6/3/2012, Pepe
Escobar,
Asia Times Online
“Is Bibi the Bully
wagging the American dog?”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Pepe Escobar |
Já
antes do fatídico encontro na Casa Branca, nessa 2ª-feira, o presidente dos EUA
Barack Obama deixou claro, publicamente, que o primeiro-ministro de Israel
Benjamin “Bibi” Netanyahu não o demoveria. Será?
Não
importa quanta ginástica retórica faça Obama, sempre se poderá argumentar que
“Bibi” Netanyahu vive de sacudir o cachorro americano, em tempo integral. Pior:
o governo de Israel, dominado pelo Partido Likud, sozinho, está brincando de
lançar vastas esferas da economia global em total depressão, enquanto sua
histeria faz os preços do petróleo subirem à estratosfera.
O
mundo é refém dos desígnios de Israel, mesmo que os mais de 120 países membros
do Movimento dos Não Alinhados (MNA) apóiem o direito do Irã de enriquecer
urânio, e que Rússia, China e Índia, dos BRICS, além da Turquia, ignorem o
embargo que EUA e União Europeia aplicaram ao petróleo – verdadeira declaração
de guerra contra o Irã.
A
reunião do AIPAC (American Israel
Public Affairs Committee) em Washington acontece num Coliseu intimidatório,
cavernoso, onde turbas de ricos ululam em uníssono pedindo o sangue do Irã.
Tático passável, mas péssimo estrategista, a única cartada de “Bibi” na cidade é
“bombardeiem o Irã”.
Isso
se justificaria pela “ameaça existencial” que um Irã não nuclear representaria
contra um estado militar nuclear, colonizador, que está literalmente, em termos
gráficos, esmagando todo um povo (os palestinos), empurrando-o para fora do
mapa.
Semana
passada, mais uma prova surgiu da falácia que é a “ameaça nuclear”, em fala do
próprio Supremo Líder aiatolá Ali Khamenei em pessoa, já antes da vitória total
de seus apoiadores nas eleições parlamentares da 6ª-feira – que efetivamente
converteram o presidente Mahmoud Ahmadinejad em pato manco.
Aiatolá Khamenei |
As
palavras de Khamenei devem ser repetidas e repetidas o mais possível, porque a
imprensa-empresa dos EUA, sedenta de sangue, simplesmente não as publicará.
Khamenei
disse que:
“Armas nucleares não nos trazem, de modo algum, qualquer
benefício. Além disso, de uma perspectiva ideológica de um governo xiita [velayat-e faqih], entendemos que desenvolver
armas nucleares é procedimento ilegal e proscrito. Usar armas nucleares é,
segundo nosso entendimento, grande pecado. Também entendemos que armazenar tais
armas é inútil e perigoso”. [1]
Presidente, derrube esse muro[2]
Mais
uma vez, a prova gráfica de que Israel exerce controle virtual sobre a política
externa dos EUA foi ver um presidente norte-americano falando em tom defensivo
no Coliseu do AIPAC. À parte um
festival de intimações delirantes, orwellianas, Obama pelo menos, diga-se a seu
favor, enfatizou a palavra “democracia”, não especificou qualquer “linha
vermelha”, nem endossou a ideia de que a simples “capacidade” do Irã para
construir uma arma nuclear configuraria
casus belli. Afinal, ele sabe que já tem mais votos entre os
judeus norte-americanos que no eleitorado geral do país.
Mas
afinal de contas, Obama, sim, cedeu ante “Bibi” – com uma retórica não
totalmente diferente da de Tony Soprano, o mafioso. E o “componente militar”
permaneceu, sim, sobre a mesa. Mas
“Bibi” – em mais uma manifestação da mesma voracidade que com que devora terras
palestinas – quer mais.
