos EUA, se me permite esse elogio à Europa. Não teria sido aquele o único período na história humana, depois da II Guerra Mundial, quando muita gente vivia com segurança, liberdade? Quero dizer: não riam tanto da Europa.
Horowitz: Desastre, só desastre. A
Europa é uma “Disney” da cultura. Não tem importância alguma. Foi período de
desastre. Isso é que o estado de bem-estar trouxe à Europa.
Assange: Tenho alguma experiência de
primeira mão com o paraíso socialista sueco, e posso dizer que não é o que diz a
publicidade.
Zizek: Antes desses trinta anos.
Insisto nisso. Alguma coisa quebrou, lá.
Horowitz: Os suecos não têm
moral.
Assange: David, a busca adiante, de um
mundo melhor, a busca de uma posição melhor que as pessoas têm de ter, mesmo que
essa posição seja a liberdade, é busca de mais liberdade. Podem-se avaliar os
eventos contemporâneos pela direção dos ideias, das esperanças. Será que hoje
abandonamos essa busca, pela religião?
Horowitz: As pessoas, a maioria das
pessoas, não consegue viver com a ideia de que a própria vida não tem sentido
algum. Que nascem, morrem e são esquecidas. Se você é religioso, há uma
divindade que oferece uma saída depois da vida, uma redenção. Se você não é
religioso, você quer a redenção nessa vida. A esquerda é isso: é um movimento
religioso, e não por acaso sempre houve utopismos, comunismo, fascismo,
nazismo...
Zizek [interrompe]: E o liberalismo!.
Também é uma utopia.
Horowitz: As pessoas querem alguma
coisa melhor. É preciso muita ambição, para fazer uma pequena mudança. Fico
pensando no que você quer fazer, e os meios radicais podem ter consequências
muito destrutivas.
Zizek: Mas há momentos em que você tem
de ser radical. Há Hitler e o Holocausto e você não chega e diz a um líder
nazista “vamos ser amigos”, fazer as coisas com modéstia. Há momentos em que
você tem de ser agressivo.
Horowitz: Você tem toda a razão.
Zizek: Concordamos nesse ponto. E sobre
a utopia, minha posição é modesta. Eu vejo, como todos vemos, que estamos nos
aproximando de situações de catástrofes. E só estou dizendo que temos de
enfrentar essas catástrofes com plena consciência. Sem utopias, essas merdas de
utopias liberais, comunistas ou quaisquer outras.
Horowitz: Deixe-me resumir essa
conversa...
Zizek: Ele é que é o Stálin,
secretário-geral, sempre querendo fazer, ele mesmo, o resumo da conversa! Ele é
o comunista, aqui.
Horowitz: Em resumo, a guerra é a
condição natural da humanidade. Sempre foi, desde o início. A paz só ocorre,
quando há um poder conservador, uma força única que consiga intimidar os
possíveis agressores. Pergunto: quem você quer que seja esse poder, se não forem
os EUA?
Zizek: Não sei, mas, para mim, os EUA
já não são mais nem candidatos.
Horowitz: Sim, por isso estamos a um
passo dessas catástrofes, mas vocês estão contribuindo para as catástrofes,
dando força aos esquerdistas.
Assange: E dar responsabilidades ao
Estado, não é ter um mercado livre nos EUA?
Zizek: Você quer dizer, com outras
opções políticas?
Assange: Sim, com outras opções. E quem
não gostar das condições num estado pode mudar-se para outro, mudar seus bens, o
patrimônio, a família?
Horowitz: Os EUA não estão equipados.
Os EUA não estão preparados. Já se viu no Iraque. Não conseguimos nem ocupar um
país. Mal conseguimos fazer uma guerra de quatro dias. Imagine uma guerra de
seis semanas. Esse é um país onde há tantas oportunidades. As pessoas só pensam
em se divertir.
Não querem ir à guerra. Os americanos não querem ir à
guerra.
Assange: Os americanos têm de ser
enganados, para irem à guerra...
Horowitz: Quem disse, acho, foi Tony
Blair: que os EUA estão encolhidos, em boa parte, porque o comandante-em-chefe é
esquerdista.
Zizek: Sério. Permita-me discordar, com
todo o respeito. Se os EUA ainda tem algum atrativo para o mundo, lamento
informá-lo, é por causa de gente como Obama.
Assange: A primeira ordem de ataque de
drones, quatro dias depois de Obama
assumir o governo, foi contra o Paquistão. Você acha que Obama realmente decidiu
alguma coisa?
Horowitz: Quando ele assumiu o governo,
a guerra estava em andamento. Sabia que os militares não o apoiavam. Então
escolheu o Paquistão. Obama já matou mais civis. E a esquerda nada lhe cobra,
porque a esquerda é uma força religiosa. Nada tem a ver com princípios. A
esquerda não se incomoda com asiáticos sendo mortos por drones... [Assange: E o que você quer fazer?] Ir
para as ruas protestar contra o que Obama está fazendo no Afeganistão, no
Paquistão. Já não tenho nenhum respeito pela esquerda, porque já não tem
princípios.
Zizek: Aqui há uma diferença entre nós.
Nós dois criticamos Obama. Você critica Obama, porque pensa que ele é
esquerdista, comunista? Eu critico Obama porque, bem ao contrário, acho que ele
não é esquerdista escondido, criptoesquerdista. O problema é que ele finge que é
de esquerda, mas não é.
