segunda-feira, 9 de abril de 2012

Casa Branca pisca o olho para Hafiz Saeed...


6/4/2012, *MK Bhadrakumar, Indian Punchline (com atualização)
Traduzido pelo Coletivo de tradutores da Vila Vudu


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Hafiz Saeed
Imaginem o dia em que o líder islamista paquistanês Hafiz Saeed [1] talvez meta um terno & gravata e embarque no avião rumo aos EUA  [2] . E talvez o vejamos saltando da limusine preta à porta da Casa Branca, para ser calorosamente recebido pelo Conselho Nacional de Segurança dos EUA.

Em seguida, ele parte para reunião agendada com o Sen. John McCain. Ora! Isso, precisamente, foi o que fizeram ontem representantes da Fraternidade Muçulmana do Egito, em Washington. 

Para surpresa de ninguém, a Casa Branca pouco divulgou a visita dos Irmãos, os quais, como Saeed está hoje, estiveram por muito tempo incluídos no panteão dos radicais incorrigíveis, difamados e condenados pelos EUA. Diga a Casa Branca o que disser, na justificativa que está divulgando para aquela visita [3]... Que grande virada na política dos EUA para o Oriente Médio!

Bem feitas as contas, nada há aí, de novidade (além, talvez, da divulgação, discreta, mas, afinal, alguma divulgação!). Durante o julgamento muito comentando do caso das ONGs egípcias que recebiam secretamente dinheiro do governo dos EUA, todos ficamos sabendo que Washington, rotineiramente, já molha a mão dos Irmãos da FM; e que, desde a revolução da Praça Tahrir, há um ano, os EUA não deixaram pedra sobre pedra no trabalho para direcionar os impulsos revolucionários na direção que mais interesse aos seus próprios objetivos geoestratégicos.

Mas os Irmãos da Fraternidade Muçulmana (FM), por sua vez, também jogaram brilhantemente. De início, mostraram simpatia contida pela revolução jovem em Tahrir; e trataram de mergulhar na revolução, quando viram crescer a onda de apoio popular. Depois, quando a revolução entrou em período de esvaziamento, os Irmãos da FM esconderam-se atrás dos salafistas ou dos militares, como parceiros mais garantidos.

E agora, depois que conquistaram a maioria no Parlamento e já decidiram que apresentarão candidato próprio nas próximas eleições, a fase de ambiguidade tornou-se impraticável. Foi quando os Irmãos da FM tiveram de assumir posições claras.

Os Irmãos da FM já não podem ocultar a sua verdadeira cara, de reacionários decididos a controlar completamente o processo de elaboração da nova Constituição do Egito. Seus acertos com os militares e com as forças religiosas de centro encabeçadas por Al-Azhar são fluidos.

Se a Fraternidade Muçulmana vencer essa batalha pela Constituição, a Tunísia, o Egito, a Líbia, o Iêmen (e, sabe-se lá, talvez também a Síria) – e o mundo árabe estarão entrando numa era de “internacionalismo islâmico”. A Casa Branca, espertamente, aposta na esperança de controlar os Irmãos da FM e joga aí todo o seu capital político. [4]

Há aí uma mensagem também para Saeed. Se esquecer a oposição à reabertura, para a OTAN, das rotas de passagem pelo Paquistão, a Casa Branca, sem problema algum, desenrolará o tapete vermelho também para ele [5].

De fato, o modo como os EUA vão aos poucos “se engajando” com o Islã político é fascinante. Permitam-me tomar emprestada a exortação do Manifesto Comunista: “Irmãos de todo o mundo, uni-vos! Nada tendes a perder, além de dólares norte-americanos”.
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... e os EUA já subornaram a Fraternidade Muçulmana no Egito.

8/4/2012, *MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

(...) A Agência KUNA (Kuwait News Agency[6] informa que os EUA já garantiram imediata ajuda financeira de 1,5 bilhão de dólares ao governo egípcio liderado pela Fraternidade Muçulmana, depois de os Irmãos serem recebidos na Casa Branca na 5ª-feira, 5/4  [7].

Até pelos padrões lábeis da diplomacia americana, as barras do pragmatismo tiveram de ser ajustadas para acomodar os Irmãos da FM.

Tecnicamente, a Fraternidade Muçulmana ainda está empenhada numa Jihad contra os EUA e Israel. As ideias e o projeto da FM não são menos radicais que os de Hafiz Saeed. Quem tenha dúvidas, leia no Jerusalem Post, em artigo de  Barry Rubin, especialista norte-americano em questões do Oriente Médio, os pontos principais do Manifesto da Fraternidade Muçulmana [8]. E o resto é política.

Agora, interessa aos EUA deixar de lado o passado, e fazer negócio com os Irmãos da FM no Egito – o que o Repórter Diário da Fraternidade Muçulmana Global apressou-se a divulgar, como se lê em “Egyptian Muslim Brotherhood Delegation Meets With White House Staffers. É isso. Ponto final. Novo parágrafo. 

Os EUA também estão esquecendo os laços muito íntimos que há entre a Fraternidade Muçulmana e o Hamás – organização terrorista, nos termos da lei norte-americana. O Conselho das Relações Exteriores, dos principais think tanks do establishment em New York, ofereceu a casa para os Irmãos da FM visitantes.

O que ofereceriam a Hafiz Saeed – se ele estivesse/estiver à venda –, em troca da autorização para deslocar, pelo Paquistão, os materiais da OTAN?




Notas dos tradutores

[1] Sobre ele, há informação recente em: “Profile: Lashkar-e-Taiba (em inglês).
[2]5/4/2012, Middle East Online em: “Fraternidade Muçulmana do Egito recebida na Casa Branca”, em inglês.
[3]4/4/2012, Voice of America News em: “Islamist Political Party Reps, US Officials Meet”, em inglês.
[4] 5/4/2012, Russia Today, em:  Muslim Brotherhood US charm offensive belies domestic reality”, em inglês.
[5] Em entrevista exclusiva à rede Al-Jazeera, sobre a recompensa que os EUA instituíram, Saeed diz:
“Não vivo escondido em cavernas, para que tenham de criar recompensas milionárias pela minha prisão. Todos os dias, falamos a centenas de milhares de pessoas no Paquistão, e todos nos veem. Os EUA estão frustrados, porque estamos organizando manifestações em todo o país, contra a reabertura das rotas de suprimentos para a OTAN, pelas quais transitam também armas e equipamento para os aviões-robôs, drones assassinos. Os EUA nada sabem e tomam decisões a partir de informações que recebem da Índia. Tudo isso só faz crescer o sentimento antiamericano na região” (3/4/2012, Al-Jazeera, entrevista completa, em: “Al Jazeera exclusive with Hafiz Saeed”, em inglês).
[6]5/4/2012 KUNA – Kuwait News Agency : “White House releasesUSD 1,5 bln aid to Egypy, meets Brotherhood figures”, em inglês.
[7]5/4/2012, Middle East Online, matéria e imagens em:Egypt's Brotherhood welcomed at White House”, em inglês. 
[8] 10/10/2010, Jerusalem Post em: “The Region: The declaration of war that went unnoticed”, em inglês.

*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The HinduAsia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.



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