Adotem
a rota que for – sobrevoar a Síria e a Turquia, e ainda que acertem os alvos
cruciais em Natanz, Arak, Isfahan e Fordow – os mísseis Jericho de Israel têm chance zero de paralisar,
porque de destruir nem se cogita, o complexo aparelho decisório da República
Islâmica. Esqueçam qualquer chance de “humilhação” ou de mudança de regime. Até
o major-general Amos Gilad, chefe do Gabinete de Segurança Diplomática do
Ministério da Defesa de Israel, já reconheceu, em outubro passado, que Israel
não pode vencer. Por isso é que “Bibi” tanto quer arrancar uma promessa formal
de que os EUA farão o serviço sujo.
"Bibi" Netanyahu |
Segundo
recente pesquisa em Israel, 34% dos israelenses são contra bombardear o Irã. Mas
42% são a favor, se os EUA, pelo menos, apoiarem o ataque. Como é doce
subcontratar uma superpotência, para que combata, por você, suas “ameaças
existenciais” de ficção.
O
que “Bibi” mais deseja é que um Republicano derrote Obama em novembro. Obama
sabe que nem o Rei do Flip
Flop Mitt Romney nem o aiatolá Rick
Santorum têm votos para derrotá-lo. Mas, sim, ele pode ser derrotado pela
proverbial bomba de gasolina nos EUA. O problema é que, submeta-se ou não às
demandas absolutistas de “Bibi”, os preços do petróleo sobem; já subiram cerca
de 20%, e o aumento pode chegar a 50% ou mais, se os especuladores farejarem
ataque iminente.
Teerã
pode ter a chave para desmontar todo o psicodrama – e a especulação demencial
nos preços do petróleo. Pelo final de março, início de abril, com sua autoridade
imensamente fortalecida, negociadores que negociarão em nome do aiatolá Khamenei
estarão de volta à mesa, para discutir o dossiê nuclear com os países P5+1 –
EUA, França, Grã-Bretanha, Rússia e China, mais a Alemanha.
O
próprio Obama pode também ter a chave. Poderia dar uma de Nixon – que foi à
China encontrar-se com Mao, em 1972 – e propor a Khamenei uma conversa
cara-a-cara. O complexo imprensa-indústria-Pentágono, o Big Oil, os militantes de “Primeiro
Israel” e, especialmente, “Bibi”, enlouquecerão de fúria, só verão sangue à
frente, todos os tons de vermelho. Mas, ora! É preciso ter culhões para merecer
um prêmio Nobel da Paz. Obama, você derrubará esse muro (de desconfiança)? Aqui, o trecho do discurso de Obama, no AIPAC
[3],
centrado no Irã:
Obama discursa para o AIPAC |
Hoje
não há dúvida – em qualquer parte do mundo – de que os EUA insistirão na defesa
e na legitimidade de Israel. Será também verdade, enquanto continuamos nos
nossos esforços em busca da paz. E será também verdade quando se chegar à
questão que tanto nos ocupa, todos nós, hoje: o programa nuclear iraniano –
ameaça que tem o potencia para concretizar a pior retórica sobre a destruição de
Israel com as armas mais perigosas do mundo.
Comecemos
por uma verdade básica que todos vocês entendem: nenhum governo israelense pode
tolerar uma arma atômica em mãos de regime que nega o Holocausto, ameaça varrer
Israel do mapa, e patrocina grupos terroristas comprometidos com a destruição de
Israel. E é assim que entendo a profunda obrigação histórica que pesa sobre os
ombros de Bibi Netanyahu, Ehud Barak e de todos os líderes israelenses.
Um
Irã nucelar é completamente contrário aos interesses da segurança de Israel. Mas
também é contrário aos interesses da segurança nacional dos EUA. Na verdade,
todo o mundo tem interesse em impedir que o Irã chegue a uma arma nuclear. Um
Irã armado com arma nuclear poria abaixo todo o regime de não proliferação que
tanto nos custou construir. Há riscos de que uma arma nuclear iraniana caia em
mãos de alguma organização terrorista. É quase certo que outros, na região,
sentir-se-ão obrigados a ter sua própria arma nuclear, o que dispararia uma
corrida armamentista numa das regiões mais voláteis do mundo. Fortaleceria um
regime que brutalizou o próprio povo, e fortaleceria próximos do Irã, que
executaram ataques terroristas do Levante ao sudoeste da Ásia.