Horowitz: Você nem sabe o que está
dizendo, Slavoj. Devia ouvir o que diz Tarik Ali. Ele odeia o que Obama está
fazendo.
Zizek: São os seus velhos amigos
esquerdistas. Tarik Ali não é meu amigo. Não engulo essas bobagens democráticas
esquerdistas, local, movimentos de base, simples democratismo básico. O que
estou dizendo é que o problema que fez crescer o comunismo continua aqui, entre
nós. Tenho medo do que pode acontecer, se não encontrarmos uma solução.
Horowitz: Não, nada disso. Os problemas
sempre estarão aí. Meu ponto de vista é realista.
Assange: Senhores, temos temas demais.
Zizek: Nós dois somos fanáticos e ele é
liberal. Temos de unir forças e livrar-nos desse liberal.
Assange: Temos muitos temas por
discutir e quero falar sobre outras coisas. Você, Horowitz, esteve no Partido
dos Panteras Negras …
Horowitz: Eu? Nunca fui membro desse
partido. Só arrecadava dinheiro para eles.
Assange: Você os ajudava. Esteve
envolvido com as atividades deles e os apoiava.
Zizek: Você é como aqueles banqueiros
que ajudaram Hitler, se puder usar essa metáfora.
Horowitz: Não acho.
Assange: E você esteve hospedado na
casa da contadora da revista Ramparts, da qual você era o editor, Betty Van
Patter. Você recebeu uma carta em que se lia: “Na minha opinião, você é
responsável pela morte de Betty. Mandá-la acertar as contas e a contabilidade
dos Panteras Negras naquele momento, foi como vesti-la no camisolão branco da Ku
Klux Klan e mandá-la para a rua…”
Horowitz: Julian, essa é só uma
carta de calúnias, de um sujeito que esteve envolvido com os Panteras Negras
antes de mim, e que jamais dissera coisa alguma. Os esquerdistas sacrificam
qualquer um e nesse caso o sacrificado fui eu...
Assange: Aquela tragédia, inclusive um
assassinato, deve ter influenciado seu ponto de vista sobre o mundo. Acha que
passou a ver a realidade com outros olhos? Como influenciou suas
opiniões?
Horowitz: Betty foi assassinada... o
corpo foi encontrado em fevereiro de 1975. Em seguida, passei nove anos sem me
envolver em política. Em 1984 votei em Reagan e foi quando me tornei
conservador. Sofri ataque muito violento da esquerda, mas não respondi. Naqueles
nove anos, não tive nenhuma atividade política contra a esquerda, mas me sentia
traído, me sentia culpado pelo movimento que havia apoiado. Esperei até me
acalmar. É uma coisa de caráter, não importa o quanto se está apaixonado ou
não…
Assange: Depois da morte de Betty Van
Patter, você escreveu biografias de grandes famílias norte-americanas, dos
Rockefeller e outras. Você entrevistou membros dessas famílias bem relacionadas?
Horowitz: Entrevistei.
Assange: E seu círculo social mudou,
depois daquelas biografias?
Horowitz: Nada mudou. Minha vida foi
sempre a mesma. Perdi todos os amigos da esquerda e na maturidade reconstruí
minhas amizades. Acho que um fator que prende as pessoas na esquerda é que sabem
que, se pisarem na linha, todos os amigos desaparecerão. [O telefone toca.] Com
licença.
Zizek: Fique à vontade. Sou a favor de
comunismo humano, que deixa atender o telefone.
Horowitz: Não quero menosprezar o
ativismo em geral, mas tenho de ter guarda-costas para ir às universidades, por
causa da esquerda fascista dos EUA...
Assange: E eu estou ameaçado de morte
por todos os lados.
Zizek: Nessa sala, só eu fui
fisicamente atacado pela direita por ser comunista; e pelos comunistas, por ter
traído os nacionalistas.
Horowitz: Não acredito!
Zizek: Verdade. Estou falando
sério.
Assange: David, você votará em quem,
nas eleições?
Horowitz: Ainda não há
candidatos.
Assange: Dentre os possíveis
candidatos...
Horowitz: Romney, me parece, tem
melhores condições para derrotar aquele sujeito.
Assange: Para derrotar
Obama?
Horowitz: É. Não estou satisfeito com
coisa alguma.
Zizek: Nisso, concordamos. É trágico e
pode até ser mau para a vitalidade dos EUA, no longo prazo, que os Republicanos
não consigam produzir candidato com carisma. É triste. Não é coisa que me
alegre.
Horowitz: Concordo. Não é bom, de modo
algum.
Assange: Obrigado, David.
Zizek: Pior que comunista, é socialista
com cara humana. É a forma mais inferior de vida. São sapos que se arrastam por
aí
Assange: Obrigado, senhores.
Zizek: Acho que você terá de cortar
coisas, fazer um pouco de trabalho de Stálin. Foi uma loucura. Você entendeu o
que quero dizer.
Nota dos
tradutores
[1]Aqui parece ter havido um mal
entendido [que, parece, repete-se na versão em espanhol]. Na fala anterior,
Horowitz fez um argumento do tipo “nem que você ponha um comunista na Casa
Branca, conseguirá acabar com a competição”. Zizek parece ter entendido que
Horowitz teria dito que Barack Obama é comunista.
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