Traduzido
pelo Coletivo de Tradutores da Vila
Vudu
Um alto dirigente da Fraternidade
Muçulmana no Egito, atualmente em visita aos EUA , assegurou,
publicamente, que os Irmãos podem aprender a conviver com o acordo de paz entre
Egito e Israel. Disse ao Washington Times que “Nós respeitamos obrigações
internacionais. Ponto final.” [1]
O
governo Barack Obama prometeu dar 1,5 bilhão de dólares para ajudar o governo
chefiado pela Fraternidade Muçulmana no Cairo.
A prodigalidade tem ares de
negócio acertado [2]. A Fraternidade Muçulmana quer o
dinheiro para firmar-se no governo, sob a vigilância do povo egípcio, que
fiscalizará seu desempenho no governo. Na essência, Washington está emprestando
o dinheiro para que os Irmãos possam “cumprir” as promessas que fizeram ao povo
durante a campanha, e, “em troca”, os Irmãos aprendem a viver com Israel – ou,
pelo menos, a não precipitar, bem agora, mais um front no Sinai, quando os EUA têm
panelas fervendo no Irã, Síria, Iraque e Iêmen.
De bônus, Israel suspira aliviada,
e os dividendos correm para a campanha de Obama, em ano eleitoral. Além
disso, o ramo sírio da Fraternidade Muçulmana é também aliado [3] de Turquia, Arábia Saudita e Qatar,
todos parceiros dos EUA na empreitada de derrubar o governo de Damasco. Há
notícias de que os Irmãos sírios já se encontraram secretamente com agentes
israelenses. Como se vê, o mundo é mesmo pequeno...
Tudo isso torna infinitamente
interessantes as próximas eleições presidenciais no Egito (23/24 de maio)
[4]. A Fraternidade Muçulmana mudou
de ideia e decidiu apresentar, como candidato, seu número 2, Khairat El-Shater.
Seus adversários incluem três nomes facilmente indentificáveis como do
establishment da era Hosni Mubarak – o ex-ministro de Relações Exteriores
e chefe da Liga Árabe Abu Moussa; o ex-comandante da inteligência de Mubarak,
Omar Suleiman (chamado amorosamente de “o açougueiro do Cairo”); e o
ex-primeiro-ministro Ahmed Shafiq.
A aliança tática entre os Irmãos e
os militares [5] provavelmente rachou. E a
Fraternidade Muçulmana também tem de concorrer contra os salafistas
ultraconservadores baseados na Arábia Saudita e contra a plataforma islamista
centrista de Al-Azhar. A plataforma islamista está gravemente fragmentada e, aos
olhos dos EUA, a Fraternidade Muçulmana parece mais homogênea.
Perdem,
é claro, os liberais e os secularistas egípcios, que deveriam ser aliados
“naturais” dos EUA na revolução democrática.
Mas é que os EUA querem estar “do
lado certo da história”. [6]
____________________________
Notas dos tradutores
[1] Ver 9/4/2012, WashingtonTimes, em: “MUSLIM BROTHERHOOD SEEKS U.S. ALLIANCE”, em inglês.
[2]
Ver 9/4/2012, redecastorphoto, MK Bhadrakumar, “Casa Branca pisca o olho para Hafiz
Saeed...”
[3]
Ver 26/3/2912, Hurriyet News, Ancara em: “Syria's
Muslim Brotherhood meets in Turkey” [Fraternidade Muçulmana da Síria
reúne-se na Turquia”, em inglês.
[4] Ver 2/4/2012, Daralhayat “An Expert’s Mistake” [Erro de especialista], em inglês.
[4] Ver 2/4/2012, Daralhayat “An Expert’s Mistake” [Erro de especialista], em inglês.
[5]
Ver 9/4/2012, Press TV, Teerã, “Egypt junta says 'neutral'
towards presidential hopefuls” [Junta egípcia se declara neutra em
relação aos candidatos à presidência], em inglês.
[6] Ver 15/2/2011, National Public Radio, EUA, “Obama:
U.S. Is ‘On Right Side Of History’ in Middle East” [Obama: os EUA estão
do lado no Oriente Médio”, em inglês.
*MK
Bhadrakumar foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do
Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e
segurança para várias publicações, dentre as
quais The
Hindu, Asia
Online e Indian Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
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