10/4/2012, *Mark Weisbrot, Guardian, UK - em: “Jean-Luc
Mélenchon has what France needs. Sarkozy and Hollande do not”
Traduzido
pelo pessoal da Vila Vudu
Jean-Luc
Mélenchon parece ser o único candidato que compreende as reais alternativas
econômicas que a França enfrenta na eurozona. (Foto:
Solal/Sipa/Rex Features) |
O
presidente conservador da França, Nicolas Sarkozy, concorreu às eleições em
2007, com um programa para tornar a economia francesa ainda mais igual à dos
EUA. Escolheu péssimo momento: os EUA estavam à beira da pior recessão desde a
Grande Depressão, e só ajudariam a afundar a Europa e grande parte da economia
mundial cada vez mais, ao ritmo do colapso da economia norte-americana. Hoje
provavelmente não quer repetir o que disse em 2007, depois de os EUA conhecerem
quatro anos de praticamente nenhum crescimento econômico.
Mas,
sim, Sarkozy conseguiu tornar a economia francesa mais semelhante à dos EUA,
em vários
sentidos. Depois de ser um dos poucos “grandes” que não vira
crescer a desigualdade, de meados dos anos 80s a meados dos anos 2000s, a França
tornou-se mais desigual, desde a eleição de Sarkozy. Por exemplo, a proporção
entre a renda dos mais ricos e dos mais pobres, passou de 11,8 para 16,2. Outros
indicadores de desigualdade também pioraram significativamente (o coeficiente de
Gini piorou, de 26,6 para 29,9). Aconteceu entre 2007 e 2010; hoje,
provavelmente, os números são ainda piores. Ao aumentar a idade mínima para a
aposentadoria – mudança absolutamente desnecessária, que provocou forte oposição
e protestos vastíssimos – Sarkozy também ajudou a tornar a França ainda mais
desigual.
A
comparação entre a França e os EUA é boa, porque os dois países têm
aproximadamente o mesmo nível de produtividade/hora. Isso significa que têm
capacidade econômica para gozar aproximadamente os mesmos padrões de vida. A
França escolheu gozar seus ganhos de produtividade na forma de menos horas de
trabalho, férias mais longas, atendimento universal à saúde, educação gratuita e
atendimento gratuito às crianças, e distribuição de renda menos desigual. Ao
contrário, nos EUA, mais de 60% dos ganhos de produtividade nos últimos 30 anos
foram capturados pelo 1% mais ricos. A pobreza, nos EUA, já voltou aos níveis do
final dos anos 1960s; os custos da educação explodiram, não há nem férias nem
feriados pagos, e 52 milhões de americanos continuam sem qualquer seguro-saúde
(embora isso possa vir a diminuir nos próximos anos, dependendo, em parte, da
Suprema Corte).
A
maioria dos franceses preza sua segurança econômica e prosperidade partilhada.
Por isso, para começar, já parece estranho que alguém, com o programa de
Sarkozy, tenha sido eleito e que, agora, tenha alguma chance de reeleger-se.
Isso só se explica porque há uma ampla incompreensão das principais questões
econômicas – estimulada, a incompreensão, por uma imprensa viciada e viciosa.
Como em 2007,
a versão difundida é que a França estaria vivendo acima de
suas reais capacidades, e Sarkozy ameaça agora com o risco de a França vir a ser
a próxima Grécia, e enfrentar total derretimento econômico, caso ele não seja
reeleito. Promete equilibrar o orçamento nacional francês até
2016.
Infelizmente,
seu adversário socialista não faz muito melhor: promete equilibrar o orçamento
até 2017. Evidentemente há algumas importantes diferenças entre os dois, mas se
esses dois candidatos implementarem programa de austeridade fiscal da magnitude
do que prometem, no contexto de extrema fragilidade das economias francesa e
europeias, é praticamente certo que o desemprego e outros problemas sociais e
econômicos só se agravarão. E a França acabará por perder algumas de suas
importantes conquistas econômicas e sociais.
Felizmente,
a França tem alternativa mais progressista: Jean-Luc Mélenchon, apoiado pela
Frente de Esquerda.
Mélenchon
parece ser o único candidato nessas eleições que entende as reais opções
econômicas que existem ainda abertas para a França e a eurozona. A França não
precisa de austeridade – e austeridade, sim, é receita certa para que o país
acabe como a Grécia. Mélenchon propõe que o Banco Central Europeu faça o que
existe para fazer e empreste dinheiro à França e a outros governos europeus a
juros de 1%, como faz nos empréstimos aos bancos. O juro da dívida que a França
paga já é bem razoável, cerca de 2,4% do PIB; assim, se puder tomar empréstimos
a juros baixos, poderá crescer e, crescendo, sair dos problemas atuais, criando
empregos e aumentando a renda, no mesmo processo. Isso se chama política
macroeconômica com sensibilidade social.
Mélenchon
propõe também reduzir as horas de trabalho e aumentar o salário mínimo, com
aumento de impostos sobre os mais ricos. Rejeita todas as tolices do equilíbrio
orçamentário – o que também fazem muitos economistas nos EUA – e denuncia a
falta de comprometimento do Banco Central Europeu com as políticas de pleno
emprego. Também essa ideia faz pleno sentido econômico, sobretudo em tempos de
recessão, quando o BCE pode criar dinheiro (desde 2008, o Federal Reserve dos EUA já criou $2,3
trilhões, desde 2008), sem medo de excesso de inflação.
Nas
eleições francesas, os dois candidatos mais votados concorrem a um segundo
turno, se, como parece que acontecerá, ninguém obtiver a maioria no primeiro
turno marcado para 22/4. Mélenchon está hoje com cerca de 15% dos votos, mas já
estaria com muitos mais votos, não fosse o medo generalizado de que consiga
expulsar o Partido Socialista do segundo turno das eleições. Foi o que aconteceu
em 2002, quando a extrema direita, com um candidato anti-imigrantes, chegou ao
segundo turno. Esse ano, a direita não conseguirá repetir a proeza: Marine Le
Pen parece ter estagnado nos 13%. Por tudo isso, qualquer eleitor que deseje
preservar as conquistas da sociedade francesa e seu padrão de vida, deve, sim,
votar em Mélenchon.
Comparado
o quadro com o que se vê nos EUA, na França é muito mais fácil que um terceiro
candidato tenha influência muito significativa, mesmo que não seja eleito.
Hollande já foi obrigado a mover-se na direção da esquerda, para tentar capturar
votos da Frente de Esquerda. E Mélenchon será “eleitor” importantíssimo, cujo
apoio será decisivo, para o segundo turno.
Com
os dois principais partidos franceses já comprometidos com políticas que farão
desabar os padrões de vida da maioria – em 2007, só Sarkozy comprometeu-se
diretamente com esse encaminhamento – difícil imaginar melhor ocasião para votar
“fora da caixa”.
*Mark
Weisbrot é um economista americano, codiretor do
Center for Economic and Policy Research, em Washington, D.C. É doutorado
em economia
pela Universidade de Michigan. Escreveu vários artigos sobre
política econômica, especialmente sobre a América latina e sobre política
económica internacional. É colaborador em jornais como o New York Times e o
britânico Guardian.
É coautor, juntamente com Dean Baker, do livro Social Security: The Phony
Crisis (University of Chicago
Press, 2000). E é o presidente do Just Foreign
Policy.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.