Robert Dreyfuss |
30/9/2011, Robert Dreyfuss, The Nation
Traduzidopelo Coletivo da Vila Vudu
Agora já se sabe o que o presidente Saleh do Iêmen quis dizer com a resposta cifrada que deu ontem a jornalistas do Washington Post e do Time: “Estamos combatendo a al-Qaeda em Abyan [no Iêmen] em coordenação com EUA e Arábia Saudita”. O desafiador Saleh, que há muito tempo se auto promove como homem dos EUA na, como se vê, Longa Guerra ao Terrorismo [ing. Long War on Terrorism (LWT)], sabe, ao que parece, do que está falando.
Horas depois, os militares do Iêmen anunciaram que um míssil matara Anwar al-Awlaki, clérigo islamista nascido nos EUA e cidadão norte-americano que foi conectado à Al Qaeda e a recentes tentativas de atentados contra os EUA.
Não é exatamente um Osama bin Laden, cujo assassinato no Paquistão em abril, contribuiu para a escalada atual no confronto entre EUA e Paquistão. Mas o assassinato de Awlaki – porque foi exatamente isso, um assassinato – é sinal de que o governo Obama levará a Longa Guerra ao Terrorismo aos confins do planeta, sem medir consequências, inclusive quando signifique assassinar cidadãos norte-americanos.
Não que assassinar cidadãos de outros países seja assassinato kosher, mas o estado norte-americano assassinar cidadão norte-americano com certeza não é. Afinal, ainda há leis, leis são leis, e cidadãos norte-americanos têm direitos legais e civis que os protegem contra perseguição política e execuções por perseguição política, ainda que não sejam exatamente os “mocinhos. Pelo que agora se vê, já não é assim.
Seja como for, o assassinato de Awlaki não é surpresa, porque o governo Obama já há muito tempo o definira como alvo a eliminar. Como se lê no Wall Street Journal, a CIA tentou, recentemente, assassinar Awlaki: “Mr. Awlaki escapou recentemente de atentado, em maio. Aviões-robôs [drones] bombardearam um carro na província de Shebwa, no sul do Iêmen, que o clérigo havia dirigido horas antes, no mesmo dia.”
Desde então, os EUA expandiram muito o raio de ataque dos aviões-robôs Predator e Reaper, para além dos limites do Afeganistão e Paquistão, instalando bases em ilhas do Oceano Índico, visando o Iêmen, a Somália e outros países.
Os assassinatos foram anunciados, primeiro, pelo exército e pelo ministro da Defesa do Iêmen. A ironia é que o Iêmen está à beira de uma guerra civil, na qual o establishment, inclusive o comando militar, está com as lealdades divididas.
No mesmo atentado coordenado e praticado pelos EUA foram assassinados dois cidadãos norte-americanos:
“O ministro de Defesa do Iêmen informou que outro militante norte-americano foi morto, além de al-Awlaki – Samir Khan, cidadão norte-americano, de ascendência paquistanesa, que produzia e editava a revista Inspire, publicação online da al-Qaeda, editada em inglês, que distribuía informações sobre como organizar ataques dentro dos EUA”.
Awlaki nasceu no Novo México e foi acusado de participar no planejamento dos ataques em Fort Hood, tiroteio contra uma base militar no Texas, e da tentativa de explodir um carro em Times Square, embora não se saiba exatamente o que teria feito nem nesses nem em outros casos, quer dizer, não se sabe se concebeu ou planejou diretamente essas ações ou se foi o inspirador espiritual das pessoas que já planejavam atos de violência.
O que se deve destacar é que Awlaki não foi formalmente acusado de coisa alguma, não há processo contra ele, nem nesses casos nem em outros, e nunca se provou qualquer acusação feita contra ele. A CIA e o aparato de segurança nacional dos EUA o “acusaram”, “condenaram” e executaram contra ele uma sentença de morte que oficialmente nunca houve.
Em entrevista ao Wall Street Journal, um alto funcionário dos EUA disse que “o morto é terrorista conhecido, que sempre planejou atacar os EUA, fora do campo de batalha. Awlaki e a Al-Qaeda na Península Arábica também são responsáveis por vários atentados terroristas no Iêmen e em toda a região, nos quais morreram muitos muçulmanos.”
Sim, mas a questão não é que Awlaki e AQPA matem ou não matem muitos muçulmanos. A questão é que, a menos que o governo Obama já não se envergonhe de mostrar-se ao mundo como um esquadrão da morte, não poderia estar envolvido no sujo negócio de assassinato sem processo e julgamento, matando quando queira e quem decida matar, por mais muçulmanos, hindus, judeus ou cristãos que outros matem.
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