Eis
a razão pela qual, há quatro anos, fiz uma promessa ao povo americano e disse
que nós usaríamos todos os elementos do poder dos EUA para pressionar o Irã e
impedir o Irã de construir uma arma nuclear. Foi o que fizemos.
Quando
assumi a presidência, os esforços para pressionar o Irã estavam em frangalhos. O
Irã andara, de zero centrífugas em operação, para milhares delas, sem ter
enfrentado qualquer oposição mundial. Na região, o Irã estava em ascensão – cada
vez mais popular, e ampliando seu alcance. Em outras palavras, a liderança
iraniana estava unida e em andamento, e a comunidade internacional estava
dividida sobre como avançar.
Assim,
desde os primeiros meses de meu governo, impusemos uma escolha bem clara ao
regime iraniano: um caminho que lhes permitira integrar-se à comunidade das
nações, se cumprissem suas obrigações internacionais, ou um caminho que levaria
a uma série crescente de consequências, se não as cumprissem. De fato, nossa
política de engajamento – que o regime iraniano logo rejeitou – nos permitiu
unir a comunidade internacional como jamais antes; expor a intransigência do
Irã; e aplicar pressões que são muito superiores às que os EUA poderiam aplicar
se estivéssemos sós.
Graças
aos nossos esforços, o Irã vive hoje sobre pressão maior do que jamais antes.
Houve quem previsse que Rússia e China não nos acompanhariam no movimento por
pressões. E nos acompanharam. E no Conselho de Segurança em 2010, grande maioria
apoiou um amplo esforço a favor de pressões. Poucos supuseram que as sanções
teriam efeito imediato sobre o regime iraniano. E tiveram, tornando mais lento o
programa nuclear iraniano e virtualmente obrigando a economia iraniana a parar
em 2011. Muitos questionaram se conseguiríamos manter unida nossa coalizão,
quando fomos contra o Banco Central do Irã e as exportações de petróleo. Mas
nossos amigos na Europa e na Ásia e por toda a parte estão-se unindo a nós. Em
2012, o governo iraniano enfrenta a perspectiva de sanções ainda mais
incapacitantes.
Nesse
ponto estamos hoje. O Irã está isolado, a liderança iraniana está dividida e
pressionada. E a Primavera Árabe só fez aprofundar essas tendências, ao expor a
hipocrisia do regime iraniano, e seu aliado – o regime de Assad – está
desmoronando.
Claro
que, enquanto o Irã não cumprir suas obrigações, o problema permanece sem
solução. A implementação efetiva de nossa política não basta – temos de alcançar
plenamente nosso objetivo.
Nesse
esforço, creio firmemente que ainda há uma oportunidade para que a diplomacia –
apoiada em pressões – seja bem-sucedida. EUA e Israel avaliam, ambos, que o Irã
ainda não tem uma arma nuclear, e monitoramos muito de perto, com atenção total,
o programa iraniano. E a comunidade internacional tem a responsabilidade de usar
o espaço e o tempo que há. As sanções continuam a aumentar, e em julho próximo –
graças a nossa coordenação diplomática – entrará em vigência a proibição de
importações de petróleo iraniano para a Europa. Antes essas consequências cada
vez mais duras, os líderes iranianos ainda têm oportunidade para tomar a decisão
certa. Podem escolher um caminho que os traga de volta à comunidade das nações,
ou podem continuar rumo a um beco sem saída.
Considerada
sua história, não há, é claro, garantias de que o regime iraniano fará a escolha
certa. Mas nós ambos, Israel e os EUA temos interesse em ver esse desafio
resolvido diplomaticamente. Afinal, o único modo de verdadeiramente resolver
esse problema é o governo iraniano tomar a decisão de banir as armas nucleares.
É o que a história ensina.
Além
do mais, como presidente e comandante-em-chefe, tenho marcada e profunda
preferência pela paz ante a guerra. Enviei homens e mulheres para o caminho de
todos os perigos. Vi a consequência daquelas decisões nos olhos dos que encontro
e que voltaram gravemente feridos, e na ausência dos que não voltam para casa.
