11/3/2012, *MK
Bhadrakumar,
Indian Punchline Blog
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Será que este encontro se repetirá? |
Quando
você demora uma semana inteira para pegar seu telefone vermelho e digitar um
número, você já disse muito. Sobretudo se for telefonema de congratulações. A
nenhuma pressa diz ao interlocutor que você, de fato, não está explodindo de
felicidade; que está apenas cumprindo regra de protocolo, comunicando-se com
alguém com quem talvez seja forçado a negociar.
Não
há dúvida de que o presidente Barack Obama dos EUA disse muito, ao deixar passar
uma semana, até a última 6ª-feira, último dia de trabalho da semana, para só
então telefonar a Vladimir Putin, presidente eleito da Rússia, e apresentar suas
congratulações pela vitória nas eleições de 4/3/2012. Em resumo, Obama deixou
bem claro que não tinha pressa, e, portanto, pouco interesse, naquela eleição; e
fez questão de que Moscou entendesse o recado.
Os
colegas ocidentais de Obama já haviam telefonado há muito tempo. Claro, o
Departamento de Estado pronunciou-se imediatamente depois das eleições do dia 4.
Curiosamente, o Departamento de Estado deu parabéns ao povo russo. O nome de
Putin não é sequer mencionado na declaração. Washington deixou implícito que os
interesses dos EUA orientarão sua política para a Rússia; que os homens não
fazem diferença. Em seguida, o Departamento de Estado pôs a exigir investigações
sobre irregularidades nas eleições – apesar de o resultado haver apontado “um
vencedor claro, com maioria absoluta de votos”. Em resumo, Washington continua a
dar “sermões” sobre o lento avanço, na Rússia, da democracia liberal à moda
ocidental.
Washington
estava atenta à reação pública na Rússia. Afinal, deve ter-se convencido de que
não haveria mesmo uma “revolução colorida” por lá. Até a mídia ocidental, que
mostra atitude
démodée, arcaica, de hostilidade à moda Guerra Fria, contra Putin,
já admitiu, a contra gosto, que as manifestações anti-Putin estão cada dia mais
esvaziadas.
Assim,
sendo, como se pode deduzir, Obama resolveu que teria de voltar ao batente. A
manifestação da Casa Branca foi gélida, sem nem vestígio do calor que sempre se
vê nessas ocasiões consideradas festivas, como eleições, no mundo da democracia.
(Até o primeiro-ministro David Cameron, da Grã-Bretanha, foi mais pessoal e
caloroso, apesar de as relações GB-Rússia atingirem temperaturas abaixo de
zero.)
A referência à “futura cooperação” à luz da admissão da
Rússia como membro da Organização Mundial do Comércio [1]
é
interessante. Terá Obama prometido, pela enésima vez, que trabalhará para o
cancelamento da emenda Jackson-Vanik de 1974 ao embargo comercial [2]?
Agora, com a Rússia admitida como membro da OMC, aquela emenda é ainda mais
insustentável.
Mais
uma vez, as diferenças entre EUA e Rússia, sobre a Síria e sobre o escudo de
mísseis de defesa vieram à tona. E há clara referência a “obstáculo a melhores
relações”. Mas o Irã e o Afeganistão foram listados como áreas de cooperação.
Humm. Pelo visto, o “reset” é bem
seletivo.
Putin
visitará os EUA por ocasião do encontro do G-8, em maio, em Camp David. E a Rússia também foi
convidada para a cúpula da OTAN em Chicago, em maio. Moscou respondeu que a
decisão de ir ou não ir dependerá de avanços na discussão do escudo de mísseis.
Mas a “declaração” oficial não fala do encontro da OTAN.
Apesar
de Obama ter demorado tanto a saudar a eleição de Putin, os EUA serão um dos
primeiros países que Putin visitará nas viagens ao exterior que fará depois de
voltar ao Kremlin. Mas, será seu primeiro pouso? Meu palpite é que Putin dará
seu recado, ele também, ao visitar algumas das ex-repúblicas soviéticas, antes
de rumar para Camp
David.
Para
não deixar dúvidas: Obama deixou bem claro que a Rússia não é prioridade da
política externa dos EUA. Moscou entendeu. Foi telefonema que vários outros
também aguardavam. Gente, por exemplo, em Pequim, Teerã, Damasco e
Islamabad.
Notas
dos tradutores
[1]
A
Rússia só foi admitida como membro da OMC em dezembro do ano passado, “depois de
18 anos de negociações”. Mais sobre isso em: “Russia becomes WTO member after 18 years of talks”.
[2] É lei do Congresso, vigente nos
EUA desde 1974, que restringia o comércio com a então União Soviética. Naquela
ocasião, a lei foi aprovada para pressionar a URSS a permitir a emigração;
continua vigente, agora contra a Rússia, e sempre foi um dos obstáculos à
admissão da Rússia como membro da OMC (mais sobre isso, em: “U.S. Obama pledges end of
Jackson-Vanik amendment for Russia”
*MK Bhadrakumar foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre
temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais
The
Hindu,
Asia
Online e Indian Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
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