quinta-feira, 8 de março de 2012

“Anonymous”: Ecos das notícias de um “top hacker” que cantou para os Federais



7/3/2012, Quinn Norton, Wired 
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

“Todos os conflitos brotam da desigualdade social e dos que usam a desigualdade a favor deles mesmos. Nossa civilização enfrenta hoje uma mudança iminente, radical, de massa. A alternativa à estrutura hierárquica de poder depende de nos ajudarmos mutuamente e aprendermos a construir consensos (vários) em grupo. Os hackers entendem os sistemas, sabem manipulá-los e, sendo preciso, também sabemos derrubá-los”.

“Não me surpreenderei se toda a história da prisão de Sabu for pura ficção, do começo ao fim. Também não me surpreenderei se for tudo verdade. Não desistam, hacktivistas! Graças a vocês, a geopolítica ficou realmente interessante”.


Pouco depois de abalados pela notícia de que 25 Anons falantes de espanhol haviam sido presos semana passada, os Anonymous foram sacudidos, na 3ª-feira, pelas notícias [1] de que Hector Xavier Monsegur, nome civil de um destacado hacker AntiSec conhecido como “Sabu”, estaria cooperando com o FBI na caçada para identificar outros hackers Anons dos coletivos virtuais Lulzsec e Antisec.

Quinn Norton
As manifestações, no chat nos servidores IRC dos Anons e em contas do Twitter não associadas aos Anons, variaram, na 3ª-feira, da negação de qualquer envolvimento de Sabu, ao mais furioso ultraje e total ira contra Monsegur. Alguém, que trabalhou com Sabu nos Antisecs – o braço mais militante e “invasor” dos Anonymous – disse que os Antisecs estavam “emocionalmente devastados” e “chocados” ante aquelas notícias.

“Na minha opinião, Sabu sempre foi ótimo sujeito. Acordei hoje com a mensagem de que as prisões aconteceram. Para mim, Sabu sabe o que está fazendo” – disse o Anon num chat online. “Agora entendo por que fui expulso do Antisec” – continuou ele, sugerindo que Sabu o (a) teria expulsado antes, para protegê-lo (a) da perseguição.

Outro Anon fala de Sabu como de um guia, um mentor; diz que Sabu sempre o (a) estimulou e ensinou-lhe sobre a programação Python.

“Sinceramente, nunca teria conseguido aprender sem Sabu, se ele não passasse um bom tempo me dando muitas dicas de profissional... me mostrando que quase não há limites ao que se pode fazer [com a programação Python], se você programa certo.”

Hector Xavier Monsegur (Sabu)
Mas, no contexto temporal da prisão de Monsegur – que não foi amplamente noticiada quando aconteceu, no verão – o mesmo Anon observou uma mudança no comportamento de Monsegur. Monsegur tornou-se mais distante e, apesar de sempre ter manifestado uma ânsia nada-Anonymous de fama [2] que foi criticada (“de um ponto em diante, era tudo ele-ele-ele. E ele mandava algumas mensagens quase incompreensíveis, sobre como fazia o que fazia pelos Anonymous etc. etc., mas de um ponto em diante, parei de acreditar naquilo. Acho que muita gente também parou”).

Segundo vários Anons, mais ou menos naquele momento Monsegur passou a interessar-se por ampla variedade de operações, inclusive operações nas quais ele não estivera envolvido.

Mas apesar das mudanças e, afinal, da traição, muitos Anons resistem a condenar Monsegur no caso da prisão de companheiros Anons que resultou da cooperação de Monsegur com os Federais.

“Era ou 124 anos para Sabu, ou 10 anos para cada um dos outros” – disse o primeiro Anon Antisec. “Entendo por que ele fez o que fez, mas todo o coletivo foi prejudicado por causa dos problemas dele. E Anonymous não é exército pessoal de ninguém. Nem Antisec.”

O risco de Monsegur receber pena de 124 anos de prisão impressionou os Anons, que consideraram desproporcional a pena. Nas palavras de um deles: “Sabu é quase um Topiary e só um nada menos bandido que Bernie Madoff, segundo a classificação ‘por anos de cadeia’ do FBI” – referindo-se a idade suposta de um dos membros de Lulzsec que Monsegur entregou e a sentença comparativamente mais leve que a que cumpre hoje o fraudador autor de golpe de bilhões de dólares.

