7/3/2012,
Quinn Norton, Wired
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
“Todos
os conflitos brotam da desigualdade social e dos que usam a desigualdade a favor
deles mesmos. Nossa civilização enfrenta hoje uma mudança iminente, radical, de
massa. A alternativa à estrutura hierárquica de poder depende de nos ajudarmos
mutuamente e aprendermos a construir consensos (vários) em grupo. Os hackers entendem os sistemas, sabem manipulá-los e,
sendo preciso, também sabemos derrubá-los”.
“Não
me surpreenderei se toda a história da prisão de Sabu for pura ficção, do começo
ao fim. Também não me surpreenderei se for tudo verdade. Não desistam, hacktivistas! Graças a vocês, a geopolítica ficou
realmente interessante”.
Pouco depois de abalados pela notícia de que 25 Anons falantes de espanhol haviam sido
presos semana passada, os Anonymous
foram sacudidos, na 3ª-feira, pelas notícias [1]
de
que Hector Xavier Monsegur, nome civil de um destacado hacker
AntiSec
conhecido como “Sabu”, estaria cooperando com o FBI na caçada para
identificar outros hackers Anons dos coletivos virtuais Lulzsec e Antisec.
Quinn Norton |
As
manifestações, no
chat nos servidores IRC dos Anons e em contas do Twitter não associadas aos Anons, variaram, na 3ª-feira, da negação
de qualquer envolvimento de Sabu, ao mais furioso ultraje e total ira contra
Monsegur. Alguém, que trabalhou com Sabu nos Antisecs – o braço mais militante e
“invasor” dos Anonymous – disse que
os Antisecs estavam “emocionalmente
devastados” e “chocados” ante aquelas notícias.
“Na
minha opinião, Sabu sempre foi ótimo sujeito. Acordei hoje com a mensagem de que
as prisões aconteceram. Para mim, Sabu sabe o que está fazendo” – disse o Anon num chat online. “Agora entendo por que
fui expulso do Antisec” – continuou
ele, sugerindo que Sabu o (a) teria expulsado antes, para protegê-lo (a) da
perseguição.
Outro
Anon fala de Sabu como de um guia, um
mentor; diz que Sabu sempre o (a) estimulou e ensinou-lhe sobre a programação
Python.
“Sinceramente,
nunca teria conseguido aprender sem Sabu, se ele não passasse um bom tempo me
dando muitas dicas de profissional... me mostrando que quase não há limites ao
que se pode fazer [com a programação Python], se você programa
certo.”
Hector Xavier Monsegur (Sabu) |
Mas, no contexto temporal da prisão de Monsegur – que
não foi amplamente noticiada quando aconteceu, no verão – o mesmo Anon observou uma mudança no
comportamento de Monsegur. Monsegur tornou-se mais distante e, apesar de sempre
ter manifestado uma ânsia nada-Anonymous de fama [2]
que
foi criticada (“de um ponto em diante, era tudo ele-ele-ele. E ele mandava
algumas mensagens quase incompreensíveis, sobre como fazia o que fazia pelos Anonymous etc. etc., mas de um ponto em
diante, parei de acreditar naquilo. Acho que muita gente também parou”).
Segundo
vários Anons, mais ou menos naquele
momento Monsegur passou a interessar-se por ampla variedade de operações,
inclusive operações nas quais ele não estivera envolvido.
Mas
apesar das mudanças e, afinal, da traição, muitos Anons resistem a condenar Monsegur no
caso da prisão de companheiros Anons
que resultou da cooperação de Monsegur com os Federais.
“Era
ou 124 anos para Sabu, ou 10 anos para cada um dos outros” – disse o primeiro Anon Antisec. “Entendo por que ele fez o
que fez, mas todo o coletivo foi prejudicado por causa dos problemas dele. E Anonymous não é exército pessoal de
ninguém. Nem Antisec.”
O
risco de Monsegur receber pena de 124 anos de prisão impressionou os Anons, que consideraram desproporcional
a pena. Nas palavras de um deles: “Sabu é quase um Topiary e só um nada menos
bandido que Bernie Madoff, segundo a classificação ‘por anos de cadeia’ do FBI”
– referindo-se a idade suposta de um dos membros de Lulzsec que Monsegur entregou e a
sentença comparativamente mais leve que a que cumpre hoje o fraudador autor de
golpe de bilhões de dólares.