Por muito tempo, depois que deixar a presidência, lembrarei aqueles momentos,
como os mais duros de meu governo. Por isso, como parte de meu solene
compromisso com o povo americano, só uso a força quando o momento e as
circunstâncias exigem. E sei que os líderes israelenses também conhecem muito
bem os custos e as consequências da guerra, também quando reconhecem a obrigação
que têm de defender seu país.
Todos
nós preferimos resolver diplomaticamente essa questão. Isso posto, os líderes
iranianos não duvidem da decisão dos EUA, como tampouco devem duvidar do direito
soberano de Israel para tomar suas próprias decisões sobre quanto se faça
necessário para atender às exigências da segurança de Israel. Já disse que, no
que tenha a ver com impedir que o Irã construa uma arma nuclear, todas as opções
permanecem sobre a mesa. E quis e quero dizer exatamente o que estou dizendo.
Incluem-se aí todos os elementos do poder dos EUA. Um esforço político para
isolar o Irã; um esforço diplomático para sustentar nossa coalizão e garantir
que o programa iraniano seja monitorado; um esforço econômico para impor sanções
incapacitantes; e, sim, um esforço militar preparado para qualquer
contingência.
Os
líderes iranianos devem sabem que não tenho qualquer política de contenção;
tenho uma política para impedir o Irã de obter uma arma nuclear. E já deixei
claro várias vezes, ao longo do meu governo, que não hesitarei em usar a força
quando necessária para defender os EUA e seus interesses.
Dando um passo adiante, pediria que todos lembremos o
peso dessas questões; o que está em jogo para Israel, para os EUA e para o
mundo. Já há excesso de perigoso palavreado solto, sobre guerra. [4]
Nas
últimas semanas, aquele palavreado só beneficiou o governo iraniano, fazendo
subir o preço do petróleo, do qual dependem para financiar seu programa nuclear.
Em nome da segurança de Israel, da segurança dos EUA, e da paz e segurança do
mundo, não é hora de provocações. A hora agora é de esperar que nossas pressões
cada vez maiores façam efeito; e de manter a ampla coalizão internacional que
construímos. É hora de aplicar o conselho eterno que Teddy Roosevelt nos deixou:
falar manso e levar sempre um grande porrete.
Fazendo
isso, tenham certeza de que o governo iraniano verá que nossa decisão e nossa
coordenação com Israel continuarão.”
Notas
dos tradutores
[1]
29/2/2012,
no sítio do Aiatolá
Khamenei (em
várias línguas, mas a redecastorphoto só conseguiu acessar com o Firefox).
Citado
em 5/3/2012, MK Bhadrakumar, “Irã:
Obama (afinal) começa a entender”.
[2] Há frase histórica aparentada a essa: “Sr. Presidente, abra essa porta”. É frase sempre citada, do presidente Reagan, junto ao Muro de Berlin, na Porta de Brandenburg, em Berlim Ocidental, Alemanha, dia 12/6/1987, dirigida a Gorbachev (o discurso pode ser visto/ouvido a segui:
[2] Há frase histórica aparentada a essa: “Sr. Presidente, abra essa porta”. É frase sempre citada, do presidente Reagan, junto ao Muro de Berlin, na Porta de Brandenburg, em Berlim Ocidental, Alemanha, dia 12/6/1987, dirigida a Gorbachev (o discurso pode ser visto/ouvido a segui:
[3]
EUA, Conselho das Relações Exteriores, “Discurso
do pres. Barack Obama na AIPAC”, março, 2012 (em inglês).
[4]
Orig. loose talk. Literalmente, “conversa
solta”, sempre no sentido de conversa potencialmente perigosa. Durante a II
Guerra Mundial, circularam nos EUA, entre os soldados norte-americanos vários
Manuais de Conduta, um dos quais levava o título deLoose Talk Costs
Lives [lit. “Conversa solta custa
vidas”]; em “Loose Lips Sink
Ships”,
por exemplo, vê-se um cartaz em que se lê, no mesmo espírito: Loose Lips Might Sink Ships [ap. “Lábios soltos podem afundar
navios”].
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.