A informação que Monsegur ofereceu levou a novas acusações [3] contra Ryan Ackroyd e Jake Davis, que já haviam sido acusados de participar da onda de operações de hacking na última primavera. A cooperação com os Federais também levou à prisão e à acusação formal contra Darren Martyn e Donncha O’Cearrbhail, em conexão com os Lulzsec; e contra Jeremy Hammond,  [4] em conexão com Antisec. Hammond, especificamente, está sendo acusado de participação na grande operação de hacking contra a empresa Stratfor  [5], empresa privada de inteligência que presta serviços remunerados a inúmeras grandes corporações; aquela operação levou à publicação, por WikiLeaks, semana passada, de grande quantidade de e-mails internos da Stratfor  [6].

Jeremy Hammond [4]
Jeremy Hammond de Chicago é ativista e hacker, já teve outros confrontos com a lei, tem-se manifestado sobre a desobediência civil eletrônica e chegou a ser tema de matéria publicada na Chicago Magazine  [7].

No dia das prisões, divulgou-se que Monsegur declarara-se culpado de 12 crimes, entre os quais conspiração para invadir computadores (hacking) e conspiração para cometer fraude bancária, dentre outros crimes. Não se divulgou qualquer detalhe sobre qualquer tipo de acordo que tenha levado Monsegur a decidir colaborar com os Federais.

Para o longo prazo, muitos Anons creem que nada disso terá efeitos profundos.

“Sabu e o ‘grande-ameaça’ [Hammond] sabem de muita coisa” – disse um Anon em entrevista à revista Wired. – “Pode-se assumir que toda aquela informação já pertence ao FBI. Se os Anons tomaram medidas para continuar Anonymous nos contatos com esse pessoal... a vida continuará como sempre, sem grandes mudanças.” 

Alguns Anons também republicaram um vídeo chamando atenção para a influência superestimada que o grupo teria tido em 2011 [8], talvez um modo de sugerir que as prisões não deterão um grupo que evoluiu de alguns trolls maneiros, até converter-se numa força ativa e reconhecida no cenário mundial.

O Anon que foi expulso dos Antisec por Sabu pôs as coisas nos seguintes termos, em um chat com a revista Wired pelo IRC:

  • Anon: temos de retomar nossas vidas 
  • Anon: e seguir em frente 
  • Anon: antisec
  • Anon: anonymous
  • Anon: tudo!
  • Anon: Continuarei a fazer o que sempre fiz pelos Anonymous
  • Anon: Você já viu hoje 
  • Anon: Muster Room Antisec continua [comentando o desmonte, assinado por Antisec, de um pequeno site de policiais]
  • Anon: Anonymous segue adiante 
  • Anon: Acho que não passou de uma injeção de estimulante para o coletivo
  • Anon: e porrada emocional gigante, no plano individual.

Conforme o quadro no qual se analisem os Anonymous, pode ser verdade. Embora as prisões tenham efeito devastador sobre a ala hacking mais midiogênica dos Anonymous, outras partes do coletivo mais envolvidas no ativismo tradicional praticamente não dão sinais de qualquer abalo. A atividade dos Anonymous contra a lei SOPA e outras leis nos EUA, como a recente HR 347, e o tratado ACTA na Europa, ganham cada vez mais impulso. E até agora nada superou as “operações liberdade” [orig. freedom ops] de colaboração com manifestantes nas ruas do Oriente Médio.

Isso posto, não há dúvidas de que a lei venceu uma batalha importantíssima na 3ª-feira passada, numa guerra que será inevitavelmente longa entre a lei e os Anonymous que creem que haja mais justiça fora, do que dentro, dos limites da lei. E não há o que os Anons digam e divulguem, que desminta esse fato.



Notas dos tradutores
*Epígrafes acrescentadas pelos tradutores

[1] LulzSec Leader Was Snitch Who Helped Snag Fellow Hackers”.

[4] Longa entrevista com Jeremy Hammond - The Hacktivist em Chicago Magazine, (frase da entrevista em epígrafe). 
[7] idem nota [4] 
[8] “Anonymous' LulzXmas

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