A informação que Monsegur ofereceu levou a novas
acusações [3]
contra
Ryan Ackroyd e Jake Davis, que já haviam sido acusados de participar da onda de
operações de
hacking
na última primavera. A cooperação com os Federais também levou à prisão e
à acusação formal contra Darren Martyn e Donncha O’Cearrbhail, em conexão com os
Lulzsec; e contra Jeremy Hammond,
[4]
em
conexão com Antisec. Hammond, especificamente, está sendo acusado de
participação na grande operação de hacking contra a empresa Stratfor [5],
empresa privada de inteligência que presta serviços remunerados a inúmeras
grandes corporações; aquela operação levou à publicação, por WikiLeaks, semana passada, de grande
quantidade de
e-mails
internos da Stratfor [6].
Jeremy Hammond [4] |
Jeremy
Hammond de Chicago é ativista e hacker, já teve outros confrontos
com
a lei, tem-se manifestado sobre a desobediência civil eletrônica e chegou a ser
tema de matéria publicada na Chicago Magazine [7].
No
dia das prisões, divulgou-se que Monsegur declarara-se culpado de 12 crimes,
entre os quais conspiração para invadir computadores (hacking) e
conspiração para cometer fraude bancária, dentre outros crimes. Não se divulgou
qualquer detalhe sobre qualquer tipo de acordo que tenha levado Monsegur a
decidir colaborar com os Federais.
Para
o longo prazo, muitos Anons creem que
nada disso terá efeitos profundos.
“Sabu
e o ‘grande-ameaça’ [Hammond] sabem de muita coisa” – disse um Anon em entrevista à revista Wired. –
“Pode-se assumir que toda aquela informação já pertence ao FBI. Se os Anons tomaram medidas para continuar Anonymous nos contatos com esse
pessoal... a vida continuará como sempre, sem grandes mudanças.”
Alguns Anons
também republicaram um vídeo chamando atenção para a influência superestimada
que o grupo teria tido em 2011
[8],
talvez um modo de sugerir que as prisões não deterão um grupo que evoluiu de
alguns
trolls maneiros, até converter-se numa força ativa e reconhecida
no cenário mundial.
O
Anon que foi expulso dos Antisec por Sabu pôs as coisas nos
seguintes termos, em um chat com a revista Wired pelo IRC:
- Anon:
temos de retomar nossas vidas
- Anon: e
seguir em frente
- Anon: antisec
- Anon: anonymous
- Anon:
tudo!
- Anon:
Continuarei a fazer o que sempre fiz pelos Anonymous
- Anon:
Você já viu hoje
- Anon: Muster Room Antisec continua
[comentando o desmonte, assinado por
Antisec, de um pequeno site de policiais]
- Anon: Anonymous segue adiante
- Anon:
Acho que não passou de uma injeção de estimulante para o coletivo
- Anon: e
porrada emocional gigante, no plano
individual.
Conforme
o quadro no qual se analisem os Anonymous, pode ser verdade. Embora as
prisões tenham efeito devastador sobre a ala hacking mais midiogênica dos Anonymous, outras partes do coletivo
mais envolvidas no ativismo tradicional praticamente não dão sinais de qualquer
abalo. A atividade dos Anonymous
contra a lei
SOPA
e outras leis nos EUA, como a recente HR 347, e o tratado ACTA na Europa, ganham
cada vez mais impulso. E até agora nada superou as “operações liberdade”
[orig.
freedom ops] de colaboração com manifestantes nas ruas do Oriente
Médio.
Isso
posto, não há dúvidas de que a lei venceu uma batalha importantíssima na
3ª-feira passada, numa guerra que será inevitavelmente longa entre a lei e os Anonymous que creem que haja mais
justiça fora, do que dentro, dos limites da lei. E não há o que os Anons digam e divulguem, que desminta
esse fato.
Notas
dos tradutores
*Epígrafes
acrescentadas pelos tradutores
[1] “LulzSec Leader
Was Snitch Who Helped Snag Fellow Hackers”.
[3] “Six
Hackers in the United
States and Abroad Charged for Crimes Affecting
Over One Million Victims”
[4] Longa
entrevista com Jeremy Hammond - “The
Hacktivist” em Chicago Magazine,
(frase da entrevista em epígrafe).
[7] idem
nota [4]
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